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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Conhecimento Védico e Jesus não são incompatíveis

“Ainda Tenho Muito a Lhes Dizer”

ainda tenho muito a lhes dizerChaitanya-charana Dasa

Jesus disse que tinha muito mais a dizer, e, na literatura védica, temos muito mais informações e conhecimento acerca de Deus.

Bhaktivinoda Thakura, um santo estudioso vaishnava do século XIX, explica como um verdadeiro devoto deve respeitar outras religiões e suas práticas. Ele disse: “Quando temos a oportunidade de estar presentes no local de culto de outros religiosos no momento de sua adoração, devemos ficar ali de um modo respeitoso, contemplando e refletindo assim: ‘Aqui está sendo adorado o meu maior e adorável Deus, embora esteja em uma forma diferente da que eu adoro. Devido a uma prática diferente ou de um estilo diferente, de fato não consigo compreender completamente o sistema pelo qual eles adoram meu Deus. Mas, vendo isso, estou sentindo um maior apego por meu próprio sistema [de adoração]. Deus é apenas um. Inclino-me diante de seus símbolos, como vejo aqui, e ofereço minha oração ao Senhor, para que ele possa aumentar meu amor para com Ele na forma aceitável para mim.’”
Eu nasci em uma família brahmana e fui educado em uma escola de confissão cristã. Na minha escola, eu aprendi sobre Deus também, tanto sobre os rituais hindus realizados em minha casa, quanto sobre as orações cristãs na escola. Contudo, foi apenas no final da adolescência, quando os devotos da ISKCON me apresentaram a filosofia sistemática da consciência de Krishna ensinada na literatura védica, que eu iniciei um estudo sério sobre a espiritualidade. Quando me deparei com a declaração acima, de Bhaktivinoda Thakura, senti que havia descoberto o elo perdido que poderia integrar meu respeito pela tradição cristã à minha fé de Krishna. O propósito deste artigo é de certa forma semelhante: ajudar os seguidores védicos a obter uma apreciação mais profunda de seu próprio caminho, enquanto oferecem aos cristãos uma nova visão de sua fé a partir da perspectiva de um seguidor védico.
O objetivo final do cristianismo e da consciência de Krishna é o mesmo: ajudar os praticantes a desenvolver o amor a Deus, elevá-los de materialistas a espiritualistas, ajudando-os na jornada de volta ao reino de Deus (volta ao Supremo).
Mas esses ensinamentos são igualmente apresentados no texto bíblico e no texto védico?
Vamos agora explorar os insights oferecidos nesses dois grupos sobre três assuntos altamente úteis para desenvolvermos nosso relacionamento com Deus:
  1. A alma e sua condição existencial.
  2. Deus e Sua natureza amorosa.
  3. Devoção e seu desenvolvimento progressivo.
Por que a Alma Cai Neste Mundo?
Tenho muito a lhe dizer.
A tradição bíblica conta a história de Adão e Eva, na qual eles caíram (em pecado, termo comum no cristianismo) do Jardim do Éden por comerem o fruto proibido em desobediência à ordem de Deus. Devido ao pecado original de Adão, toda a humanidade, tendo descendido dele, é considerada herdeira do pecado e está destinada a sofrer na existência material até ser resgatada pela graça redentora de Deus (na forma de Jesus Cristo).
Esta história implica que todos nós somos vitimados por todos os sofrimentos deste mundo, tais como todos os terremotos, formas de câncer, guerras etc., porque, no passado remoto, alguém comeu o fruto proibido. O fato de sermos sentenciados a sofrer por um pecado que nós mesmos nunca cometemos parece, para qualquer pessoa reflexiva, evidentemente injusto.
O erudito da ISKCON Ravindra Svarupa Dasa oferece uma leitura alternativa da história de Adão, uma leitura que também explica a causa de nossa queda da perspectiva védica:
Quando a Bíblia fala sobre o que Adão fez, está falando sobre o que nós mesmos fizemos. Nós estávamos lá “no começo”, porque, sendo descendentes de Deus e feitos à Sua imagem, não somos seres materiais, mas seres espirituais. Então, somos eternos. Esta é a natureza do espírito: nunca vem a ser; nunca deixa de ser. É por isso que, na Bhagavad-gita, a alma é descrita não apenas como aja, “não-nascida”, e nitya, “eterna”, mas também como purana, “a mais antiga”.
Isso significa que todos nós somos pessoas primordiais. Quando a Bíblia fala sobre Adão, na verdade, está falando sobre nós. Na verdade, Adão, ou Adam, é simplesmente uma palavra hebraica que significa “homem”.
Então, nós somos os culpados. E o que nós fizemos? Qual é o nosso pecado na raiz de tudo isso?
Decidimos que não queríamos servir a Deus, mas queríamos nós mesmos nos tornarmos Deus. Em outras palavras, ficamos com inveja de Deus e quisemos tomar o Seu lugar. Essa é a nossa queda. E ainda estamos caídos até hoje porque ainda temos essa atitude.
Esse entendimento não apenas nos ajuda a entender o que originalmente fizemos de errado, mas também o que precisamos fazer para retornar a Deus.
Temos Apenas uma Chance de Viver?
A noção cristã generalizada é que, se não nos rendermos a Deus aceitando Jesus como nosso Senhor e Salvador nesta breve vida, seremos enviados ao inferno para sofrer pelo resto da eternidade. Essa noção milita contra a premissa fundamental da teologia: um Deus amoroso e misericordioso. Afinal, até os pais comuns, por amor aos filhos, dão a eles várias chances de se reformarem. Então, a alegação de que o Pai Supremo Deus nos dá apenas uma chance não limita o amor ilimitado dEle?
Os insights védicos nos ajudam a entender melhor o amor ilimitado de Deus por nós. O entendimento védico é que somos almas que, na forma humana de vida, têm a chance de reviver nosso relacionamento esquecido com Deus. Se nós negligenciamos ou rejeitamos esta oportunidade, então, de acordo com nossos desejos e nosso carma, nós transmigramos de um corpo para outro em 8,4 milhões de espécies até, por fim, voltarmos à forma humana e termos outra chance. Se nós ainda não usamos essa chance, então continuamos passando pelo ciclo transmigratório e tendo chances de nos voltarmos para Deus até que, finalmente, façamos a escolha certa: voltemos para Deus e vivamos felizes com Ele para sempre.
A coerência do entendimento védico sobre a escatologia foi apreciada até mesmo pelo erudito cristão e pioneiro sânscrito Sir William Jones. Ele disse: “Eu não sou hindu, mas considero a doutrina dos hindus relativa a um estado futuro incomparavelmente mais racional, mais piedosa e mais provável de refrear os homens no vício do que as horríveis opiniões inculcadas pelos cristãos sobre a punição eterna.”
Por que Coisas Ruins Acontecem a Pessoas Boas, Especialmente a Crianças Inocentes?
Essa questão desconcertante tem sido a ruína da teologia cristã. Se aceitarmos a afirmação cristã de que não tivemos vida antes da presente, então com que base nos são dados diferentes pontos de partida para a jornada de nossa vida? Por que algumas pessoas nascem em famílias ricas, enquanto algumas nascem em famílias pobres?
Embora a Bíblia diga que “como você semeia, você também colherá”, a noção cristã atual falha em nos ajudar a entender como isso está acontecendo. A compreensão védica de nós como almas transmigradoras nos ajuda a enxergar a vida a partir de uma perspectiva muito mais ampla de múltiplas vidas. Assim como diferentes sementes são colhidas após diferentes períodos de tempo, também diferentes ações apresentam reações após diferentes períodos de tempo, algumas imediatamente, algumas mais tarde na mesma vida, e outras em uma vida subsequente. As reações cármicas que transportamos ao longo de nossas vidas (humanas) passadas determinam as condições iniciais de nossa vida atual.
A aceitação da lei do karma não é fatalista, criando sentimentos de desamparo e impotência, como algumas pessoas interpretam erroneamente. Também não é psicologicamente prejudicial, criando sentimentos assombrosos de culpa, como alguns outros alegam. Em vez disso, uma compreensão madura da lei imparcial do karma é altamente fortalecedora, pois entendemos que ainda temos controle sobre nossas vidas. Ao se harmonizar com as leis universais da ação, como explicado nas escrituras dadas por Deus, temos o poder de criar um futuro brilhante para nós mesmos, independentemente de quão sombrio o presente pareça ser. É por isso que o escritor W. Somerset Maugham escreveu em O Fio da Navalha: “Já lhe ocorreu que a transmigração (da alma) é ao mesmo tempo uma explicação e uma justificativa do mal do mundo? Se os males que sofremos forem o resultado de pecados cometidos em nossas vidas passadas, podemos suportá-los com determinação e ter a esperança de que, se nos esforçarmos pela virtude, nossas vidas futuras serão menos perturbadoras.”
Quem é Deus?
Na tradição bíblica, não há muito conhecimento positivo sobre Deus, sua morada, personalidade, atributos e atividades.
A Bíblia declara que Deus é o objeto supremo do amor, mas como alguém ama a Deus sem conhecê-lO? Alguém pode amar um conceito ou uma cifra? Não sabendo como Deus se parece, alguns cristãos especulam que Deus, sendo a pessoa primitiva, deve ser um homem velho com uma longa barba. Por exemplo, na célebre Capela Sistina, localizada na Cidade do Vaticano, o teto retrata Deus como um homem idoso criando Adão, que, paradoxalmente, parece mais bonito, saudável e amável do que Deus.
O conhecimento autoexistencial de Deus não está presente na tradição bíblica porque Deus, sendo infinito, é incognoscível para nós seres finitos? Ao mesmo tempo em Deus é certamente infinito e incognoscível para nós por nossos próprios esforços, um aspecto essencial da infinitude e onipotência de Deus é a Sua capacidade de Se revelar a nós se Ele assim desejar. Dizer que Deus não pode Se tornar conhecido para nós é limitá-lO.
Deus Se fez conhecido como uma Suprema Personalidade toda-atrativa através das escrituras védicas. À primeira vista, os textos védicos podem parecer politeístas, fazendo com que os deuses védicos pareçam ser como os deuses pagãos cuja adoração o Antigo Testamento proíbe. Mas um estudo profundo e orientado das escrituras védicas revela que, embora contenham rituais multifacetados para formas de adoração multiníveis, elas são conclusivamente monoteístas. Na Bhagavad-gita, Krishna é glorificado como o único Deus Supremo, com declarações notadamente semelhantes aos elogios bíblicos de Deus. Por exemplo, a Bhagavad-gita (10.32) afirma: “De todas as criações, Eu sou o começo e o fim e também o meio”, o que é semelhante a esta declaração bíblica: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o começo e o fim, o primeiro e o último.” (Apocalipse 22:13).
Neste ponto, a maioria dos cristãos naturalmente se perguntará se Krishna pode ser igualado ao Deus bíblico, especialmente quando a Bíblia não declara isso. Vamos considerar esse ponto com base na escritura e na lógica:
  1. Escritura: Jesus foi crucificado depois de apenas três anos de pregação. Que ele tinha mais coisas para revelar é claramente visto em sua própria declaração: “Ainda tenho muito a lhes dizer, mas agora vocês não são capazes de suportar.” (João 16:12) Os cristãos podem ser fiéis à sua própria tradição e ainda estar abertos à sabedoria das escrituras que não as suas próprias? Tal abertura parece evidenciada na declaração bíblica: “Toda escritura é dada por inspiração de Deus, e é proveitosa para doutrina, para repreensão, para correção, para instrução em retidão, para que o homem de Deus seja perfeito, completamente provido de toda boa obra.” (2 Timóteo 3:16-17) Este versículo é tradicionalmente interpretado pelos cristãos para se referir a “todas as escrituras bíblicas”, mas talvez o espírito ecumênico evidente nas palavras do versículo “toda escritura” sugira uma abertura mais ampla.
  2. Lógica: Se um aluno que está estudando Ciência da Computação no IIT Mumbai vier a saber que a ciência da computação é ensinada mais detalhadamente no MIT, EUA, ele se restringirá ao IIT ou aproveitará a educação disponível no MIT? Se ele estiver interessado em ciência da computação, obviamente ele vai aproveitar a oportunidade para aprender (também) no MIT. Similarmente, se um buscador de Deus, que está desenvolvendo o amor a Deus dentro da tradição cristã, descobre que um conhecimento maior de Deus está disponível em outra tradição, a tradição védica, ele não pode aproveitar essa tradição para enriquecer seu conhecimento de Deus e assim acelerar seu amor a Deus? Talvez seja útil esclarecer as prioridades de uma pessoa ao se propor a pergunta da busca da alma: “Estou interessado no cristianismo (em si mesmo) ou estou interessado em Deus?”
Deus É Grandioso, Mas Como?
A tradição bíblica declara repetidamente a grandeza de Deus, mas não dá muita descrição concreta de Sua grandeza. Por outro lado, a descrição védica de Krishna demonstra graficamente a grandeza de Deus. No décimo primeiro capítulo da Bhagavad-gita, Krishna dá a Arjuna um vislumbre de Sua grandeza inspiradora ao exibir Sua forma universal, uma das maiores visões místicas da literatura mundial. Arjuna viu dentro da forma universal tudo o que existe e todos os seres que existem. Ele viu todos os planetas, estrelas e universos, bem como todos os seres vivos, sejam celestes, terrestres ou subterrâneos. Quando Krishna estava na Terra, Ele também exibiu Sua onipotência derrotando, sem esforço, inúmeros tiranos poderosos, que eram malfeitores no universo.
Além disso, o texto védico por excelência, o Srimad-Bhagavatam (1.2.11), fornece uma profunda ontologia tripartida da grandeza existencial de Deus. Deus existe como três manifestações simultâneas e não-duais:
  1. Brahman: uma refulgência deslumbrante que permeia toda a existência;
  2. Paramatma: a expansão pessoal e localizada de Deus, que reside no coração de todos os seres vivos e em cada átomo;
  3. Bhagavan: a Pessoa Suprema, todo-atrativa, que reside em Sua própria morada no mundo espiritual, retribuindo o amor eterno e ilimitado com Seus devotos.
O que Deus Faz no Seu Reino?
Tenho muito a lhe dizer.
A ideia abraâmica (Velho Testamento) de Deus é primariamente um juiz que recompensa o piedoso e penaliza o ímpio. Se isso é tudo o que Deus tem a fazer eternamente, mesmo pelos padrões terrenos, Sua vida é muito entediante. Mas as escrituras devocionais, como o Srimad-Bhagavatam, explicam que ser um juiz é apenas uma pequena parte da personalidade multifacetada, não onifacetada, de Deus. Krishna tem Sua própria vida de amor eterno com Seus devotos em Seu reino. Lá, Ele Se deleita, não em exibir Sua divindade, mas em retribuir o amor de Seus devotos.
Para facilitar a reciprocidade do amor puro, sem ser impedido pela reverência, Krishna, em Sua suprema morada de amor, desempenha o papel de uma criança travessa e leva outros devotos a desempenharem o papel de serem Seus pais, parentes e amigos. Ele também providencia que Seus devotos não estejam conscientes de que Ele é Deus; eles O veem apenas como o membro mais especial e doce de seu vilarejo. E Ele desempenha esse papel com perfeição. Por exemplo, com aqueles devotos que O amam em vatsalya-rasa (afeição dos pais), Ele Se torna uma criança desobediente e cativante que rouba manteiga de suas casas. As mulheres reclamam com a mãe de Krishna, Yashoda. Krishna engenhosamente finge inocência, e Yashoda é enganada até que a manteiga escorre dos lábios de Krishna e isso o incrimina.
Os céticos que perguntam por que Deus rouba perdem a essência de Seus passatempos: o amor. Além disso, sendo Deus, Krishna possui tudo, então não há dúvida de que Ele não está roubando nada. No entanto, Krishna “rouba” para ter trocas amorosas cheias de diversão com Seus devotos.
Confundir uma nota falsa como sendo genuína é lamentável, mas confundir uma nota genuína como falsa é ainda mais infeliz. De igual modo, enxergar os passatempos supramundanos de Krishna como sendo mundanos, ou, pior ainda, imorais, é confundir a nota genuína das trocas altruístas do amor divino com os tratos egoístas do amor mundano.
As escrituras védicas contêm descrições vívidas de muitos passatempos (atividades) de Krishna. Meditar nos passatempos de Deus faz despertar nosso amor por Ele de maneira fácil e alegre.
Devoção
Jesus enfatizou o mandamento de amar a Deus como o mandamento supremo, o qual aponta, inequivocamente, para o destino final da jornada espiritual. Como vamos desenvolver esse amor? E como sabemos que estamos realmente progredindo em direção a esse objetivo? A literatura bíblica fala sobre três níveis de amor: eros (amor conjugal), philia (amor fraterno) e ágape (amor divino), mas não há muita descrição sobre o amor divino. Certamente, os santos cristãos, como São Francisco de Assis, alcançaram níveis elevados de amor a Deus, mas não há muito caminho delineado na tradição bíblica para nos ajudar a seguir seus passos. As escrituras védicas são únicas no tocante a serem, entre as obras espirituais de todo o mundo, as fornecedoras das informações mais detalhadas sobre os pontos de referência nessa jornada interior.
Os nove principais marcos, descritos nos clássicos devocionais, como o Bhakti-rasamrita-sindhu e o Madhurya Kadambini, são:
  1. Sraddha (fé): A busca espiritual começa com a fé básica de que o reino espiritual existe e pode ser verificado através da experiência pessoal.
  2. Sadhu-sanga (associação com os devotos): O buscador espiritual se associa e aprende com os espiritualistas avançados, por suas palavras e exemplos, sua orientação e inspiração.
  3. Bhajana-kriya (adoção de práticas espirituais): O investigador sério, sob a orientação de um mestre espiritual, adota rigorosamente práticas devocionais, como a meditação mântrica, e se abstém de atividades imorais, como comer carne, jogar, intoxicar-se e fazer sexo ilícito.
  4. Anartha-nivrtti (remoção de impurezas): As poderosas práticas espirituais libertam gradualmente a pessoa de impulsos internos autodestrutivos, como luxúria, raiva, avareza, inveja, arrogância e ilusão, assim como o aquecimento do ouro provoca a separação das impurezas.
  5. Nistha (convicção): Essa mudança interna dramática gradualmente eleva sua fé inicial até esta se tornar uma convicção inabalável, que argumentos e contra-argumentos não podem mais perturbar.
  6. Ruci (gosto): Começa-se a saborear o canto e a lembrança de Deus devido ao gosto avassalador (prazer) que a recordação divina traz.
  7. Asakti (apego): O devoto agora se apega, viciado, à lembrança de Deus e a cantar Seus santos nomes e se absorve em Sua lembrança divina.
  8. Bhava (emoção divina): O devoto experimenta emoções divinas em relação ao Senhor, como alegria, tristeza, ansiedade e desapontamento, muito mais intensamente do que as emoções que um amante mundano experimenta por um amado.
  9. Prema (amor espiritual): Quando essas emoções amadurecem em amor a Deus em um nível puro, abnegado e desinteressado, então esse amor restaura nossa visão espiritual, pela qual podemos vê-lO, que é o amor personificado, a pessoa supremamente amorosa e amável, Deus Krishna.
Esses nove estágios são divididos em muitos outros estágios, ajudando os buscadores a entender precisamente onde estão situados e o que precisam fazer para seguir em frente. E as obras védicas também fornecem ao buscador veículos poderosos para a jornada interior, como yoga, meditação e, especialmente para nossa época atual, o cantar dos santos nomes de Deus. Equipado com este mapa claro e eficiente veículo, milhares de pessoas do Ocidente e do Oriente estão embarcando na jornada interior e desfrutando dela. Seu deleite divino é evidente e visível tanto em seu afastamento sustentável das imoralidades, como também por sua dança pública exuberante enquanto cantam os santos nomes de seu amado Senhor.
Palavras Finais
Um dicionário de bolso e um dicionário completo servem ambos para nos ajudar a aprender uma língua, mas o dicionário completo permite que nos aprofundemos em maiores. Da mesma forma, tanto os textos bíblicos quanto a literatura védica pretendem nos ajudar a desenvolver o conhecimento e o amor a Deus, mas a literatura védica nos ajuda a aprofundar imensamente. Quando nossos intelectos são convencidos filosoficamente sobre nossa situação existencial e sobre a grandeza insuperável de Deus e nossos corações são inundados da lembrança da doce relação de Deus com os devotos, torna-se muito mais fácil oferecer o amor de nosso coração e entregarmo-nos a Deus.
Evidentemente, Jesus tinha muito mais coisas a dizer, mas temia que seus seguidores não pudessem entendê-las ou mesmo suportá-las. Quando algumas dessas coisas sejam reveladas através da literatura védica, talvez alguns de seus seguidores na atualidade já possam suportá-las.
Tradução: Jimmy Mello. Revisão: Bhagavan Dasa.

Fonte: Volta ao Supremo
https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/ainda-tenho-muito-a-lhes-dizer/


Amigos de krishna
https://www.facebook.com/Amigos.de.Krishna/?fb_dtsg_ag=AdyUtsFoVR-M2QWnuW6qLlnQLqGxF9z0T7F_03YpIiqSUQ%3AAdx86tZliktBE4KnH5ldzes5B78vy8ThEfelv-ndSTNOiA



ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES

quinta-feira, 7 de março de 2013

RENÚNCIA PAPA BENTO XVI NO VATICANO


"Os 42 anos mais sórdidos do Catolicismo"

By Amy Goodman



Cardeais que elegerão sucessor de Bento XVI aplaudem Papa. Para Matthew Fox, não há esperanças no atual conclave; renovação cristã terá de ser reviravolta.

Teólogo revela como papas Ratzinger e Wojtyla reintroduziram a Inquisição, perseguiram divergentes e tornaram quase impossível renovação da Igreja.

Entrevista a Amy Googman e Juan Gonzalez, no DemocracyNow|

Tradução: Gabriela Leite

.Desde que o Papa Bento XVI formalmente se retirou, na quinta-feira, as especulações passaram a ser sobre quem vai substitui-lo. Na quarta, Bento deu um adeus emotivo em sua última audiência geral, dizendo que compreendia a gravidade de sua decisão de tornar-se o primeiro pontífice a renunciar, em um período de cerca de 600 anos. Com 85 anos de idade, apontou sua saúde frágil como razão para a partida. Dirigindo-se a cerca de 150 mil fiéis na Praça de São Pedro, disse que está renunciando pelo bem da Igreja.

O mandato do papa Bento foi marcado por muitos escândalos, talvez mais notadamente por sua postura diante dos abusos sexuais. Há alegações de que ignorou ao menos um caso assim, quando era cardeal. Documentos mostram que, em 1985, o estão cardeal Ratzinger adiou esforços para afastar um padre condenado por abusar de crianças. Enquanto isso, Bento supervisionou, no ano passado, uma sentença do Vaticano segundo a qual o maior e mais influente grupo de freiras católicas norte-americanas sofria “sérios problemas doutrinários”, por ter questionado os ensinamentos da Igreja sobre pontos como homossexualidade e a proibição das mulheres exercerem o sacerdócio. Mais recentemente, novas fontes italianas revelam que três cardeais foram investigados por terem vazado documentos que mostram a corrupção sem limites nos postos do Vaticano.

Para saber mais, fomos a San Francisco, onde entrevistamos o teólogo MatthewFox. Ele é autor de mais de vinte livros, o mais recente dos quais é “The Pope’s War: Why Ratzinger’s Secret Crusade Has Imperiled the Church and How It Can Be Saved” (tradução livre: “A guerra do Papa: Por que a cruzada secreta de Ratzinger ameaçou a Igreja e como ela pode ser salva”). Fox é um ex-padre católico, que foi primeiro impedido de ensinar a Teologia da Libertação e Espiritualidade da Criação pelo então cardeal Ratzinger. Mais tarde, foi expulso pela Ordem Dominicana, à qual pertenceu por 34 anos. Hoje é padre na IgrejaEpiscopal.

 Eis sua entrevista:

Amy Goodman: Bem vindo ao Democracy Now! Você pode começar respondendo sobre a renúncia do Papa e seu significado?

Obrigado. Eu realmente aprecio o jornalismo de vocês. Ele significa muito, para muitos de nós.
Penso que eu vou acreditar na palavra do Papa, quando ele diz que está cansado. Eu estaria cansado também, se tivesse deixado atrás de meu mandato tanta devastação, como ele fez, primeiro como inquisidor-geral durante o papado anterior. Bento trouxe de volta a Inquisição. É verdade que fui um dos teólogos expulsos por ele, mas relaciono outros 104 em meu livro, e a lista continua crescendo. É assim que a História vai lembrar deste homem: como quem trouxe a Inquisição de volta, o que é o completo oposto do espírito e dos ensinamentos do Segundo Conselho do Vaticano. Portanto, acredito realmente que o Papa está deixando seu posto porque não o suporta mais.
O Vaticano tornou-se um ninho de serpentes. Como teólogo, vejo o trabalho do Espírito Santo em tudo isso. A Igreja Católica como a conhecemos, a estrutura do Vaticano, está obsoleta. Estamos nos movendo para além dela. O que está ocorrendo é doentio e me refiro, por exemplo, à proteção dos padres pedófilos. Você pode ver este fenômeno em muitos lugares: com o Cardeal Mahony em Los Angeles; o cardeal escocês que acaba de renunciar; o Cardeal Law, que foi elevado após ter saído de Boston, promovido para dirigir uma basílica do século IV, em Roma; e o próprio Papa, segundo informações recentes.
Estamos tomando conhecimento das coisas horríveis que ocorreram em uma escola para surdos em Milwaukee, onde mais de 200 garotos, garotos surdos, foram abusados por um padre, e Ratzinger sabia disso. O Padre Maciel, que era tão próximo do último Papa que o levou para passeios de avião, abusou de vinte seminaristas; tinha duas esposas e abusou de quatro de seus próprios filhos. Ratzinger soube sobre esse caso por dez anos. Os documentos estavam em sua mesa, e ele não fez nada até 2005.
A história e a bajulação dos papas, que chamo de papolatria, não vão encobrir os fatos. Foram os 42 anos mais sórdidos do catolicismo, desde o Borgias. Acho que é algo realmente relacionado ao fim dessa Igreja, como a conhecemos. Acredito que o protestantismo também necessita de um reinício. Acho que o cristianismo pode voltar mais atrás, e se aproximar dos ensinamentos de Jesus, um revolucionário do amor e da justiça. É disso que se trata. E é por isso que tem havido uma resistência tão feroz, na ala direita. A própria CIA esteve envolvida, especialmente com o Papa João Paulo II, no esmagamento da Teologia da Libertação em toda a América do Sul, substituindo líderes heróicos, inclusive bispos e cardeais, por integrantes da Opus Dei, uma organização fascista. Tudo reduziu-se a uma questão de obediência: não se trata de ideias ou teologia. Eles não produziram um teólogo em quarenta anos. Produziram advogados canônicos e pessoas que se infiltram onde o poder está: na mídia, na Suprema Corte, no FBI, na CIA e nas finanças, especialmente na Europa.

Juan González: Em alguns de seus escritos, você sustenta que, no fundo, os dois últimos papas — Bento XVI e João Paulo II – lideram um cisma e que, na realidade, agiram para burlar as decisões do Concílio Vaticano II. Você poderia detalhar este movimento histórico?

O Papa João XXIII convocou o concílio no começo dos anos 1960. O encontro reuniu todos os bispos do mundo e todos os teólogos, muitos dos quais haviam vivido sob fogo no papado anterior, de Pio XII. Foi certamente um movimento de reforma. Inspirou os mais pobres, especialmente na América do Sul. Depois deste concílio, o movimento da Teologia da Libertação e a opção preferencial pelos pobres decolaram, criaram comunidades de base. Eram um novo jeito de fazer a Igreja, onde todos tinham voz, não apenas as pessoas no altar.
Esta aproximação não-hierárquica ao cristianismo e ao culto, muito mais horizontal e circular, foi uma grande ameaça a certas pessoas em Roma — ameaçou ainda mais à CIA. Dois meses depois de pleito, o presidente Ronald Reagan convocou uma reunião de seu Conselho Nacional de Segurança em Santa Fé, Novo México, para discutir um ponto específico: como destruir a Teologia da Libertação na América Latina. Concluíram que não poderiam destruir a Igreja, mas conseguiriam dividi-la. Foram ao Papa. Deram imensas somas de dinheiro ao sindicato Solidariedade, na Polônia, ao qual ele estava ligado. E em troca, conseguiram permissão ou — se você prefere assim — o compromisso do papado em destruir a Teologia da Libertação.
Isso está muito documentado. Por exemplo, por Carl Bernstein, num artigo de capa da revista Time, onde ele cria algo como uma hagiografia de Reagan e do Papa juntos. Bernstein foi muito ingênuo sobre o que realmente estava acontecendo na própria Igreja. Parte importante do Concílio Vaticano II era declarar a liberdade de consciência, considerá-la um direito de todos os cristãos. Tudo isso foi destruído pelo papa João Paulo II e pelo cardeal Ratzinger.
As reformas do Concílio Vaticano II estavam se concretizando. Falo de um cisma porque, na tradição católica, um Concílio é superior a um Papa. Mas nos últimos 42 anos, os dois últimos papados foram desfazendo todos os valores que o Vaticano II sustentou. É isso que as freiras estão sofrendo agora. Assim como o Vaticano atacou 105 teólogos, agora acusa as freiras de, digamos, não participar da Inquisição. E Deus abençoe essas freiras, as NunsontheBus. Muitos de nós as conhecemos porque elas têm estado nas linhas de frente, sustentando os valores do Vaticano II, especialmente os de justiça e paz, e trabalhando com os marginalizados.

Amy Goodman: Matthew Fox, por que você foi expulso da Igreja Católica? Você diz que é por causa da Teologia da Libertação. Explique.

Bem, primeiro eu fui silenciado por 14 anos, por Ratzinger. Em seguida, tive permissão para falar de novo e então, três anos depois, fui expulso. Mas ele construiu uma lista de reclamações. Primeira: eu seria um teólogo feminista. Não imaginava que este fato pudesse constituir uma heresia…
Número dois, eu chamava Deus de “Mãe”. Bem, provei que todos os místicos medievais chamavam Deus assim; e que a Bíblia também o faz, apesar de forma menos frequente.
Número três, eu prefiro a expressão “bênção original” a “pecado original”. Escrevi um livro chamado Original Blessing (“Bênção Original” em inglês), no qual provo que nem Jesus, nem judeu algum, jamais ouviu falar de “pecado original”. Como você pode construir uma igreja, em nome de Jesus, a partir de um conceito que é do século IV d.C.
Sabe o que mais aconteceu no século IV, além da ideia do pecado original? Foi a conversão do Império Romano ao catolicismo. Se você passa a comandar um império, o pecado original é um ótimo dogma a difundir. Faz com que todos fiquem confusos sobre por que estão aqui. Nessa condição, é muito mais fácil colocá-los sob comando.
Acusaram-me por não condenar homossexuais, o que é claro que não faço. Obviamente Deus quer homossexuais, ou não haveria entre 8% e 10 % da população de todo o planeta com essa graça especial.
Disseram que trabalho muito perto dos índios norte-americanos. Bem, realmente trabalho com eles. Aprendi muito com os professores índios e seus rituais, tais como saunas, danças do sol, busca de visões. Não sei se isso é heresia também — eu não sei o que significa “trabalhar perto demais”.
Essas eram algumas das objeções. E realmente, nenhuma delas se sustentava. São testes de Rorschach sobre o que apavora o Vaticano. E acima de tudo, é claro, sobre mulheres e sexo. Essa é a agenda. Em qualquer situação onde há fundamentalismo e fascismo, existe controle. É por isso que o Vaticano, o Taliban e o pastor Pat Robertson têm algo em comum: estão todos apavorados com a possibilidade de trazer a divindade feminina de volta, e com isso, é claro, os direitos iguais para as mulheres.

Juan González: Além da pedofilia, que tem sacudido o Vaticano e toda a Igreja, há também os escândalos de corrupção no próprio Vaticano. Fala-se da denúncia produzida por um grupo de cardeais, que investigaram parte da corrupção mas não vão divulgar nada até o próximo Papa ser nomeado. Você sabe quanto qualquer desses temas tem a ver com a renúncia de Bento XVI?

Tenho certeza que tiveram. Eu fui informado de que ele recebeu a denúncia, examinou-a e, seis horas depois, anunciou que estava renunciando. Pôs-se a salvo e encarregou o próximo papa de lidar com o tema. Penso ser muito claro que há uma conexão. Há muito mais nos bastidores do que a imprensa já anunciou, posso assegurar.
Quando Ratzinger fez-se papa, fui a Wittenberg e preguei as 95 Teses [de Martinho Lutero] na porta. Um ano e meio atrás, estava em Roma, e as traduzi para o latim — quer dizer, italiano, e entreguei-as para a basílica do cardeal Law numa manhã de domingo. Foi muito interessante. Um homem de 40 anos de idade veio a mim, um romano. Ele me disse, muito simplesmente: “Eu costumava me dizer um católico. Agora, só me chamo de cristão”. Foi um golpe para mim. Logo embaixo do nariz do papa, italianos, também, estão começando a compreender a verdade, estamos em um ótimo momento histórico. Uma instituição ocidental de 1800 anos está derretendo diante dos nossos olhos. É doloroso e feio. Por outro lado, é também um momento de avanço e para apertar o botão de reiniciar no cristianismo, retornando à mensagem realmente poderosa de Jesus e seus seguidores através dos séculos: os místicos e os profetas.
Susan Sontag define “fascismo” como violência institucionalizada. Os católicos têm passado por violência institucionalizada há 42 anos. Pergunte a qualquer um desses teólogos que foram afastados de seu trabalho. Alguns morreram de ataque cardíaco. Outros, na pobreza das ruas, porque não conseguiram arrumar emprego. Mas, é claro, fale com os jovens que foram abusados por padres e acobertados por Ratzinger, que “protegeu” a instituição às custas de cada uma dessas crianças.

Juan González: Vamos às especulações sobre quem vai ser o sucessor do Papa Bento XVI, Fala-se muito sobre a possível escolha, pela primeira vez, de um papa do hemisfério sul. Você ve alguma possibilidade de mudança real e substantiva na política da Igreja, seja quem for seu sucessor?

É triste dizer isso, mas eu não acredito, porque todos os que vão votar foram nomeados com aprovação do Ratzinger. Pensam como ele. O emburrecimento da igreja veio com toda essa crise pedófila. Quando você não tem líderes inteligentes e com consciência por 42 anos, mas apenas gente que diz sim, não é possível responder de modo inteligente à crise que emerge quando se acha um pedófilo em seu meio. Há um arcebispo norte-americano — não vou nomeá-lo – que, vinte anos atrás, chorou na presença de um amigo meu e lhe disse: “Não há um único bispo nomeado nos últimos vinte anos que eu consiga respeitar”. Bem, agora nós podemos dizer 42 anos.

Por isso, francamente, poucos nomes me vêm à cabeça. Existe este na África, que por azar é um completo homofóbico, e está endossando todas as leis recentes de violência homofóbica na África. É o chefe da Comissão de Justiça e Paz no Vaticano. Seria de esperara que não chegasse tão longe. Existe o cardeal austríaco, que é dominicano e mostrou um pouquinho de independência uma ou duas vezes. Há esse O’Malley, de Boston, que é franciscano, e portanto não quer ser Papa.



Sementes Espaço Ponto de Luz, de Rosana Rodrigues.