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sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Apresentando o "Bhāgavad-gītā Como Ele É" original e onde comprar

Acesse o áudio para ler enquanto dirige, trabalha, cozinha etc. Estude os Vedas de forma mais acessível.

Divulgue para deficientes visuais. Seja bem-vindo(a)!






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Espaço Ponto de Luz 

Rosana Rodrigues Freedman 

domingo, 12 de novembro de 2017

Experiências de Quase-Morte nas quais a Ciência Aponta para a Alma

Experiências de Quase-Morte nas quais a Ciência Aponta para a Alma




Caitanya Carana Dasa

“A ciência pode continuar dizendo: ‘Tais coisas são simplesmente impossíveis’. Mas enquanto as histórias se multiplicarem em diferentes lugares e tão poucas forem negadas satisfatoriamente, é um método ruim ignorá-las”. (William James, psicólogo americano)

“Há alguma prova científica para a existência da alma?” é uma pergunta comum. Sim, há. Pesquisas científicas em campos como memórias de vidas passadas, consciência e experiências de quase-morte (EQM) de fato proveram evidências convincentes. Neste artigo, discutiremos o fenômeno de quase-morte.

Experiências de Quase-Morte: Incomuns, Mas Universais

EQMs são experiências de visões extraordinárias e percepções durante períodos de inconsciência entre pessoas que estão medicamente mortas ou próximas da morte devido a várias causas, tais como acidentes, doenças, cirurgias ou tentativas de suicídio. Estas pessoas voltaram da morte, ou da quase-morte, para nos contar suas incríveis experiências.

EQMs têm sido relatadas desde tempos imemoriais em culturas de todo o mundo. Em um estudo intercultural publicado no Jornal da Sociedade de Pesquisa Psíquica, em março de 1978, o pesquisador Dean Sheils relatou que a crença em EQM aparece em cerca de noventa e cinco por cento das culturas do mundo e que são impressionantes suas similaridades, embora as culturas sejam diversas em estrutura e localização. Nos tempos modernos, o interesse popular em EQM inicialmente foi aceso pelo livro Vida Depois da Vida, de 1975, de Raymond Moody, que relatava numerosas EQMs em uma ampla variedade de pessoas. De acordo com a pesquisa de Gallup e Proctor nos anos de 1980 e 1981, cinquenta por cento de todos os americanos que haviam estado em situações próximo da morte, haviam tido uma EQM. Em uma situação mais clínica, Pim van Lommel, um cardiologista da Holanda, descobriu que, dentre os pacientes que haviam sido revividos com sucesso de paradas cardíacas, dezoito por cento haviam tido uma EQM.

A Evidência Evapora o Ceticismo

Durante as EQMs, os pacientes relatam passar por várias experiências extraordinárias, tais como viajar por um campo repleto de belas cores, encontrar seres refulgentes e rever toda a vida, muitas das quais têm efeitos de mudança profunda na vida dos pacientes. Do ponto de vista da testabilidade científica, a mais relevante dentre as EQMs são as experiências autoscópicas fora do corpo (EAFC), nas quais os pacientes relatam terem visto seus corpos de uma perspectiva de fora do corpo, geralmente de cima da cama de operação, e dão descrições verificáveis dos procedimentos cirúrgicos adotados pelos médicos.

De acordo com a ciência convencional, pacientes que estão inconscientes não podem estar cientes de tais detalhes, em virtude do que suas descrições não podem ser nada além de alucinações ou palpites fundamentados, na melhor das hipóteses. 



Foto: Dr. Michael Sabom.

Esta, de fato, era a visão do Dr. Michael Sabom, um cardiologista americano que começou suas pesquisas de EQM no fim dos anos 70 como um cético. Em seu livro Lembranças da Morte, Sabom esboçou seu plano inicial de refutar as alegadas percepções de EAFC de pacientes: “Eu confrontava minha experiência como um cardiologista treinado contra as lembranças visuais declaradas de indivíduos leigos. Fazendo isto, eu estava convencido de que inconsistências óbvias apareceriam e que reduziriam tais pretensas observações visuais a não mais do que ‘palpites fundamentados’ da parte dos pacientes”.

O ceticismo inicial de Sabom logo desapareceu, conforme as evidências começaram a crescer durante mais de três décadas de pesquisa sobre EQM. Aqui estão alguns dos casos dos livros de Sabom; casos que mudaram o entendimento da vida e da morte e também o entendimento de milhares de seus leitores.

Um piloto aposentado da Força Aérea, que havia sofrido um forte ataque cardíaco, contou o procedimento de ressuscitação em ricos detalhes. Ele descreveu até o movimento das duas agulhas do desfibrilador, que é um aparelho eletrônico usado para administrar choques elétricos para restaurar a função normal do coração: “Ele [o analisador de desfibrilador] era quadrado e tinha duas agulhas, uma fixa e uma que se movia… a primeira agulha se movia cada vez que eles golpeavam, e tinha alguém mexendo com ela. E eu acho que eles moveram a agulha fixa e ela ficou parada… Ela [a agulha móvel] parecia subir bastante lentamente, de fato. Ela não subia simplesmente como um amperímetro ou um voltímetro ou algo que estivesse fazendo registros… Da primeira vez, ela foi entre um terço e meia escala. E eles fizeram de novo, e, desta vez, ela foi até mais de uma escala e meia e, da terceira vez, ela foi até cerca de três quartos”.

Sabom explica o significado desta observação específica: “Eu fiquei particularmente fascinado com a descrição da agulha “fixa” e da “móvel” na superfície do desfibrilador enquanto ele estava sendo carregado de eletricidade. O movimento destas duas agulhas não é algo que ele poderia ter observado a não ser que ele tivesse de fato visto o instrumento em uso. Estas duas agulhas são usadas individualmente (1) para pré-selecionar a quantidade de eletricidade a ser descarregada no paciente [a descrição do paciente: “eles moveram a agulha fixa e ela ficou parada”] e (2) para indicar que o desfibrilador está sendo carregado na quantidade selecionada [descrição do paciente: “a agulha móvel subiu bastante lentamente, de fato. Ela não subia simplesmente como um amperímetro ou um voltímetro ou algo que estivesse fazendo registros”]. Este procedimento de carregar é feito apenas imediatamente antes da desfibrilação já que, uma vez carregada, esta máquina representa um risco elétrico sério a não ser que seja descarregada corretamente de uma maneira muito específica. Além do mais, os analisadores descritos por este homem não são encontrados em modelos mais recentes de desfibriladores, mas eram de uso comum em 1973, na época de sua parada cardíaca”.

Como poderia uma pessoa que (1) estava no meio de um ataque cardíaco, (2) a ponto de receber um choque elétrico, (3) enquanto estava quase certamente inconsciente e (4) não estava em uma posição que pudesse observar o analisador de desfibrilador, observar metodicamente o movimento das agulhas no seu mostrador?

Em outro caso de Sabom, uma mulher apresentou descrições médicas detalhadas e acuradas de sua cirurgia de disco lombar que havia sido realizada com ela estando de costas. Ela relatou que sua cirurgia havia sido executada, para sua surpresa, não por um cirurgião, mas pelo residente-chefe da neurocirurgia, um detalhe que estava correto, mas que não havia sido divulgado para ela.

Seguindo Sabom, muitos outros pesquisadores também encontraram EQMs que envolviam percepções verídicas ou factuais.

Consciente Embora Inconsciente?



Como as pessoas poderiam ter adquirido informações tão acuradas do que acontecia enquanto estavam medicamente inconscientes? Elas poderiam ter adquirido informações sobre os procedimentos médicos de um conhecimento geral prévio? Tal conhecimento preciso parecia improvável entre os pacientes não conectados diretamente com a profissão médica, mas, ainda assim, Sabom, sendo um pesquisador científico rigoroso, decidiu avaliar esta possibilidade. Então, ele questionou um grupo de controle de vinte e cinco pacientes cardíacos, cuja origem era similar à daqueles que haviam relatado casos de EQMs. Quando, aos sujeitos do grupo de controle, foi solicitado que imaginassem o que eles veriam acontecer em uma sala de operação quando médicos ressuscitam pacientes que tiveram ataque cardíaco, dois deles não puderam dar absolutamente nenhuma descrição, e vinte dentre os vinte e três restantes cometeram grandes erros. Em um contraste marcante, dos 32 sujeitos que relataram EQMs, 26 deram descrições gerais que não incluíam nenhum grande erro e seis deram relatos muito detalhados que casavam exatamente com seus relatórios médicos, os quais eles não haviam visto. Baseado neste estudo, Sabom concluiu: “Estes relatos de EQMs provavelmente não são fabricações sutis baseadas em conhecimento geral prévio”.

Os indivíduos poderiam estar parcialmente conscientes e terem, então, adquirido estas informações, possivelmente, através de sons e toques? Esta hipótese falha em explicar casos de EQMs nos quais os indivíduos fornecem informações acurada além de sua proximidade imediata; informações que não poderiam ter sido obtidas através de sons e toques ou por nenhum meio normal mesmo se estivessem conscientes.

Sabom relata um caso em que um paciente que estava se recuperando de uma doença sofreu um inesperado ataque cardíaco. Após ser revivido, relatou ter vivido uma EAFC na qual ele viajou para baixo do salão e viu sua esposa, filho mais velho e filha chegando lá, o que de fato acontecera. Esta informação é altamente significativa porque, (1) como ele ia ser liberado em breve, ele não esperava que seus membros familiares o visitariam; (2) mesmo se ele soubesse que eles o visitariam, não poderia saber quem o visitaria, porque ele tinha seis filhos crescidos, que se revezavam acompanhando a mãe quando ela ia vê-lo; (3) seus membros familiares foram parados no salão que estava a uma distância de dez portas da sala onde ele estava sendo tratado pelos médicos e enfermeiras; (4) seu rosto estava virado no sentido contrário deles; e (5) ele estava no meio do ressuscitamento do ataque cardíaco. 

EQMs envolvendo pacientes inconscientes que dão informações fatuais além de sua proximidade têm sido relatadas há mais de meio século, conforme indicado pelo artigo de Hornell Hart, publicado no Journal of the American Society for Psychical Research, 48(4) (outubro).

Alucinações Reais

Poderiam estas experiências serem simples alucinações de pessoas tentando evitar o medo da morte? Mas EQMs são notadamente diferentes de alucinações em seu conteúdo e efeito, como fica evidente na comparação abaixo.

EQMs são diferentes de alucinações não apenas em seus aspectos experienciais, mas também em seu mecanismo causativo científico. Em um artigo na revista científica The Lancet, Pim van Lommel e seus copesquisadores alemães expuseram uma falta em tais explicações fisiológicas das EQMs: “Com uma explicação puramente fisiológica [para a EQM], tal como a experiência de anóxia cerebral, a maioria dos pacientes que ficaram clinicamente mortos deveria relatar uma”. Lommel aponta que, dentre todas as pessoas sob condições alucinógenas ou psicológicas similares, apenas algumas passam por EQMs. Esta seleção das EQMs mostra que elas não são alucinações e que também não são causadas por nenhuma condição fisiológica.

Adicione o persuasivo fato de que vários dos indivíduos que vivenciaram EQMs deram informações factuais que jamais poderiam ter sido obtidas através de alucinações e a hipótese de alucinações das EQMs pode ser seguramente descartada.

Pensamento Ousado

Pesquisas sobre EQMs não são restritas a alguns cientistas não convencionais, senão que centenas de cientistas por todo o mundo estão ocupados em pesquisar EQMs em sérios fóruns globais como The International Association for Near-Death Studies (IANDS), endossados por publicações como as do Journal of Near-Death Studies.

Se a consciência vem do cérebro, como a medicina convencional quer que acreditemos, então uma pessoa inconsciente não pode ter (1) processo de pensamento claro, (2) conhecimento do que a cerca e (3) conhecimento além do que a cerca. 


Mas EQMs mostram que o que é considerado teoricamente impossível de fato aconteceu, como documentado por rigorosos pesquisadores sob condições bem monitoradas. Na ciência, o propósito da teoria é explicar os fatos, e não brigar com eles. Dados os fatos, as EQMs refutam fortemente a teoria da origem cerebral da consciência. De fato, apenas um dentre as centenas de casos de EQMs é suficiente para refutar esta teoria: se a consciência de uma só pessoa continuar quando seu cérebro não está funcionando, então tal caso refuta que a consciência se origina no cérebro.

Então, de onde se origina a consciência? Aprofundando a pergunta, quem é o observador fora do corpo durantes as EAFCs? Procurando respostas para questões como estas, pesquisadores pioneiros estão corajosamente pensando de modo inovador, fora do padrão da ciência materialista e reducionista, para explorar explicações científicas alternativas. Um padrão inovador é oferecido pela literatura védica, como o Bhagavad-gita, que oferece insights penetrantes sobre a origem da consciência e o mecanismo da interação entre o corpo e a alma.

O Bhagavad-gita (2.17) explica que a alma que impregna o corpo de consciência é indestrutível, o que implica dizer que ela continua a existir quando o corpo está morto ou quase morto. Além disso, o Bhagavad-gita (13.34) elabora que a consciência é a energia da alma que penetra o corpo assim como o a luz do Sol penetra todo o universo. Quando a alma está corporificada, sua consciência é canalizada através de dois tipos de corpos: o grosseiro e o sutil. O corpo grosseiro ou visível é aquilo que normalmente chamamos de nosso corpo físico, e o corpo sutil é composto basicamente daquilo que, normalmente, chamamos de mente. Em geral, a consciência da alma é canalizada através da mente para o cérebro e corpo e para o mundo externo.

Contudo, porque o corpo e a alma são essencialmente diferentes, a alma pode se separar do corpo sob circunstâncias especiais, como quando o corpo é ferido ou nas EAFCs. Em tal separação, a faculdade da percepção durante as EAFCs sugerem fortemente que a alma continua através do corpo sutil mesmo quando o cérebro perde sua função. Este mecanismo é esquematizado abaixo.

Uma Explicação Holística e uma Vida Holística

A característica de uma boa teoria científica é que ela não apenas explica coerentemente o fenômeno que se pretende explicar, mas também explica outros fenômenos relacionados. A solidez da teoria védica da alma fica evidente em sua habilidade de explicar não apenas EQMs e EAFCs, mas também fenômenos correlatos como a “visão mental”. Em seu livro Mindsight: Near-Death and Out-of-Body Experiences in the Blind [Visão Mental: Experiências de Quase-Morte e Fora do Corpo em Cegos], Kenneth Ring descreve várias pessoas cegas que foram capazes de ver apenas durante suas EQMs e nunca mais novamente.

Os textos védicos explicam que a mente tem faculdades sensoriais sutis que, quando se relacionam com os órgãos sensoriais grosseiros, permitem que a alma dentro do corpo veja. Nos cegos, devido a fatores biológicos, seus órgãos sensoriais são deficientes e, então, eles não podem ver. Mas eles, enquanto almas, ainda têm o poder de ver, em razão do que, quando o corpo sutil está dissociado do corpo grosseiro em EAFCs, o mecanismo acima sugere que o olho sutil que não está mais obstruído pela disfunção do olho grosseiro é capaz de ver. Similarmente, o paradigma védico também pode explicar vários outros fenômenos paranormais, tais como telepatia, clarividência, clariaudiência etc.

Em conclusão, as EQMs oferecem uma demonstração científica dramática e autêntica de que a consciência não depende do cérebro e que a vida não depende do corpo material, dando a alguns de nós experiências de vida além do corpo perecível. As EQMs chamam a todos nós para procurar por uma experiência completa da eternidade. O Bhagavad-gita oferece uma metodologia sistemática e prática para experimentarmos nossa espiritualidade inata e, então, recuperarmos nosso direito perdido à vida eterna. A relevância das EQMs ressoa com a mensagem universal das escrituras védicas que defendem a vida eterna como nosso eterno direito inato. Mrtyor ma ’mrtam gamaya: “Vá da morte para a eternidade”.



Tradução de Kamalaksi Rupini Devi Dasi. Se gostou deste artigo, talvez também goste deste: Para onde Vamos quando Morremos?

Fonte: De Volta para o Supremo


ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES

domingo, 3 de setembro de 2017

HUMILDE E BEM CONSIGO


                                   HUMILDE E BEM CONSIGO


Por Archana-siddhi Devi Dasi


"Confundir a humildade que surge do amor espiritual com uma postura de baixa autoestima que nos torna presas de exploradores é um equívoco perigoso que precisamos evitar."






Como terapeuta de famílias, eu aconselho tanto membros do Movimento Hare Krishna como pessoas de fora do Movimento. Recentemente, recebi um e-mail de uma jovem devota que estava infeliz em seu casamento devido à postura abusiva que seu esposo tinha, mas estava em conflito quanto a deixá-lo.

“Talvez seja bom que eu me sinta mal comigo mesma”, ela escreveu, “porque isso me fará desenvolver humildade”.

Não foi a primeira vez que eu ouvi essa lógica. A Bhagavad-gita ensina que humildade é essencial para o progresso espiritual. Algumas vezes, os devotos, infelizmente, pensam que se sentir mal é um pré-requisito para a humildade.

Diversas vezes, me deparo com devotos se complicando com o conceito de autoestima. Tendo lido as orações de santos de nossa linha, eles, algumas vezes, pensam que seus sentimentos deveriam se enquadrar nas declarações autodepreciativas de tais grandes almas. Por associarem baixa autoestima com avanço espiritual, tais devotos podem perpetuar por toda a vida o sentimento de estarem mal consigo. Eles podem acabar por atrair pessoas para suas vidas que lhes tratarão de acordo com a maneira que eles mesmos se sentem e se percebem.

A confusão começa por tentarmos igualar sentimentos que se originam de nosso eu puro com sentimentos que se originam de nosso ego material, ou falso. As grandes almas expressam sentimentos que nascem do ego espiritual puro, sentimentos que não são contaminados pelas qualidades da natureza material. Quando eles se sentem, nas palavras do Senhor Chaitanya, “mais baixos que a palha na rua”, é uma emoção plena de prazer. O devoto puro vê a grandeza do Senhor e vê todos como mais qualificados do que ele próprio. Eles estão imbuídos de amor e apreciação por toda a criação de Krishna.




Bhaktivinoda Thakura, um destacado mestre devotado a Krishna, escreveu belas canções expressando sua atração e seu amor por Krishna, músicas sobre alcançar a meta do coração – amor incondicional pelo Senhor – e canções autodepreciativas, nas quais ele lamenta sua falta de devoção. Como uma alma pura, ele expressa seu apego e amor pelo Senhor e, ao mesmo tempo, sua angústia de sentir-se desqualificado e sem esperança de atingir tal amor. Esses são sentimentos autênticos que nascem da humildade e do apego e amor pelo Senhor.

Reconhecendo Nossas Falhas

Nas primeiras fases de nossa jornada espiritual, talvez experimentemos rapidamente essas emoções por Krishna estar preparando a terra de nossos corações para cultivar nossa devoção. Eu me lembro de uma importante experiência que tive antes de me tornar devota. Eu tinha grande dificuldade de aceitar críticas e achava que minha opinião era absolutamente certa. Essa mentalidade criou inúmeros problemas, tanto na área profissional quanto pessoal. Por meses, eu contestei as recomendações de meu supervisor quanto a como fazer meu trabalho como diretora residente de um dormitório universitário. Minha obstinação estava fazendo o meu trabalho muito difícil, e eu estava aflita por isso. Finalmente, um dia eu tive a poderosa realização de que eu estava errada. Não só eu estava errada quanto a esse problema em particular, mas em relação a várias outras coisas.

É-me impossível descrever quão libertador foi para mim aceitar minha natureza falível. Eu não precisava mais carregar o peso de estar sempre certa em relação a tudo. Eu me senti pequena, mas, ao mesmo tempo, muitas possibilidades se abriram para mim. Pela primeira vez na minha vida adulta, eu pude ver meu autoritarismo assumir uma posição verdadeiramente submissa. Essa mudança de postura mental me preparou para tomar refúgio em meu mestre espiritual e nos devotos de Krishna de maneira geral. Krishna nos ajuda a ficarmos livres por um instante do falso prestígio para que possamos, como encorajamento, provar a doçura da humildade.

Algumas vezes, todavia, quando ainda estamos contaminados pelos modos da natureza material e identificados com nosso corpo e mente materiais, sentirmo-nos inferiores à palha na rua pode nos tornar desmotivados, entediados ou deprimidos. Esses sentimentos, então, impedem nossas práticas devocionais. Nós temos que julgar se, para nossa psique específica, tal psicologia é favorável à consciência de Krishna ou se é um impedimento no momento. Paradoxalmente, muitas pessoas precisam desenvolver um saudável ego material antes de transcendê-lo e realizar seu eu espiritual.

Eu ouvi uma vez um palestrante motivacional dizer que as pessoas com autoestima saudável pensam menos em si mesmas, e não menos de si mesmas. Quando nos sentimos bem quanto a nós mesmos, nós podemos devotar mais tempo e energia doando-nos aos outros, ao invés de absorvermo-nos em autopiedade. Alta autoestima também nos dá liberdade para agirmos de acordo com nossos valores e convicções. Quando nos sentimos mal conosco, às vezes fazemos coisas para agradar ou apaziguar os outros. Em um esforço para satisfazer o desejo dos outros, nós podemos acabar sendo influenciados a fazer coisas conflitantes em relação às nossas crenças e valores.

Sentindo-se Digno e Qualificado

Nathaniel Branden, um famoso psicólogo, define autoestima como “a disposição de sentir-se bem consigo e qualificado para lidar com os desafios básicos da vida e como sendo digno de ser feliz”. Como esses aspectos da autoestima – autoconhecimento e amor próprio – têm relação com a consciência de Krishna? Krishna quer que todas as almas aprisionadas no mundo material sejam pacíficas e felizes. A vida humana nos possibilita a oportunidade de ocuparmos nossos talentos e habilidades no serviço ao Senhor. Quando nos oferecemos a servir o Senhor, sentimos grande alegria. Um amigo, certa vez, deu ao meu esposo um quadrinho com os dizeres: “O que você é é um presente de Deus para você, e o que você se torna é seu presente para Deus”.

Além de confundirem humildade com baixa autoestima, os devotos, às vezes, correlacionam o conceito de autoestima com orgulho e egoísmo. Mas é, de fato, o contrário. Pessoas que exibem alta autoestima também exibem uma atitude mais humilde perante os outros. Eles são mais inclinados a admitir e corrigir erros, enquanto pessoas com baixa autoestima são muitas vezes defensivas e têm a necessidade de provarem que estão certas.

Em uma famosa história do Mahabharata, Krishna encontrou certa vez com Yudhisthira Maharaja e Duryodhana. Desejando glorificar Seu devoto Yudhisthira, Krishna pediu a ele que encontrasse uma pessoa mais baixa que ele, e pediu ao pecaminoso Duryodhana para que procurasse uma pessoa mais gloriosa que ele. Yudhisthira tinha todas as boas qualidades. Ele era pacífico e autossatisfeito. Sem dúvida, ele possuía uma saudável autoestima. Mesmo assim, ele não conseguiu encontrar ninguém mais baixo que ele. Mais uma vez, aqui se tem o exemplo de uma vaishnava avançado que porta humildade genuína.
Por outro lado, o perverso Duryodhana procurou por todo o seu reino o dia todo e não conseguiu encontrar ninguém que ele considerasse superior a ele mesmo. Duryodhana estava contaminado com orgulho e vaidade. Ele invejou e ofendeu grandes almas. Ele vivia em constante ansiedade para manter sua posição, sempre tentando eliminar seus competidores. Sua autoestima dependia de fatores externos como posição e poder, e assim ele não conhecia tal coisa como paz interior. Ele era atormentado por sua própria luxúria e ambição.

Orgulho Versus Autoestima

Pensar em si mesmo como grandioso é orgulho, não autoestima. Uma pessoa com alta autoestima demonstra humildade. A perfeição da autoestima é percebida em pessoas completamente livres do falso ego, nas quais a humildade é produto da realização espiritual.

No nosso estado condicionado, nós possivelmente nos identificaríamos mais com a mentalidade de Duryodhana do que com a de Yudhisthira Maharaja, mas, no nosso progresso na jornada espiritual, nós começamos a nos ver de forma diferente. Quanto mais realizamos não sermos o executor independente, mas o instrumento, mais saudável nossa autoestima se torna. Na vida material, os modos da bondade, paixão e ignorância nos influenciam. Esses modos se misturam e competem entre si para moldar nossa mente, incluindo o modo como nos sentimos em relação a nós mesmos.
Pessoas no abismo do modo da ignorância se sentem felizes e bem em relação a si mesmas quando seus sentidos estão satisfeitos. Pessoas imersas no modo da paixão estão felizes e bem consigo mesmas quando outros valorizam e reconhecem suas atividades. Nesses modos inferiores, nossa ideia de eu oscila o tempo todo.

Pessoas no modo da bondade são felizes e sentem-se bem em relação a si mesmas quando agem em conhecimento, de acordo com seus códigos e valores. Elas são menos reativas a estímulos externos, assim, a autoestima de tais pessoas depende mais de sua própria vida interior – consequentemente, têm mais controle sobre como se sentem.

Pessoas em bondade pura, percebem a si mesmas como instrumentos do Senhor. Elas não se identificam mais como o agente de suas atividades.    

O Exemplo de Prabhupada

Nosso mestre espiritual, Srila Prabhupada, demonstrou alta autoestima. Embora de baixa estatura, ele parecia grande para nós. Ele sempre mantinha sua cabeça alta e se movia com objetivo e confiança. Ele fala de forma direta, com convicção e coragem. Suas ações eram intrépidas e ousadas, e mesmo assim ele tinha uma atitude humilde, sabendo que seu sucesso era devido à providência do Senhor. Sua humildade é exemplificada em suas orações abordo do navio, quando ele estava vindo pela primeira vez aos Estados Unidos:

“Ó Senhor, eu sou como uma marionete em Tuas mãos. Então, se me trouxeste aqui para que eu dance, faze-me dançar, faze-me dançar, ó Senhor, faze me dançar como quiseres. Não tenho nenhuma devoção, tampouco conhecimento, mas tenho grande fé no santo nome de Krishna. Eu fui designado como Bhaktivedanta, e agora, se assim quiseres, podes cumprir o verdadeiro propósito Bhaktivedanta”.

Com grande humildade, Prabhupada finaliza sua carta assinando como “o mais desafortunado e insignificante mendigo, A. C. Bhaktivedanta Svami”.

De um lado, essas preces demonstram que Prabhupada se sentia muito baixo, mas, por outro lado, ele confiava poder fazer qualquer coisa com a misericórdia do Senhor. A oração também nos dá a chave para desenvolvermos puras qualidades devocionais: fé no santo nome. Quanto mais forte a nossa fé na capacidade de purificação dos santos nomes, maior será nossa dedicação ao processo de cantar. Nós cantaremos com tanto foco e atenção quanto pudermos e evitaremos com muito cuidado as ofensas que retardam nosso progresso espiritual.

Nós ficamos menos propensos a explorar os outros quando vemos a nós mesmos como servos, realizando a nossa natureza espiritual – bem como a dos outros - como servos de Deus. Nós somos gloriosas centelhas da energia espiritual, com todas as boas qualidades, embora sintamo-nos pequenos na presença do mais glorioso, nosso Senhor. Com esse verdadeiro conhecimento, a alma pura pode ter alta autoestima e humildade simultaneamente.

Quando eu compartilhei alguns destes pontos com a jovem que havia me enviado sua pergunta por e-mail, ela me escreveu de volta: “É-me um grande alívio entender esses pontos dessa perspectiva. Agora eu entendo que não tenho que continuar convivendo desonrosamente com todo o tipo de abusos para ser espiritual”.


Ela me sugeriu escrever um artigo sobre o tema para a revista Volta ao Supremo. Eu aceitei de todo o coração sua sugestão, uma vez que outros devotos haviam feito perguntas similares ao longo dos anos. Espero que o artigo seja útil para todos.


                               ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES




quarta-feira, 17 de maio de 2017

MEU RESUMO DO BHAGAVAD GITA PURO - VEDAS -CAP 1



Prezados amigos e seguidores, 

Espero que todos estejam bem e em paz.



Em pleno Sade Sati pessoal senti necessidade de oferecer algo espiritual de uma maneira mais direta, pura, sem comentários. Em oração e meditação, em difícil momento passando por um trânsito forte, o faço, primeiramente, em meu próprio benefício para me reconectar com um conhecimento transcendental eterno - Vedas - passado por sucessão discipular há mais de 5 mil anos, assim como o Velho Testamento. Um conhecimento que transformou minha vida desde 1992 trazendo-me esclarecimentos que nenhuma outra Escritura Sagrada ou informações até então haviam me convencido ou sanado dúvidas.



Após o Resumo do Gita eu pretendo fazer neste Blog Oficial um Resumo de todos os 30 volumes do Srimad Bhaghavatam, relendo-o e transmitindo-o a vocês.



Afasto-me por uns tempos de facebook, whatsApps etc., para focar mais em meu Blog Oficial.



Espero que meus singelos textos, estudos, compartilhamentos de postagens de amigos, sejam úteis e tragam mais conhecimento, luz e espiritualidade a todos. 



Sempre Toda Paz. 
Namastê. Rosana Aparecida Rodrigues


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INÍCIO DOS ESTUDOS DO RESUMO DOS VEDAS


DIRETO AO CAPÍTULO UM 


Obs. 1: Sem Introdução ou Comentários de A.C.Bhaktivedanta Swami Prabhubada. Apenas Tradução em português, sem texto original em Sânscrito, sem transliteração latina, sem vocabulário e comentários autorizados de Swami Prabhupaba.


Obs. 2: O primeiro capítulo pode não ser à primeira vista bem compreendido por iniciantes, mas a partir do Capítulo II o estudioso atento e respeitoso poderá entender melhor. Sugerimos resiliência, coragem e força para ler até o final.


Obs. 3: A Suprema Personalidade de Deus, o único Deus de todos (possuidor de muitos nomes em muitas religiões, mas único para todos), aparece (Avatar) em uma batalha há mais de 5 mil anos atrás para dar orientações a um fiel discípulo que estava em dúvida sobre se deveria lutar ou não. Deus aparece e aproveita a oportunidade para "falar" todo o conhecimento transcendental e revelar informações à Humanidade.

Obs. 4: Os Vedas fazem parte da cultura oriental, o Hinduísmo, mas seguimos uma linha pura de estudo chamada Consciência de Krshna, Vaishnavismo, sendo necessário explicar que essa "Religião" (consciência) é monoteísta e não politeísta. Assim como Cristianismo, Judaísmo e Espiritismo, acredita-se em um Deus apenas, Único e Pessoal. É uma religião personalista e nao impersonalista, portanto. É  pura falta de conhecimento a equivocada informação de que se acreditam em vários deuses. Isso é errôneo. Os Vedas explicam que os deuses apenas são manifestações do próprio e único Deus, a Suprema Personalidade de Deus, Krishna, assim como todas as outras religiões acreditam em várias manifestações de Deus, como por exemplo, o Pai, Filho e Espírito Santo, Santos Sábios ou o próprio Avatar Jesus Cristo, filho de Deus, reconhecido pelos Vedas. 

Obs. 5: Em construção e digitação. Acompanhe constantemente...


Observando os Exércitos no Campo de Batalha de Kuruksetra
("Luta entre o bem e o mal")



TEXTOS 1 AO 46: 

Dhrtarastra disse: Ó Sanjaya, que fizeram os meus filhos e os filhos de Pandu, depois de se reunirem no lugar de peregrinação de Kuruksetra, estando desejosos de lutar?

Sanjaya disse: Ó rei, após observar o exército reunido pelo filhos de Pandu, o rei Duryodhana dirigiu-se até seu mestre e começou a falar as seguintes palavras:

Ó meu mestre, eis que aqui o grande exército dos filhos de Pandu, tão habilmente disposto por seu inteligente discípulo o filho de Drupada.

Aqui neste exército há muitos arqueiros heroicos igualados na luta a Bhima e Arjuna; há também grandes guerreiros como Yuyudhana, Virata e Drupada.

Há também grandes guerreiros heroicos e poderosos, como Dhrstaketu, Cekitana, Kasiraja, Purujit, Kuntibhoja e Saibya.

Estão aqui o poderoso Yudhamanyu, o muito poderoso Uttamauja, o filho de Subhadra e os filhos de Draupadi. Todos estes guerreiros são grandes lutadores de quadriga.

Ó melhor dos brahmanas, para sua informação, deixe-me falar-lhe dos capitães que estão especialmente qualificados para dirigir minha força militar.

Há personalidades como você, Bhisma, Karna, Krpa, Asvatthama, Vikarma e o filho de Somadatta chamado Bhurisrava, que saem sempre vitoriosos na batalha.

Há muitos outros herois que estão dispostos a sacrificar suas vidas pela minha causa. Todos eles estão bem equipados com diferentes tipos de armas, e são experientes na ciência militar.


Nossa força  é imensurável e estamos perfeitamente protegidos pelo avô Bhisma, enquanto que a força dos Pandavas, protegidos cuidadosamente por Bhima, é limitada.

Agora todos vocês devem dar pleno apoio ao avô Bhisma, ficando em seus respectivos pontos estratégicos na falange do exército.

Então Bhisma, o grande e valente patriarca da dinastia Kuru, o avô dos lutadores, soprou sua concha bem alto como o rugido de um leão, produzindo júbilo em Duryiodhana.

Depois disso as conchas, clarins, trombetas tambores e cornetas soaram subitamente e o som combinado foi tumultuoso.

Do outro lado, o Senhor Krsna e Arjuna, situados numa grande quadriga puxada por cavalos brancos, soaram suas conchas transcendentais.





Então o Senhor Krshna soprou Sua Concha, chamada Pancajanya; Arjuna soprou a sua, a Devadatta; e Bhima, o comedor voraz e executor de tarefas hercúleas, soprou sua terrífica concha chamada Paundram.

O Rei Yudhisthira, o filho de Kunti, soprou sua concha, a Anantavijaya, e Nakula e Sahadeva sopraram a sughosa e a Manipuspaka. O grande arqueiro rei de Kasi, o grande guerreiro Sikhandi, Dhrstadyumna, Viraja e o inconquistável Satyaki, Drupada, os filhos de Draupadi e os demais, ó Rei, tais como o filho de Subhadra, de braços poderosos, todos sopraram suas respectivas conchas.

O sopro destas diferentes conchas se tornou tumultuoso, e assim, vibrando tanto no céu como na terra, despedaçou os corações dos filhos de Dhrstarastra.

Ó Rei, nesse momento Arjuna, o filho de Pandu, que estava sentado em sua quadriga, sua bandeira marcada com Hanuman, apanhou seu arco e preparou-se para atirar suas flechas, olhando para os filhos de Dhrstarastra. Ó rei, Arjuna então falou estas palavras para Hrsikesa (Krsna):

Arjuna disse: Ó infalível, por favor coloque minha quadriga entre os dois exércitos ara que eu possa ver quem está aqui presente, quem está desejoso de lutar, e com quem tenho que me bater nesta grande tentativa de batalha.

Deixe-me ver os que vieram lutar aqui, desejando comprazer o malévolo filho de Dhrstarastra.

Sanjaya disse: Ó descendente de Bharata, tendo Arjuna se dirigido desse modo a Ele, o Senhor Krsna conduziu a excelente quadriga, colocando-a no meio dos exércitos de ambos os grupos.

Na presença de Bhisma, Drona e todos os outros comandantes do mundo, Hrsikesa, o Senhor, disse: Observe, Partha, todos os Kurus que estão reunidos aqui.

Ali Arjuna pôde ver, no meio dos exércitos de ambos os grupos, seus pais, avós, mestres, tios maternos, irmãos, filhos, netos, amigos e também seu sogro e bem-querentes - todos ali presentes.

Quando o filho de Kunti, Arjuna, viu todas estas diversas classes de amigos e parentes, ele ficou doinado pela compaixão e falou assim:

Arjuna disse: Meu querido Krsna, vendo meus amigos e parentes presentes diante de mim com tal ânimo para lutar, sinto os membros de meu corpo tremer e minha boca secar.


Todo o meu corpo está tremento e meu cabelo está arrepiado. Meu arco Gandiva está escorregando de minha mão, e minha pele está ardendo.

Sinto-me incapaz de permanecer aqui por mais tempo. Estou me esquecendo de mim e minha mente está girando. Prevejo só o mal, ó matador do demônio Kesi.

Não vejo como pode resultar algo de bom se mato meus próprios parentes nesta batalha, nem posso, meu querido Krsna, desejar qualquer vitória, reino ou felicidade subsequentes.

Ó Govinda, de que nos valem reinos felicidade ou até a própria vida quando todos aqueles pelos quais podemos desejar estão agora dispostos neste campo de batalha? Ó Madhusudana, quando mestres, pais, filhos, avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados e todos os parentes estão dispostos a dar suas vidas e propriedades e estão diante de mim, então por que desejaria eu matá-los, ainda que eu sobreviva? Ó mantenedor de todas as criaturas, não estou disposto a lutar com eles nem mesmo em troca dos três mundos, muito menos por esta terra.

O pecado cairá sobre nós se matarmos tais agressores. Por isso não é correto que nós matemos os filhos de Dhrtarastra e nossos amigos. O que ganharíamos ó Krshna, esposo da deusa da fortuna, e como poderíamos ser felizes matando nossos próprios parentes?

Ó Janardana, embora estes homens tomados pela cobiça não vejam falta alguma em matar sua própria família ou em lutar com amigos por que nós, que temos cohecimento do pecado haveríamos de nos ocupar nesses atos?

Com a destruição da dinastia destrói-se a eterna tradição familiar, e assim o resto da família se envolve em práticas irreligiosas.

Quando a irreligião predomina na família, ó Krsna, as mulheres (e homens) da família se corrompem, e da degradação das mulheres, ó descendente de Vrsni, vem progênie não desejada. (grifo nosso).

Quando há aumento de população não desejada, cria-se uma situação infernal tanto para a família como para aqueles que destroem a tradição familiar. Em tais famílias corruptas, não há oferecimento de oblações de alimento e água para os ancestrais.

Devido aos atos malévolos dos destruidores das tradições familiares, todos os tipos de projetos de comunidades e atividades para o bem-estar da família são devastados.

Ó Krsna, mantenedor das pessoas, eu ouvi através da sucessão discipular que aqueles que destroem as tradições familiares residem sempre no inferno.

Ai! como é estranho que estejamos nos preparando para cometer atos extremamente pecaminosos impulsionados pelo desejo de gozar a felicidade régia.

Eu consideraria melhor que os filhos de Dhrtarastra me matassem desarmado e não opondo resistência, do que lutar com eles.

Sanjaya disse: Arjuna, tendo assim falado no campo de batalha, pôs de lado seu arco e flechas e sentou-se na quadriga, com a mente tomada pela angústia.

*****************************************************
Assim termina o Capítulo Primeiro, sem os "Significados" que são os comentários escritos pelo Swami Prabhapada, o responsável por trazer todo o Conhecimento Oriental dos Vedas para o Ocidente, falecido em 1977.

Na sequência, no Capítulo 2, praticamente  Deus faz um Resumo do Gita e começa a conversar e responder a Arjuna durante a batalha, aproveitando para falar todo o conhecimento para a Humanidade, que foi passado por sucessão discipular por mais de 5 mil anos...................


Acompanhe os 18 Capítulos. Você terá as respostas que nunca encontrou em lugar algum. 

Sempre Toda Paz,
Namastê!
Rosana Rodrigues
Rasalila Devi Dasi


Rasalila DD em 1995 com Swami Radharan Sadhu


Swami Sadhu e Rasalila DD em 1996

Rasalila DD em 1996 com 29 anos

Rasalila DD em 2015


Rasalila DD em 2017


ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES

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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Morte e Renascimento no Hinduísmo - Krishnas

Morte e Renascimento no Hinduísmo


Loka-sakshi Dasa






A alma imortal, seus corpos, o fenômeno da morte, os destinos da alma, os sacramentos e cerimoniais aos mortos.

asato ma sad gamaya
tamaso ma jyotir gamaya
mrityor ma ‘mritam gamaya

“Do irreal, conduz-me ao real. Das trevas, conduz-me à luz. Da morte, conduz-me à imortalidade”. (Brihadaranyaka Upanishad 1.3.28)

Esta prece dos Vedas proclama o desejo humano de viver plenamente o real, de ter a consciência iluminada e de sobreviver eternamente, conquistando a morte. Certa ocasião, Yudhisthira Maharaja, um grande rei sábio, foi questionado por Yama, a personificação da morte, com a seguinte pergunta: “O que há de mais maravi­lhoso neste mundo?” Yudhisthira respondeu pronta­mente:

ahany ahani bhutani gacchantiha yamalayam
esha sthavaram icchanti kim acaryam atah para

“Todos os dias, centenas e milhões de entidades vivas entram no reino da morte. Mesmo assim, as que ficam as­piram por uma situação permanente. O que poderia ser mais maravilhoso do que isso?” (Mahabharata, Vana-parva 313.116)

Na milenar tradição védica, esse inconformismo com a morte sempre foi visto como uma indicação da eternidade da alma. Em nosso inconsciente, não podemos aceitar a morte, pois intuímos o fato da nossa imortalidade. Nin­guém aceita facilmente a realidade da morte, porque o que morre de fato é o corpo temporário e não a alma eterna.

Eventualmente, porém, todos temos de confrontar a morte. Para os seguidores da tradição védica, isso não é algo para ser temido. Sabemos que já nascemos e morremos várias vezes. O karma e a transmigração da alma fazem o inevitável parecer algo natural, pois morrer é como adormecer, e nascer é como despertar do sono – algo muito simples.

As escrituras védicas declaram que a alma é imortal: ajo nityah shashvato’ yam, “a alma é não-nascida, eterna e sempre existente”. (Bhagavad-gita 2.20) Ainda assim, sofremos, pois esse é o preço do apego ao corpo material e a tudo o que é impermanente. Com conhecimento, deve-se questionar, discriminar e encontrar a compreensão que torne a morte aceitável. Assim, a morte consciente, como uma elevada e poderosa experiência pessoal, pode dar sentido à vida e levar ao autoconhecimento.

O Ser Eterno e a Morte do Corpo

Segundo A.C. Bhaktivedanda Swami Prabhupada, compreender nossa identidade como algo à parte do corpo é o primeiro passo na autorrealização. Compreender que “eu não sou este corpo, mas, sim, uma alma espiritual” é um entendimento essencial para qualquer pessoa que deseja transcender a morte e entrar no mundo espiritual, que está mais além.





Compreender nossa identidade como algo à parte do corpo é o primeiro passo na autorrealização.

Essa é a preocupação de praticamente todos os místicos, seja no Ocidente, seja no Oriente. Por exemplo, Sri Ramana Maharshi, quando ainda adolescente, foi tomado pelo pensamento de sua morte iminente – o medo existencial do não-ser. Em vez de ser dominado pelo medo da morte, ele aceitou a possibilidade da morte e começou a indagar sobre o mistério da vida, utilizando o método muito simples chamado atma-vicharana, autoindagação ou indagação pelo atma (o Si-mesmo), que consistia em fazer para si mesmo uma única e constante pergunta: ko’ ham, ”quem sou eu?”.

Contudo, embora se possa compreender teoricamente que não somos estes corpos, mas o si-mesmo, que é consciente do corpo, ainda assim todos se identificam com a vestimenta corpórea. A tradição védica busca, portanto, na experiência prática, estruturar a vida da pessoa, por meio de vários caminhos (margas), para que ela possa experienciar a sua posição constitucional como alma espiritual (atma).

No Oriente, entretanto, há outras opiniões sobre a natureza da alma. No budismo, por exemplo, não existe a crença em uma entidade permanente, em uma alma, ou atma, que seria o sujeito da morte e do renascimento. Isso tem sido tema de debates intensos, pois o budismo sustenta a doutrina do anatta ou anatmavada, a “não-alma”.




No budismo, diferente da cultura védica, não existe a crença em uma entidade permanente.

Diferentemente dos seguidores da cultura védica, que acreditam no “ser”, na “condição de isto” (tat-tva), os budistas acreditam no “tornar-se”, na “condição de assim” (tatha-ta). Dessa forma, no budismo, não há ator além da ação, nem perceptor além da percepção. Em outras palavras, não há um sujeito consciente por detrás da consciência. Isso, em resumo, leva ao conceito de ação (karma) sem ator (karta). Então, em última instância, não pode haver transmigração ou renascimento da alma, mas apenas um processo de transformação perpétua dos agregados (skandhas), compostos da forma, percepção, consciência, ação e conhecimento, que manifestam os sintomas do que conhecemos por vida.

No conhecimento védico, em contraste, a vida não é vista como mero sintoma de condições que a torna possível, mas, sim, como decorrente da presença da própria alma espiritual. Para os seguidores da sabedoria védica, acreditar no karma sem aceitar os conceitos da alma individual (jivatma) e seu renascimento (punar-janma) é algo desconcertante.

Sri Krishna estabelece na Bhagavad-gita, inequivocamente, a imortalidade da alma quando declara, para Seu amigo e discípulo Arjuna, como segue:

na tu evaham jatu nasam na tvam neme janadhipah
na caiva na bhavishyamah sarve vayam atah param

“Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem todos estes reis, e, no futuro, nenhum de nós deixará de existir”. (Bhagavad-gita 2.12)

avinashi tu tad viddhi yena sarvam idam tatam
vinasham avyayasyasya na ka cit kartum arhati

“Deves saber que aquilo que penetra o corpo inteiro é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a alma imperecível”. (Bhagavad-gita 2.17)

Não é possível entender os conceitos da morte e do renascimento no hinduísmo sem saber a diferença entre a alma permanente (atma) e o corpo material temporário. A Bhagavad-gita explica a natureza da alma com a seguinte ana­logia:

yatha praka ayaty ekah kritsnam lokam imam ravih
kshetram kshetri tatha kritsnam prakashayati bharata

“Assim como o Sol ilumina sozinho todo este mundo, a entidade viva, sozinha dentro do corpo, ilumina o corpo inteiro através da consciência”. (Bhagavad-gita 13.34)





Sri Krishna estabelece na Bhagavad-gita, inequivocamente, a imortalidade da alma.

A consciência evidencia concretamente a presença da alma dentro do corpo. Em um dia nublado, o Sol pode não estar visível, mas sabemos que ele está presente no céu, através da presença da luz solar. Analoga­mente, pode­mos não ser capazes de perceber diretamente a alma, mas podemos concluir que ela existe pela presença da consciência. Na ausência da consciência, o corpo é simplesmente um monte de matéria morta. Somen­te a pre­sença da consciência faz com que esse monte de matéria morta possa respirar, falar, amar e temer.

Es­senci­almente, o corpo é um veículo para a alma, por meio do qual ela pode satisfazer seus desejos. A alma dentro do corpo está “sentada em uma máquina feita de energia material [yantrarudhani mayaya]”. (Bhagavad-gita 18.61) Ela se identi­fica falsamente com o corpo, transportando suas diferentes con­cepções da vida, de um corpo para outro, assim como o ar transporta os aromas. Do mesmo modo que um automóvel não pode funcionar sem um motorista, o corpo material não pode funcionar sem a presença da alma.

Bhagavad-gita explica claramente a diferença entre o que é real e o que é irreal, nasato vidyate bhavona bhavo vidyate satah: ”Não há continuidade para o inexistente, nem cessação para o exis­ten­te”. (Bhagavad-gita 2.16)

O corpo material vem a existir em certo momento, cresce, amadurece, gera subprodutos (filhos) e gra­dualmente degenera e morre. O corpo físico, neste sentido, é irreal, pois ele desaparecerá no devido tempo. No entanto, apesar de todas as mudanças do corpo material, a consciência, o sintoma da alma que está dentro, perma­nece imutável. Conclui-se, portanto, que a consciência possui a qualidade inata de permanência, que lhe permite sobreviver às mudanças e à destruição do corpo. Sri Krishna afirma, na jayate mriyate va kadacin na hanyate hanyamane sharire: ”Para a alma, nunca há nascimento nem morte. Ela não é ani­quilada quando o corpo é aniquila­do”. (Bhagavad-gita 2.20)

Entretanto, se a alma “não é aniquilada quando o corpo é aniquilado”, o que acontece com ela? Segundo a Bhagavad-gita, ela entra em outro corpo:

dehino‘ smin yatha dehe kaumaram yauvanam jara
tatha dehantara-praptir dhiras tatra na muhyati

“Assim como, neste corpo, a alma corporificada seguidamente passa da infância à juventude e à ve­lhice; chegando a morte, a alma passa para outro corpo. Uma pessoa ponderada não fica con­fusa com essa mudança”. (Bhagavad-gita 2.13)

vasamsi jirnani yatha vihaya navani grihnati naro‘ parani
tatha sharirani vihaya jirnany anyani samyati navanidehi

“Da mesma forma que alguém veste roupas novas, abandonando as antigas, a alma aceita novos corpos materi­ais, aban­donando os velhos e inúteis”. (Bhagavad-gita 2.22)





Diferentes corpos são como diferentes vestes para a alma.

Dessa forma, a alma permanece enredada no samsara, o ciclo interminável de nascimentos e mortes, pois jatasya hi dhruvo mrityurdhruvam janma-mritasya ca: ”Para aquele que nasceu, a morte é certa, e, para aquele que morreu, o nascimento é certo”. (Bhagavad-gita 2.27)

As entidades vivas nascem perpetuamente em várias espécies de vida, de acordo com a natureza de seus desejos, pois, segundo a Bhagavad-gita:

yam yam vapi smaram bhavam tyajaty ante kalevaram
tam tam evaiti kaunteya sada tad-bhava-bhavitah

“Qualquer que seja o estado de existência de que alguém se lembre ao deixar o corpo, esse mesmo estado ele alcançará impreterivelmente”. (Bhagavad-gita 8.6)

Tudo o que pensamos e fazemos durante nossa vida deixa uma impressão (vrittis) na mente, e a soma total de todas essas impressões (samskaras) influencia nossos pensamentos finais na hora da morte.





A soma das impressões em nossa mente na hora da morte determina nosso próximo nascimento.

Essas influências são causadas pelos gunas, ”cordas”, ou “modos da natureza material”. Eles são as três qualidades básicas constitutivas da natureza material, assim como a luz branca constitui-se de três cores básicas. Os gunas são: rajas, caracterizado por paixão, atividade ou expansão; tamas, que se caracteriza por ignorância, inação ou escuridão; e sattva, identificado por bondade, harmonia ou luz. Sattva conduz para cima, rajas mantém no meio, tamas leva para baixo.

Bhagavad-gita esclarece que essas qualidades da natureza material funcionam sob o controle divino e prendem as almas neste mundo, daivi hy esha guna-mayi mama maya duratyaya: “Esta energia divina, que consiste nos três modos da natureza (gunas), é difícil de ser superada”. (Bhagavad-gita 7.14) Sua influência sobre as almas encarnadas é total:

sattvam rajas tama iti gunah prakriti-sambhavah
nibadhnanti maha-baho dehe dehinam avyayam

“A natureza material consiste de três modos – bondade (sattva), paixão (rajas) e ignorância (tamas). Ao entrar em contato com a natureza, ó Arjuna de braços poderosos, a entidade viva eterna condiciona-se a esses modos”. (Bhagavad-gita 14.5)

Consequentemente, de acordo com a qualidade de nossos pensamentos na hora da morte, recebemos da natureza material um corpo adequado. A Bhagavad-gita explica como a influência dos gunas na consciência, e o apego a eles, determinam a natureza do nascimento da pessoa:

yada sattve pravriddhe tu pralayam yati deha-bhrit
tadottama-vidam lokan amalan pratipadyate

“Quando alguém morre no modo da bondade (sattva), atinge os mundos superiores e puros, onde residem os grandes sábios”. (Bhagavad-gita 14.14)

rajasi pralayam gatva karma-saṅgishu jayate
tatha pralinas tamasi mudha-yonishu jayate

“Quando alguém morre no modo da paixão (rajas), nasce entre os que se ocupam em atividades fruitivas. E quando morre no modo da ignorância (tamas), nasce no reino animal”. (Bhagavad-gita 14.15)

purushah prakriti-stho hi bhunkte prakriti-jan gunan
karanam guna-sango’ sya sad-asad-yoni-janmasu

“Dessa forma, a entidade viva dentro da natureza material segue os caminhos da vida, desfrutando os três modos da natureza. Isso decorre de sua associação com essa natureza material. Assim, ela se encontra com o bem e o mal, entre as várias espécies de vida”. (Bhagavad-gita 13.22)

O tipo de corpo que alguém possui agora é a expressão tanto da influência causada pelos gunas na consciência, quanto do mérito acumulado das ações (karma) em vidas passadas. Esse karma é definido como, bhuta-bhavodbhava-karo visargah karma-samjñitah: “Karma é a ação que desencadeia o desenvolvimento dos corpos materiais das entidades vivas”. (Bhagavad-gita 8.4)

Assim, a Bhagavad-gita explica que:

shrotram cakshuh sparshanam ca rasanam ghranameva ca
adhishthaya mana cayam vishayan upasavate

“A entidade viva, aceitando esse outro corpo grosseiro, obtém um certo tipo de ouvido, olho, língua, nariz e sentido do tato, que se agrupam ao redor da mente. Ela, então, desfruta de um conjunto específico de objetos dos sentidos”. (Bhagavad-gita 15.9)

Portanto, segundo o hinduísmo tradicional, o caminho da reencarnação nem sempre leva para o alto; o ser hu­mano não tem garantia de um nascimento humano em sua próxima vida. Por exemplo, se alguém morre com mentali­dade de um cachorro, então, em sua próxima vida, receberá os olhos, ouvidos, nariz etc. de um cachor­ro, para que ele desfrute de prazeres caninos. Krishna confirma tal destino dizendo, tatha pralinas tamasi mudha-yonishu jayate: “Quando morre no modo da ignorância, nasce em corpo irracional, como de um animal”. (Bhagavad-gita 14.15)






Se uma alma desperdiça sua vida humana, pode vir em nascimentos animais posteriormente.

Na Bhagavad-gita, encontramos que os seres humanos que não indagam sobre sua natureza metafísica, supe­rior, são compelidos pela lei do karma a continuar o ciclo de nascimentos, mortes e renascimentos, apare­cendo ora como humanos, ora como animais ou plantas. Nossa existência no mundo material deve-se às múltiplas reações cármicas desta vida e das anteriores, e o corpo humano fornece o instrumento através do qual a alma pode escapar. Por utilizar apropriadamente a forma humana de vida, procuram-se resolver todos os problemas da vida (nascimento, velhice e morte) e quebrar o ciclo interminável de reencarnações. Essa seria a missão da vida humana, athato brahma-jijñasa: ”Questionar sobre a Verdade Absoluta”. (Vedanta-sutra 1.1.1) 

Se, entretanto, uma alma, tendo se desenvolvido até a plataforma humana, desperdiça sua vida ocupando-se unicamente em atividades para o pra­zer dos sentidos, ela pode facilmente criar karma suficiente nesta vida atual para manter-se enredada no ciclo de nascimentos e mortes, por muitas vidas. E há o perigo de talvez nem todas elas serem humanas.

Os Corpos ou Coberturas da Alma

Na tradição védica, identificam-se os corpos materiais da alma com os koshas, termo em sânscrito que significa “invólucro, cobertura, bainha, vaso ou recipiente”. O conceito dos “cinco invólucros” (pañca-kosha) constitui um paradigma quântico que vê a alma condicionada e acondicionada em um organismo psicofísico multidimensional. Isso pode ser encontrado nos textos das Upanishads (Taittiriya Upanishad 2.2-5, 3.10.5; Sarvarara Upanishad 2; Tejobindu Upanishad 4.75)

Esses invólucros (kosha) são roupagens que revestem a alma quando ela está condicionada neste mundo material. A Bhagavad-gita explica que a identidade da alma é ser eternamente parte integrante fragmentária da Divindade:

mamaivamsho jiva-loke jiva-bhutah sanatanah
manah-shashthanindriyani prakriti-sthani karshati

“As almas condicionadas neste mundo são Minhas eternas partes fragmentárias. Por força da vida condicionada, elas empreendem árdua luta com os seis sentidos, entre os quais se inclui a mente”. (Bhagavad-gita 15.7)

Assim como o corpo físico permite que ela viva na dimensão física, os invólucros ou corpos sutis permitem que ela possa viver simultaneamente em vá­rios planos de existência, como nos sonhos, transes, desdobramentos e regressões psíquicas, e, depois da morte, viver nas dimensões ou mundos sutis.





Além do corpo grosseiro, a alma tem um corpo sutil enquanto está neste mundo.


Os koshas, em ordem de maior sutileza, são: (1) anna-maya kosha, ”invólucro feito de ali­mento”, que é o corpo físico, também chamado de sthula-sharira ”corpo denso”; (2) prana-maya kosha, “invólucro feito de prana, energia vital”, que é o corpo vital, o qual é etéreo e co-existe com o corpo físico, como sua fonte de energia e vitalidade, e faz a conexão com os invólucros mais sutis e aloja os sentidos; (3) mano-maya kosha, ”invólucro feito de mente”, que é o corpo emocional ou o sentido interno, onde se processam as emoções, sentimentos, pensamentos e desejos; (4) vijñana-maya kosha, “invólucro feito de sabedoria”, que é o corpo intelectual, onde reside a memória, a discriminação, a criatividade, a compreensão e a intuição; e (5) ananda-maya kosha, “invólucro feito de bem-aventurança”, que é o corpo causal, onde pode ser realizada a identidade e individualidade da alma, o local da consciência pura ou transpessoal.

O termo “corpo sutil” geralmente indica os invólucros que constituem o corpo sutil, não-físico, da alma, chamado em sânscrito de sukshma-sharira, e inclui os seguintes invólucros: prana-maya kosha, mano-maya kosha e o vijñana-maya kosha. Ele permite que a alma atue na dimensão astral, ou plano astral.

Na hora da morte, envolvida pelos invólucros (koshas) energético (prana-maya), emocional (mano-maya), intelectual (vijñana-maya) e causal (ananda-maya) do corpo sutil, a alma deixa o seu invólucro físico (anna-maya).

O Fenômeno da Morte

Na tradição védica, descreve-se a morte como maha-prasthana, “a grande partida”. É uma experiência muito intensa e determinada pela qualidade da vida da pessoa. Há quem tenha visões, que variam da experiência de encontrar-se com seres assustadores – descritos como yamadutas, “mensageiros da morte”, que arrancam à força a alma apegada ao corpo –, à experiência de ser conduzido harmoniosamente por um túnel de luz, em cujo fim há seres divinos. Sujeitos que tiveram experiências de quase-morte nos dão testemunho desses encontros transformadores.




Experiências de quase morte evidenciam as descrições das escrituras.

Uma senhora que “morreu” durante um trabalho de parto, mas foi revivida imediatamente por proce­dimentos médicos, descreveu: “Era muita energia – uma luz incrível. Eu praticamente flutuava nela. Minha consciência foi tomada por sentimentos de amor incondicional, de segurança completa, de perfeição total. Então, sentia que era imortal, que era quase in­destrutível. Não podia mais ser ferida, nem me perder. O mundo me parecia perfeito”.

Centenas de pessoas falam de experiências similares, confirmando o que as tra­dições do Oriente sempre descreveram – que a morte pode ser uma transição bem-aventurada, iluminada, de um estado para outro, tão simples e natural como a troca de roupas. Algo completamente diferente das alternativas mórbidas e infernais que geram tanto medo e insegurança nas pessoas.

A morte é uma série de mudanças pelas quais todos passam, e a separação da alma do seu corpo físico torna-se o ponto inicial da jornada para uma vida nova. A morte não é o fim da personalidade e da autoconsciência; ela meramente abre a porta para outra forma de vida. A morte, quando experimentada de forma consciente, pode tornar-se o portal para a plenitude da vida.

Nascimento e morte são meros ardis de maya, o aspecto ilusório da energia material. Na realidade, vida é morte, e morte é vida. Quem nasceu já começou a morrer, e quem morreu já começou a viver. Isso é o que afirmam as escrituras védicas, jatasya hi dhruvo mrityur dhruvam janma mritasya ca: “Certa é a morte do que nasce, e certo é o nascimento do que morre”. (Bhagavad-gita 2.27)

Quando, por algum motivo, a alma (jivatma ou jiva) tem de abandonar definitivamente o corpo físico (anna-maya-kosha), os canais (nadis) onde circulam os ares vitais (pranas) perdem o vigor e ficam incapacitados de expandir-se e contrair-se para exalar e inalar o ar. Assim, o corpo perde sua harmonia e fica agitado. Então, o ar inalado não sai adequadamente, nem o ar exalado entra novamente no corpo. Assim, a respiração cessa. E, com a parada da respiração, surge a inconsciência, e considera-se, então, que ocorreu a morte.

Nesse momento, todos os desejos e ideias se retraem, pois o jiva carrega dentro de seu corpo sutil (sukshma-sharira) todos os seus vasanas, que são os desejos ou impressões mentais do passado. Com a morte do corpo físico, os pranas, que carregam as coberturas mais sutis – e, dentro delas, a própria alma – saem do corpo e vagam pelo ar.

Considera-se que a atmosfera está saturada de uma enormidade de pranas que levam dentro de si os jivas, que, por outro lado, comportam potencialmente dentro delas todas as suas experiências de vida. Naquele momento, o si-mesmo, ou alma individual, com todos os vasanas dentro de si, passa a ser denominada de preta, “quem foi para o outro mundo”.

Nas Upanishads e na Bhagavad-gita, encontramos mais detalhes de como a alma muda de corpos:

tam utkramantam prano’nutkramati pranamanutkramantam sarve prana anutkramanti, sa-vijñano bhavati sa-vijñanamevanvavakramati, tam vidya-karmani samanvarabhete purva-prajña ca

“Quando a alma parte do corpo, o ar vital a segue; e quando o ar vital parte, é acompanhado de todos os sentidos. Então, a alma adquire um tipo específico de consci­ência e passa ao corpo adequado a essa consciência. Ela é seguida pelo conhecimento, karma e impressões latentes passadas”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.2)

tad yatha trina-jalayuka trinasyantam gatva anyam akramamakramya atmanam upasamharati, evam evayam atma idam shariram nihatya avidyam gamayitva anyam akramam akramya atmanam upasamharati

“Assim como uma lagarta na grama, chegando ao fim da folha, retrai-se e busca outro suporte; este atma, deixando o corpo atual, que fica inconsciente, retrai-se e aceita um novo corpo”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.3)

vasamsi jirnani yatha vihaya navani grihnati naro ’parani
tatha sharirani vihaya jirnany anyani samyati navanidehi

“Assim como alguém veste roupas novas, abandonando as antigas, a alma aceita novos corpos materiais, abandonando os velhos e inúteis”. (Bhagavad-gita 2.22)

tad yatha peshas-kari peshaso matram upadayanyannavataram kalyanataram rupam tanutei, evam evayam atma idam shariramnihatya avidyam gamayitva anyam navataram rupam kurute pitryam va gandharvam vadaivam va prajapatyam va brahmam va anyesham va bhutanam

“Assim como um artesão, pegando um pouco de ouro, molda outra forma – mais nova e melhor –, este atma, deixando o corpo atual, que fica inconsciente, cria outra forma – mais nova e melhor –, como a dos manes (pitris), cantores celestiais (gandharvas), deuses (devas), prajapatis e Brahma”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.4)

yatha-kari yatha-cari tatha bhavati, sadhu-kari sadhur bhavati, papa-kari papo bhavati, apunyah punyena karmana bhavati papah papena

“Como faz e age, assim a pessoa se torna. Fazendo o bem, ela se torna boa, e fazendo o mal, ela se torna má; torna-se virtuosa por ações virtuosas e torna-se viciosa por ações viciosas”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.5)

Os Destinos da Alma

Depois da morte, segundo a natureza de sua consciência e o mérito cármico de suas atividades passadas, a pessoa toma rumos diversos. A Bhagavad-gita descreve dois caminhos principais: devayana e pitriyana. O primeiro deles, chamado de devayana, é o caminho dos deuses, que é trilhado por almas espiritualmente avançadas. Essas levaram uma vida extremamente pura, devotando-se integralmente à meditação no Absoluto (brahman), mas, apesar de possuírem conhecimento espiritual, não conseguiram obter autorrealização plena (jiva-mukti) antes da morte. Elas, então, são conduzidas para Brahmaloka, o sistema planetário mais elevado do universo material, e, de lá, no devido tempo, obtêm a libertação. Esse caminho é o caminho que não tem volta e é descrito na Chandogya Upanishad:

tad ya ittham viduh ye ceme ’ranye sraddha tapaity upasate te ’rcisham abhisambhavanty arcisho ’harahna aparyamanapakshamapuryamanapakshad yan shad udann eti masams tan

“Então, aqueles que estão em conhecimento e aqueles que, vivendo na floresta, seguem uma vida de fé e austeridades vão para a luz, da luz para o dia, do dia para a quinzena clara, da quinzena clara para os seis meses em que o Sol está ao norte”. (Chandogya Upanishad 5.10.1)

samebhyah samvatsaram samvatsarad adityam adityaccandramasam candramaso vidyutam tat purusho ’manavah sa enan brahma gamayatiesha devayanah pantha iti

“Dos meses, eles vão para o ano, do ano para o Sol, do Sol para a Lua, e da Lua para o relâmpago. Lá, uma pessoa não humana conduz a alma para o Brahman. Esse é o caminho dos deuses”. (Chandogya Upanishad 5.10.2)

O segundo, conhecido como pitriyana, é o caminho dos antepassados, que é seguido pelas almas que, seguindo os rituais prescritos nas escrituras, foram muito caridosas e piedosas, cultivaram desejo pelo resultado de suas caridades, austeridade, votos e adoração. Seguindo esse caminho, elas são conduzidas para Chandraloka, a região lunar, onde podem desfrutar de imensa felicidade como recompensa por suas ações virtuosas. Entretanto, quando o saldo cármico se exaure, elas têm de voltar para a Terra, visto ainda terem desejos terrenos. Descreve-se esse caminho também na Chandogya Upanishad:

atha ya ime grama ishtapurte dattam ity upasate tedhumam abhisambhavanti dhumad ratrim ratrer aparapaksha aparapakshad yan shaddakshinaiti masams tan naite samvatsaram abhiprapnuvanti

“Por outro lado, aqueles que vivem em vilas, praticando sacrifícios e trabalhos de utilidade pública e de caridade, vão para a fumaça (dhuma), da fumaça para a noite (ratri), da noite para a quinzena escura, da quinzena escura para os seis meses em que o Sol está ao sul. De lá, eles não alcançam o ano”. (Chandogya Upanishad, 5.10.3)

masebhyah pitrilokam pitrilokad akasham akashaccandramasam

“Dos meses, eles vão para o mundo dos antepassados, do mundo dos antepassados, para o espaço, do espaço para a Lua”. (Chandogya Upanishad 5.10.4)

tasmin yavat sampatam ushitvathaitam evadhvanampunar nivartante

“Residindo ali até esgotar o resultado de suas ações, voltam pelo mesmo caminho por onde vieram”. (Chandogya Upanishad 5.10.5)




Alma de um yogi deixa o corpo e procede para a Lua, de onde terá que voltar.

Além desses dois caminhos, há um terceiro caminho, que conduz ao inferno, trilhado por almas que levaram uma vida impura e pecaminosa, com consciên­cia degradada, e que executaram atividades proibidas pelas escrituras.

Depois de alcançarem umbrais ou dimensões infernais, elas renascem em espé­cies inferiores, muitas vezes animais e vegetais, para sofrerem e satisfazerem seus de­sejos inferiores. Isso é explicado na mesma Upanishadatha ya iha kapuya-carana abhyashoha yat te kapuyam yonim apadyeran shva-yonim va sukara-yonim va candala-yonimva: “Mas aqueles cujo resíduo cármico é mau, logo nascem em ventres inferiores, como o de um cachorro, porco ou pária”. (Chandogya Upanishad 5.10.7) Em todo caso, depois da expiação de suas atividades pecaminosas, renascem em corpos humanos.

Os místicos yogis ou bhaktas que alcançaram a perfeição espiritual e se libertaram ainda em vida (ji­van-muktas) não são conduzidos por nenhum desses caminhos, mas, de acordo com a natureza de sua libertação – se ela é impessoal ou pessoal –, obtêm o destino su­premo (param gati), fundem-se na existência imanifesta do Absoluto (param jyoti) ou são resgatados pessoalmente pela Personalidade da Divindade (Bhagavan), que os abriga em Sua morada espiritual (param dhama).

Compara-se o morrer com o dormir, e as experiências do pós-morte, com os so­nhos. Assim como os pensamentos e ações acontecidos no estado de vigília determinam a natureza dos sonhos; depois da morte, a alma experimenta o resultado dos pensamentos acalentados e das ações executadas durante sua vida na Terra. As expe­riências do pós-morte são reais para a alma, assim como um sonho é real para o sonha­dor, e ninguém pode determinar a sua duração.

Segundo as escrituras védicas, algumas almas renascem como seres humanos logo depois da morte, sem passar pela experiência do paraíso ou inferno. A questão de renascimento da alma em formas inferiores à humana, apesar de ser considerada um lapso, não constitui um retrocesso na evolução espiritual da alma para o autoconheci­mento ou amor místico. O que deve ser compreendido é que a próxima vida é determi­nada pela consciência da pessoa na vida presente, que, por sua vez, determinaria o último pensa­mento da pessoa na hora da morte. O último pensamento do moribundo inevitavelmente reflete seu desejo mais íntimo. A Bhagavad-gita afirma, yam vapi smaram bhavam tyajaty antekalevaram, tam evaiti kaunteya sada tad-bhava bhavitah: “Qualquer que seja o estado de existência do qual alguém se lembre ao deixar o corpo, ó filho de Kunti, esse mesmo estado ele alcançará impreterivelmente”. (Bhagavad-gita 8.6) 

Krishna também descreve a posição daqueles que adotam bhakti, o caminho da devoção pura, e dependência à Personalidade da Divindade, naiti sriti partha janan yogi muhyati kashcanatasmat sarveshu kaleshu yoga-yukto bhavarjuna: “Os devotos que conhecem estes dois caminhos [devayana e pitriyana], ó Arjuna, nunca se confundem. Portanto, mantém-te sempre fixo na devoção”. (Bhagavad-gita 2.27) Na posição da Suprema Personalidade da Divindade, Krishna também afirma, ananya-cetah satatam yo mam smarati nityashah, tasyaham sulabhahpartha nitya-yuktasya yoginah: ”Ó filho de Pritha, aquele que se lembra de Mim sem desvios, Me alcança facilmente, por causa de sua ocupação constante”. (Bhagavad-gita 8.14)

Conceitos Hindus do Pós-morte

As Upanishads falam da essência imutável e consciente de todos os seres, plurais ou singulares, como a “alma” ou o “si-mesmo”. Isso, em sânscrito, recebe o nome de atma (ou atman) Essa alma seria o “ser interior consciente” dentro de cada um de nós, identificada ontologicamente (quando a sua natureza de “ser” ou “existir”) como Brahman. O Brahman seria o Ser absoluto e supremo, a Divindade em Seu aspecto unitário, além de todas as particularidades. Contudo, quando essa mesma Divindade su­prema, identificada ontologicamente com o Brahman, é observada do ponto de vista da consciência (psicologicamente), é descrita como o Atma Supremo. Por isso, as Upanishads descrevem a unidade dos dois, pois se tratam de dois aspectos da mesma realidade, sa va ayam atma brahma: “Este Atma é, na verdade, o Brahman”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.5)

Do ponto de vista do Absoluto, Atma é o próprio Paramatma, o Si-mesmo Supremo, a Superalma, a Divindade em Sua onipresença e onisciência. No entanto, quando observado da perspectiva relativa e individual, da pluralidade dos seres ou centelhas espirituais, atma é jivatma, a alma ou entidade viva consciente individual. A alma individual (jivatma) seria igual à Divindade quanto ao “ser” (sat), mas seria dife­rente quanto à “consciência” (cit).

Nas Upanishads, mostram-se as diferenças entre dois tipos de almas – ambas eternas, mas uma Absoluta, e outras relativas; uma singular, e outras plurais; uma independente, e outras dependentes, nityo nityanam cetanash cetananam, eko bahunam yo vidadhai kaman: “Eterno entre os eternos, Consciente entre os conscientes. Um entre os muitos, Ele satisfaz os desejos de todos”. (Katha Upanishad 5.13)

Apesar da sua natureza espiritual e transcendente, apesar de seu ser não poder ser afetado pelas variações do tempo e espaço, a consciência do jivatma, por ser fragmentária, quando se esquece de sua relação com o Paramatma, é influenciada pela energia material. Com isso, ele se envolve no ciclo de samsara (roda de nas­cimentos e mortes). 

O que prende todos no ciclo de samsara é a lei do karma. Em sua forma mais simples, a lei do karma age impessoalmente, como uma lei natural, assegu­rando que toda ação, seja ela boa ou má, eventualmente retorne ao indivíduo na forma de recompensa ou punição proporcional à natureza da ação executada.




Ilustração cartunesca da lei do karma.

A necessidade de “colher os frutos do karma” é o que obriga os seres humanos a nascer novamente (punar-janma), reencarnando em vidas sucessivas. Em outras pala­vras, se alguém morre antes de colher os frutos de suas ações passadas, o processo cár­mico forçará o seu retorno em vida futura. Voltar em outra vida também possibilita que as forças cármicas recompensem ou punam a pessoa através das circunstâncias de seu nascimento. Assim, por exemplo, quem foi generoso em uma vida poderá retornar como alguém muito próspero na sua próxima encarnação.

Para todas as tradições religiosas do Oriente, a emancipação na hora da morte constitui a meta suprema de todos os esforços humanos. Considerando a sua diversidade religiosa, o hinduísmo, da execução de sofisticados rituais, passando por formas austeras de disciplinas de autoconhecimento, yoga e meditação e chegando à devoção mística, busca várias formas de libertação.

O ritualismo do karma-marga (caminho das ações fruitivas), representado pela tradição sacerdotal dos brahmanas, busca, por meio da correta hermenêutica das escrituras védicas, a execução adequada dos ritos e a entoação correta dos mantras, para elevar o praticante às dimensões celestiais dos deuses e depois obter melhor renascimento neste mundo. Nessa tradição materialista, não se busca o fim do ciclo de nascimentos e mortes, mas, sim, obter a maior felicidade possível.

A tradição gnóstica do hinduísmo, o jnana-marga (caminho do conhecimento), representada principalmente pela escola smarta do Vedanta Advaita, considera que a meta final da existência é alcançar moksha, termo sânscrito que indica a libertação do ciclo infinito de nascimentos e mortes. O que acontece com a pessoa quando ela obtém moksha? Nessa tradição, acredita-se que, com moksha, atma individual funde-se no Brahman universal. Utiliza-se a imagem da gota d’água que cai no oceano e perde sua individualidade. A gota torna-se igual ao oceano. Apesar de ser muito utilizada, essa metáfora não expressa bem o sentido de fundir-se. Em vez da perda da individualidade, a compreensão das Upanishads é a de que o atma nunca existe separado do Brahman. Portanto, o sentido de separação é que é ilusório, e moksha é o despertar desse sonho de separação.

A tradição mística do yoga-marga (caminho do misticismo), representada por austeros renunciantes, busca, por meio do controle das funções psicofísicas, elevar a consciência para o estado de samadhi, transe místico que conduz ao moksha, a libertação do ciclo de nascimentos e mortes.

A tradição devocional do bhakti-marga (caminho da devoção amorosa), por sua vez, rejeita as posturas impessoais, tanto do ritualismo brâmane como do Vedanta Advaita, com sua ênfase intelectual nas afirmativas unitárias das Upanishad. Nessa tradição, Deus é visto como uma Deidade pessoal eterna, supremamente amorosa e que, por Sua graça, corresponde à adoração devocional de Seu devoto. O pós-morte no teísmo devocional não é uma bem-aventurança estática e abstrata, causada pela fusão da identidade individual da alma no oceano da refulgência do Brahman. Pelo contrário, a tradição devocional considera que as almas libertas participam eternamente de uma relação bem-aventurada com a Divindade, em Sua morada eterna, o Céu espiritual (param-vyoma). Esse mundo místico de amor espiritual, de alguma forma, lembra o Paraíso eterno das religiões ocidentais, mas não deve ser confundido com o paraíso temporário dos deuses (devas) e dos antepassados (pitris).

Juntamente com a existência de regiões celestiais, destinadas aos justos e piedosos, podemos também encontrar no hinduísmo o conceito bem desenvolvido de dimensões infernais, nas quais as pessoas excepcionalmente pecaminosas são punidas psiquicamente. Muito dos tormentos que acontecem nas regiões infernais do hinduísmo fazem lembrar os infernos semita-cristãos, bem ao estilo dos infernos da Divina Comédia, de Dante Alighieri, mas com sua devida diferença, pois os infernos hindus não são destinos definitivos para a alma. São mais como purgatórios, onde as almas experimentam uma forma limitada de sofrimento, determinada pelo seu karma e com propósito corretivo para possibilitar sua evolução espiritual. Depois de cumprir sua pena cármica, a alma pode sair do inferno e voltar a participar do ciclo de reencarnação.

Antyesti-kriya, O Último Sacramento

No hinduísmo, o funeral é um sacramento (samskara), assim como o nascimento e o casamento. Ele seria como o sacrifício ou o rito final (antyeshti). É um ritual executado para que a alma se desapegue do corpo e não corra o perigo de tornar-se um fantasma (bhuta ou preta), garantindo sua promoção para um mundo melhor.

A crença nos fantasmas é muito comum entre os indianos, sejam eles hindus, budistas ou jainistas. O termo bhuta aplica-se a qualquer classe de espírito desencarnado (bom ou ruim), assim como ao fantasma de uma pessoa morta. Já o termo preta indica especificamente esse mesmo espírito no período antes do término dos ritos funerais pós-mortes. Acredita-se que a alma de um falecido às vezes vagueia sofrendo como um preta e não consegue renascer. Ou seja, ela não pode alcançar o destino determinado pelos seus karmas até que os ritos funerários sejam executados.

Na tradição védica, como regra, não se enterram os mortos, que são cremados de acordo com injunções das escrituras. Isso tem como base a crença de que o corpo da jiva é constituído dos “cinco elementos” da prakriti (natureza material), que precisam ser devolvidos à sua fonte após a morte. Deles, o fogo, a terra, a água e o ar pertencem ao corpo denso (o sthula-sharira, que é formado do anna-maya kosha) e procedem deste mundo físico, enquanto o quinto elemento, o éter (espaço), pertence à dimensão do corpo sutil (o sukshma-sharira, que é constituído dos koshas mais sutis) e procede dos mundos superiores. Quando o corpo é cremado, apenas os quatro elementos densos são devolvidos às suas respectivas esferas, enquanto o corpo sutil, juntamente com a alma, retorna às dimensões superiores mais sutis para a continuação da sua vida pós-morte. 





Cerimônia de cremação às margens do rio Ganges.

Todavia, a cremação não é o único método prescrito para a remoção do corpo. Crianças até certa idade e pessoas santas ou iluminadas são enterradas. Por exemplo, um mestre espiritual é enterrado em uma sepultura chamada de samadhi, onde é colocado sentado em postura de lótus, em estado de maha-samadhi, para receber a veneração de seus discípulos ou seguidores. Apesar de a cremação ser o procedimento padrão, alguns hindus preferem ser sepultados nas águas de um rio sagrado, como o Ganges, onde as cinzas dos que foram cremados também são jogadas. Acredita-se que esses rios sagrados purifiquem a alma de seus pecados.

Para algumas pessoas, a morte pode ser vista como o dia da libertação, celebrada no lugar da data do aniversário. Até certo ponto, os ritos funerários servem para notificar a alma que ela de fato está morta.

É possível que uma alma desorientada, não consciente de que está do outro lado, fique com sua consciência ainda presa no plano físico. Ela pode observar esse mundo material, e até mesmo testemunhar o seu próprio funeral. Alguns dos hinos funerários se dirigem ao falecido, persuadindo-o a abandonar os apegos e continuar sua jornada.

Os ritos são também para os vivos, pois permitem que a família se despeça de uma forma respeitável e digna, que expresse sua dor, perda e outras emoções que naturalmente vêm à tona neste momento crítico. O significado mais profundo dos ritos funerários se constitui em fazer a conexão dos mundos sutis interiores (svarga ou pitri-loka) com o mundo físico exterior (bhu-loka), e o reconhecimento de que a família não consiste apenas das gerações vivas, mas também abrange os ancestrais.

Há almas que encarnam sequencialmente na mesma família. O neto pode ser a reencarnação da alma do avô. Dessa forma, o karma e o dharma coletivo são inteiramente resolvidos. Quem está no mundo sutil interior ajuda os parentes que estão no mundo manifesto. Depois, quando retornam ao mundo exterior, eles se esforçam para avançar espiritualmente, pois esse progresso só é possível em uma encarnação física. A cerimônia ritual de união do falecido com seus antepassados e a veneração anual dos antepassados mantêm aberta a comunicação sutil que possibilita prosperidade e longevidade para a família.

Os ritos fúnebres hindus são realizados com os propósitos de propiciar à alma migração segura e sobrevivência agradável no outro mundo, além de proteger os membros familiares de contaminações energéticas decorrentes da morte do parente. Segundo as crenças hindus, quando morre alguém da família, independente de ela estar perto ou longe, seus parentes ficam poluídos pelo mero processo de sua morte. Essa contaminação continua até que a alma tenha completado a sua jornada para o outro mundo e todos tenham se purificado pelos rituais. Até mesmo quem viu o cadáver ou entrou no local onde ele estava fica, alguma forma, contaminado.

Quando a pessoa morre, seu corpo, depois de receber o último banho, é levado para o crematório por seus amigos e parentes, ao som da entoação dos nomes de Deus. O corpo é cremado geralmente no mesmo dia, senão um ou dois dias depois. Na pira funerária, que geralmente é acesa pelo filho mais velho, coloca-se o corpo com os pés em direção ao sul, que é a direção de Yama, o deus da morte.

De três a dez dias depois da cremação, as cinzas são coletadas e guardadas em urnas, para serem espalhadas em vários locais. São misturadas com terra, água e ar, para simbolizar o retorno do corpo aos elementos.

As Cerimônias de Sraddha

Na longa lista dos sacramentos (samskara) do hinduísmo, há determinados ritos que devem ser executados para aqueles que já partiram do mundo físico. Eles recebem o nome genérico de sraddha e são executados pela família do falecido, logo depois do funeral. Consistem de uma série de oferendas cerimoniais em que preparações de alimentos e libações de água são dedicadas aos manes, pais ou ancestrais já falecidos.

Isso é algo natural para os hindus, pois, para eles, nunca houve uma barreira espessa entre os mundos visível e invisível, entre os ”vivos” e os “mortos”. O contato entre essas duas dimensões sempre caracterizou essa tradição religiosa, pois consideram-se os deuses (devas) e os manes (pitris) tão reais como os humanos.

Nas cerimônias iniciais de sraddha, chamadas de ekoddishta sraddha ou preta-kriya, os filhos do falecido cantam mantras e oferecem preparações à alma que partiu para fornecer-lhes nutrição. São tortas de arroz, conhecidas como pindas, ou outros ingredientes, como leite, coalhada etc., que, oferecidos como oblação nos sacrifícios, adquirem uma forma sutil chamada apurva (“sem precedente”) e se prende ao sacrificador. Os jivas, envolvidos pela água suprida pelos ingredientes oferecidos em oblação nos sacrifícios e fortalecidos energeticamente pelos mantras, desenvolvem um corpo etéreo adequado que permita sua sobrevivência a caminho do mundo dos ancestrais. Essas oferendas devem ser realizadas durante dez dias. Cada dia equivale a um mês do período normal de gestação do embrião humano no ventre.

Quem executa sacrifícios satisfaz os deuses no paraíso e desfruta com eles. Tornam-se associados úteis dos deuses e contribuem para o desfrute deles, por meio de sua presença e serviço naquele mundo. Eles desfrutam em Chandraloka e, com o fim do estoque de seu mérito, retornam à Terra.

Muitas vezes, quando o falecido não teve morte natural e consciente, ele, na condição de preta, pode atormentar os membros de sua família. Então, as oferendas da cerimônia de sraddha podem tranquilizar a alma. Tais oferendas destinam-se a garantir a redenção da alma do falecido da condição de fantasma, que é o corpo de preta, e ajudá-lo a renascer, de acordo com seu karma passado acumulado. O Garuda Purana (2.13.1-23) explica como a alma do falecido pode ficar imobilizada por muito tempo na condição de preta, sem corpo e sentidos físicos. Não pode nascer para desfrutar de seu karma. Então, nessa condição de preta, ela vaga por todos os lugares, sofre fome e sede, até que os ritos funerários sejam executados.

Também se explica que, depois da morte, a alma do falecido adquire o corpo etéreo (ativahika sharira) de preta (Garuda Purana, 2.10.75-77). E que ela deixa esse corpo e adquire um corpo pinda-deha, feito de pindas (Garuda Purana 2.10.82, 2.15.37-38 e 2.15.66-67), como resultado das oferendas de pinda (tortas ou bolos de arroz), feitas na cerimônia de ekoddishta sraddha, durante os primeiros dez dias após a morte.

Entretanto, quando o corpo pinda-deha também se dissolve, como resultado dos ekoddishtta sraddha executados mensalmente, durante um ano, a alma está livre para deixar a dimensão intermediária e entrar no mundo dos antepassados. Nessa ocasião, realiza-se a cerimônia de sraddha conhecida como sapindi-karana, que facilita a entrada da alma no mundo dos ancestrais (pitri-loka) e sua permanência lá a partir de então.

Ficou bem claro que a não execução dos sraddhas faz com que haja impedimento no cumprimento da lei do karma. Cria-se impedimento no karma-vipaka, ou fruição do karma acumulado.

Considerações Finais

Sentir medo em face da experiência inevitável da morte é consequência da ignorância da verdadeira natureza da alma espiritual, das possibilidades de ela viver em diferentes dimensões e o próprio processo transformador dessa experiência. Punar-janma, o renascimento que liga uma vida a outra, reduz qualquer morte particular a um mero incidente dentro de uma série indefinida de incidentes.

Então, o que teria valor para o jivatma eterno não seria seu corpo material temporário e as parafernálias ligadas a ele, como família, bens materiais e posição social, mas, sim, a própria essência de eternidade, consciência e bem-aventurança. Assim como quem consegue algo superior, ele não tem dificuldade alguma de abandonar as coisas inferiores. Da mesma forma, quem está situado em autoconhecimento, na plataforma espiritual, consegue facilmente situar-se além dos prazeres materiais temporários. Na plataforma de autorrealização, o místico também sente prazer (ramante), mas seu prazer é infinito (anante). Isso é explicado no Padma Puranaramante yogino ’nantesatyananda-cid-atmani: “A felicidade dos místicos é ilimitada e real, pois vem da Verdade Absoluta”.

Porque na plataforma da autorrealização há o reconhecimento da existência continuada do ser (sat), da consciência ou conhecimento ilimitados (cit) e da satisfação estética infinita (ananda), a morte do corpo e a perda dos prazeres dos sentidos temporários não representam perda. O que ocorre é manifestação de um ganho maior. Portanto, não há motivo para medo e ansiedade. Morrer é algo tão natural e normal que jamais se considera “o morto” como tal. Ele apenas foi para outro lugar, para outra dimensão – mudou de residência.

Loka-sakshi Dasa, natural de Santa Cruz do Rio Pardo, SP, é discípulo direto de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada. É versado em sânscrito e possui doutorado em Ciência das Religiões pela Universidade Federal de Juiz de Fora. É conhecido por sua grande erudição e também por contribuir ativamente na difusão da sabedoria védica por todo o Brasil.

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Bibliografia

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Fonte: Amigos de Krishna.


Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues

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