sexta-feira, 19 de abril de 2019

Prabhupada conversa com Cardeal Daniélou - O porquê de nao comer carne




Uma Entrevista com Srila Prabhupada(da obra A Ciência da Autorrealização)

Não Matarás ou Não Assassinarás?

Srila Prabhupada: Jesus Cristo disse: “Não matarás”. Por que é, então, que o povo cristão está matando animais?
Cardeal Daniélou: Sem dúvida, no cristianismo, é proibido matar, mas acreditamos que há diferença entre a vida de um ser humano e a vida das bestas. A vida de um ser humano é sagrada porque o homem é feito à imagem de Deus, daí matar um ser humano ser proibido.
Srila Prabhupada: Mas a Bíblia não diz apenas: “Não mate o ser humano”, senão que diz de modo abrangente: “Não matarás”.
Cardeal Daniélou: Acreditamos que apenas o ser humano é sagrado.
Srila Prabhupada: Esta é uma interpretação sua. O manda­mento é:“Não matarás”.
Cardeal Daniélou: É necessário que o homem mate animais para ter o que comer.
Srila Prabhupada: Não. O homem pode comer cereais, legumes, frutas e leite.
Cardeal Daniélou: Nenhuma carne?
Srila Prabhupada: Não. Os seres humanos destinam-se a comer alimento vegetariano. O tigre não vem comer suas frutas. Seu alimento prescrito é a carne animal, mas o alimento do homem são os legumes, as frutas, os cereais e os produtos lácteos. Como, então, o senhor pode dizer que matar animais não é pecado?
Cardeal Daniélou: Acreditamos que isso é uma questão de motivação. Se o animal é morto para dar de comer aos famintos, isso se justifica.
Srila Prabhupada: Mas considere a vaca: nós bebemos o seu leite; por isso, ela é nossa mãe. O senhor concorda?
Lord Krishna is Known as Govinda
Cardeal Daniélou: Sim, certamente.
Srila Prabhupada: Então, se a vaca é sua mãe, como o senhor pode deixar que a matem? O senhor tira o leite dela e, quando ela está velha e não dá mais leite, o senhor corta-lhe a garganta. Acaso isto é humano? Na Índia, aqueles que comem carne são aconselha­dos a matar animais inferiores, tais como as cabras, os porcos ou mesmo o búfalo. Matar vacas, no entanto, é o maior dos pecados. Ao pregar a consciência de Krsna, nós pedimos às pessoas que não comam nenhum tipo de carne, e meus discípulos seguem este princípio estritamente. Contudo, se, sob certas circunstâncias, os outros são obrigados a comer carne, eles devem comer a carne de algum animal inferior. Não matem vacas. Este é o maior dos pecados. E, enquanto o homem for pecaminoso, ele não poderá entender Deus. A principal missão do ser humano é entender Deus e amá-lO, mas, se o senhor continuar pecando, não será capaz de entender Deus – isto para não falar de amá-lO.
Cardeal Daniélou: Creio que talvez este não seja um ponto essencial. O importante é amar a Deus. Os mandamentos práticos podem variar de uma religião para outra.
Srila Prabhupada: Então, na Bíblia, o mandamento prático de Deus é que o senhor não pode matar; portanto, matar vacas é um pecado para o senhor.
Cardeal Daniélou: Deus diz aos indianos que matar não é bom, e diz aos judeus que…
Srila Prabhupada: Não, não. Jesus Cristo ensinou: “Não matarás”. Por que o senhor interpreta isso de modo a ajustar à sua própria conveniência?
Cardeal Daniélou: Mas Jesus permitiu o sacrifício do Cordeiro Pascal.
Srila Prabhupada: Mas ele jamais manteve um matadouro.
Cardeal Daniélou: (risos) Não, mas ele comeu carne.
Srila Prabhupada: Quando não há alimento, alguém pode comer carne para não morrer de fome. Isso é outra coisa. Contudo, é muito pecaminoso regularmente manter matadouros apenas para a satisfação da língua. Na verdade, vocês nunca terão nem mesmo uma sociedade humana até que se suspenda este costume cruel de manter matadouros. E, embora a matança de animais às vezes seja necessária para a sobrevivência, pelo menos o animal-mãe, a vaca, não deve ser morto. Isto é apenas uma questão de decoro humano. No movimento da consciência de Krsna, nosso costume é que não permitimos a morte de nenhum animal. Krsna diz, patram puspam phalam toyam yo me bhaktya prayacchati: “Legumes, frutas, leite e cereais devem ser oferecidos a Mim com devoção”. (Bhagavad-gita 9.26) Comemos apenas os restos do alimento de Krsna (prasada).As árvores oferecem-nos muitas variedades de frutas, mas as árvores não são mortas. Evidentemente, uma entidade viva é alimento para outra entidade viva, mas isto não significa que o senhor pode matar sua mãe para se alimentar. As vacas são inocentes; elas nos dão o leite. O senhor tira-lhes o leite, e depois as mata no matadouro. Isto é pecaminoso.
Estudante: Srila Prabhupada, a sanção do cristianismo em relação ao consumo de carne baseia-se no ponto de vista de que as espécies inferiores de vida não têm uma alma como a dos seres humanos.
Srila Prabhupada: Isso é tolice. Antes de tudo, precisa­mos entender a evidência da presença da alma dentro do corpo, daí então poderemos investigar se o ser humano tem uma alma e a vaca não. Quais são as características que diferenciam a vaca do homem? Se encontrarmos uma diferença nas características, pode­remos dizer que, no animal, não existe alma. Se vemos, no entanto, que o animal e o ser humano têm as mesmas características, como, então, vocês podem dizer que o animal não tem alma? Os sintomas gerais são que o animal come, vocês comem; o animal dorme, vocês dormem; o animal reproduz, vocês reproduzem; o animal se defende e vocês se defendem. Onde está a diferença?
Cardeal Daniélou: Admitimos que, no animal, pode haver o mesmo tipo de existência biológica que no homem, mas não existe alma. Cremos que a alma é uma alma humana.
Srila Prabhupada: Nosso Bhagavad-gita diz sarva-yonisu:“Em todas as espécies de vida, existe a alma”. O corpo é como um conjunto de roupas. O senhor está usando vestes negras, e eu estou usando vestes açafroadas, mas, por detrás das vestes, o senhor é um ser humano, e eu também sou um ser humano. De modo semelhante, os corpos das diferentes espécies são assim como diferentes tipos de roupas. Há 8.400.000 espécies, ou roupas, mas, dentro de cada uma delas, há uma alma espiritual, uma parte integrante de Deus. Suponhamos que um homem tenha dois filhos, não igualmente meritórios. Pode ser que um seja juiz da Suprema Corte e o outro seja um operário comum, mas o pai considera ambos como filhos. Ele não faz a distinção de que o filho que é juiz é muito importante, e o filho operário não é importante. E se o filho juiz disser: “Meu caro pai, seu outro filho é inútil; vou decapitá-lo e comê-lo”, acaso o pai permitirá isso?
Cardeal Daniélou: Certamente não, mas a ideia de que toda vida faz parte da vida de Deus é difícil para nós aceitarmos. Há uma grande diferença entre vida humana e vida animal.
Srila Prabhupada: Essa diferença deve-se ao desenvolvimento da consciência. No corpo humano, há consciência desenvolvida. Mesmo uma árvore tem alma, mas a consciência da árvore não é muito desenvolvida. Se o senhor corta uma árvore, ela não resiste. Na verdade, ela resiste, mas apenas até certo ponto. Há um cientista chamado Jagadish Chandra Bose que fez uma máquina a qual mostra que as árvores e as plantas são capazes de sentir dor quando cortadas. E podemos ver diretamente que, quando alguém vai matar um animal, este resiste, chora e emite um som horrível. Deste modo, trata-se de uma questão de desenvolvimento de consciência. A alma, no entanto, existe dentro de todos os seres vivos.
Cardeal Daniélou: Porém, metafisicamente, a vida do homem é sagrada. Os seres humanos pensam em um nível superior ao dos animais.
Srila Prabhupada: Que nível superior é esse? O animal come para manter seu corpo, e o senhor também come a fim de manter seu corpo. A vaca come capim no campo, e o ser humano come carne de um enorme matadouro cheio de máquinas modernas. Entretanto, apenas porque o senhor tem grandes máquinas e uma cena horripilante, enquanto o animal simplesmente come capim, isso não significa que o senhor é tão avançado que somente dentro de seu corpo existe uma alma e que não há alma dentro do corpo do animal. Isto é ilógico. Podemos ver que as características básicas são as mesmas no animal e no ser humano.
Cardeal Daniélou: Mas somente nos seres humanos encontramos uma busca metafísica do sentido da vida.
Srila Prabhupada: Sim. Então, investigue metafisicamente por que o senhor crê que não existe alma dentro do animal – isto é metafísica. Se o senhor está pensando metafisicamente, não há problema, mas, se o senhor está pensando como um animal, para que serve o seu estudo metafísico? “Metafísico”significa “acima do físico” ou, em outras palavras, “espiritual”. No Bhagavad-gita,Krsna diz, sarva-yonisu kaunteya:“Em todos os seres vivos, existe uma alma espiritual”. Isto é entendimento metafísico. Agora, ou o senhor aceita os ensinamentos de Krsna como metafísicos ou terá de se valer da opinião de um tolo de terceira classe considerando-a metafísica. Qual o senhor aceita?
Cardeal Daniélou: Mas por que Deus cria alguns animais que comem outros animais? Parece haver um defeito na criação.
Srila Prabhupada: Não há defeito algum. Deus é muito bondoso. Se o senhor quer comer animais, então Ele lhe dará toda a facilidade. Deus lhe dará o corpo de um tigre em sua próxima vida para que o senhor possa comer carne à vontade. “Por que vocês estão mantendo matadouros? Vou lhes dar presas e patas. Agora comam”.

Assim, os comedores de carne têm reservado para si este castigo. Os comedores de animais tornam-se tigres, gatos e cães em sua próxima vida – para terem mais facilidade.
Leia também: Jesus Cristo e KrishnaO Vegetarianismo e o Movimento Hare Krsna.

Fonte: "The Science of Self-realization" - Swami Prabhupada 
Site: "Volta ao Supremo"

Krishna, Christos, Cristo




Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada 

Em 1974, próximo ao centro da ISKCON em Francoforte do Meno, Ale­manha Ocidental, Srila Prabhupada e vários de seus discípulos fizeram uma caminhada matinal com o padre Emmanuel Jungclaussen, um monge beneditino do mosteiro Niederalteich. Notando que Srila Prabhupada trazia consigo contas de meditação semelhantes ao rosário, padre Emmanuel explicou que ele também cantava uma oração constante: “Senhor Jesus Cristo, tende misericórdia de nós”. A seguinte conversa sucedeu-se.

Srila Prabhupada: Qual é o significado da palavra “cristo”?
Padre Emmanuel: “Cristo” vem do grego “christos”, significando “o ungido”.
Srila Prabhupada: Christos é a versão grega da palavra “Krishna”.
Padre Emmanuel: Isso é muito interessante.
Srila Prabhupada: Quando uma pessoa indiana chama por Krishna, muitas vezes ela diz: “Krishna”. “Krishna é uma palavra sânscrita que significa “atração”. Assim, quando nos dirigimos a Deus como “Cristo”, “Krishna” ou “Krishna”, indicamos a mesma todo-atrativa Suprema Per­sonalidade de Deus. Quando Jesus dizia: “Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome”, esse nome de Deus era “Krishna” ou “Krishna”. O senhor concorda?
Padre Emmanuel: Creio que Jesus, como o filho de Deus, revelou-nos o verdadeiro nome de Deus: Cristo. Podemos chamar Deus de “pai”, mas, se quisermos chamá-lO por Seu nome verda­deiro, teremos que dizer “Cristo”.
Srila Prabhupada: Sim. “Cristo” é outra forma de dizer “krishna”, e “krishna” é outra maneira de pronunciar “Krishna”, o nome de Deus. Jesus disse que devemos glorificar o nome de Deus, mas ontem eu ouvi um teólogo dizer que Deus não tem nome – que só podemos chamá-lO de “pai”. Um filho pode chamar seu pai de “pai”, mas o pai também tem um nome específico. De forma semelhante, “Deus” é o nome geral da Suprema Personalidade de Deus, cujo nome específico é Krishna. Portanto, quer o senhor chame Deus de “Cristo”, “Krishna” ou “Krishna”, o senhor, em última análise, está se dirigindo à mesma Suprema Personalidade de Deus.
Padre Emmanuel: Sim, se falamos do verdadeiro nome de Deus, devemos dizer: “Christos”. Em nossa religião, temos a Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Cremos que podemos conhecer o nome de Deus unicamente pela revelação do Filho de Deus. Jesus Cristo revelou o nome do Pai, em decorrência do que consideramos “Cristo” como o nome revelado de Deus.
Srila Prabhupada: Na verdade, não importa: “Krishna” ou “Cristo”, o nome é o mesmo. O ponto principal é seguirmos os preceitos das escrituras védicas, que recomendam o cantar do nome de Deus nesta era. O método mais fácil é cantar o maha-mantra: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. “Rama” e “Krishna” são nomes de Deus, e “Hare” é a energia de Deus. Então, quando cantamos o maha-mantra, dirigimo-nos a Deus junto de Sua energia. Essa energia é de dois tipos, a espiritual e a material. No momento, estamos nas garras da energia material. Devido a isso, oramos a Krishna para que Ele, por favor, salve-nos do serviço à energia material e nos aceite no serviço à energia espiritual. Essa é toda a nossa filosofia. “Hare Krishna” significa: “Ó energia de Deus, ó Deus, por favor, ocupai-me a Vosso serviço”. É de nossa natureza prestar serviço. De alguma forma, acabamos servindo coisas materiais, mas, quando esse serviço é transformado no serviço à energia espiritual, nossa vida é perfeita. Praticar bhakti-yoga [serviço amoroso a Deus] significa livrar-se de designações, tais como “hindu”, “muçulmano”, “cristão”, isso ou aquilo, e simplesmente servir a Deus. Criamos as religiões cristã, hindu e maometana, mas, quando chegamos a uma religião sem designações, em que não pensamos que somos hindus ou cristãos ou maometanos, podemos falar de religião pura, ou bhakti.
Padre Emmanuel: Mukti?
Srila Prabhupada: Não, bhakti. Quando falamos de bhakti, mukti [libertação das misérias materiais] está incluída. Sem bhakti, não há mukti, mas, se agimos na plataforma de bhakti, mukti está incluída. Aprendemos isso no Bhagavad-gita (14.26):
mam ca yo ’vyabhicarenabhakti-yogena sevatesa gunan samatityaitanbrahma-bhuyaya kalpate
“Aquele que se ocupa em serviço devocional pleno, que não cai em circunstância alguma, imediatamente transcende os modos da natureza material e, destarte, chega ao nível de Brahman”.
Padre Emmanuel: O Brahman é Krishna?
Srila Prabhupada: Krishna é Parabrahman. O Brahman é compreendido sob três aspectos: como o Brahman impessoal, como Paramatma localizado e como o Brahman pessoal. Krishna é pessoal e é o Brahman Supremo, pois, em última análise, Deus é uma pessoa. No Srimad-Bhagavatam (1.2.11), isso é confirmado:
vadanti tat tattva-vidastattvam yaj jnanam advayambrahmeti paramatmetibhagavan iti sabdyate
“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta chamam essa substância não dual de Brahman, Paramatma ou Bhagavan”. O aspecto da Personalidade Suprema é a compreensão última de Deus. Ele tem plenamente todas as seis opulências: Ele é o mais forte, o mais rico, o mais belo, o mais famoso, o mais sábio e o mais renunciado.
Padre Emmanuel: Sim, eu concordo.
Srila Prabhupada: Porque Deus é absoluto, Seu nome, Sua forma e Suas qualidades também são absolutos e não são diferentes­ dEle. Portanto, cantar o santo nome de Deus é associar-se diretamente com Ele. Quando nos associamos com Deus, adquirimos qualidades divinas, e, quando nos purificamos completamente, tornamo-nos companheiros do Senhor Supremo.
Padre Emmanuel: Mas o nosso entendimento do nome de Deus é limitado.
Srila Prabhupada: Sim, nós somos limitados, mas Deus é ilimitado. E por Ele ser ilimitado, ou absoluto, Ele tem nomes ilimitados, cada um dos quais é Deus. Podemos entender Seus nomes na medida do desenvolvimento de nossa compreensão espiritual.
Padre Emmanuel: Posso fazer-lhe uma pergunta? Nós cristãos também pregamos o amor a Deus, e tentamos compreender o amor a Deus e prestar-Lhe serviço com todo o nosso coração e toda a nossa alma. Agora, qual é a diferença entre o seu movimento e o nosso? Por que vocês mandam seus discípulos pregar o amor a Deus nos países ocidentais quando o evangelho de Jesus Cristo está propondo a mesma mensagem?
Srila Prabhupada: O problema é que os cristãos não seguem os mandamentos de Deus. O senhor concorda comigo?
Padre Emmanuel: Sim, em grande parte o senhor está certo.
Srila Prabhupada: Então, qual é o significado do amor que os cristãos têm por Deus? Se o senhor não segue as ordens de Deus, onde está o seu amor? Por isso, nós viemos ensinar o que significa amar a Deus: Se vocês O amam, vocês não podem desobedecer as Suas ordens. E se vocês são desobedientes, o seu amor não é verdadeiro.
No mundo inteiro, as pessoas amam não a Deus, mas sim a seus cães. O movimento da consciência de Krishna, portanto, é necessário para ensinar as pessoas a reviver seu amor esquecido por Deus. Não somente os cristãos, mas também os hindus, os maome­tanos e todos os demais são culpados. Eles se rotulam “cristãos”, “hindus” ou “maometanos”, mas não obedecem a Deus. Esse é o problema.
Visitante: O senhor poderia dizer de que maneira os cristãos são desobedientes?
Srila Prabhupada: Sim. O primeiro ponto é que eles violam o mandamento “Não matarás” e mantêm matadouros. O senhor concorda que este mandamento está sendo violado?
Padre Emmanuel: Pessoalmente, eu concordo.
Srila Prabhupada: Isso é bom. Então, se os cristãos querem amar a Deus, eles têm de parar de matar animais.
Padre Emmanuel: Mas o ponto mais importante…
Srila Prabhupada: Se deixar passar um ponto, haverá erro em seu cálculo. Não importando se o senhor adicionará ou subtrairá depois disso, o erro já está no cálculo, e tudo o que vier a seguir também será defeituoso. Não podemos simplesmente aceitar aquela parte da escritura da qual gostamos e rejeitar o que não gostamos e ainda assim esperar obter o resultado. Por exemplo, uma galinha põe ovos com sua parte traseira e come com seu bico. Talvez um fazendeiro considere: “A parte da frente da galinha representa muitos gastos porque eu tenho que a alimentar. É melhor remover a parte da frente”. Se estiver faltando a cabeça, no entanto, não haverá mais ovos, porque o corpo estará morto. Analogamente, se rejeitamos a parte difícil das escrituras e obedecemos à parte de que gostamos, tal interpretação não nos ajudará. Temos de aceitar todos os preceitos das escrituras tais como eles são dados, e não apenas aqueles que nos convêm. Se o senhor não segue a primeira ordem, “não matarás”, então qual será a possibilidade de amar a Deus?
Visitante: Os cristãos consideram esse mandamento aplicável aos seres humanos, e não aos animais.
Srila Prabhupada: Isso significaria que Cristo não foi inteligente o bastante para usar a palavra certa: “assassinar”. Existe o termo “matar” e o termo “assassinar”. O termo assassinar refere-se aos seres humanos. O senhor acha que Jesus não era inteligente o bastante para usar a palavra certa, “assassinar”, em vez da palavra “matar”?
Matar significa qualquer tipo de morte, e principalmente a morte de animais. Se Jesus quisesse se referir simplesmente à morte de seres humanos, ele teria usado a palavra “assassinar”.
Padre Emmanuel: Mas no Velho Testamento o mandamento “não matarás” refere-se a assassinato, e, quando Jesus dizia “não matarás”, ele estendia esse mandamento para significar que um ser humano deve não somente abster-se de matar outro ser humano, mas também deve tratá-lo com amor. Ele jamais falou sobre a relação do homem com outras entidades vivas, mas somente sobre sua relação com outros seres humanos. Quando ele dizia “não matarás”, ele também se referia ao sentido mental e emocional, de que não devemos insultar ninguém, nem magoar, tratar mal e assim por diante.
Srila Prabhupada: Não estamos interessados neste ou naquele testamento, mas apenas nas palavras usadas nos mandamentos. Se o senhor quer interpretar essas palavras, isso é outra coisa. Entendemos o significado direto. “Não matarás” significa: os cristãos não devem matar. O senhor poderá propor interpretações a fim de manter o atual modo de ação, mas nós entendemos claramente que não há necessidade de interpretação. A interpretação se faz necessária quando as coisas não estão claras, mas aqui o significado é claro. “Não matarás” é uma instrução clara. Por que haveríamos de interpretá-la?
Padre Emmanuel: Mas comer plantas também não é matar?
Srila Prabhupada: A filosofia vaisnava ensina que nem as plantas nós devemos matar desnecessariamente. No Bhagavad-gita (9.26), Krishna diz:
patram puspam phalam toyamyo me bhaktya prayacchatitad aham bhakty-upahrtamasnami prayatatmanah
“Se alguém Me oferecer, com amor e devoção, uma folha, uma flor, uma fruta ou um pouco d’água, Eu aceitarei”. Nós oferece­mos a Krishna apenas o tipo de alimento que Ele exige e, em seguida, comemos os restos. Se oferecer alimentos vegetarianos a Krishna fosse pecaminoso, então este seria um pecado de Krishna, e não nosso. Deus, entretanto, é apapa-viddha – reações pecaminosas não são aplicáveis a Ele. Deus é como o Sol, o qual é tão poderoso que pode purificar até mesmo a urina – algo que, para nós, é impossível. Krishna também pode ser comparado a um rei, que pode mandar enforcar um assas­sino, mas que, pessoalmente, não é sujeito a punições, devido a ser muito poderoso. Comer alimentos oferecidos primeiramente também pode ser comparado a um soldado que mata durante o tempo da guerra. Durante uma guerra, quando o comandante manda um homem atacar, o soldado obediente que mata o inimigo receberá uma medalha. Contudo, se o mesmo soldado matar alguém por sua própria conta, ele será castigado. De modo semelhante, quando comemos apenas prasada [os restos do alimento oferecido a Krishna], não cometemos nenhum pecado. Isso é confirmado no Bhagavad-gita (3.13):
yajna-sistasinah santomucyante sarva-kilbisaihbhunjate te tv agham papaye pacanty atma-karanat
“Os devotos do Senhor são libertos de todos os tipos de pecado porque comem alimentos que são primeiramente oferecidos em sacrifício. Os demais, que preparam os alimentos para desfrute pessoal dos sentidos, comem, na verdade, apenas pecado”.
Padre Emmanuel: Krishna não pode dar permissão para se comer animais?
Srila Prabhupada: Sim, no reino animal, mas o ser humano civilizado, o ser humano religioso, não se destina a matar e comer animais. Se o senhor parar de matar animais e cantar o santo nome “Cristo”, tudo será perfeito. Eu não estou aqui para instruí-lo, mas sim para solicitar-lhe que, por favor, cante o nome de Deus. A Bíblia também exige isso de vocês. Portanto, cooperemos amavelmente e cantemos, e, se o senhor tem preconceito contra cantar o nome “Krishna”, então cante “Christos” ou “Krishna” – não há diferença. Sri Chaitanya dizia que namnam akari bahudha nija-sarva-saktih: “Deus tem milhões e milhões de nomes, e, porque não há diferença entre o nome de Deus e Ele mesmo, cada um desses nomes tem a mesma potência de Deus”. Portanto, mesmo que o senhor aceite designações, tais como “hindu”, “cristão” ou “maometano”, se o senhor simplesmente cantar o nome de Deus encontrado em suas próprias escrituras, o senhor alcançará a plataforma espiritual. A vida humana destina-se à autorrealização, a aprender como amar a Deus. Essa é a beleza eterna do homem. Quer o senhor cumpra esse dever como hindu, quer como cristão, quer como maometano, isso não importa, mas cumpra-o!
Padre Emmanuel: Concordo com o senhor.
Srila Prabhupada: Nós sempre levamos estas contas conosco [apontando para um colar com 108 contas para meditação], assim como o senhor tem seu rosário. O senhor está cantando, mas por que os outros cristãos também não cantam? Por que eles deveriam perder essa oportunidade como seres humanos? Os cães e gatos não podem cantar, mas nós podemos porque temos uma língua humana. Se cantarmos os santos nomes de Deus, nada teremos a per­der; ao contrário, ganharemos, e muito. Meus discípulos praticam o cantar de Hare Krishna constantemente. Eles poderiam também ir ao cinema, ou fazer muitíssimas outras coisas, mas eles abandonaram tudo. Eles não comem peixe, carne ou ovos; eles não usam intoxicantes, não bebem, não fumam, não jogam, não espe­culam e não mantêm relações sexuais ilícitas. Porém, eles cantam muito o santo nome de Deus. Se o senhor quer cooperar conosco, vá às igrejas e cante “Cristo”, “Krishna” ou “Krishna”. Qual poderia ser a objeção?
Padre Emmanuel: Nenhuma. Por mim, eu teria prazer em me juntar a vocês.
Srila Prabhupada: Não, estamos falando com o senhor como representante da Igreja cristã. Em vez de manter as igrejas fecha­das, por que não dar as mesmas a nós? Cantaríamos o santo nome de Deus ali por vinte e quatro horas diariamente. Em muitos lugares compramos igrejas que estavam praticamente fechadas porque ninguém as estava frequentando. Em Londres, vi centenas de igrejas que estavam fechadas ou eram usadas para propósitos mundanos. Compramos uma de tais igrejas em Los Angeles. Ela nos foi ven­dida porque ninguém a frequentava mais. Contudo, se o senhor visitar essa mesma igreja atualmente, encontrará milhares de pessoas. Qualquer pessoa inteligente pode entender o que é Deus em cinco minutos; não são necessárias cinco horas.
Padre Emmanuel: Compreendo.
Srila Prabhupada: Mas as pessoas não. A doença delas é que elas não querem compreender.
Visitante: Acho que compreender Deus não é uma questão de inteligência, mas sim de humildade.
Srila Prabhupada: Humildade significa inteligência. Os mansos e humildes têm o reino de Deus. Isso é afirmado na Bíblia, não é? Mas a filosofia dos patifes é que todos são Deus, e, hoje em dia, esta ideia tem se popularizado. Portanto, ninguém é manso e humilde. Se todos acham que são Deus, por que seriam mansos e humildes? Por isso, eu ensino a meus discípulos como se tornarem mansos e humildes. Eles sempre oferecem suas respeitosas reverên­cias no templo e ao mestre espiritual e, dessa maneira, eles avançam. As qualidades de humildade e mansidão nos levam rapidamente à compreensão espiritual. Nas escrituras védicas, afirma-se: “Àqueles que têm firme fé em Deus e no mestre espiritual, que é Seu representante, o significado das escrituras védicas é revelado”.
Padre Emmanuel: Mas essa humildade não deveria ser oferecida a todos os demais também?
Srila Prabhupada: Sim, mas há dois tipos de respeito: o especial e o comum. Sri Krishna Chaitanya ensinou-nos que não devemos esperar honra para nós próprios, mas devemos sempre respeitar a todos os demais, mesmo aqueles que nos desrespeitem. Porém, deve-se mostrar especial respeito a Deus e a Seu devoto puro.
Padre Emmanuel: Sim, eu concordo com o senhor.
Srila Prabhupada: Acho que os sacerdotes cristãos devem co­operar com o movimento da consciência de Krishna. Eles devem cantar o nome “Cristo” ou “Christos” e devem parar de indultar a matança de animais. Este programa obedece aos ensinamentos da Bíblia; não é minha filosofia. Por favor, aja de acordo com esses ensinamentos e o senhor verá que a situação do mundo mudará.
Padre Emmanuel: Muito obrigado.
Srila Prabhupada: Hare Krishna.

Fontes: "The Science of self-Realization" - Swami Prabhupada
Site "Volta ao Supremo "