Superando
a Inveja
Vraja
Bihari Dasa
Identificando
e superando a causa raiz de nossa existência material.
“Inveja
do vizinho, orgulho do proprietário”. Crescendo em uma era quando a televisão
era um novo fenômeno, esse slogan publicitário tomou a imaginação do
público. Possuir aquela marca em particular de televisão era considerado algo
absolutamente glorioso uma vez que aqueles que não tivessem a mesma sentiriam
inveja de você. Para devotos em amadurecimento, entretanto, a inveja não é
motivo de alegria. É, antes, um fardo terrível que ameaça destruir a delicada
trepadeira de bhakti crescendo em nossos corações.
Como
a Inveja nos Ataca?
Inveja
é desejar possuir o objeto ou a posição desfrutada por outrem. Um estudante que
fica na primeira posição em sua turma é invejado pelos colegas que ficam logo
atrás dele. Sua promoção no escritório é invejada por outros colegas que foram
preteridos para o cobiçado posto e aumento salarial. Em círculos sociais, as
pessoas são frequentemente flagradas troçando e depreciando outros,
especialmente aqueles ausentes na festa. Sentir prazer encontrando defeitos é um
sintoma de nossa natureza invejosa. Esse puxar alguém superior a nós para o
nosso nível é algo familiar à mentalidade do siri. Exportadores do animal
economizam muito dinheiro não fornecendo tampões para os contêineres. Não há
medo de que os siris escapem, haja vista que, quando um tenta subir para fugir,
os outros o puxam para baixo. Essa tendência também não é incomum nas sociedades
humanas.
Devotos
ouvem casos históricos de personalidades sofrendo devido à sua natureza
invejosa. Gopala Capala, movido por sua inveja da popularidade de Srivasa
Thakura, tentou aviltá-lo dispondo substâncias detestáveis, próprias para
adorações tântricas, do lado de fora de sua casa e atribuindo a presença das
mesmas ali à natureza dúbia de Srivasa. Embora Srivasa, humilde, não houvesse
ligado para a ofensa, o Senhor não perdoou Gopal Capala. Gopal contraiu lepra, e
o Senhor Caitanya Mahaprabhu declarou que ele teria de sofrer essas reações por
milhões de vidas.
Quando
ouvimos tais casos extremos de manifestação de inveja e consequentes reações,
podemos falsamente nos consolar: “Bem, se isso é inveja, certamente não sou
invejoso, porque eu jamais faria isso”. Para devotos praticantes, entretanto, a
inveja se manifesta mais sutilmente. Podemos sentir o cheiro da inveja dentro de
nossos corações quando não sentimos felicidade pelo progresso de outros na
consciência de Krishna, por exemplo. Quando outros vaishnavas são glorificados,
como nos sentimos? Embora não esteja fazendo nenhum plano para prejudicar
outros, talvez o indivíduo deseje que outro devoto se depare com algum fracasso
ou dificuldade a fim de que a posição desse invejoso como alguém melhor,
supostamente, se revele ao mundo. Quando outros prosperam, material ou
espiritualmente, um devoto neófito se sente inseguro e ameaçado diante de suas
conquistas.
A
Causa da Inveja
Nossa
inveja de outros tem por raiz nossa inveja de Krsna. Uma vez que todas as boas
qualidades vêm de Krishna, quando vemos um devoto bem-sucedido em todo aspecto
da vida espiritual, estamos, na verdade, vendo a misericórdia de Krsna derramada
sobre ele. Assim, sentir inveja de outrem significa que estamos, na verdade,
invejando Krsna, e essa é a causa essencial de nossa existência material
condicionada. Desejando ser o desfrutador e o controlador, a alma peleja no
mundo material. Após fracassarmos repetidamente em semelhante empenho; uma vez
que tenhamos despertado para a nossa consciência original e ajamos como servos
do Senhor, tornar-nos-emos aptos a voltar ao mundo espiritual. Em contrapartida,
nutrindo inveja e ódio, simplesmente prolongamos nossos sofrimentos aqui. Não é
surpreendente, portanto, encontrar Srila Prabhupada repetir em quase toda
palestra, conversa e em seus volumosos escritos sobre a necessidade indiscutível
de nos livrarmos da tendência profundamente arraigada de tentarmos ser o
desfrutador.
Mais
Mortal do que a Luxúria
Frequentemente
ouvimos dizer que a luxúria é um inimigo mortal para um devoto aspirante. É
comum vermos um devoto que cai em razão da luxúria lamentar e aceitar sua
fraqueza. Contudo, uma vítima da inveja, muito frequentemente, não é ciente de
que é invejosa. A pessoa garante a si e aos outros que ela não é invejosa, senão
que, muito diferentemente, está apenas “ajudando” através da exposição dos
defeitos óbvios dos outros.
Sisupala
tinha inveja de Krsna e também estava convicto de que sua blasfêmia contra Krsna
na assembleia Rajasuya era justificada, e surpreendeu-se ao ver que outros não
compartilhassem de sua compreensão. Assim, a inveja cega uma pessoa para os seus
próprios defeitos. Quando pensamentos luxuriosos jorram no coração, o devoto
pode se sentir humildado e caído. Contudo, um jato de sentimentos invejosos
simplesmente amplia nosso orgulho e constrói uma estimativa alta, porém errônea,
acerca de nós mesmos. A inveja também implica falta de fé em Krsna. No ambiente
competitivo moderno, se alguém consegue uma cobiçada vaga de emprego ou
universitária, é natural que outros sintam inveja. Contudo, na consciência de
Krishna, não há razão para a inveja porque Krsna é ilimitado, e se alguém recebe
muitíssima misericórdia, isso em nada inibe nosso avanço pessoal e nosso acesso
à benevolência de Krsna. O estoque de misericórdia de Krsna não reduz, e o
sucesso alheio é causa de celebração, dado que revela as mais maravilhosas
opulências de Krsna, manifestas através de Seus devotos.
Que
Esperança Nós Temos?
O
conhecimento mais confidencial dentro do Bhagavad-gita está contido no
capítulo nove, e o Senhor Krsna cita a qualificação exigida para a compreensão
do mesmo no primeiro verso do capítulo referido. “Meu querido Arjuna, porque
nunca me invejas, compartilharei com tua pessoa esta sabedoria e realização mais
confidenciais, conhecendo o que te livrarás das misérias da existência
material”.
Enquanto
é possível utilizar a ira ou a avidez no serviço a Krsna, a inveja é o único
sentimento que não encontra lugar entre todos. Krsna assegura que, se seguirmos
o processo sem inveja, livrar-nos-emos do condicionamento das ações fruitivas.
Contudo, se agirmos por inveja, seremos “enganados”, “privados de todo
conhecimento” e “arruinados em nossos esforços pela perfeição”.
(Bhagavad-gita 3.32). Nutrir inveja garante que não saborearemos o néctar
de bhakti, o serviço devocional amoroso a Deus, embora possamos
cumprir com todas as exigências externas do processo. É como lamber a parte de
fora da garrafa de mel.
Passos
para Superar a Inveja
O
primeiro e mais importante passo para superarmos a inveja é reconhecermos a
existência desse inimigo dentro de nós. Exige coragem e humildade aceitar a
própria condição caída e fazer um sincero esforço para erguer-se desse nível.
Srila Prabhupada escreve sobre a necessidade de fazermos do reino de Deus a meta
de nossa vida, e fazê-lo ajuda-nos a abandonar a inveja, visto que isso
certamente é um obstáculo nesse caminho. Isso também ajuda o devoto a meditar em
como sua vida devocional repousa sobre um sistema de “ajuda de vida” de
misericórdia imotivada. Quanto mais nos lembramos acerca de como somos
dependentes da misericórdia dos devotos e de Krsna, menos cultivaremos inveja em
nossos corações. Isso se deve ao fato de que nosso próprio estado frágil se
revelará a nós, e os perigos de cultivar esse anartha da inveja serão
óbvios. O hábito de orar também é certamente benéfico. Chamar pela ajuda de
Krsna para que nos salve dessa mentalidade doentia é algo purificador, e se
orarmos também pelo sucesso da pessoa que invejamos, nosso coração se tornará
mais macio.
Estamos
nos decompondo no mundo material por causa do esquecimento de nossa relação com
Krsna. Por conseguinte, temos que orar fervorosamente pela lembrança de nossa
posição constitucional como servos e, então, agirmos nessa plataforma.
Constantemente se lembrando de sua condição precária neste mundo material e
prestando serviço amoroso a outros vaisnavas, o devoto dará a Krsna o que
Lhe é mais prazeroso, e Krsna, satisfeito com o serviço do devoto, certamente
lhe conferirá a dádiva do amor e da ausência de inveja.
Fonte: De volta para o Supremo
Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues
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