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sábado, 6 de maio de 2017

ESTUDO DOS VEDAS (CONT.) CAP IV - CONHECIMENTO TRANSCENDENTAL

ESTUDO DOS VEDAS- CAP. IV - Conhecimento Transcendental


De Rosana Rodrigues em Sábado, 29 de março de 2014 às 23:31 estraído dos arquivos do Grupo do Intercâmbio Cultural do Espaço Ponto de Luz, do Facebook.



CAPÍTULO IV: O Conhecimento Transcendental

Perola 23. O MISTÉRIO DA CIÊNCIA DO GITA (versos 1 a 3)

1. A Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna, disse: Ensinei esta imperecível ciência da yoga ao deus do Sol, Vivasvan, e Vivasvan ensinou-a a Manu, o pai da humanidade, e Manu, por sua vez, ensinou-a a Iksvaku. 2. Esta ciência suprema foi então recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na dessa maneira. Porém, com o passar do tempo, a sucessão foi interrompida, e portanto a ciência como ela é parece ter-se perdido. 3. Esta antiquíssima ciência da relação com o Supremo é falada hoje a ti por Mim porque és Meu devoto bem como Meu amigo e podes portanto entender o mistério transcendental que há nesta ciência.

Aqui fica claro que o Bhagavad-gita é um tratado espiritual especialmente destinado ao bhakta, ou devoto do Senhor. Na verdade, segundo o próprio Senhor, os jñanis, ou especuladores filosóficos, e os yogis, ou os que se limitam às práticas ióguicas mecânicas, não podem tirar o verdadeiro proveito do Bhagavad-gita. Portanto, o Senhor diz claramente que escolhera Arjuna para receber este conhecimento devido às suas qualidades devocionais. A bhakti-yoga só pode ser praticada com conhecimento transcendental e este conhecimento é um grande segredo, pois inclui o conhecimento sobre a natureza espiritual da Suprema Personalidade de Deus. Além de devoto, Arjuna era um amigo sincero do Senhor e, devido à sua fidelidade, era qualificado para penetrar nos mistérios da compreensão acerca do Senhor Krishna. O Senhor informa aqui que este sistema de yoga foi primeiramente falado ao deus do Sol e o deus do Sol o explicou a Svayambhuva Manu, que o transmitiu a Maharaja Iksvaku e assim por diante. A história do Bhagavad-gita, portanto, remonta a um tempo muito antigo, quando foi entregue à ordem real, começando pela deidade que preside o planeta Sol. Isto revela que, através de um orador para outro, este sistema de yoga foi transmitido através da sucessão discipular, conhecida como parampara, para a proteção de todos os habitantes. Todos as pessoas com cargos de responsabilidade devem compreender o Bhagavad-gita e assim ajudar a proteger os cidadãos do cativeiro material produzido pela luxúria. Este conhecimento é essencial para se cumprir o propósito da vida humana, mas, devido à influência do poderoso tempo eterno, a transmissão deste conhecimento através da sucessão discipular foi interrompida e o conhecimento se perdeu. Como consequência disto, o Senhor deseja apresentá-lo novamente e escolheu Seu amigo Arjuna, o qual estava no Campo de Batalha de Kurukshetra, como alguém qualificado para recebê-lo. Isto indica que melhor compreende o Bhagavad-gita a pessoa que tem qualidades semelhantes às de Arjuna. Ela deve tornar-se devota do Senhor e desenvolver seu relacionamento de serviço amoroso direto ao Senhor. Arjuna já era perfeito em serviço devocional e, por isso, relacionava-se com o Senhor na condição de amigo transcendental. De qualquer modo, apesar de, em nosso atual estado de vida, termos nos esquecido do Senhor, esta relação poderá ser revivida se seguimos os passos de Arjuna e aceitamos Krishna como nosso verdadeiro refúgio.

Pérola 24. A NATUREZA TRANSCENDENTAL DO SENHOR (versos 4 a 6)

4. Arjuna disse: O deus do Sol, Vivasvan, nasceu antes de Ti. Como poderei entender que, no começo, ensinaste-lhe esta ciência? 5. A Personalidade de Deus disse: Tu e Eu já passamos por muitos e muitos nascimentos. Posso lembrar-Me de todos eles, mas tu não podes, ó subjugador do inimigo! 6. Embora Eu seja não nascido e Meu corpo transcendental jamais se deteriore, e embora Eu seja o Senhor de todas as entidades vivas, mesmo assim, em cada milênio Eu apareço sob Minha forma transcendental original.

Aqui, revela-se a característica especial do nascimento do Senhor: embora apareça como um ser humano comum, Ele Se lembra dos pormenores de Seus outros milhares de nascimentos anteriores. Esta é a diferença entre o Senhor e um ser vivo comum. O Senhor possui um corpo espiritual eterno, livre de nascimento, velhice, doença ou morte, e por isso Ele pode Se lembrar dos atos que Ele executou há milhões de anos. Um ser vivo comum muda de um corpo para outro e sua memória é tão limitada que mal pode se lembrar do que fez em algumas horas atrás. Assim, ninguém pode nunca se igualar ao Senhor. O Senhor possui um corpo eterno e transcendental. Seu corpo é, na verdade, idêntico a Ele e, mesmo descendo ao mundo material, Ele Se mantém na plataforma transcendental – livre de toda e qualquer ilusão. Sempre que aparece, Ele o faz através de Sua própria potência interna e a Seu bel-prazer. O Seu corpo nunca se deteriora, mas, mesmo assim, Ele passa da infância à juventude e surpreendentemente nunca ultrapassa esta fase. Mesmo na época da Batalha de Kurukshetra quando o Senhor já estava cheio de netos, Sua aparência era jovial, como se tivesse vinte ou no máximo vinte e cinco anos. Embora seja a pessoa mais velha, nem Seu corpo nem Sua inteligência jamais se deterioram. Assim como o poderoso Sol, Ele aparentemente “nasce” e “morre”. Na verdade, o Sol está praticamente fixo em sua posição, só que, devido a nossos sentidos precários, calculamos o seu “nascimento” e “morte”. De forma semelhante, o Senhor é não-nascido. Ele aparece diante de nossa visão, executa atividades para o bem-estar de todos e, ao concluir Sua missão, desaparece de nossa visão, tornando-Se imanifesto. Ele é Um, mas manifesta-Se sob inúmeras formas e todas estas variadas formas são compreendidas pelos devotos puros e imaculados, mas nunca por uma pessoa que simplesmente se limita a estudar os Vedas. Devotos puros como Arjuna, os quais são companheiros eternos do Senhor, sempre encarnam com Ele para prestar-Lhe diferentes classes de serviços. Porém, a diferença é que o Senhor pode Se lembrar de todos os Seus aparecimentos, ao passo que Seu devoto os esquece.Devotos puros como Arjuna estão sempre acima de qualquer dúvida ou mal-entendido acerca da natureza espiritual do Senhor. Portanto, como ficará cada vez mais claro, Arjuna compreende muito bem que o Senhor Krishna é a Pessoa Suprema, a causa de todas as causas. Ainda assim, por estar representando o papel de uma pessoa confusa, em todo o Bhagavad-gita Arjuna tem de levantar diferentes questões importantes. Será que ele tem dúvidas quanto às afirmações apresentadas por Krishna? Evidentemente que não. Arjuna não está querendo esclarecer suas próprias dúvidas. Mas, como os homens comuns estão às voltas com muitos questionamentos e sentem grande dificuldade em compreender os tópicos do Bhagavad-gita, Arjuna teve de assumir este importante papel. Além disso, Arjuna estava tendo a oportunidade de ouvir diretamente do Senhor, o que para os devotos puros como Arjuna é extremamente prazeroso.

Pérola 25. O PROPÓSITO DO APARECIMENTO DO SENHOR (versos 7 a 11)

7. Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e um aumento predominante da irreligião – neste momento Eu próprio desço. 8. Para libertar os piedosos e aniquilar os canalhas, bem como para restabelecer os princípios da religião, Eu mesmo apareço, milênio após milênio. 9. Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna. 10. Estando livres do apego, do medo e da ira, estando plenamente absortas em Mim e refugiando-se em Mim, muitas e muitas pessoas no passado purificaram-se através do conhecimento a respeito de Mim – e com isso todas alcançaram transcendental amor por Mim. 11. A todos Eu recompenso proporcionalmente ao grau de sua rendição a Mim. Ó filho de Pritha, em qualquer circunstância, todos seguem o Meu caminho.

Sob a ordem do Senhor, os Vedas apresentam diferentes princípios religiosos, mas quando existem discrepâncias quanto à execução apropriada das regras contidas nos Vedas, o mundo todo torna-se irreligioso. Neste momento, o Senhor desce do Seu reino espiritual e aparece como um avatara, uma encarnação divina. Ele o faz por Sua própria vontade, devido à misericórdia que sente por Seus devotos que estão no mundo material. Tais devotos são sempre molestados por pessoas demoníacas que tentam propagar suas filosofias mundanas ou distorcer o verdadeiro significado da religião. Na verdade, para conseguir se libertar do cativeiro material, a entidade viva precisa vencer sérias dificuldades. Para tal, nada melhor do que aceitar a ajuda do Senhor na forma do conhecimento védico, do mestre espiritual e da associação com os devotos. Só assim ela poderá compreender a natureza transcendental do corpo e das atividades do Senhor e, como resultado, após findar este corpo, não correr o risco de voltar a este mundo material. Os Vedas nos declaram que embora seja Um, a mesmíssima Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Se manifesta em muitíssimas formas e encarnações. Evidentemente, isto é incompreensível para os eruditos mundanos e filósofos empíricos, embora o devoto puro possa compreender este fato com completa convicção. Nesta parte do Bhagavad-gita, o Senhor confirma de fato que, sempre e onde quer que existe a necessidade, Ele aparece para resgatar Seus devotos queridos. Tais devotos compreendem que o nascimento e as atividades do Senhor são completamente espirituais e, aceitando esta verdade com fé, eles não perdem tempo com especulações filosóficas inúteis. O Senhor declara que, mesmo no passado, muitas pessoas adotaram o serviço devocional amoroso e se livraram dos diferentes obstáculos deste mundo, os quais se apresentam na forma de apego, medo e ira. Portanto, o Senhor Krishna encoraja Seu amigo e discípulo Arjuna a praticar a consciência de Krishna e conclui que devemos cultivá-la com fé e conhecimento, e com isto alcançar a perfeição. Com certeza, o Senhor irá recompensar a tentativa sincera empreendida pelo devoto que, apesar das dificuldades encontradas neste mundo, persiste em praticar serviço devocional ao Senhor.

Pérola 26. AS COMPLEXIDADES DA AÇÃO (versos 12 a 24)

12. Neste mundo, os homens desejam sucesso nas atividades fruitivas, e por isso adoram os semideuses. Rapidamente, é claro, os homens obtêm neste mundo os resultados do trabalho fruitivo. 13. Conforme os três modos da natureza material e o trabalho referente a eles, as quatro divisões da sociedade humana são criadas por Mim. E embora Eu seja o criador deste sistema, deves saber que, sendo Eu imutável, continuo como a pessoa que não age. 14. Não há trabalho que Me afete; tampouco Eu aspiro aos frutos da ação. Aquele que entende esta verdade sobre Mim também não se enreda nas reações do trabalho fruitivo. 15. Em tempos antigos, todas as almas liberadas agiram com esta compreensão acerca de Minha natureza transcendental. Portanto, deves executar teu dever, seguindo-lhes os passos. 16. Até mesmo os inteligentes ficam confusos em determinar o que é ação e o que é inação. Agora, passarei a explicar-te o que é ação, e conhecendo isto te libertarás de todo o infortúnio. 17. É dificílimo entender as complexidades da ação. Portanto, deve-se saber apropriadamente o que é ação, o que é ação proibida e o que é inação. 18. Quem vê inação na ação, e ação na inação, é inteligente entre os homens, e está na posição transcendental, embora ocupado em todas as espécies de atividades. 19. Tem conhecimento pleno quem, em cada esforço seu, não apresenta desejo de gozo dos sentidos. Os sábios dizem que tal pessoa é um trabalhador cujas reações do trabalho foram queimadas pelo fogo do conhecimento perfeito. 20. Abandonando todo o apego aos resultados de suas atividades, sempre satisfeito e independente, ele não executa nenhuma ação fruitiva, embora ocupado em todas as espécies de empreendimentos. 21. Tal homem de compreensão age com a mente e a inteligência sob perfeito controle, deixa de ter qualquer sentimento de propriedade por suas posses e age apenas para obter as necessidades mínimas da vida. Trabalhando assim, ele não é afetado por reações pecaminosas. 22. Aquele que se contenta com o ganho que vem automaticamente, que está livre de dualidade e não inveja, que é estável no sucesso e no fracasso, nunca se enreda, embora execute ações. 23. O trabalho do homem que não está apegado aos modos da natureza material e que está situado em pleno conhecimento transcendental imerge por completo na transcendência. 24. Quem se absorve por completo em consciência de Krishna com certeza alcançará o reino espiritual por causa de sua plena contribuição às atividades espirituais, cuja execução é absoluta e nelas tudo o que se oferece é da mesma natureza espiritual.

O processo através do qual a pessoa pode se livrar do cativeiro das ações é chamado de consciência de Krishna, onde tudo passa a ser feito para a satisfação do Senhor. Quem é consciente de Krishna age por amor à Suprema Personalidade de Deus e vive livre de interesses egoístas. Para se alcançar esta fase elevada, é necessário seguir a liderança de pessoas autorizadas que estão na linha de sucessão discipular, como se explicou no início deste capítulo. Os exemplos deixados pelos devotos autênticos anteriores são perfeitos e devemos segui-los, caso contrário, mesmo homens muito inteligentes ficarão confusos no que se refere às ações reguladoras existentes na consciência de Krishna. Os princípios religiosos são estabelecidos diretamente pelo Senhor. Isto significa que ninguém pode criar sua própria maneira de agir baseado no seu conhecimento experimental imperfeito. A alma condicionada vive absorta em suas especulações mentais e não consegue determinar o verdadeiro significado de religião e auto-realização transcendental. Portanto, bondosamente o Senhor explica a Arjuna e a todos nós o verdadeiro significado de ação, inação e ação proibida, pois qualquer pessoa que estiver decidida a libertar-se deste cativeiro material terá de compreender muito bem tais tópicos.Ao tornar-se consciente de Krishna, a pessoa aprende naturalmente a relacionar-se com o Senhor Supremo e com as demais entidades vivas. Compreendendo que todo ser vivo é um servo eterno do Senhor, ela compreenderá que todas as suas ações devem visar à satisfação do Senhor, o que é chamado de karma-yoga. Qualquer conclusão que leve a pessoa a agir de uma maneira diferente é considerada vikarma, ou ação proibida. Isto pode ser facilmente compreendido quando nos aproximamos do mestre espiritual, uma verdadeira autoridade na consciência de Krishna. Agir em consciência de Krishna significa agir em prol da satisfação de Krishna e isto torna a pessoa completamente livre do cativeiro do karma. Tal pessoa, materialmente falando, está completamente inativa, pois seu sentimento de servidão a Krishna faz com que ela se torne akarma, uma pessoa imune a todas as espécies de reações ao trabalho. O conhecimento sobre a ação em consciência de Krishna é verdadeiro conhecimento e é comparado ao fogo, sendo capaz de queimar todas as espécies de reações ao trabalho. A palavra brahman significa “espiritual”. O Senhor é o Supremo Brahman e qualquer atividade oferecida a Ele também torna-se brahman, ou espiritual. Na verdade, o resultado desta atividade e o próprio executor também se tornam brahman, ou espirituais, devido à influência espiritual do Senhor. A energia material, conhecida como maya, é também considerada divina, sendo uma das energias do Senhor. Quando utilizada para propósitos materiais, esta maya atua para confundir a alma condicionada que acaba desenvolvendo apego e desejo de posse por ela. Mas, quando é utilizada no serviço amoroso ao Senhor, esta mesma maya readquire sua qualidade espiritual, tornando-se brahman. Este é, portanto, o método transcendental da consciência de Krishna: utilizar tudo a serviço do Senhor, onde a execução, o executor e o resultado último – tudo – se une no Absoluto e atinge a plataforma espiritual.

Pérola 27. OS DIFERENTES TIPOS DE SACRIFÍCIOS (versos 25 a 33)

25. Alguns yogis adoram perfeitamente os semideuses, oferecendo-lhes diferentes sacrifícios, e alguns deles oferecem sacrifícios no fogo do Brahman Supremo. 26. Alguns (os brahmacharis verdadeiros) sacrificam a faculdade auditiva e os sentidos no fogo do controle mental; e outros (os chefes de família regulados) sacrificam os objetos dos sentidos no fogo dos sentidos. 27. Outros, que se interessam em obter a auto-realização através do controle da mente e dos sentidos, oferecem as funções de todos os sentidos e do alento vital como oblações no fogo da mente controlada. 28. Tendo feito votos estritos, alguns se iluminam sacrificando seus bens, e outros, executando austeridades rigorosas, praticando a yoga do misticismo óctuplo (astanga-yoga) ou estudando os Vedas para progredir no conhecimento transcendental. 29. E outros, que estão inclinados ao processo de restrição da respiração para permanecer em transe, praticam oferecendo no alento inspirado o movimento do alento expirado, e no alento expirado o alento inspirado, e assim acabam entrando em transe, suspendendo toda a respiração. Outros, restringindo o processo alimentar, oferecem como sacrifício o alento expirado neste mesmo alento. 30. Todos estes executores que sabem o significado do sacrifício purificam-se das reações pecaminosas, e, tendo saboreado o néctar dos resultados dos sacrifícios, avançam em direção à atmosfera eterna e suprema. 31. Ó melhor da dinastia Kuru, sem sacrifício a pessoa jamais pode viver feliz neste planeta ou nesta vida; que se dizer da próxima, então? 32. Os Vedas aprovam todos estes diferentes tipos de sacrifício, e todos eles surgem de diferentes classes de trabalho. Tu te libertarás ao conhecê-los assim. 33. Ó castigador do inimigo, o sacrifício executado com conhecimento é melhor do que o mero sacrifício dos bens materiais. Afinal de contas, ó filho de Pritha, todos os sacrifícios do trabalho culminam em conhecimento transcendental.

Como aprendemos aqui no Bhagavad-gita, a alma condicionada, absorta na matéria, pode curar-se por meio da consciência de Krishna. Este processo também é conhecido como yajña (sacrifícios), ou seja, atividades destinadas à satisfação do Senhor Vishnu, ou Krishna. Tais sacrifícios podem ser de diferentes categorias. Os bhaktas, ou aqueles que estão em consciência de Krishna, executam sacrifícios para a satisfação do Senhor e são considerados os mais perfeitos yogis. Os karmis, no entanto, desejam felicidade material advinda do gozo dos sentidos. Desse modo, eles executam sacrifícios para a satisfação dos semideuses, tais como Indra, Surya, etc. Tais semideuses são seres poderosos, pois são designados pelo Senhor para administrar os diferentes departamentos da criação material, tais como irrigação, aquecimento, iluminação, etc., do Universo. Há também aqueles que, sendo impersonalistas, sacrificam sua identidade material e espiritual para fundir-se na existência do Absoluto. De qualquer modo, qualquer pessoa interessada em obter auto-realização material ou espiritual deve adotar os vários sacrifícios conforme os rituais prescritos nos Vedas. A essência da vida dos estudantes transcendentalistas (brahmacharis) é a austeridade, por isso eles devem dedicar-se a ouvir o conhecimento védico da boca de lótus de um mestre espiritual puro e, assim, abster-se completamente do gozo dos sentidos. Os chefes de família (grihasthas) podem se purificar através do sacrifício sob a forma da caridade. Eles possuem alguma licença para o gozo dos sentidos, mas, ainda assim, executam-no com bastante restrição. Portanto, o casamento religioso é um sacrifício que visa a restringir a vida sexual das pessoas. Uma pessoa na ordem de vida renunciada (sannyasi) deve executar sacrifícios que beneficiem todas as outras classes de pessoas, por isso seu principal dever prescrito é a propagação da consciência de Krishna. Todas estas práticas chamam-se yoga-yajña, e são diferentes sacrifícios para se obter diferentes perfeições espirituais. Além disso, há sacrifícios de diferentes naturezas. Há pessoas que sacrificam seus bens materiais e abrem várias espécies de instituições de caridade, asilos, hospitais, etc. Outras pessoas preferem executar grandes austeridades e fazem votos estritos, vivendo livre de qualquer espécie de conforto material. Há outros que, com o propósito de controlar seus sentidos e progredir em compreensão espiritual, praticam a yoga apresentada por Patañjali, dedicando-se a diferentes técnicas ióguicas. Todas estas diferentes classes de pessoas estão fielmente ocupadas em suas diferentes classes de sacrifícios e procuram uma situação de vida superior. Dependendo do grau de consciência, os sacrifícios ora fazem parte da seção karma-kanda (atividades fruitivas), ora jñana-kanda (conhecimento em busca da verdade). A consciência de Krishna, entretanto, é diferente de tudo isto porque é serviço direto ao Senhor Supremo. A consciência de Krishna não pode ser alcançada por nenhuma das atividades acima mencionadas, mas só pode ser conseguida pela misericórdia do Senhor e Seus devotos autênticos. Nesta atual era de Kali as pessoas geralmente têm muita dificuldade em praticar o autocontrole e não têm uma mente tranquila para praticar yoga ou meditação. Além disso, as pessoas desta era vivem pouco, demoram muito a compreender o que é vida espiritual e estão sempre perturbadas por constantes ansiedades. Portanto, as escrituras védicas enfatizam o sacrifício conhecido como sankirtana-yajña, o cantar dos santos nomes do Senhor: Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.

Pérola 28. A FORÇA DO CONHECIMENTO TRANSCENDENTAL (versos 34 a 42)

34. Tenta aprender a verdade aproximando-te de um mestre espiritual. Faze-lhe perguntas com submissão e presta-lhe serviço. As almas auto-realizadas te podem transmitir conhecimento porque viram a verdade. 35. Tendo recebido verdadeiro conhecimento de uma alma auto-realizada, jamais voltarás a cair nessa ilusão, pois, com este conhecimento, verás que todos os seres vivos são apenas partes do Supremo, ou, em outras palavras, que eles são Meus. 36. Mesmo que sejas considerado o mais pecaminoso de todos os pecadores, quando estiveres situado no barco do conhecimento transcendental serás capaz de cruzar o oceano de misérias. 37. Assim como o fogo ardente transforma a lenha em cinzas, ó Arjuna, do mesmo modo, o fogo do conhecimento reduz a cinzas todas as reações às atividades materiais. 38. Neste mundo, não há nada tão sublime e puro como o conhecimento transcendental. Esse conhecimento é o fruto maduro de todo o misticismo. E aquele que se familiarizou com a prática do serviço devocional desfruta este conhecimento dentro de si no devido curso do tempo. 39. Um homem fiel que se dedica ao conhecimento transcendental e que subjuga seus sentidos está qualificado para conseguir este conhecimento, e, tendo-o alcançado, obtém rapidamente a paz espiritual suprema. 40. Mas as pessoas ignorantes e sem fé, que duvidam das escrituras reveladas, não alcançam a consciência de Deus; elas acabam caindo. Para a alma incrédula não há felicidade nem neste mundo nem no próximo. 41. Aquele que age em serviço devocional, renunciando aos frutos de suas ações, e cujas dúvidas foram destruídas pelo conhecimento transcendental, está de fato situado no eu. Assim, ele não está atado às reações do trabalho, ó conquistador de riquezas. 42. Portanto, as dúvidas que, por ignorância, surgiram em teu coração devem ser cortadas com a arma do conhecimento. Armado com a yoga, ó Bharata, levanta-te e luta.

É necessário aproximar-se de um mestre espiritual genuíno para se obter o conhecimento transcendental. Um mestre genuíno tem de, antes de mais nada, fazer parte da linha de sucessão discipular proveniente do próprio Senhor, pois ninguém pode alcançar a auto-realização espiritual fabricando seu próprio processo. Tal mestre espiritual mantém intacta a mensagem original do Senhor e a transmite sem interpretações materialmente motivadas. Ele aprendeu este conhecimento, rendendo-se ao seu mestre espiritual, e, assim, passou a entender as coisas como elas são. O mestre espiritual deve ter uma compreensão prática de que todos os seres vivos são partes integrantes da Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Krishna. Portanto, seus ensinamentos se destinam a convencer o discípulo que o ser vivo, como servo eterno de Krishna, não pode estar separado do Senhor, e quando uma pessoa sente que sua identidade é separada do Senhor, deve-se saber que ela está sob os encantos de maya, a energia ilusória. Por isso, o mestre espiritual ensina o discípulo a prestar serviço devocional puro, livrando-o gradualmente da busca pelos resultados fruitivos e da especulação mental. Quem presta serviço devocional ao Senhor, sob a guia de um verdadeiro mestre espiritual, imediatamente livra-se da ilusão que faz com que um ser vivo equivocado manifeste interesses diferentes dos interesses do Senhor. Portanto, como exemplificado por Arjuna no início do segundo capítulo, ninguém é capaz de resolver seus problemas e desenvolver conhecimento perfeito sem a ajuda do mestre espiritual. Desse modo, o discípulo aprende a se relacionar com seu mestre espiritual através do serviço amoroso humilde, sem falso prestígio. Evidentemente, não se trata de obediência cega, pois é necessário um entendimento bastante claro do que é verdadeira vida espiritual. Com submissão autêntica, o discípulo faz constantes indagações filosóficas a seu mestre espiritual, o qual, sendo por natureza muito bondoso, fica satisfeito e revela o segredo do conhecimento espiritual. Desse modo, não importa quão pecaminosa uma pessoa possa ter sido. Se ela adota as instruções do mestre espiritual e age baseada somente no conhecimento transcendental recebido, todas as suas reações kármicas são completamente eliminadas. Este conhecimento é, portanto, a causa da liberação, ao passo que a ignorância é a causa do cativeiro material. Este é o importante significado desta passagem do Bhagavad-gita. 


ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES