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domingo, 12 de novembro de 2017

Experiências de Quase-Morte nas quais a Ciência Aponta para a Alma

Experiências de Quase-Morte nas quais a Ciência Aponta para a Alma




Caitanya Carana Dasa

“A ciência pode continuar dizendo: ‘Tais coisas são simplesmente impossíveis’. Mas enquanto as histórias se multiplicarem em diferentes lugares e tão poucas forem negadas satisfatoriamente, é um método ruim ignorá-las”. (William James, psicólogo americano)

“Há alguma prova científica para a existência da alma?” é uma pergunta comum. Sim, há. Pesquisas científicas em campos como memórias de vidas passadas, consciência e experiências de quase-morte (EQM) de fato proveram evidências convincentes. Neste artigo, discutiremos o fenômeno de quase-morte.

Experiências de Quase-Morte: Incomuns, Mas Universais

EQMs são experiências de visões extraordinárias e percepções durante períodos de inconsciência entre pessoas que estão medicamente mortas ou próximas da morte devido a várias causas, tais como acidentes, doenças, cirurgias ou tentativas de suicídio. Estas pessoas voltaram da morte, ou da quase-morte, para nos contar suas incríveis experiências.

EQMs têm sido relatadas desde tempos imemoriais em culturas de todo o mundo. Em um estudo intercultural publicado no Jornal da Sociedade de Pesquisa Psíquica, em março de 1978, o pesquisador Dean Sheils relatou que a crença em EQM aparece em cerca de noventa e cinco por cento das culturas do mundo e que são impressionantes suas similaridades, embora as culturas sejam diversas em estrutura e localização. Nos tempos modernos, o interesse popular em EQM inicialmente foi aceso pelo livro Vida Depois da Vida, de 1975, de Raymond Moody, que relatava numerosas EQMs em uma ampla variedade de pessoas. De acordo com a pesquisa de Gallup e Proctor nos anos de 1980 e 1981, cinquenta por cento de todos os americanos que haviam estado em situações próximo da morte, haviam tido uma EQM. Em uma situação mais clínica, Pim van Lommel, um cardiologista da Holanda, descobriu que, dentre os pacientes que haviam sido revividos com sucesso de paradas cardíacas, dezoito por cento haviam tido uma EQM.

A Evidência Evapora o Ceticismo

Durante as EQMs, os pacientes relatam passar por várias experiências extraordinárias, tais como viajar por um campo repleto de belas cores, encontrar seres refulgentes e rever toda a vida, muitas das quais têm efeitos de mudança profunda na vida dos pacientes. Do ponto de vista da testabilidade científica, a mais relevante dentre as EQMs são as experiências autoscópicas fora do corpo (EAFC), nas quais os pacientes relatam terem visto seus corpos de uma perspectiva de fora do corpo, geralmente de cima da cama de operação, e dão descrições verificáveis dos procedimentos cirúrgicos adotados pelos médicos.

De acordo com a ciência convencional, pacientes que estão inconscientes não podem estar cientes de tais detalhes, em virtude do que suas descrições não podem ser nada além de alucinações ou palpites fundamentados, na melhor das hipóteses. 



Foto: Dr. Michael Sabom.

Esta, de fato, era a visão do Dr. Michael Sabom, um cardiologista americano que começou suas pesquisas de EQM no fim dos anos 70 como um cético. Em seu livro Lembranças da Morte, Sabom esboçou seu plano inicial de refutar as alegadas percepções de EAFC de pacientes: “Eu confrontava minha experiência como um cardiologista treinado contra as lembranças visuais declaradas de indivíduos leigos. Fazendo isto, eu estava convencido de que inconsistências óbvias apareceriam e que reduziriam tais pretensas observações visuais a não mais do que ‘palpites fundamentados’ da parte dos pacientes”.

O ceticismo inicial de Sabom logo desapareceu, conforme as evidências começaram a crescer durante mais de três décadas de pesquisa sobre EQM. Aqui estão alguns dos casos dos livros de Sabom; casos que mudaram o entendimento da vida e da morte e também o entendimento de milhares de seus leitores.

Um piloto aposentado da Força Aérea, que havia sofrido um forte ataque cardíaco, contou o procedimento de ressuscitação em ricos detalhes. Ele descreveu até o movimento das duas agulhas do desfibrilador, que é um aparelho eletrônico usado para administrar choques elétricos para restaurar a função normal do coração: “Ele [o analisador de desfibrilador] era quadrado e tinha duas agulhas, uma fixa e uma que se movia… a primeira agulha se movia cada vez que eles golpeavam, e tinha alguém mexendo com ela. E eu acho que eles moveram a agulha fixa e ela ficou parada… Ela [a agulha móvel] parecia subir bastante lentamente, de fato. Ela não subia simplesmente como um amperímetro ou um voltímetro ou algo que estivesse fazendo registros… Da primeira vez, ela foi entre um terço e meia escala. E eles fizeram de novo, e, desta vez, ela foi até mais de uma escala e meia e, da terceira vez, ela foi até cerca de três quartos”.

Sabom explica o significado desta observação específica: “Eu fiquei particularmente fascinado com a descrição da agulha “fixa” e da “móvel” na superfície do desfibrilador enquanto ele estava sendo carregado de eletricidade. O movimento destas duas agulhas não é algo que ele poderia ter observado a não ser que ele tivesse de fato visto o instrumento em uso. Estas duas agulhas são usadas individualmente (1) para pré-selecionar a quantidade de eletricidade a ser descarregada no paciente [a descrição do paciente: “eles moveram a agulha fixa e ela ficou parada”] e (2) para indicar que o desfibrilador está sendo carregado na quantidade selecionada [descrição do paciente: “a agulha móvel subiu bastante lentamente, de fato. Ela não subia simplesmente como um amperímetro ou um voltímetro ou algo que estivesse fazendo registros”]. Este procedimento de carregar é feito apenas imediatamente antes da desfibrilação já que, uma vez carregada, esta máquina representa um risco elétrico sério a não ser que seja descarregada corretamente de uma maneira muito específica. Além do mais, os analisadores descritos por este homem não são encontrados em modelos mais recentes de desfibriladores, mas eram de uso comum em 1973, na época de sua parada cardíaca”.

Como poderia uma pessoa que (1) estava no meio de um ataque cardíaco, (2) a ponto de receber um choque elétrico, (3) enquanto estava quase certamente inconsciente e (4) não estava em uma posição que pudesse observar o analisador de desfibrilador, observar metodicamente o movimento das agulhas no seu mostrador?

Em outro caso de Sabom, uma mulher apresentou descrições médicas detalhadas e acuradas de sua cirurgia de disco lombar que havia sido realizada com ela estando de costas. Ela relatou que sua cirurgia havia sido executada, para sua surpresa, não por um cirurgião, mas pelo residente-chefe da neurocirurgia, um detalhe que estava correto, mas que não havia sido divulgado para ela.

Seguindo Sabom, muitos outros pesquisadores também encontraram EQMs que envolviam percepções verídicas ou factuais.

Consciente Embora Inconsciente?



Como as pessoas poderiam ter adquirido informações tão acuradas do que acontecia enquanto estavam medicamente inconscientes? Elas poderiam ter adquirido informações sobre os procedimentos médicos de um conhecimento geral prévio? Tal conhecimento preciso parecia improvável entre os pacientes não conectados diretamente com a profissão médica, mas, ainda assim, Sabom, sendo um pesquisador científico rigoroso, decidiu avaliar esta possibilidade. Então, ele questionou um grupo de controle de vinte e cinco pacientes cardíacos, cuja origem era similar à daqueles que haviam relatado casos de EQMs. Quando, aos sujeitos do grupo de controle, foi solicitado que imaginassem o que eles veriam acontecer em uma sala de operação quando médicos ressuscitam pacientes que tiveram ataque cardíaco, dois deles não puderam dar absolutamente nenhuma descrição, e vinte dentre os vinte e três restantes cometeram grandes erros. Em um contraste marcante, dos 32 sujeitos que relataram EQMs, 26 deram descrições gerais que não incluíam nenhum grande erro e seis deram relatos muito detalhados que casavam exatamente com seus relatórios médicos, os quais eles não haviam visto. Baseado neste estudo, Sabom concluiu: “Estes relatos de EQMs provavelmente não são fabricações sutis baseadas em conhecimento geral prévio”.

Os indivíduos poderiam estar parcialmente conscientes e terem, então, adquirido estas informações, possivelmente, através de sons e toques? Esta hipótese falha em explicar casos de EQMs nos quais os indivíduos fornecem informações acurada além de sua proximidade imediata; informações que não poderiam ter sido obtidas através de sons e toques ou por nenhum meio normal mesmo se estivessem conscientes.

Sabom relata um caso em que um paciente que estava se recuperando de uma doença sofreu um inesperado ataque cardíaco. Após ser revivido, relatou ter vivido uma EAFC na qual ele viajou para baixo do salão e viu sua esposa, filho mais velho e filha chegando lá, o que de fato acontecera. Esta informação é altamente significativa porque, (1) como ele ia ser liberado em breve, ele não esperava que seus membros familiares o visitariam; (2) mesmo se ele soubesse que eles o visitariam, não poderia saber quem o visitaria, porque ele tinha seis filhos crescidos, que se revezavam acompanhando a mãe quando ela ia vê-lo; (3) seus membros familiares foram parados no salão que estava a uma distância de dez portas da sala onde ele estava sendo tratado pelos médicos e enfermeiras; (4) seu rosto estava virado no sentido contrário deles; e (5) ele estava no meio do ressuscitamento do ataque cardíaco. 

EQMs envolvendo pacientes inconscientes que dão informações fatuais além de sua proximidade têm sido relatadas há mais de meio século, conforme indicado pelo artigo de Hornell Hart, publicado no Journal of the American Society for Psychical Research, 48(4) (outubro).

Alucinações Reais

Poderiam estas experiências serem simples alucinações de pessoas tentando evitar o medo da morte? Mas EQMs são notadamente diferentes de alucinações em seu conteúdo e efeito, como fica evidente na comparação abaixo.

EQMs são diferentes de alucinações não apenas em seus aspectos experienciais, mas também em seu mecanismo causativo científico. Em um artigo na revista científica The Lancet, Pim van Lommel e seus copesquisadores alemães expuseram uma falta em tais explicações fisiológicas das EQMs: “Com uma explicação puramente fisiológica [para a EQM], tal como a experiência de anóxia cerebral, a maioria dos pacientes que ficaram clinicamente mortos deveria relatar uma”. Lommel aponta que, dentre todas as pessoas sob condições alucinógenas ou psicológicas similares, apenas algumas passam por EQMs. Esta seleção das EQMs mostra que elas não são alucinações e que também não são causadas por nenhuma condição fisiológica.

Adicione o persuasivo fato de que vários dos indivíduos que vivenciaram EQMs deram informações factuais que jamais poderiam ter sido obtidas através de alucinações e a hipótese de alucinações das EQMs pode ser seguramente descartada.

Pensamento Ousado

Pesquisas sobre EQMs não são restritas a alguns cientistas não convencionais, senão que centenas de cientistas por todo o mundo estão ocupados em pesquisar EQMs em sérios fóruns globais como The International Association for Near-Death Studies (IANDS), endossados por publicações como as do Journal of Near-Death Studies.

Se a consciência vem do cérebro, como a medicina convencional quer que acreditemos, então uma pessoa inconsciente não pode ter (1) processo de pensamento claro, (2) conhecimento do que a cerca e (3) conhecimento além do que a cerca. 


Mas EQMs mostram que o que é considerado teoricamente impossível de fato aconteceu, como documentado por rigorosos pesquisadores sob condições bem monitoradas. Na ciência, o propósito da teoria é explicar os fatos, e não brigar com eles. Dados os fatos, as EQMs refutam fortemente a teoria da origem cerebral da consciência. De fato, apenas um dentre as centenas de casos de EQMs é suficiente para refutar esta teoria: se a consciência de uma só pessoa continuar quando seu cérebro não está funcionando, então tal caso refuta que a consciência se origina no cérebro.

Então, de onde se origina a consciência? Aprofundando a pergunta, quem é o observador fora do corpo durantes as EAFCs? Procurando respostas para questões como estas, pesquisadores pioneiros estão corajosamente pensando de modo inovador, fora do padrão da ciência materialista e reducionista, para explorar explicações científicas alternativas. Um padrão inovador é oferecido pela literatura védica, como o Bhagavad-gita, que oferece insights penetrantes sobre a origem da consciência e o mecanismo da interação entre o corpo e a alma.

O Bhagavad-gita (2.17) explica que a alma que impregna o corpo de consciência é indestrutível, o que implica dizer que ela continua a existir quando o corpo está morto ou quase morto. Além disso, o Bhagavad-gita (13.34) elabora que a consciência é a energia da alma que penetra o corpo assim como o a luz do Sol penetra todo o universo. Quando a alma está corporificada, sua consciência é canalizada através de dois tipos de corpos: o grosseiro e o sutil. O corpo grosseiro ou visível é aquilo que normalmente chamamos de nosso corpo físico, e o corpo sutil é composto basicamente daquilo que, normalmente, chamamos de mente. Em geral, a consciência da alma é canalizada através da mente para o cérebro e corpo e para o mundo externo.

Contudo, porque o corpo e a alma são essencialmente diferentes, a alma pode se separar do corpo sob circunstâncias especiais, como quando o corpo é ferido ou nas EAFCs. Em tal separação, a faculdade da percepção durante as EAFCs sugerem fortemente que a alma continua através do corpo sutil mesmo quando o cérebro perde sua função. Este mecanismo é esquematizado abaixo.

Uma Explicação Holística e uma Vida Holística

A característica de uma boa teoria científica é que ela não apenas explica coerentemente o fenômeno que se pretende explicar, mas também explica outros fenômenos relacionados. A solidez da teoria védica da alma fica evidente em sua habilidade de explicar não apenas EQMs e EAFCs, mas também fenômenos correlatos como a “visão mental”. Em seu livro Mindsight: Near-Death and Out-of-Body Experiences in the Blind [Visão Mental: Experiências de Quase-Morte e Fora do Corpo em Cegos], Kenneth Ring descreve várias pessoas cegas que foram capazes de ver apenas durante suas EQMs e nunca mais novamente.

Os textos védicos explicam que a mente tem faculdades sensoriais sutis que, quando se relacionam com os órgãos sensoriais grosseiros, permitem que a alma dentro do corpo veja. Nos cegos, devido a fatores biológicos, seus órgãos sensoriais são deficientes e, então, eles não podem ver. Mas eles, enquanto almas, ainda têm o poder de ver, em razão do que, quando o corpo sutil está dissociado do corpo grosseiro em EAFCs, o mecanismo acima sugere que o olho sutil que não está mais obstruído pela disfunção do olho grosseiro é capaz de ver. Similarmente, o paradigma védico também pode explicar vários outros fenômenos paranormais, tais como telepatia, clarividência, clariaudiência etc.

Em conclusão, as EQMs oferecem uma demonstração científica dramática e autêntica de que a consciência não depende do cérebro e que a vida não depende do corpo material, dando a alguns de nós experiências de vida além do corpo perecível. As EQMs chamam a todos nós para procurar por uma experiência completa da eternidade. O Bhagavad-gita oferece uma metodologia sistemática e prática para experimentarmos nossa espiritualidade inata e, então, recuperarmos nosso direito perdido à vida eterna. A relevância das EQMs ressoa com a mensagem universal das escrituras védicas que defendem a vida eterna como nosso eterno direito inato. Mrtyor ma ’mrtam gamaya: “Vá da morte para a eternidade”.



Tradução de Kamalaksi Rupini Devi Dasi. Se gostou deste artigo, talvez também goste deste: Para onde Vamos quando Morremos?

Fonte: De Volta para o Supremo


ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Os três níveis de consciência

            Os três níveis de consciência



Diagrama do Tai-Chi chinês, representando a integração das polaridades
Yin/Yang.Créditos: facebook.com/vozesdobrasilmpbOficial/


     Os dois primeiros círculos apontam para um primitivo estágio
 de consciênciaonde a realidade está dividida em simples opostos: o lado do
 bem e o lado do mal. 
Não existe nenhum movimento dos pontos, indicando que o indivíduo tem uma 
estrutura praticamente estática, inerte, empedrada. Nessa fase, a percepção
 da realidade só comporta dualidades - "ou estão do meu lado ou são meus 
inimigos", "se isso não é mau, é bom", "gosto do mocinho e odeio o bandido", etc. 
A personalidade é inflexível e as pessoas desse nível, difíceis de lidar. Estão 
identificadas com uma parte ou com a outra. "Sou assim!", e ponto final. Não há 
consideração pelo ponto de vista do outro. Dependendo do lado, são 
consideradas superficialmente bons cidadãos ou malfeitores pela sociedade.

     O par de desenhos seguinte retrata um nível intermediário de consciência,
 em que há a percepção de que, dependendo da perspectiva, algo considerado 
em geral mal, possui também aspectos bons. Ou que nada é puramente prejudicial, 
nem tão somente virtuoso. Aqui existe movimento nas duas "gotas", que aparentam 
um girino, isto é, um ser vivo, com dinamismo orgânico. A perspectiva estática
 dualista é lançada por terra. O indivíduo percebe que é uma mistura de defeitos e 
virtudes, e que é incapaz de determinar, em um certo momento, em dada condição,
 qual parte irá prevalecer. Existe mais flexibilidade com relação ao que se pode
 ser, de acordo com o que a situação exigir. Admite-se amar também os defeitos
 alheios. Mas a atividade dos "pingos" ainda é separada. Ora percebe-se o mal 
em si, ora no outro; se se nota que tem um lado positivo, não é possível a mesma
 observação, no mesmo instante, no outro. Estabelece-se o conflito: para que
 eu seja considerado bom, o outro tem que ser mal. Por isso, em uma discussão é 
quase impossível se sair da defensiva - ou me considero justo e o outro culpado 
ou vice-versa, sentindo-me confortável ou não.

   




















O desenho unificado configura um dinamismo e a ausência de conteúdos
 estagnados e separados. É um estágio avançado de consciência porque
 engloba todos os outros e vai além. Se existe conflito, este se configura
apenas com o(s) outro(s), que não possui(em) a perspectiva total. Vivencia-se
 a dualidade em si e no outro, simultânea e ativamente. Existe aqui a
 flexibilidade e a inflexibilidade, assim como vários outros pares de
opostos, conjugados de maneira temperada, de acordo com a vontade do
sujeito. Mas "vontade" aqui é mais que um mero anseio do Eu, pois engloba
 que o indivíduo faça também aquilo que não é ou seria sua escolha no
momento devido à compreensão de que também percebe a verdade oposta
 dentro de si.

     É preciso pontuar que nenhum desses estágios ocorre de forma estanque
 no ser humano. Do mesmo modo que a última figura contém todas as outras,
as fases anteriores ocorrem ainda de maneira mais ou menos fortuita e
momentânea no terceiro nível, prevalecendo aquele que tiver sido mais desenvolvido.
 Por vezes, um sujeito no primeiro estágio de consciência pode ter um insight
instantâneo do que seja viver no terceiro, e isso pode ser a chave para iniciar
 uma grande mudança de vida. Do mesmo modo, um indivíduo relativamente
 realizado pode de repente "surtar", caindo rapidamente no primeiro ou segundo
 nível, para seu sofrimento.

     Se a figura completa do Tai-Chi for imaginada girando, nota-se que os dois
 pequenos anéis no interior do Yin e do Yang formarão cada qual um círculo e
se manifestará um centro que se aplicará aos dois. Na figura sem movimento
 esse centro não se revela, apenas na dinâmica da vida, nesta em que há
continuamente a alternância de estados, humores e situações. Assim é a
totalidade humana, gerenciada a partir do centro imóvel e imutável, que se
 expressa nas mudanças de estados psíquicos. A psicologia chama a esse centro
 de Si-mesmo.





     Para a filosofia chinesa as mudanças prevalecem sobre as oposições.
 Não existe juízo de valor - um lado ser superior ao outro. Yin não é mal, 
nem Yang o bem. E assim é se se pensar na interação e alternância dessas
 oposições como vida. O primeiro "evoca a ideia de tempo frio e encoberto,
 e aplica-se ao que é interior, enquanto o termo Yang sugere a ideia de
 exposição ao Sol e de calor. Em outros termos, Yang e Yin indicam aspectos
 concretos e antitéticos do tempo. [...] O mundo representa, pois, 'uma totalidade
 de ordem cíclica, constituída pela conjugação de duas manifestações
 alternativas e complementares'" (ELIADE, 2011, p. 26). 

     Em um pequeno tratado está escrito: "Um (aspecto) yin, um (aspecto) yang,
 eis aí o tao". Ou seja, o tao, traduzido aqui como "vida", comporta dois
aspectos opostos que se alternam. Esse vocábulo quer dizer também "caminho",
evocando a imagem de uma trilha a seguir, a ideia de direção de conduta, de regra
 moral, e, por fim, a arte de pôr em comunicação o Céu e a Terra (Ibid. p. 27).
     Portanto, não se deve abrir mão da vida em favor de estados estáticos de
 prazer, nem de dor, no caso dos masoquistas, por mais difícil que isso possa
 parecer. Isso não é vida, mas morte em vida. Vida é movimento, é alternância,
 é mutação. O sofrimento e as doenças mentais advém de querermos
 impor a permanência de estados inconstantes, enquanto que permanente só
pode ser nossa contemplação de sua passagem na nossa caminhada. E é
 claro que em grande parte não temos consciência dessa autoimposição, pois
 a incorporamos culturalmente. Se nos acostumarmos a tomar posição no
centro, poderemos contemplar a totalidade dos processos vitais sem angústia.
 Neste caso alcança-se o verdadeiro estado de felicidade, pois nos colocamos
 no rumo do sentido, sob a direção do centro da personalidade.
(NOTA: A leitura que faço do Tai-Chi é simbólica e aplica-se à psique
 humana, não se vinculando a nenhuma pesquisa científica.)

REFERÊNCIAS
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas: de Gautama Buda
 ao triunfo do Cristianismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. vol. II.
Fonte: Ponto de vista Lógico


Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues
www.espacopontodeluz.blogspot.com