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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Por que desejamos a felicidade?

Por que Desejamos a Felicidade?



Chandramukha Swami

“Ter ou não ter” não é a questão.

A escola hedonista de Epicuro defende que a felicidade consiste basicamente na obtenção de posses, na aquisição plena dos bens externos. “Quanto mais possuir”, afirmava o filósofo grego que viveu três séculos antes de Cristo, “mais o indivíduo poderá gozar e, assim, mais irá experimentar a felicidade”. Um século antes de Epicuro, o também filósofo grego Diógenes propagou a doutrina que ficou conhecida como “Cínica”, na qual ele ensina que a felicidade pode ser obtida unicamente através da vacuidade, da renúncia dos bens externos. Ele defendia que, através da diminuição voluntária das posses e da eliminação do desejo de possuí-las, o indivíduo se torna mais feliz. Segundo seu ponto de vista, duas razões afastam o indivíduo da felicidade: o desejo de possuir o que não pode possuir e o medo de perder as posses conquistadas. “O caminho da felicidade consiste em renunciar espontaneamente as posses dos bens externos e o desejo de possuí-las”, pregou Diógenes.

É claro que os pensamentos de ambos os filósofos gregos citados são admiráveis e há importantes elementos de verdade em suas teses, mas, segundo Sri Chaitanya, o “apóstolo do amor a Deus” que viveu na Índia há pouco mais de 500 anos, ambos falharam num ponto extremamente central: a verdadeira felicidade não vem a reboque da abundância das posses de bens externos e nem está atrelada ao desprendimento deles, mas advém da compreensão de que tudo pode ser usado, de forma pontual e moderada, a serviço do autoconhecimento e da autorrealização, e nunca de outra forma.





Sri Chaitanya, o “apóstolo do amor a Deus”.

Segundo sua filosofia, a qual foi batizada como “simultaneamente igual e diferente”, a felicidade verdadeira não está sujeita às ocorrências externas, mas depende unicamente das circunstâncias internas. Sua conclusão é que tanto uma existência repleta de facilidades materiais quanto uma vida de abnegação voluntária não podem garantir felicidade a ninguém. De fato, alcança a felicidade verdadeira e a conserva internamente o indivíduo que desenvolve potência e vitalidade espiritual, as quais são frutos maduros da brandura do coração e da pureza da consciência. Uma vez que “ter ou não ter posses materiais” são fatores que escapam constantemente do controle de qualquer um, definitivamente a felicidade verdadeira e perdurável não tem nada a ver com alguns acontecimentos objetivos externos, mas, sim, depende de em que se baseiam nossas atitudes internas, subjetivas e transcendentais.

A Solução Está em Saber Possuir

Sri Chaitanya aponta duas ameaças para aqueles que são candidatos a alcançar a felicidade: fazer uso dos bens materiais com o propósito precípuo de gozar os sentidos, e renunciar a possibilidade de usá-los em um contexto espiritual. Além de ir na contramão da felicidade, ambas são fontes de ansiedade e condicionamento. Segundo ele, a solução está em saber possuir. E quem, entre os homens, sabe possuir? Aquele que, além de conhecer a arte de identificar os bens realmente utilizáveis a serviço do autoconhecimento, emprega-os de forma pontual como ferramentas valiosas de autolibertação. Por outro lado, aquele que se vale dos bens externos para o gozo dos sentidos, acaba se tornando escravo deles. Portanto, a diferença entre possuir os bens ou ser possuído por eles é brutal. Sabe possuir somente aquele que consegue ter sem que o seu “ter” o tenha.





Aquele que se vale dos bens externos para o gozo dos sentidos, acaba se tornando escravo deles.

É evidente que, num sentido real e mais profundo, ninguém é capaz de possuir algum objeto material. Ainda assim, não há mal algum em alguém “possuí-lo” de forma equilibrada. E, o que queremos dizer com “posse equilibrada”? É algo subjetivo, que depende da qualidade da consciência daquele que “possui”, não sendo algo objetivo, como a quantidade de posses. Não há como negar que lidar de forma apropriada e moderada com as posses materiais coloca o indivíduo numa condição de equilíbrio. Ora, se o apego em excesso (conforme apregoava Epicuro) e a aversão em demasia (de acordo com as ideias de Diógenes) desviam o indivíduo da felicidade permanente, uma relação equilibrada com as parafernálias materiais é condição sine qua non para se alcançar o objetivo com eficiência.

Onde Colocar o Coração

Podemos avaliar o grau do nosso egoísmo por observar a gangorra de altos e baixos dos nossos sentimentos. Por isso, um dos ensinamentos fundamentais da Bhagavad-gita é que devemos sempre colocar o nosso coração na ação devocional e nunca na busca por recompensas, sejam elas quais forem. De fato, quando eliminamos os propósitos egoístas de nossas vidas e passamos a agir sem buscar recompensas, somos capazes de executar qualquer trabalho que seja necessário sem ficarmos acorrentados por ele. É esta liberdade do egoísmo que nos conduz efetivamente à equanimidade mental. Em outras palavras, o quanto nos tornamos eufóricos com as experiências de “sucesso” e nos deprimimos com as experiências de “fracasso”, serve como evidência de quão forte é o nosso egoísmo.

Felicidade e Simplicidade

Mesmo que seja o tema central da humanidade e a meta suprema da existência humana, a verdadeira felicidade pode ser obtida através de coisas pequenas e simples, já que a natureza verdadeira da felicidade é puramente espiritual e só depende de pureza de consciência e de nada mais. De fato, ao trabalhar no cultivo dos princípios éticos e das virtudes internas, o indivíduo amplia sua consciência e espiritualiza sua visão: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”.





Para aquele que contempla a vida sob uma ótica espiritual, tudo se torna uma valiosa fonte de felicidade.

Na verdade, para aquele que contempla a vida sob uma ótica espiritual, qualquer coisa, evento, ocorrência, episódio – por mais simples e pequenos que possam parecer – se tornam majestosos e nobres e se convertem em valiosas fontes de felicidade. Em outras palavras, a felicidade é uma questão de pureza de consciência, pureza esta que pode ser conquistada gradualmente pelo indivíduo que se volta de todo o coração para um código incondicional de absoluta ética. De fato, quando se dá conta do enorme balaústre de tranquilidade que, agindo assim, irá construir dentro de si mesmo, o indivíduo não mais hesita, pois, nesse momento, não lhe resta nenhuma dúvida ou espaço para qualquer tipo de arrependimento, mágoa ou infelicidade.

A Felicidade é a Meta, o Resto (Quando Muito) é o Meio

Sem dúvida, ninguém é igual a ninguém. No entanto, embora cada um de nós tenha suas particularidades e peculiaridades, concordamos num único quesito: sem a menor exceção, queremos todos ser felizes! Este é o clamor suplicante da nossa alma, nossa aspiração oculta, nosso anseio latente e insuportável. Apesar das diferentes opiniões sobre como alcançá-la, ninguém duvida de que tão somente a felicidade é, e sempre será, a meta final da existência! Somente ela é o fim em si mesmo, a glória última, a coroação suprema da existência. E por que afirmamos que a felicidade é a meta final?

Ora, de que nos serviria alcançar a riqueza e ter acesso pleno aos prazeres da vida, caso isso não nos proporcionasse felicidade verdadeira e duradora? De que nos adiantaria uma vida de simplicidade, renúncia e vacuidade, se isso não nos servisse de atalho à felicidade verdadeira e duradora? Que valor teria se conquistássemos um mundo de poder e fama, se isso não nos desse acesso à felicidade verdadeira e duradora? Ou seja, a riqueza, o poder, a fama e até mesmo a renúncia, quando muito, são o meio para a felicidade e nunca a meta final. Quem buscaria a felicidade para outra coisa além da própria felicidade? E, como a felicidade é a única que se basta, nos parece correto afirmar que a felicidade é a meta suprema e última da existência. De modo semelhante, a busca por esta felicidade é o elemento que motiva a existência dos mais diversos tipos de pessoas. É essa busca que atua como combustível para uma pessoa se empenhar em obter riquezas, que dá força necessária para outra lutar incansavelmente pelo poder, que impulsiona outra a fazer de tudo para conquistar a fama. Essa mesma busca pela felicidade também motiva certas pessoas ao recolhimento, à privação dos prazeres da vida, a levarem vidas de contemplação e a buscarem o divino em seu próprio interior. E embora sejam apostas diferentes, todos acreditam que, através do caminho escolhido, irão entrar em contato com a tão sonhada felicidade e, assim, preencherão plenamente os vazios do coração.

O Dharma da Alma

Sabemos que, desde tempos imemoriais, o sol evapora as águas do mar e as armazena em nuvens para, em seguida, distribuí-las na forma de chuvas. Pelo desejo da Providência, essas águas caem nas superfícies e conseguem se infiltrar pelos espaços vazios entre as rochas, formando, assim, um lençol freático. Com o tempo, quando o lençol freático fica suficientemente cheio, cria-se um olho-d’água, o qual se transforma numa nascente. A nascente, então, dá origem a um novo rio, que, por sua vez, terá que vencer vários obstáculos até se reencontrar com o mar. Baseados nisso, podemos afirmar que o dharma do rio é buscar o oceano. E não importa se barreiras, obstáculos ou dificuldades irão surgir em sua frente. Nada o fará desistir, mesmo que tenha que mudar o curso de suas águas, mas ele continua determinando a buscar o oceano. E somente quando conseguir alcançar seu objetivo de se encontrar e se vincular ao oceano, quando o rio passará a fazer parte de uma existência incomensurável, todos os seus problemas se acabarão.

A existência humana é como a de um rio. Em outras palavras, da mesma forma que o rio se mantém absolutamente determinado em buscar o oceano – já que foi de lá que ele veio –, quer saiba, quer não, o ser humano está sempre caminhando em direção a Deus, seu criador e a fonte e o manancial da sua verdadeira e duradora felicidade. Buscar essa fonte de felicidade é, portanto, o dharma da nossa existência. Fomos criados para isso, é nossa inseparável aspiração, o significado de nossa existência, independentemente das barreiras, obstáculos ou dificuldades que teremos que enfrentar. A felicidade é nossa busca única e incontrolável, pois possuímos, como ressalta São Tomás de Aquino, a libido felicitatis, “a pulsão de ser felizes”. Essa pulsão é intrínseca ao próprio Eu. Portanto, nada poderá nos fazer abdicar de correr atrás da felicidade, assim como nada fará com que o rio desista de correr na direção do oceano.

Pode ser que tenhamos perdido o desejo de sermos ricos, de sermos famosos, de sermos poderosos, mas nunca desistiremos de ser felizes. E por que desejamos tanto a felicidade? Porque “desejar” e “ser feliz” são características naturais do nosso Eu, da nossa alma. Por isso, desejar a felicidade é inevitável. É claro que há diferentes conceitos de felicidade, diferentes formas de imaginá-la, mas a busca por ela existe em todos. E dizer que buscamos por felicidade não é diferente de dizer que sentimos sua falta, temos saudades dela. E essa saudade da felicidade é extremamente intrigante, pois é uma forma de revelar que todos nós já tivemos a experiência real de felicidade em algum momento, pois não seria possível sentirmos falta de algo que nunca tivemos contato ou acesso.

Ora, temos saudades de pessoas com as quais convivemos, sentimos falta de experiências que já tivemos, desejamos saborear alimentos que já provamos, queremos repetir situações prazerosas que já passamos. Tudo isso é completamente compreensível. No entanto, não podemos sentir falta de algo que não conhecemos, que não temos a menor ideia do que seja, algo a que nunca tivemos acesso. Por isso, como, na presença da sua bem-amada, alguém poderia sentir saudade dela? Como, de estômago cheio, alguém poderia sentir fome? De fato, saudade só existe na distância, assim como a fome só surge quando o corpo é privado de alimento. Saudade e fome são desejos, testemunhos da ausência de algo. Desejamos quando estamos privados. Por isso, temos fome e sentimos saudade. Portanto, a alma deseja felicidade porque, por ora, está privada da felicidade que lhe é de direito.

De forma semelhante, queremos amar e ser amados. Isso se aplica a todos. E mesmo que muitas tentativas de amar e ser amado sejam frustrantes e tragam experiências dolorosas, ninguém desiste. O problema é que não temos uma compreensão clara do significado do amor. Todavia, mesmo que cada um entenda o amor do seu próprio jeito, que imagine sua própria forma de amar, a busca pelo amor sempre persiste, não sendo possível interrompê-la. Essa busca, assim como a busca pela felicidade, nos leva a crer que já amamos verdadeiramente em algum momento, assim como já fomos verdadeiramente amados. Caso contrário, se nunca tivéssemos tido experiência real do amor, como sentiríamos sua falta?


Portanto, felicidade e amor estão interligados e são desejos naturais e inevitáveis. E, como foi dito, sentimos a falta deles porque, em algum momento da nossa existência, já tivemos acesso a eles. Como a natureza original da alma é a plenitude, a ideia de privar-se de alguma coisa é inaceitável. Por isso, durante sua vida terrena e condicionada, todo indivíduo está sempre sentindo falta de algo. Para a alma, o que lhe é oferecido na plataforma material não é suficiente. Por isso, ela não consegue parar de desejar. O problema é que, revestida de um corpo material, ela não se reconhece e, confusa, perde sua capacidade de desejar com perfeição. Pobre dela que acaba inventando algo para desejar na esperança vã de que este algo irá lhe proporcionar a sensação de plenitude que, em algum momento de sua existência, já experimentou.
Fonte: Amigos de Krishna



ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES


domingo, 13 de outubro de 2013

O ASSUNTO NÃO É VOCÊ

O ASSUNTO NÃO É VOCÊ 



Poucos conselhos são mais perversos e canalhas do que o popular “trate as
 outras pessoas como gostaria de ser tratada”.

Não é verdade. Sabe por quê? Porque a outra pessoa é uma outra pessoa.
Porque ela teve outra vida, outras experiências. Porque ela tem outros
traumas, outras necessidades. Basicamente, porque ela não é você; porque
você não é, nem nunca vai ser, nem deve ser, a medida das coisas.
Se você se usa como parâmetro para qualquer coisa, talvez devesse pensar
 duas vezes. A outra pessoa deve ser tratada não como VOCÊ gostaria
de ser tratada, mas como ELA merece e precisa ser tratada.

E você pergunta:
“Mas, Alex, como vou saber como essa tal outra pessoa merece e precisa
ser tratada?”
Bem, para isso, o primeiro passo é sair de si mesma e deixar de se usar
de parâmetro normativo do comportamento humano. Essa é a parte fácil.
Depois, abra bem os olhos e os ouvidos. Reconheça que existem outras
pessoas e que elas são bem diferentes de você.


Então, conheça-as.

racismo.
racismo, por eneko.

* * *

A primeira coisa que aprendemos em vendas é a colocar sempre
 o foco na cliente. A chave para vender algo é resolver um problema
 ou necessidade da cliente – nem que para isso você precise criar
a necessidade! Idealmente, suas frases devem girar sempre em torno
da cliente:

“O que posso fazer para colocá-LA em um carro novo hoje mesmo?”, etc.
As vendedoras não fazem isso à toa. Funciona mesmo.
Entretanto, nas últimas décadas, a técnica se espalhou.
Basta ver a capa de qualquer revista:
“20 maneiras de agradar SEU homem”, “A recessão: como ela afeta
 o SEU emprego”, “ENTENDA a crise em Ruanda”, etc.
Esse último é especialmente traiçoeiro, por ser mais discreto.
Entretanto, o efeito desse “entenda” é enorme, pois ele muda
totalmente o eixo da discussão. Agora, o foco não é mais
a crise em Ruanda, mas VOCÊ: o importante não é mais o sofrimento
 daquelas pessoas exóticas de uma cor diferente da sua, mas que 
VOCÊ entenda (superficialmente, claro) mais uma coisa para poder
demonstrar às colegas de trabalho como está up-to-date com assuntos
 internacionais. Você, você, você. Não podemos nem mais falar
sobre a crise em Ruanda sem arrastar, logo quem, VOCÊ para o meio
da conversa.
A falácia, naturalmente, é que você não tem nada a ver com a

 crise em Ruanda.


feminicídio, por carlos latuff.
feminicídio, por carlos latuff.


* * *

Falando em termos da classe média ocidental, vivemos em um
 mundo onde os pais e as mães param tudo para virar escravas
 das filhas: até Mozart na barriga da mãe escutam. Depois,
crescem sendo as deusas e os reizinhos da casa, mandando
 em empregadas, vendo o mundo girar a sua volta. Na TV,
 mil anúncios voltados pra elas. Nos mercados, mil produtos
 feitos especialmente para fazer as crianças pentelharem os
pais e as mães para comprá-los. Nas escolas, as alunas
agora também avaliam as professoras e exigem um bom
 serviço em troca das suas mensalidades. Se alfabetizam
 lendo as mesmas notícias acima, sobre como isso ou aquilo
 os afeta, sempre dando a entender que a crise em
Ruanda só existe para que a entendam.
Aí, crescem e se tornam pessoas adultas que, ao invés de
refletir sobre os privilégios que têm, lutam pelos que não
têm; que acham que uma petição online é mais que nada;
que pensam que vão salvar o mundo pelo consumo responsável,
comendo atum dolphin-free e palmito não-proveniente da
Mata Atlântica.
Ou seja, se tornam pessoas adultas que acham, sinceramente,
do fundo do coração, que tudo gira em torno delas.

Que o assunto é sempre elas.


por que você ainda é hétero?


por que você ainda é hétero?

* * *
Fala-se de racismo, e lá vem:
“mas tenho amigas negras”, “já namorei uma negra”, “chamo
 meu amigo de Sombra /Grafite/Tição/etc e ele nunca se importou”.
Só que sua opinião, seus amigos, suas namoradas, tudo isso
é irrelevante, entende? O racismo é maior que você, já
existia antes, vai continuar existindo depois. Essa discussão
tem que se dar no nível da história e da sociologia, dos
indicadores econômicos e das injustiças contemporâneas.
Quando muito, talvez, da experiência pessoal das pessoas
 negras que sofrem a discriminação, mas mesmo isso é
 altamente subjetivo, pois o preconceito também é introjetado
 pela própria comunidade. Mas, com certeza, não da SUA 
experiência pessoal.

O assunto não é você.


* * *
Fala-se de aquecimento global, e lá vem:

“mas esse ano teve uma tempestade de neve na minha cidade”,
“2012 foi o inverno mais frio da memória”, etc.
Só que as nevascas na sua cidade são incidentais e anedóticas,
entende? Eu mesmo não tenho opinião sobre aquecimento
global, mas ele vai ser provado ou desprovado através de
gráficos climáticos globais sobre oscilações de temperatura
ao longos dos séculos – e não pela quantidade de neve
bloqueando seu carro no inverno passado.


O assunto não é você.


Cruzes sobre a bandeira da diversidade, representando as vítimas de violência transfóbica e homofóbica.

Cruzes sobre a bandeira da diversidade, representando
as vítimas de violência transfóbica e homofóbica.

* * *

Fala-se de feminismo, e lá vem:
“essas feministas são muito histéricas, eu jamais me incomodaria
da minha chefa passar a mão na minha bunda”, “minha mãe
foi dona-de-casa a vida inteira e muito feliz”.
Mas você não é mulher, entende? As mulheres ganham menos,
sofrem mais violência doméstica, são estupradas, morrem em
abortos clandestinos – todos fenômenos com métricas
facilmente encontráveis. A discussão tem que dar através desses
números. As coisas que você-homem faria ou sentiria se
estivesse no lugar delas são irrelevantes, pois você não está e
nem nunca estará no lugar delas.



O assunto não é você.

* * *

Fala-se de homofobia, e lá vem:
“não tenho nada contra mas acho que essas paradas
gays me incomodam e só estigmatizam o movimento”,
 “minha religião diz que é pecado”, “se duas pessoas gays
 se beijarem em público, como vou explicar isso pra minha filha?”
Mas sua religião, sua opinião, seu incômodo, sua filha, isso
 tudo é irrelevante, entende? Outras pessoas-cidadãs
tem outras religiões, outras opiniões, outras filhas – e têm os
mesmos direitos que você. Se as manifestações gays te incomodam,
 resolva o problema na terapia ou no templo. 

Você não saber como explicar à sua filha um fenômeno
humano ancestral como a homossexualidade não é
justificativa para proibir alguém de viver seu amor.


O assunto não é você.



homofobia, por carlos latuff
homofobia, por carlos latuff


* * *

Os exemplos poderiam continuar ad eternum. Aborto,
transfobia, descriminalização das drogas, pobreza.
Deixe sua contribuição nos comentários.
* * *
Uma amiga leu o rascunho desse texto e perguntou:
“É lindo isso, mas como você consegue ser assim?”
E eu tive que rir: mas quando foi que eu disse ou sugeri,
em algum momento, por um segundo que fosse, que eu 
conseguia ser assim?!
Não estou me colocando acima desse comportamento.
Bom narcisista que sou, escrevi o texto não pensando
nas outras pessoas, mas em mim mesmo e na minha
própria vontade (tão vaidosa e tão narcisa) de ser a
melhor pessoa possível. Pois eu também faço tudo isso.
Escuto alguma coisa e já trago logo para mim, quero
saber como afeta a minha vida, tenho sempre uma anedota
 pessoal para contribuir.
Não estou falando de cima, como o guru que conseguiu
 praticar um comportamento ilibado, pontificando às infelizes
lá embaixo que ainda não chegaram ao seu nível de iluminação:
 pelo contrário, estou falando a partir dos subterrâneos, do
meio da multidão; estou falando justamente da briga diária
 que travo comigo mesmo, todo dia, o tempo todo.
Mas agora estou mais alerta. Tento não reincidir. Já consigo
morder a língua antes de falar besteira. Convido vocês a
tentarem fazer o mesmo. E, na próxima vez em que virem
alguém se colocando em um assunto onde não deveria estar,
deem o link desse texto.


Repitam comigo. O assunto não é você.


Ou melhor, o assunto não sou eu. 
O assunto não sou eu.






paradoxos machistas, por didi helene: http://crocomila.blogspot.com/

Fonte: Papo de Homem


Sementes Espaço Ponto de Luz de Rosana Rodrigues


Convido a participarem do GRUPO Mulheres que Correm com os Lobos :

https://www.facebook.com/groups/mulheresquecorremcomoslobos/?fref=ts

Sempre Toda Paz.

Rosana Rodrigues