Os três níveis de consciência
Diagrama do Tai-Chi chinês, representando a integração das polaridades Yin/Yang.Créditos: facebook.com/vozesdobrasilmpbOficial/ |
Os dois primeiros círculos apontam para um primitivo estágio
de consciência, onde a realidade está dividida em simples opostos: o lado do
bem e o lado do mal.
Não existe nenhum movimento dos pontos, indicando que o indivíduo tem uma
estrutura praticamente estática, inerte, empedrada. Nessa fase, a percepção
da realidade só comporta dualidades - "ou estão do meu lado ou são meus
inimigos", "se isso não é mau, é bom", "gosto do mocinho e odeio o bandido", etc.
A personalidade é inflexível e as pessoas desse nível, difíceis de lidar. Estão
identificadas com uma parte ou com a outra. "Sou assim!", e ponto final. Não há
consideração pelo ponto de vista do outro. Dependendo do lado, são
consideradas superficialmente bons cidadãos ou malfeitores pela sociedade.
O par de desenhos seguinte retrata um nível intermediário de consciência,
em que há a percepção de que, dependendo da perspectiva, algo considerado
em geral mal, possui também aspectos bons. Ou que nada é puramente prejudicial,
nem tão somente virtuoso. Aqui existe movimento nas duas "gotas", que aparentam
um girino, isto é, um ser vivo, com dinamismo orgânico. A perspectiva estática
dualista é lançada por terra. O indivíduo percebe que é uma mistura de defeitos e
virtudes, e que é incapaz de determinar, em um certo momento, em dada condição,
qual parte irá prevalecer. Existe mais flexibilidade com relação ao que se pode
ser, de acordo com o que a situação exigir. Admite-se amar também os defeitos
alheios. Mas a atividade dos "pingos" ainda é separada. Ora percebe-se o mal
em si, ora no outro; se se nota que tem um lado positivo, não é possível a mesma
observação, no mesmo instante, no outro. Estabelece-se o conflito: para que
eu seja considerado bom, o outro tem que ser mal. Por isso, em uma discussão é
quase impossível se sair da defensiva - ou me considero justo e o outro culpado
ou vice-versa, sentindo-me confortável ou não.
O desenho unificado configura um dinamismo e a ausência de conteúdos
estagnados e separados. É um estágio avançado de consciência porque
engloba todos os outros e vai além. Se existe conflito, este se configura
apenas com o(s) outro(s), que não possui(em) a perspectiva total. Vivencia-se
a dualidade em si e no outro, simultânea e ativamente. Existe aqui a
flexibilidade e a inflexibilidade, assim como vários outros pares de
opostos, conjugados de maneira temperada, de acordo com a vontade do
sujeito. Mas "vontade" aqui é mais que um mero anseio do Eu, pois engloba
que o indivíduo faça também aquilo que não é ou seria sua escolha no
momento devido à compreensão de que também percebe a verdade oposta
dentro de si.
É preciso pontuar que nenhum desses estágios ocorre de forma estanque
no ser humano. Do mesmo modo que a última figura contém todas as outras,
as fases anteriores ocorrem ainda de maneira mais ou menos fortuita e
momentânea no terceiro nível, prevalecendo aquele que tiver sido mais desenvolvido.
Por vezes, um sujeito no primeiro estágio de consciência pode ter um insight
instantâneo do que seja viver no terceiro, e isso pode ser a chave para iniciar
uma grande mudança de vida. Do mesmo modo, um indivíduo relativamente
realizado pode de repente "surtar", caindo rapidamente no primeiro ou segundo
nível, para seu sofrimento.
no ser humano. Do mesmo modo que a última figura contém todas as outras,
as fases anteriores ocorrem ainda de maneira mais ou menos fortuita e
momentânea no terceiro nível, prevalecendo aquele que tiver sido mais desenvolvido.
Por vezes, um sujeito no primeiro estágio de consciência pode ter um insight
instantâneo do que seja viver no terceiro, e isso pode ser a chave para iniciar
uma grande mudança de vida. Do mesmo modo, um indivíduo relativamente
realizado pode de repente "surtar", caindo rapidamente no primeiro ou segundo
nível, para seu sofrimento.
Se a figura completa do Tai-Chi for imaginada girando, nota-se que os dois
pequenos anéis no interior do Yin e do Yang formarão cada qual um círculo e
se manifestará um centro que se aplicará aos dois. Na figura sem movimento
esse centro não se revela, apenas na dinâmica da vida, nesta em que há
continuamente a alternância de estados, humores e situações. Assim é a
totalidade humana, gerenciada a partir do centro imóvel e imutável, que se
expressa nas mudanças de estados psíquicos. A psicologia chama a esse centro
de Si-mesmo.
pequenos anéis no interior do Yin e do Yang formarão cada qual um círculo e
se manifestará um centro que se aplicará aos dois. Na figura sem movimento
esse centro não se revela, apenas na dinâmica da vida, nesta em que há
continuamente a alternância de estados, humores e situações. Assim é a
totalidade humana, gerenciada a partir do centro imóvel e imutável, que se
expressa nas mudanças de estados psíquicos. A psicologia chama a esse centro
de Si-mesmo.
Não existe juízo de valor - um lado ser superior ao outro. Yin não é mal,
nem Yang o bem. E assim é se se pensar na interação e alternância dessas
oposições como vida. O primeiro "evoca a ideia de tempo frio e encoberto,
e aplica-se ao que é interior, enquanto o termo Yang sugere a ideia de
exposição ao Sol e de calor. Em outros termos, Yang e Yin indicam aspectos
concretos e antitéticos do tempo. [...] O mundo representa, pois, 'uma totalidade
de ordem cíclica, constituída pela conjugação de duas manifestações
alternativas e complementares'" (ELIADE, 2011, p. 26).
Em um pequeno tratado está escrito: "Um (aspecto) yin, um (aspecto) yang,
eis aí o tao". Ou seja, o tao, traduzido aqui como "vida", comporta dois
aspectos opostos que se alternam. Esse vocábulo quer dizer também "caminho",
evocando a imagem de uma trilha a seguir, a ideia de direção de conduta, de regra
moral, e, por fim, a arte de pôr em comunicação o Céu e a Terra (Ibid. p. 27).
eis aí o tao". Ou seja, o tao, traduzido aqui como "vida", comporta dois
aspectos opostos que se alternam. Esse vocábulo quer dizer também "caminho",
evocando a imagem de uma trilha a seguir, a ideia de direção de conduta, de regra
moral, e, por fim, a arte de pôr em comunicação o Céu e a Terra (Ibid. p. 27).
Portanto, não se deve abrir mão da vida em favor de estados estáticos de
prazer, nem de dor, no caso dos masoquistas, por mais difícil que isso possa
parecer. Isso não é vida, mas morte em vida. Vida é movimento, é alternância,
é mutação. O sofrimento e as doenças mentais advém de querermos
impor a permanência de estados inconstantes, enquanto que permanente só
pode ser nossa contemplação de sua passagem na nossa caminhada. E é
claro que em grande parte não temos consciência dessa autoimposição, pois
a incorporamos culturalmente. Se nos acostumarmos a tomar posição no
centro, poderemos contemplar a totalidade dos processos vitais sem angústia.
Neste caso alcança-se o verdadeiro estado de felicidade, pois nos colocamos
no rumo do sentido, sob a direção do centro da personalidade.
(NOTA: A leitura que faço do Tai-Chi é simbólica e aplica-se à psique
prazer, nem de dor, no caso dos masoquistas, por mais difícil que isso possa
parecer. Isso não é vida, mas morte em vida. Vida é movimento, é alternância,
é mutação. O sofrimento e as doenças mentais advém de querermos
impor a permanência de estados inconstantes, enquanto que permanente só
pode ser nossa contemplação de sua passagem na nossa caminhada. E é
claro que em grande parte não temos consciência dessa autoimposição, pois
a incorporamos culturalmente. Se nos acostumarmos a tomar posição no
centro, poderemos contemplar a totalidade dos processos vitais sem angústia.
Neste caso alcança-se o verdadeiro estado de felicidade, pois nos colocamos
no rumo do sentido, sob a direção do centro da personalidade.
(NOTA: A leitura que faço do Tai-Chi é simbólica e aplica-se à psique
humana, não se vinculando a nenhuma pesquisa científica.)
REFERÊNCIAS
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas: de Gautama Buda
ao triunfo do Cristianismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. vol. II.
Fonte: Ponto de vista Lógico
www.espacopontodeluz.blogspot.com
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