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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Conhecimento Védico e Jesus não são incompatíveis

“Ainda Tenho Muito a Lhes Dizer”

ainda tenho muito a lhes dizerChaitanya-charana Dasa

Jesus disse que tinha muito mais a dizer, e, na literatura védica, temos muito mais informações e conhecimento acerca de Deus.

Bhaktivinoda Thakura, um santo estudioso vaishnava do século XIX, explica como um verdadeiro devoto deve respeitar outras religiões e suas práticas. Ele disse: “Quando temos a oportunidade de estar presentes no local de culto de outros religiosos no momento de sua adoração, devemos ficar ali de um modo respeitoso, contemplando e refletindo assim: ‘Aqui está sendo adorado o meu maior e adorável Deus, embora esteja em uma forma diferente da que eu adoro. Devido a uma prática diferente ou de um estilo diferente, de fato não consigo compreender completamente o sistema pelo qual eles adoram meu Deus. Mas, vendo isso, estou sentindo um maior apego por meu próprio sistema [de adoração]. Deus é apenas um. Inclino-me diante de seus símbolos, como vejo aqui, e ofereço minha oração ao Senhor, para que ele possa aumentar meu amor para com Ele na forma aceitável para mim.’”
Eu nasci em uma família brahmana e fui educado em uma escola de confissão cristã. Na minha escola, eu aprendi sobre Deus também, tanto sobre os rituais hindus realizados em minha casa, quanto sobre as orações cristãs na escola. Contudo, foi apenas no final da adolescência, quando os devotos da ISKCON me apresentaram a filosofia sistemática da consciência de Krishna ensinada na literatura védica, que eu iniciei um estudo sério sobre a espiritualidade. Quando me deparei com a declaração acima, de Bhaktivinoda Thakura, senti que havia descoberto o elo perdido que poderia integrar meu respeito pela tradição cristã à minha fé de Krishna. O propósito deste artigo é de certa forma semelhante: ajudar os seguidores védicos a obter uma apreciação mais profunda de seu próprio caminho, enquanto oferecem aos cristãos uma nova visão de sua fé a partir da perspectiva de um seguidor védico.
O objetivo final do cristianismo e da consciência de Krishna é o mesmo: ajudar os praticantes a desenvolver o amor a Deus, elevá-los de materialistas a espiritualistas, ajudando-os na jornada de volta ao reino de Deus (volta ao Supremo).
Mas esses ensinamentos são igualmente apresentados no texto bíblico e no texto védico?
Vamos agora explorar os insights oferecidos nesses dois grupos sobre três assuntos altamente úteis para desenvolvermos nosso relacionamento com Deus:
  1. A alma e sua condição existencial.
  2. Deus e Sua natureza amorosa.
  3. Devoção e seu desenvolvimento progressivo.
Por que a Alma Cai Neste Mundo?
Tenho muito a lhe dizer.
A tradição bíblica conta a história de Adão e Eva, na qual eles caíram (em pecado, termo comum no cristianismo) do Jardim do Éden por comerem o fruto proibido em desobediência à ordem de Deus. Devido ao pecado original de Adão, toda a humanidade, tendo descendido dele, é considerada herdeira do pecado e está destinada a sofrer na existência material até ser resgatada pela graça redentora de Deus (na forma de Jesus Cristo).
Esta história implica que todos nós somos vitimados por todos os sofrimentos deste mundo, tais como todos os terremotos, formas de câncer, guerras etc., porque, no passado remoto, alguém comeu o fruto proibido. O fato de sermos sentenciados a sofrer por um pecado que nós mesmos nunca cometemos parece, para qualquer pessoa reflexiva, evidentemente injusto.
O erudito da ISKCON Ravindra Svarupa Dasa oferece uma leitura alternativa da história de Adão, uma leitura que também explica a causa de nossa queda da perspectiva védica:
Quando a Bíblia fala sobre o que Adão fez, está falando sobre o que nós mesmos fizemos. Nós estávamos lá “no começo”, porque, sendo descendentes de Deus e feitos à Sua imagem, não somos seres materiais, mas seres espirituais. Então, somos eternos. Esta é a natureza do espírito: nunca vem a ser; nunca deixa de ser. É por isso que, na Bhagavad-gita, a alma é descrita não apenas como aja, “não-nascida”, e nitya, “eterna”, mas também como purana, “a mais antiga”.
Isso significa que todos nós somos pessoas primordiais. Quando a Bíblia fala sobre Adão, na verdade, está falando sobre nós. Na verdade, Adão, ou Adam, é simplesmente uma palavra hebraica que significa “homem”.
Então, nós somos os culpados. E o que nós fizemos? Qual é o nosso pecado na raiz de tudo isso?
Decidimos que não queríamos servir a Deus, mas queríamos nós mesmos nos tornarmos Deus. Em outras palavras, ficamos com inveja de Deus e quisemos tomar o Seu lugar. Essa é a nossa queda. E ainda estamos caídos até hoje porque ainda temos essa atitude.
Esse entendimento não apenas nos ajuda a entender o que originalmente fizemos de errado, mas também o que precisamos fazer para retornar a Deus.
Temos Apenas uma Chance de Viver?
A noção cristã generalizada é que, se não nos rendermos a Deus aceitando Jesus como nosso Senhor e Salvador nesta breve vida, seremos enviados ao inferno para sofrer pelo resto da eternidade. Essa noção milita contra a premissa fundamental da teologia: um Deus amoroso e misericordioso. Afinal, até os pais comuns, por amor aos filhos, dão a eles várias chances de se reformarem. Então, a alegação de que o Pai Supremo Deus nos dá apenas uma chance não limita o amor ilimitado dEle?
Os insights védicos nos ajudam a entender melhor o amor ilimitado de Deus por nós. O entendimento védico é que somos almas que, na forma humana de vida, têm a chance de reviver nosso relacionamento esquecido com Deus. Se nós negligenciamos ou rejeitamos esta oportunidade, então, de acordo com nossos desejos e nosso carma, nós transmigramos de um corpo para outro em 8,4 milhões de espécies até, por fim, voltarmos à forma humana e termos outra chance. Se nós ainda não usamos essa chance, então continuamos passando pelo ciclo transmigratório e tendo chances de nos voltarmos para Deus até que, finalmente, façamos a escolha certa: voltemos para Deus e vivamos felizes com Ele para sempre.
A coerência do entendimento védico sobre a escatologia foi apreciada até mesmo pelo erudito cristão e pioneiro sânscrito Sir William Jones. Ele disse: “Eu não sou hindu, mas considero a doutrina dos hindus relativa a um estado futuro incomparavelmente mais racional, mais piedosa e mais provável de refrear os homens no vício do que as horríveis opiniões inculcadas pelos cristãos sobre a punição eterna.”
Por que Coisas Ruins Acontecem a Pessoas Boas, Especialmente a Crianças Inocentes?
Essa questão desconcertante tem sido a ruína da teologia cristã. Se aceitarmos a afirmação cristã de que não tivemos vida antes da presente, então com que base nos são dados diferentes pontos de partida para a jornada de nossa vida? Por que algumas pessoas nascem em famílias ricas, enquanto algumas nascem em famílias pobres?
Embora a Bíblia diga que “como você semeia, você também colherá”, a noção cristã atual falha em nos ajudar a entender como isso está acontecendo. A compreensão védica de nós como almas transmigradoras nos ajuda a enxergar a vida a partir de uma perspectiva muito mais ampla de múltiplas vidas. Assim como diferentes sementes são colhidas após diferentes períodos de tempo, também diferentes ações apresentam reações após diferentes períodos de tempo, algumas imediatamente, algumas mais tarde na mesma vida, e outras em uma vida subsequente. As reações cármicas que transportamos ao longo de nossas vidas (humanas) passadas determinam as condições iniciais de nossa vida atual.
A aceitação da lei do karma não é fatalista, criando sentimentos de desamparo e impotência, como algumas pessoas interpretam erroneamente. Também não é psicologicamente prejudicial, criando sentimentos assombrosos de culpa, como alguns outros alegam. Em vez disso, uma compreensão madura da lei imparcial do karma é altamente fortalecedora, pois entendemos que ainda temos controle sobre nossas vidas. Ao se harmonizar com as leis universais da ação, como explicado nas escrituras dadas por Deus, temos o poder de criar um futuro brilhante para nós mesmos, independentemente de quão sombrio o presente pareça ser. É por isso que o escritor W. Somerset Maugham escreveu em O Fio da Navalha: “Já lhe ocorreu que a transmigração (da alma) é ao mesmo tempo uma explicação e uma justificativa do mal do mundo? Se os males que sofremos forem o resultado de pecados cometidos em nossas vidas passadas, podemos suportá-los com determinação e ter a esperança de que, se nos esforçarmos pela virtude, nossas vidas futuras serão menos perturbadoras.”
Quem é Deus?
Na tradição bíblica, não há muito conhecimento positivo sobre Deus, sua morada, personalidade, atributos e atividades.
A Bíblia declara que Deus é o objeto supremo do amor, mas como alguém ama a Deus sem conhecê-lO? Alguém pode amar um conceito ou uma cifra? Não sabendo como Deus se parece, alguns cristãos especulam que Deus, sendo a pessoa primitiva, deve ser um homem velho com uma longa barba. Por exemplo, na célebre Capela Sistina, localizada na Cidade do Vaticano, o teto retrata Deus como um homem idoso criando Adão, que, paradoxalmente, parece mais bonito, saudável e amável do que Deus.
O conhecimento autoexistencial de Deus não está presente na tradição bíblica porque Deus, sendo infinito, é incognoscível para nós seres finitos? Ao mesmo tempo em Deus é certamente infinito e incognoscível para nós por nossos próprios esforços, um aspecto essencial da infinitude e onipotência de Deus é a Sua capacidade de Se revelar a nós se Ele assim desejar. Dizer que Deus não pode Se tornar conhecido para nós é limitá-lO.
Deus Se fez conhecido como uma Suprema Personalidade toda-atrativa através das escrituras védicas. À primeira vista, os textos védicos podem parecer politeístas, fazendo com que os deuses védicos pareçam ser como os deuses pagãos cuja adoração o Antigo Testamento proíbe. Mas um estudo profundo e orientado das escrituras védicas revela que, embora contenham rituais multifacetados para formas de adoração multiníveis, elas são conclusivamente monoteístas. Na Bhagavad-gita, Krishna é glorificado como o único Deus Supremo, com declarações notadamente semelhantes aos elogios bíblicos de Deus. Por exemplo, a Bhagavad-gita (10.32) afirma: “De todas as criações, Eu sou o começo e o fim e também o meio”, o que é semelhante a esta declaração bíblica: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o começo e o fim, o primeiro e o último.” (Apocalipse 22:13).
Neste ponto, a maioria dos cristãos naturalmente se perguntará se Krishna pode ser igualado ao Deus bíblico, especialmente quando a Bíblia não declara isso. Vamos considerar esse ponto com base na escritura e na lógica:
  1. Escritura: Jesus foi crucificado depois de apenas três anos de pregação. Que ele tinha mais coisas para revelar é claramente visto em sua própria declaração: “Ainda tenho muito a lhes dizer, mas agora vocês não são capazes de suportar.” (João 16:12) Os cristãos podem ser fiéis à sua própria tradição e ainda estar abertos à sabedoria das escrituras que não as suas próprias? Tal abertura parece evidenciada na declaração bíblica: “Toda escritura é dada por inspiração de Deus, e é proveitosa para doutrina, para repreensão, para correção, para instrução em retidão, para que o homem de Deus seja perfeito, completamente provido de toda boa obra.” (2 Timóteo 3:16-17) Este versículo é tradicionalmente interpretado pelos cristãos para se referir a “todas as escrituras bíblicas”, mas talvez o espírito ecumênico evidente nas palavras do versículo “toda escritura” sugira uma abertura mais ampla.
  2. Lógica: Se um aluno que está estudando Ciência da Computação no IIT Mumbai vier a saber que a ciência da computação é ensinada mais detalhadamente no MIT, EUA, ele se restringirá ao IIT ou aproveitará a educação disponível no MIT? Se ele estiver interessado em ciência da computação, obviamente ele vai aproveitar a oportunidade para aprender (também) no MIT. Similarmente, se um buscador de Deus, que está desenvolvendo o amor a Deus dentro da tradição cristã, descobre que um conhecimento maior de Deus está disponível em outra tradição, a tradição védica, ele não pode aproveitar essa tradição para enriquecer seu conhecimento de Deus e assim acelerar seu amor a Deus? Talvez seja útil esclarecer as prioridades de uma pessoa ao se propor a pergunta da busca da alma: “Estou interessado no cristianismo (em si mesmo) ou estou interessado em Deus?”
Deus É Grandioso, Mas Como?
A tradição bíblica declara repetidamente a grandeza de Deus, mas não dá muita descrição concreta de Sua grandeza. Por outro lado, a descrição védica de Krishna demonstra graficamente a grandeza de Deus. No décimo primeiro capítulo da Bhagavad-gita, Krishna dá a Arjuna um vislumbre de Sua grandeza inspiradora ao exibir Sua forma universal, uma das maiores visões místicas da literatura mundial. Arjuna viu dentro da forma universal tudo o que existe e todos os seres que existem. Ele viu todos os planetas, estrelas e universos, bem como todos os seres vivos, sejam celestes, terrestres ou subterrâneos. Quando Krishna estava na Terra, Ele também exibiu Sua onipotência derrotando, sem esforço, inúmeros tiranos poderosos, que eram malfeitores no universo.
Além disso, o texto védico por excelência, o Srimad-Bhagavatam (1.2.11), fornece uma profunda ontologia tripartida da grandeza existencial de Deus. Deus existe como três manifestações simultâneas e não-duais:
  1. Brahman: uma refulgência deslumbrante que permeia toda a existência;
  2. Paramatma: a expansão pessoal e localizada de Deus, que reside no coração de todos os seres vivos e em cada átomo;
  3. Bhagavan: a Pessoa Suprema, todo-atrativa, que reside em Sua própria morada no mundo espiritual, retribuindo o amor eterno e ilimitado com Seus devotos.
O que Deus Faz no Seu Reino?
Tenho muito a lhe dizer.
A ideia abraâmica (Velho Testamento) de Deus é primariamente um juiz que recompensa o piedoso e penaliza o ímpio. Se isso é tudo o que Deus tem a fazer eternamente, mesmo pelos padrões terrenos, Sua vida é muito entediante. Mas as escrituras devocionais, como o Srimad-Bhagavatam, explicam que ser um juiz é apenas uma pequena parte da personalidade multifacetada, não onifacetada, de Deus. Krishna tem Sua própria vida de amor eterno com Seus devotos em Seu reino. Lá, Ele Se deleita, não em exibir Sua divindade, mas em retribuir o amor de Seus devotos.
Para facilitar a reciprocidade do amor puro, sem ser impedido pela reverência, Krishna, em Sua suprema morada de amor, desempenha o papel de uma criança travessa e leva outros devotos a desempenharem o papel de serem Seus pais, parentes e amigos. Ele também providencia que Seus devotos não estejam conscientes de que Ele é Deus; eles O veem apenas como o membro mais especial e doce de seu vilarejo. E Ele desempenha esse papel com perfeição. Por exemplo, com aqueles devotos que O amam em vatsalya-rasa (afeição dos pais), Ele Se torna uma criança desobediente e cativante que rouba manteiga de suas casas. As mulheres reclamam com a mãe de Krishna, Yashoda. Krishna engenhosamente finge inocência, e Yashoda é enganada até que a manteiga escorre dos lábios de Krishna e isso o incrimina.
Os céticos que perguntam por que Deus rouba perdem a essência de Seus passatempos: o amor. Além disso, sendo Deus, Krishna possui tudo, então não há dúvida de que Ele não está roubando nada. No entanto, Krishna “rouba” para ter trocas amorosas cheias de diversão com Seus devotos.
Confundir uma nota falsa como sendo genuína é lamentável, mas confundir uma nota genuína como falsa é ainda mais infeliz. De igual modo, enxergar os passatempos supramundanos de Krishna como sendo mundanos, ou, pior ainda, imorais, é confundir a nota genuína das trocas altruístas do amor divino com os tratos egoístas do amor mundano.
As escrituras védicas contêm descrições vívidas de muitos passatempos (atividades) de Krishna. Meditar nos passatempos de Deus faz despertar nosso amor por Ele de maneira fácil e alegre.
Devoção
Jesus enfatizou o mandamento de amar a Deus como o mandamento supremo, o qual aponta, inequivocamente, para o destino final da jornada espiritual. Como vamos desenvolver esse amor? E como sabemos que estamos realmente progredindo em direção a esse objetivo? A literatura bíblica fala sobre três níveis de amor: eros (amor conjugal), philia (amor fraterno) e ágape (amor divino), mas não há muita descrição sobre o amor divino. Certamente, os santos cristãos, como São Francisco de Assis, alcançaram níveis elevados de amor a Deus, mas não há muito caminho delineado na tradição bíblica para nos ajudar a seguir seus passos. As escrituras védicas são únicas no tocante a serem, entre as obras espirituais de todo o mundo, as fornecedoras das informações mais detalhadas sobre os pontos de referência nessa jornada interior.
Os nove principais marcos, descritos nos clássicos devocionais, como o Bhakti-rasamrita-sindhu e o Madhurya Kadambini, são:
  1. Sraddha (fé): A busca espiritual começa com a fé básica de que o reino espiritual existe e pode ser verificado através da experiência pessoal.
  2. Sadhu-sanga (associação com os devotos): O buscador espiritual se associa e aprende com os espiritualistas avançados, por suas palavras e exemplos, sua orientação e inspiração.
  3. Bhajana-kriya (adoção de práticas espirituais): O investigador sério, sob a orientação de um mestre espiritual, adota rigorosamente práticas devocionais, como a meditação mântrica, e se abstém de atividades imorais, como comer carne, jogar, intoxicar-se e fazer sexo ilícito.
  4. Anartha-nivrtti (remoção de impurezas): As poderosas práticas espirituais libertam gradualmente a pessoa de impulsos internos autodestrutivos, como luxúria, raiva, avareza, inveja, arrogância e ilusão, assim como o aquecimento do ouro provoca a separação das impurezas.
  5. Nistha (convicção): Essa mudança interna dramática gradualmente eleva sua fé inicial até esta se tornar uma convicção inabalável, que argumentos e contra-argumentos não podem mais perturbar.
  6. Ruci (gosto): Começa-se a saborear o canto e a lembrança de Deus devido ao gosto avassalador (prazer) que a recordação divina traz.
  7. Asakti (apego): O devoto agora se apega, viciado, à lembrança de Deus e a cantar Seus santos nomes e se absorve em Sua lembrança divina.
  8. Bhava (emoção divina): O devoto experimenta emoções divinas em relação ao Senhor, como alegria, tristeza, ansiedade e desapontamento, muito mais intensamente do que as emoções que um amante mundano experimenta por um amado.
  9. Prema (amor espiritual): Quando essas emoções amadurecem em amor a Deus em um nível puro, abnegado e desinteressado, então esse amor restaura nossa visão espiritual, pela qual podemos vê-lO, que é o amor personificado, a pessoa supremamente amorosa e amável, Deus Krishna.
Esses nove estágios são divididos em muitos outros estágios, ajudando os buscadores a entender precisamente onde estão situados e o que precisam fazer para seguir em frente. E as obras védicas também fornecem ao buscador veículos poderosos para a jornada interior, como yoga, meditação e, especialmente para nossa época atual, o cantar dos santos nomes de Deus. Equipado com este mapa claro e eficiente veículo, milhares de pessoas do Ocidente e do Oriente estão embarcando na jornada interior e desfrutando dela. Seu deleite divino é evidente e visível tanto em seu afastamento sustentável das imoralidades, como também por sua dança pública exuberante enquanto cantam os santos nomes de seu amado Senhor.
Palavras Finais
Um dicionário de bolso e um dicionário completo servem ambos para nos ajudar a aprender uma língua, mas o dicionário completo permite que nos aprofundemos em maiores. Da mesma forma, tanto os textos bíblicos quanto a literatura védica pretendem nos ajudar a desenvolver o conhecimento e o amor a Deus, mas a literatura védica nos ajuda a aprofundar imensamente. Quando nossos intelectos são convencidos filosoficamente sobre nossa situação existencial e sobre a grandeza insuperável de Deus e nossos corações são inundados da lembrança da doce relação de Deus com os devotos, torna-se muito mais fácil oferecer o amor de nosso coração e entregarmo-nos a Deus.
Evidentemente, Jesus tinha muito mais coisas a dizer, mas temia que seus seguidores não pudessem entendê-las ou mesmo suportá-las. Quando algumas dessas coisas sejam reveladas através da literatura védica, talvez alguns de seus seguidores na atualidade já possam suportá-las.
Tradução: Jimmy Mello. Revisão: Bhagavan Dasa.

Fonte: Volta ao Supremo
https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/ainda-tenho-muito-a-lhes-dizer/


Amigos de krishna
https://www.facebook.com/Amigos.de.Krishna/?fb_dtsg_ag=AdyUtsFoVR-M2QWnuW6qLlnQLqGxF9z0T7F_03YpIiqSUQ%3AAdx86tZliktBE4KnH5ldzes5B78vy8ThEfelv-ndSTNOiA



ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

ENFRENTANDO A DEPRESSÃO

Enfrentando a Depressão


Bhakti-tirtha Swami

Causas fisiológicas e mentais, a noite escura da alma, a situação específica da mulher, conhecendo os inimigos da mente, a necessidade de terapeutas espiritualmente orientados, influências sutis, a gratidão e a abnegação como instrumentos de cura – uma análise holística do mal do século.


Em seu Relatório sobre a Saúde no Mundo, a Organização Mundial da Saúde relatou sobre a condição da saúde mental ao redor do globo, estimando que 450 milhões de pessoas no planeta sofrem de desordem mental ou comportamental. Ademais, a depressão é agora a principal causa de inabilidade ao redor do mundo, e, entre as dez principais causas do ônus mundial de doenças, a depressão figura em quarto lugar. A Organização Mundial da Saúde estima que, nos próximos vinte anos, a depressão atingirá a posição de segunda maior causa de doenças. Eles também relatam que um milhão de pessoas cometem suicídio ao ano, e cerca de dez e vinte milhões tentam o suicídio.

Considerando estes pontos, é muito importante a nós que somos espiritualistas compreender as doenças mentais a fim de que possamos ajudar as pessoas que sofrem com algum desses problemas. Compreendendo os efeitos dessas perturbações mentais na consciência, ampliaremos nossa efetividade. Este conhecimento é um caminho pelo qual indivíduos com um nível superior de consciência podem auxiliar em muitos ambientes e levar a consciência de Deus. O guerreiro espiritual deve proteger os saudáveis e servir os doentes. De maneira a nos equiparmos, examinaremos as doenças mentais, e especialmente a depressão, a partir de uma perspectiva psicológica, fisiológica e, é claro, espiritual.

Doenças Psicossomáticas

Doenças psicossomáticas desenvolvem-se distintamente a partir da mente, e, em certos casos, a mente de uma pessoa literalmente faz com que ela experimente uma doença ou reprima os sintomas de um tipo particular de enfermidade, até ao ponto de desenvolver paralisia. Psiconeuroimunologia é uma ciência médica e psicológica que estuda a influência da mente sobre o corpo. O que isso tem a ver com depressão? Doenças psicossomáticas ilustram o poder da mente e são importantes para nós que tentamos entender a depressão. Simplesmente por reconhecermos o processo de pensar, sentir e desejar, compreendemos como pensamentos conduzem a ações. Se repetidamente mantemos certos pensamentos em nossa mente, eles, por fim, se tornarão palavras e, em seguida, ações.



Ademais, quando uma pessoa se sente alienada ou não amada, isso afeta a mente. Mais especificamente, isso afeta os neurotransmissores, os quais, então, enviam mensagens através de todo o corpo e, consequentemente, causam um ataque às células e órgãos em nosso próprio corpo. Muitas doenças de fato se desenvolvem devido a frequentes ataques da mente sobre as células e órgãos no corpo - tamanho é o poder da mente. Em sentido contrário, quando uma pessoa se sente cuidada e amada, seu sistema imunológico físico e psíquico de fato se torna mais forte. O amor literalmente cura, protege e prolonga a vida, e a falta de amor literalmente mata.

Fatores Biológicos

Alguns tipos de doenças mentais, bem como a depressão, têm sim uma origem ou contraparte biológica. Há muitos diferentes tipos de indisposições, doenças ou problemas que podem causar uma perturbação mental. 22

A Noite Escura da Alma

A teologia cristã possui um termo chamado "a noite escura da alma", ou um período de sérios testes pelo qual passam todos os sinceros buscadores espirituais. Em certos momentos durante nosso progresso espiritual, talvez vivamos períodos de rápido avanço e crescimento embora achemos difícil perceber a situação dessa maneira positiva. Podemos chegar a um momento em nossas vidas quando começaremos a pensar: "Estou cantando, meditando, orando, jejuando, lendo as escrituras, visitando o templo, a igreja, a sinagoga ou mesquita, seguindo as leis e os princípios espirituais, mas estou infeliz! Onde está Deus?". Neste ponto, o indivíduo até mesmo começa a questionar seriamente a misericórdia e o zelo de Krishna. Semelhante pessoa pode sentir que até mesmo Deus a abandonou.

Muitas vezes caímos em um estado depressivo porque agimos da maneira correta e nosso nível de consciência se elevou, mas não conseguimos compreender as circunstâncias aparentemente negativas e desafiadoras em nossas vidas. Contudo, o Supremo permite que queimemos esse karma de modo que possamos partir para outro capítulo. Se você olhar para trás em sua vida, você talvez se lembre de momentos em que você de fato experienciou esse período e começou a questionar a existência de Deus ou Sua justiça. Porém, quando você olha para trás agora, você compreende o propósito de tais eventos em sua vida porque eles ajudaram você a ampliar ou elevar sua consciência. Frequentemente, o resultado de intenso sofrimento é a elevação da consciência. Tal sofrimento nos dá a intensidade para quebrarmos as últimas camadas de consciência mundana que nos abafam.

A Influência de Entidades Sutis

Em alguns casos, diferentes entidades sutis de fato afetam o corpo. Os pensamentos, desejos e atividades de algumas pessoas são tão degradados e baixos que convidam ou permitem que entidades muito negativas e sinistras entrem em seus corpos e influenciem-nas a se envolverem em atividades extremamente negativas. Portanto, indivíduos que não estão se tornando mais espirituais estão gradualmente perdendo parte de seu livre-arbítrio e sua expressão criativa da consciência. O bombardeio de diferentes tipos de influências e propaganda intrusiva terá um maior efeito sobre nós. Esses fenômenos em maior recorrência também podem causar doenças mentais.

Mulheres São Mais Propensas à Depressão

Mulheres comumente sofrem de depressão mais do que os homens e têm maior susceptibilidade a caírem em estados de depressão. Uma razão é que têm menor controle de seus ambientes e tendem a ser mais emotivas. Quando alguém tem problemas, por exemplo, no âmbito econômico, político, social ou religioso, isso o afetará um pouco menos se ele tiver algum controle sobre a situação. No entanto, quando uma pessoa se encontra no meio de um problema e tem simplesmente de ficar à mercê da situação, isso é muitíssimo estressante à consciência.


A Organização Mundial da Saúde relata que 20% da população feminina mundial foi física ou sexualmente abusada por um homem em algum momento de sua vida. Se uma mulher reprimiu certos aspectos de seu passado, essas memórias podem começar a vir à superfície entre os 35 e 45 anos, o que pode ocasionar perturbações na mente ou na consciência. Um homem talvez não compreenda a batalha de uma mulher durante esse período uma vez que alguns de seus problemas têm raiz em situações de abuso que viveu durante a infância.

A interpretação e aplicação equivocadas de culturas védicas e antigas é outra séria fonte de problemas que facilita a depressão. Uma cultura adepta à ideia de que o homem provê e domina em um arranjo monárquico ou autocrático pode se tornar muito destrutiva se as pessoas abusarem dessa filosofia. Em vez de cuidarem das mulheres e darem facilidades para que sejam felizes, os homens podem criar uma situação completamente oposta, que, então, acarreta vários tipos de abuso. Quando isso acontece, é claro, torna-se grande fonte de depressão para as mulheres. Em muitos casos, os homens simplesmente aceitam o arranjo como cultura e tradição, sem refletirem profundamente sobre a questão ou sentirem-se culpados.

Terapeutas Espiritualmente Orientados

Agora gostaríamos de dedicar algum espaço considerando soluções ou ao menos maneiras saudáveis de lidarmos com a depressão. Primeiramente, necessitamos de terapeutas espiritualmente inclinados, ou terapeutas que apreciem a cultura espiritual e, o mais importante, que esteja verdadeiramente seguindo essa cultura. Conquanto alguns desses desafios mentais sejam fisiológicos ou biológicos, outras perturbações mentais têm raiz na mente, o que significa que a terapia tradicional falada pode ajudar a pessoa a superá-las. Todavia, pode ser perigoso recorrer a um terapeuta que não compreenda ou aprecie a dimensão espiritual, uma vez que podem tornar a situação da pessoa ainda pior.

Quando uma pessoa santa, por exemplo, começa a falar em um espírito de humildade, o terapeuta ordinário categorizará isso como baixa autoestima e começará a tratar o problema como tal. Eles não compreendem que a humildade é parte do tesouro de uma pessoa santificada. A gratidão e a proximidade de um santo com Deus torna-o, por fim, humilde. O espiritualista aspirante talvez esteja fixo em simplicidade e renúncia, mas o terapeuta talvez veja isso como um comportamento antissocial. O santo talvez esteja buscando por castidade ou celibato, mas o terapeuta pode ver isso como uma repressão sexual doentia. A lista se alonga ilimitadamente. Por essas razões, há necessidade de existirem devotos de qualidades divinas com formação específica para servirem suas próprias comunidades e manterem o foco devocional.

Mantendo Tanto o Corpo Quanto a Alma

Algumas vezes, julgamos que podemos solucionar todos os nossos problemas simplesmente através da execução de rituais, e de fato tais práticas podem prover a ajuda essencial se as realizarmos com suficiente profundidade e suficiente pureza. Entretanto, uma vez que semelhante profundidade é muito rara, ajuda adicional é necessário para auxiliar o praticante a remover vários obstáculos. Como instituições e comunidades com valores espirituais se expandem por todo o mundo, precisamos manter o corpo e alma juntos. O santo vaishnava Srila Bhaktivinoda Thakura explica que, a fim de se desenvolver uma comunidade saudável, precisamos equilibrar as seguintes quatro necessidades: (1) Precisamos cuidar do corpo; (2) precisamos estimular de forma apropriada a mente; (3) precisamos de um senso de bem-estar social; e (4) precisamos estudar as escrituras.

Conforme embarcamos no caminho devocional e experimentamos certos tipos de desafios que acompanham as situações ordinárias, também temos de buscar por ajuda, e, se possível, buscar por aqueles na comunidade que tenham um pouco mais de entendimento das necessidades físicas e psíquicas bem como dos aspectos espirituais.

Os Inimigos da Mente

Imagine uma situação em que seis inimigos constantemente rodeiam sua pessoa e incessantemente aguardam pela oportunidade de atacar tão logo você abaixe sua guarda. Os seis inimigos são a luxúria, a ira, a ganância, a desorientação, a intoxicação e a inveja. Essas são algumas das maneiras pelas quais a depressão, a ansiedade, a melancolia e a frustração afetam a mente. Tão logo você se torna apático, eles se aproximarão rapidamente. Contudo, podemos tentar fortalecer o suficiente nossos pontos fracos se sabemos que maya nos atacará nessas zonas frágeis. Se soubermos o esconderijo do inimigo, podemos nos manter distantes em vez de permanecermos em uma posição insegura ou permitindo que o inimigo constantemente ataque em emboscada.

Muitos desarranjos mentais lidam com a estrutura mental de hedonismo, porque, quando o hedonismo fracassa, ele se torna ira, que, por sua vez, se torna grande ilusão ou desorientação. Também podemos compreender a depressão como a ira voltada para si mesmo. A inveja também cria um desequilíbrio dentro de nós. Devemos ser param-duhkha-duhkhi-kripam-buddhi, que significa que devemos ter empatia pela miséria alheia e pela felicidade alheia. Devemos sentir felicidade por outra pessoa quando vemos algo positivo acontecer em sua vida. Com efeito, devemos sentir a mesma felicidade por ela que sentiríamos por nós mesmo naquela mesma situação. Esse tipo de estrutura mental pode ajudar a prevenir contra depressão e desequilíbrio mental. Se aprendermos como tirar essas ervas daninhas na forma de tendências negativas, descobriremos que sua ausência traz soluções maravilhosas.

Desistindo do Egoísmo

Se nos encontramos em um estado de depressão, também podemos examinar nosso nível de autocentramento. Existem duas maneiras de tentar ser Deus. Tentamos ser Deus quando nos vemos como superiores e como a pessoa mais importante. Também tentamos ser Deus quando nos colocamos no centro julgando que somos as pessoas mais inferiores e desafortunadas. Outras vezes, pessoas tentam ser Deus considerando que tudo gira em torno de seus problemas. Se você perguntar a elas como estão, a resposta será: "Que bom que perguntou! Estou com dor de cabeça, dor de estômago e dor na perna. Preciso de um aumento e meu filho me causa muitos problemas". Se nos concentrarmos excessivamente em nossos problemas, isso dará forças a eles em vez de eliminá-los. Por outro lado, se tentarmos ajudar outros ou tentarmos ir além de nossa própria situação imediata, veremos que Krishna nos dará a ajuda que precisamos e até mesmo nos livrará de nossos problemas particulares. Depressão indica que estamos excessivamente centrados em nossos próprios problemas e retirando nosso amor dos outros.

A Fé É o Mais Importante

Não teremos a habilidade para perseverar sem fé, mas não podemos fingir termos fé. Quando certos aspectos da vida de uma pessoa não vão bem, sua fé de fato enfraquece. Nossa fé é relativa ao que aconteceu no passado, o que está acontecendo no presente e, mais diretamente, com o que esperamos do futuro. Se nosso passado foi duro e nosso presente é incoerente, nossa fé no futuro será fraca. Porém, se vemos eventos positivos ao redor de nós, os quais nos fazem nos sentirmos bem, teremos fé forte. São raros os sujeitos que conseguem manter uma fé forte apesar de terem um passado difícil e um presente empedernido. Em nossas comunidades, queremos criar um ambiente que nos energizará e ajudará a ampliarmos a nossa fé.

Gratidão como um Estilo de Vida

Algumas vezes, nossos desafios mentais se estagnam muito gravemente porque não vamos em frente. Não apreciamos o passado, mas quanto mais temos gratidão, mais criamos auspiciosidade para o futuro. Algumas vezes, a Suprema Personalidade de Deus nos dá e, outras vezes, nos tira. Como devotos, queremos ter uma estrutura mental tão grandiosa que, quando Deus nos dê muitas riquezas, digamos obrigado, e quando Deus leve nossa riquezas e nos deixe em um estado de empobrecimento, agradeçamos por nos ter protegido do falso orgulho. Agradecemos a Ele por qualquer situação que nos permita manter uma vida simples.

Se pudermos simplesmente desenvolver essa consciência e constantemente agradecer o Supremo em qualquer situação, podemos aprender e crescer em qualquer circunstância. Tornaremos as situações auspiciosas mais auspiciosas e tornaremos auspiciosas quaisquer situações inauspiciosas. Elas se tornarão experiências de aprendizado, e, quando as honrarmos com gratidão, Krishna naturalmente fará arranjos a nosso favor.

Conclusão

A mente é nossa maior inimiga, mas podemos torná-la nossa melhor amiga. Isso depende de gratidão. Reveses acontecem em instituições, famílias e conosco individualmente, mas queremos evitar ficarmos excessivamente depressivos, desencorajados e desapontados. Devemos tentar agradecer a Deus e tentar aprender com nossas circunstâncias. Esperamos que Deus faça mais do que poderíamos fazer por nós mesmos. Isso significa que precisamos de fé estável e perseverança. Todos nós podemos nos encorajar primeiramente tentando ter essa fé, a qual, então, transbordará e ajudará outros. Deste modo, todos nós herdaremos o Reino de Deus.


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Fonte: De Volta para o Supremo


ESPACO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES


Terapeuta Practitioner Florais de Bach do Bach Centre
Registro PIN/BZP 2000-0124 R
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Fones: 19 3482-4028 / 11 20992099
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sábado, 6 de maio de 2017

ESTUDO DOS VEDAS (CONT.) CAP IV - CONHECIMENTO TRANSCENDENTAL

ESTUDO DOS VEDAS- CAP. IV - Conhecimento Transcendental


De Rosana Rodrigues em Sábado, 29 de março de 2014 às 23:31 estraído dos arquivos do Grupo do Intercâmbio Cultural do Espaço Ponto de Luz, do Facebook.



CAPÍTULO IV: O Conhecimento Transcendental

Perola 23. O MISTÉRIO DA CIÊNCIA DO GITA (versos 1 a 3)

1. A Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna, disse: Ensinei esta imperecível ciência da yoga ao deus do Sol, Vivasvan, e Vivasvan ensinou-a a Manu, o pai da humanidade, e Manu, por sua vez, ensinou-a a Iksvaku. 2. Esta ciência suprema foi então recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na dessa maneira. Porém, com o passar do tempo, a sucessão foi interrompida, e portanto a ciência como ela é parece ter-se perdido. 3. Esta antiquíssima ciência da relação com o Supremo é falada hoje a ti por Mim porque és Meu devoto bem como Meu amigo e podes portanto entender o mistério transcendental que há nesta ciência.

Aqui fica claro que o Bhagavad-gita é um tratado espiritual especialmente destinado ao bhakta, ou devoto do Senhor. Na verdade, segundo o próprio Senhor, os jñanis, ou especuladores filosóficos, e os yogis, ou os que se limitam às práticas ióguicas mecânicas, não podem tirar o verdadeiro proveito do Bhagavad-gita. Portanto, o Senhor diz claramente que escolhera Arjuna para receber este conhecimento devido às suas qualidades devocionais. A bhakti-yoga só pode ser praticada com conhecimento transcendental e este conhecimento é um grande segredo, pois inclui o conhecimento sobre a natureza espiritual da Suprema Personalidade de Deus. Além de devoto, Arjuna era um amigo sincero do Senhor e, devido à sua fidelidade, era qualificado para penetrar nos mistérios da compreensão acerca do Senhor Krishna. O Senhor informa aqui que este sistema de yoga foi primeiramente falado ao deus do Sol e o deus do Sol o explicou a Svayambhuva Manu, que o transmitiu a Maharaja Iksvaku e assim por diante. A história do Bhagavad-gita, portanto, remonta a um tempo muito antigo, quando foi entregue à ordem real, começando pela deidade que preside o planeta Sol. Isto revela que, através de um orador para outro, este sistema de yoga foi transmitido através da sucessão discipular, conhecida como parampara, para a proteção de todos os habitantes. Todos as pessoas com cargos de responsabilidade devem compreender o Bhagavad-gita e assim ajudar a proteger os cidadãos do cativeiro material produzido pela luxúria. Este conhecimento é essencial para se cumprir o propósito da vida humana, mas, devido à influência do poderoso tempo eterno, a transmissão deste conhecimento através da sucessão discipular foi interrompida e o conhecimento se perdeu. Como consequência disto, o Senhor deseja apresentá-lo novamente e escolheu Seu amigo Arjuna, o qual estava no Campo de Batalha de Kurukshetra, como alguém qualificado para recebê-lo. Isto indica que melhor compreende o Bhagavad-gita a pessoa que tem qualidades semelhantes às de Arjuna. Ela deve tornar-se devota do Senhor e desenvolver seu relacionamento de serviço amoroso direto ao Senhor. Arjuna já era perfeito em serviço devocional e, por isso, relacionava-se com o Senhor na condição de amigo transcendental. De qualquer modo, apesar de, em nosso atual estado de vida, termos nos esquecido do Senhor, esta relação poderá ser revivida se seguimos os passos de Arjuna e aceitamos Krishna como nosso verdadeiro refúgio.

Pérola 24. A NATUREZA TRANSCENDENTAL DO SENHOR (versos 4 a 6)

4. Arjuna disse: O deus do Sol, Vivasvan, nasceu antes de Ti. Como poderei entender que, no começo, ensinaste-lhe esta ciência? 5. A Personalidade de Deus disse: Tu e Eu já passamos por muitos e muitos nascimentos. Posso lembrar-Me de todos eles, mas tu não podes, ó subjugador do inimigo! 6. Embora Eu seja não nascido e Meu corpo transcendental jamais se deteriore, e embora Eu seja o Senhor de todas as entidades vivas, mesmo assim, em cada milênio Eu apareço sob Minha forma transcendental original.

Aqui, revela-se a característica especial do nascimento do Senhor: embora apareça como um ser humano comum, Ele Se lembra dos pormenores de Seus outros milhares de nascimentos anteriores. Esta é a diferença entre o Senhor e um ser vivo comum. O Senhor possui um corpo espiritual eterno, livre de nascimento, velhice, doença ou morte, e por isso Ele pode Se lembrar dos atos que Ele executou há milhões de anos. Um ser vivo comum muda de um corpo para outro e sua memória é tão limitada que mal pode se lembrar do que fez em algumas horas atrás. Assim, ninguém pode nunca se igualar ao Senhor. O Senhor possui um corpo eterno e transcendental. Seu corpo é, na verdade, idêntico a Ele e, mesmo descendo ao mundo material, Ele Se mantém na plataforma transcendental – livre de toda e qualquer ilusão. Sempre que aparece, Ele o faz através de Sua própria potência interna e a Seu bel-prazer. O Seu corpo nunca se deteriora, mas, mesmo assim, Ele passa da infância à juventude e surpreendentemente nunca ultrapassa esta fase. Mesmo na época da Batalha de Kurukshetra quando o Senhor já estava cheio de netos, Sua aparência era jovial, como se tivesse vinte ou no máximo vinte e cinco anos. Embora seja a pessoa mais velha, nem Seu corpo nem Sua inteligência jamais se deterioram. Assim como o poderoso Sol, Ele aparentemente “nasce” e “morre”. Na verdade, o Sol está praticamente fixo em sua posição, só que, devido a nossos sentidos precários, calculamos o seu “nascimento” e “morte”. De forma semelhante, o Senhor é não-nascido. Ele aparece diante de nossa visão, executa atividades para o bem-estar de todos e, ao concluir Sua missão, desaparece de nossa visão, tornando-Se imanifesto. Ele é Um, mas manifesta-Se sob inúmeras formas e todas estas variadas formas são compreendidas pelos devotos puros e imaculados, mas nunca por uma pessoa que simplesmente se limita a estudar os Vedas. Devotos puros como Arjuna, os quais são companheiros eternos do Senhor, sempre encarnam com Ele para prestar-Lhe diferentes classes de serviços. Porém, a diferença é que o Senhor pode Se lembrar de todos os Seus aparecimentos, ao passo que Seu devoto os esquece.Devotos puros como Arjuna estão sempre acima de qualquer dúvida ou mal-entendido acerca da natureza espiritual do Senhor. Portanto, como ficará cada vez mais claro, Arjuna compreende muito bem que o Senhor Krishna é a Pessoa Suprema, a causa de todas as causas. Ainda assim, por estar representando o papel de uma pessoa confusa, em todo o Bhagavad-gita Arjuna tem de levantar diferentes questões importantes. Será que ele tem dúvidas quanto às afirmações apresentadas por Krishna? Evidentemente que não. Arjuna não está querendo esclarecer suas próprias dúvidas. Mas, como os homens comuns estão às voltas com muitos questionamentos e sentem grande dificuldade em compreender os tópicos do Bhagavad-gita, Arjuna teve de assumir este importante papel. Além disso, Arjuna estava tendo a oportunidade de ouvir diretamente do Senhor, o que para os devotos puros como Arjuna é extremamente prazeroso.

Pérola 25. O PROPÓSITO DO APARECIMENTO DO SENHOR (versos 7 a 11)

7. Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e um aumento predominante da irreligião – neste momento Eu próprio desço. 8. Para libertar os piedosos e aniquilar os canalhas, bem como para restabelecer os princípios da religião, Eu mesmo apareço, milênio após milênio. 9. Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna. 10. Estando livres do apego, do medo e da ira, estando plenamente absortas em Mim e refugiando-se em Mim, muitas e muitas pessoas no passado purificaram-se através do conhecimento a respeito de Mim – e com isso todas alcançaram transcendental amor por Mim. 11. A todos Eu recompenso proporcionalmente ao grau de sua rendição a Mim. Ó filho de Pritha, em qualquer circunstância, todos seguem o Meu caminho.

Sob a ordem do Senhor, os Vedas apresentam diferentes princípios religiosos, mas quando existem discrepâncias quanto à execução apropriada das regras contidas nos Vedas, o mundo todo torna-se irreligioso. Neste momento, o Senhor desce do Seu reino espiritual e aparece como um avatara, uma encarnação divina. Ele o faz por Sua própria vontade, devido à misericórdia que sente por Seus devotos que estão no mundo material. Tais devotos são sempre molestados por pessoas demoníacas que tentam propagar suas filosofias mundanas ou distorcer o verdadeiro significado da religião. Na verdade, para conseguir se libertar do cativeiro material, a entidade viva precisa vencer sérias dificuldades. Para tal, nada melhor do que aceitar a ajuda do Senhor na forma do conhecimento védico, do mestre espiritual e da associação com os devotos. Só assim ela poderá compreender a natureza transcendental do corpo e das atividades do Senhor e, como resultado, após findar este corpo, não correr o risco de voltar a este mundo material. Os Vedas nos declaram que embora seja Um, a mesmíssima Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Se manifesta em muitíssimas formas e encarnações. Evidentemente, isto é incompreensível para os eruditos mundanos e filósofos empíricos, embora o devoto puro possa compreender este fato com completa convicção. Nesta parte do Bhagavad-gita, o Senhor confirma de fato que, sempre e onde quer que existe a necessidade, Ele aparece para resgatar Seus devotos queridos. Tais devotos compreendem que o nascimento e as atividades do Senhor são completamente espirituais e, aceitando esta verdade com fé, eles não perdem tempo com especulações filosóficas inúteis. O Senhor declara que, mesmo no passado, muitas pessoas adotaram o serviço devocional amoroso e se livraram dos diferentes obstáculos deste mundo, os quais se apresentam na forma de apego, medo e ira. Portanto, o Senhor Krishna encoraja Seu amigo e discípulo Arjuna a praticar a consciência de Krishna e conclui que devemos cultivá-la com fé e conhecimento, e com isto alcançar a perfeição. Com certeza, o Senhor irá recompensar a tentativa sincera empreendida pelo devoto que, apesar das dificuldades encontradas neste mundo, persiste em praticar serviço devocional ao Senhor.

Pérola 26. AS COMPLEXIDADES DA AÇÃO (versos 12 a 24)

12. Neste mundo, os homens desejam sucesso nas atividades fruitivas, e por isso adoram os semideuses. Rapidamente, é claro, os homens obtêm neste mundo os resultados do trabalho fruitivo. 13. Conforme os três modos da natureza material e o trabalho referente a eles, as quatro divisões da sociedade humana são criadas por Mim. E embora Eu seja o criador deste sistema, deves saber que, sendo Eu imutável, continuo como a pessoa que não age. 14. Não há trabalho que Me afete; tampouco Eu aspiro aos frutos da ação. Aquele que entende esta verdade sobre Mim também não se enreda nas reações do trabalho fruitivo. 15. Em tempos antigos, todas as almas liberadas agiram com esta compreensão acerca de Minha natureza transcendental. Portanto, deves executar teu dever, seguindo-lhes os passos. 16. Até mesmo os inteligentes ficam confusos em determinar o que é ação e o que é inação. Agora, passarei a explicar-te o que é ação, e conhecendo isto te libertarás de todo o infortúnio. 17. É dificílimo entender as complexidades da ação. Portanto, deve-se saber apropriadamente o que é ação, o que é ação proibida e o que é inação. 18. Quem vê inação na ação, e ação na inação, é inteligente entre os homens, e está na posição transcendental, embora ocupado em todas as espécies de atividades. 19. Tem conhecimento pleno quem, em cada esforço seu, não apresenta desejo de gozo dos sentidos. Os sábios dizem que tal pessoa é um trabalhador cujas reações do trabalho foram queimadas pelo fogo do conhecimento perfeito. 20. Abandonando todo o apego aos resultados de suas atividades, sempre satisfeito e independente, ele não executa nenhuma ação fruitiva, embora ocupado em todas as espécies de empreendimentos. 21. Tal homem de compreensão age com a mente e a inteligência sob perfeito controle, deixa de ter qualquer sentimento de propriedade por suas posses e age apenas para obter as necessidades mínimas da vida. Trabalhando assim, ele não é afetado por reações pecaminosas. 22. Aquele que se contenta com o ganho que vem automaticamente, que está livre de dualidade e não inveja, que é estável no sucesso e no fracasso, nunca se enreda, embora execute ações. 23. O trabalho do homem que não está apegado aos modos da natureza material e que está situado em pleno conhecimento transcendental imerge por completo na transcendência. 24. Quem se absorve por completo em consciência de Krishna com certeza alcançará o reino espiritual por causa de sua plena contribuição às atividades espirituais, cuja execução é absoluta e nelas tudo o que se oferece é da mesma natureza espiritual.

O processo através do qual a pessoa pode se livrar do cativeiro das ações é chamado de consciência de Krishna, onde tudo passa a ser feito para a satisfação do Senhor. Quem é consciente de Krishna age por amor à Suprema Personalidade de Deus e vive livre de interesses egoístas. Para se alcançar esta fase elevada, é necessário seguir a liderança de pessoas autorizadas que estão na linha de sucessão discipular, como se explicou no início deste capítulo. Os exemplos deixados pelos devotos autênticos anteriores são perfeitos e devemos segui-los, caso contrário, mesmo homens muito inteligentes ficarão confusos no que se refere às ações reguladoras existentes na consciência de Krishna. Os princípios religiosos são estabelecidos diretamente pelo Senhor. Isto significa que ninguém pode criar sua própria maneira de agir baseado no seu conhecimento experimental imperfeito. A alma condicionada vive absorta em suas especulações mentais e não consegue determinar o verdadeiro significado de religião e auto-realização transcendental. Portanto, bondosamente o Senhor explica a Arjuna e a todos nós o verdadeiro significado de ação, inação e ação proibida, pois qualquer pessoa que estiver decidida a libertar-se deste cativeiro material terá de compreender muito bem tais tópicos.Ao tornar-se consciente de Krishna, a pessoa aprende naturalmente a relacionar-se com o Senhor Supremo e com as demais entidades vivas. Compreendendo que todo ser vivo é um servo eterno do Senhor, ela compreenderá que todas as suas ações devem visar à satisfação do Senhor, o que é chamado de karma-yoga. Qualquer conclusão que leve a pessoa a agir de uma maneira diferente é considerada vikarma, ou ação proibida. Isto pode ser facilmente compreendido quando nos aproximamos do mestre espiritual, uma verdadeira autoridade na consciência de Krishna. Agir em consciência de Krishna significa agir em prol da satisfação de Krishna e isto torna a pessoa completamente livre do cativeiro do karma. Tal pessoa, materialmente falando, está completamente inativa, pois seu sentimento de servidão a Krishna faz com que ela se torne akarma, uma pessoa imune a todas as espécies de reações ao trabalho. O conhecimento sobre a ação em consciência de Krishna é verdadeiro conhecimento e é comparado ao fogo, sendo capaz de queimar todas as espécies de reações ao trabalho. A palavra brahman significa “espiritual”. O Senhor é o Supremo Brahman e qualquer atividade oferecida a Ele também torna-se brahman, ou espiritual. Na verdade, o resultado desta atividade e o próprio executor também se tornam brahman, ou espirituais, devido à influência espiritual do Senhor. A energia material, conhecida como maya, é também considerada divina, sendo uma das energias do Senhor. Quando utilizada para propósitos materiais, esta maya atua para confundir a alma condicionada que acaba desenvolvendo apego e desejo de posse por ela. Mas, quando é utilizada no serviço amoroso ao Senhor, esta mesma maya readquire sua qualidade espiritual, tornando-se brahman. Este é, portanto, o método transcendental da consciência de Krishna: utilizar tudo a serviço do Senhor, onde a execução, o executor e o resultado último – tudo – se une no Absoluto e atinge a plataforma espiritual.

Pérola 27. OS DIFERENTES TIPOS DE SACRIFÍCIOS (versos 25 a 33)

25. Alguns yogis adoram perfeitamente os semideuses, oferecendo-lhes diferentes sacrifícios, e alguns deles oferecem sacrifícios no fogo do Brahman Supremo. 26. Alguns (os brahmacharis verdadeiros) sacrificam a faculdade auditiva e os sentidos no fogo do controle mental; e outros (os chefes de família regulados) sacrificam os objetos dos sentidos no fogo dos sentidos. 27. Outros, que se interessam em obter a auto-realização através do controle da mente e dos sentidos, oferecem as funções de todos os sentidos e do alento vital como oblações no fogo da mente controlada. 28. Tendo feito votos estritos, alguns se iluminam sacrificando seus bens, e outros, executando austeridades rigorosas, praticando a yoga do misticismo óctuplo (astanga-yoga) ou estudando os Vedas para progredir no conhecimento transcendental. 29. E outros, que estão inclinados ao processo de restrição da respiração para permanecer em transe, praticam oferecendo no alento inspirado o movimento do alento expirado, e no alento expirado o alento inspirado, e assim acabam entrando em transe, suspendendo toda a respiração. Outros, restringindo o processo alimentar, oferecem como sacrifício o alento expirado neste mesmo alento. 30. Todos estes executores que sabem o significado do sacrifício purificam-se das reações pecaminosas, e, tendo saboreado o néctar dos resultados dos sacrifícios, avançam em direção à atmosfera eterna e suprema. 31. Ó melhor da dinastia Kuru, sem sacrifício a pessoa jamais pode viver feliz neste planeta ou nesta vida; que se dizer da próxima, então? 32. Os Vedas aprovam todos estes diferentes tipos de sacrifício, e todos eles surgem de diferentes classes de trabalho. Tu te libertarás ao conhecê-los assim. 33. Ó castigador do inimigo, o sacrifício executado com conhecimento é melhor do que o mero sacrifício dos bens materiais. Afinal de contas, ó filho de Pritha, todos os sacrifícios do trabalho culminam em conhecimento transcendental.

Como aprendemos aqui no Bhagavad-gita, a alma condicionada, absorta na matéria, pode curar-se por meio da consciência de Krishna. Este processo também é conhecido como yajña (sacrifícios), ou seja, atividades destinadas à satisfação do Senhor Vishnu, ou Krishna. Tais sacrifícios podem ser de diferentes categorias. Os bhaktas, ou aqueles que estão em consciência de Krishna, executam sacrifícios para a satisfação do Senhor e são considerados os mais perfeitos yogis. Os karmis, no entanto, desejam felicidade material advinda do gozo dos sentidos. Desse modo, eles executam sacrifícios para a satisfação dos semideuses, tais como Indra, Surya, etc. Tais semideuses são seres poderosos, pois são designados pelo Senhor para administrar os diferentes departamentos da criação material, tais como irrigação, aquecimento, iluminação, etc., do Universo. Há também aqueles que, sendo impersonalistas, sacrificam sua identidade material e espiritual para fundir-se na existência do Absoluto. De qualquer modo, qualquer pessoa interessada em obter auto-realização material ou espiritual deve adotar os vários sacrifícios conforme os rituais prescritos nos Vedas. A essência da vida dos estudantes transcendentalistas (brahmacharis) é a austeridade, por isso eles devem dedicar-se a ouvir o conhecimento védico da boca de lótus de um mestre espiritual puro e, assim, abster-se completamente do gozo dos sentidos. Os chefes de família (grihasthas) podem se purificar através do sacrifício sob a forma da caridade. Eles possuem alguma licença para o gozo dos sentidos, mas, ainda assim, executam-no com bastante restrição. Portanto, o casamento religioso é um sacrifício que visa a restringir a vida sexual das pessoas. Uma pessoa na ordem de vida renunciada (sannyasi) deve executar sacrifícios que beneficiem todas as outras classes de pessoas, por isso seu principal dever prescrito é a propagação da consciência de Krishna. Todas estas práticas chamam-se yoga-yajña, e são diferentes sacrifícios para se obter diferentes perfeições espirituais. Além disso, há sacrifícios de diferentes naturezas. Há pessoas que sacrificam seus bens materiais e abrem várias espécies de instituições de caridade, asilos, hospitais, etc. Outras pessoas preferem executar grandes austeridades e fazem votos estritos, vivendo livre de qualquer espécie de conforto material. Há outros que, com o propósito de controlar seus sentidos e progredir em compreensão espiritual, praticam a yoga apresentada por Patañjali, dedicando-se a diferentes técnicas ióguicas. Todas estas diferentes classes de pessoas estão fielmente ocupadas em suas diferentes classes de sacrifícios e procuram uma situação de vida superior. Dependendo do grau de consciência, os sacrifícios ora fazem parte da seção karma-kanda (atividades fruitivas), ora jñana-kanda (conhecimento em busca da verdade). A consciência de Krishna, entretanto, é diferente de tudo isto porque é serviço direto ao Senhor Supremo. A consciência de Krishna não pode ser alcançada por nenhuma das atividades acima mencionadas, mas só pode ser conseguida pela misericórdia do Senhor e Seus devotos autênticos. Nesta atual era de Kali as pessoas geralmente têm muita dificuldade em praticar o autocontrole e não têm uma mente tranquila para praticar yoga ou meditação. Além disso, as pessoas desta era vivem pouco, demoram muito a compreender o que é vida espiritual e estão sempre perturbadas por constantes ansiedades. Portanto, as escrituras védicas enfatizam o sacrifício conhecido como sankirtana-yajña, o cantar dos santos nomes do Senhor: Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.

Pérola 28. A FORÇA DO CONHECIMENTO TRANSCENDENTAL (versos 34 a 42)

34. Tenta aprender a verdade aproximando-te de um mestre espiritual. Faze-lhe perguntas com submissão e presta-lhe serviço. As almas auto-realizadas te podem transmitir conhecimento porque viram a verdade. 35. Tendo recebido verdadeiro conhecimento de uma alma auto-realizada, jamais voltarás a cair nessa ilusão, pois, com este conhecimento, verás que todos os seres vivos são apenas partes do Supremo, ou, em outras palavras, que eles são Meus. 36. Mesmo que sejas considerado o mais pecaminoso de todos os pecadores, quando estiveres situado no barco do conhecimento transcendental serás capaz de cruzar o oceano de misérias. 37. Assim como o fogo ardente transforma a lenha em cinzas, ó Arjuna, do mesmo modo, o fogo do conhecimento reduz a cinzas todas as reações às atividades materiais. 38. Neste mundo, não há nada tão sublime e puro como o conhecimento transcendental. Esse conhecimento é o fruto maduro de todo o misticismo. E aquele que se familiarizou com a prática do serviço devocional desfruta este conhecimento dentro de si no devido curso do tempo. 39. Um homem fiel que se dedica ao conhecimento transcendental e que subjuga seus sentidos está qualificado para conseguir este conhecimento, e, tendo-o alcançado, obtém rapidamente a paz espiritual suprema. 40. Mas as pessoas ignorantes e sem fé, que duvidam das escrituras reveladas, não alcançam a consciência de Deus; elas acabam caindo. Para a alma incrédula não há felicidade nem neste mundo nem no próximo. 41. Aquele que age em serviço devocional, renunciando aos frutos de suas ações, e cujas dúvidas foram destruídas pelo conhecimento transcendental, está de fato situado no eu. Assim, ele não está atado às reações do trabalho, ó conquistador de riquezas. 42. Portanto, as dúvidas que, por ignorância, surgiram em teu coração devem ser cortadas com a arma do conhecimento. Armado com a yoga, ó Bharata, levanta-te e luta.

É necessário aproximar-se de um mestre espiritual genuíno para se obter o conhecimento transcendental. Um mestre genuíno tem de, antes de mais nada, fazer parte da linha de sucessão discipular proveniente do próprio Senhor, pois ninguém pode alcançar a auto-realização espiritual fabricando seu próprio processo. Tal mestre espiritual mantém intacta a mensagem original do Senhor e a transmite sem interpretações materialmente motivadas. Ele aprendeu este conhecimento, rendendo-se ao seu mestre espiritual, e, assim, passou a entender as coisas como elas são. O mestre espiritual deve ter uma compreensão prática de que todos os seres vivos são partes integrantes da Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Krishna. Portanto, seus ensinamentos se destinam a convencer o discípulo que o ser vivo, como servo eterno de Krishna, não pode estar separado do Senhor, e quando uma pessoa sente que sua identidade é separada do Senhor, deve-se saber que ela está sob os encantos de maya, a energia ilusória. Por isso, o mestre espiritual ensina o discípulo a prestar serviço devocional puro, livrando-o gradualmente da busca pelos resultados fruitivos e da especulação mental. Quem presta serviço devocional ao Senhor, sob a guia de um verdadeiro mestre espiritual, imediatamente livra-se da ilusão que faz com que um ser vivo equivocado manifeste interesses diferentes dos interesses do Senhor. Portanto, como exemplificado por Arjuna no início do segundo capítulo, ninguém é capaz de resolver seus problemas e desenvolver conhecimento perfeito sem a ajuda do mestre espiritual. Desse modo, o discípulo aprende a se relacionar com seu mestre espiritual através do serviço amoroso humilde, sem falso prestígio. Evidentemente, não se trata de obediência cega, pois é necessário um entendimento bastante claro do que é verdadeira vida espiritual. Com submissão autêntica, o discípulo faz constantes indagações filosóficas a seu mestre espiritual, o qual, sendo por natureza muito bondoso, fica satisfeito e revela o segredo do conhecimento espiritual. Desse modo, não importa quão pecaminosa uma pessoa possa ter sido. Se ela adota as instruções do mestre espiritual e age baseada somente no conhecimento transcendental recebido, todas as suas reações kármicas são completamente eliminadas. Este conhecimento é, portanto, a causa da liberação, ao passo que a ignorância é a causa do cativeiro material. Este é o importante significado desta passagem do Bhagavad-gita. 


ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES