sexta-feira, 19 de abril de 2019

Krishna, Christos, Cristo




Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada 

Em 1974, próximo ao centro da ISKCON em Francoforte do Meno, Ale­manha Ocidental, Srila Prabhupada e vários de seus discípulos fizeram uma caminhada matinal com o padre Emmanuel Jungclaussen, um monge beneditino do mosteiro Niederalteich. Notando que Srila Prabhupada trazia consigo contas de meditação semelhantes ao rosário, padre Emmanuel explicou que ele também cantava uma oração constante: “Senhor Jesus Cristo, tende misericórdia de nós”. A seguinte conversa sucedeu-se.

Srila Prabhupada: Qual é o significado da palavra “cristo”?
Padre Emmanuel: “Cristo” vem do grego “christos”, significando “o ungido”.
Srila Prabhupada: Christos é a versão grega da palavra “Krishna”.
Padre Emmanuel: Isso é muito interessante.
Srila Prabhupada: Quando uma pessoa indiana chama por Krishna, muitas vezes ela diz: “Krishna”. “Krishna é uma palavra sânscrita que significa “atração”. Assim, quando nos dirigimos a Deus como “Cristo”, “Krishna” ou “Krishna”, indicamos a mesma todo-atrativa Suprema Per­sonalidade de Deus. Quando Jesus dizia: “Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome”, esse nome de Deus era “Krishna” ou “Krishna”. O senhor concorda?
Padre Emmanuel: Creio que Jesus, como o filho de Deus, revelou-nos o verdadeiro nome de Deus: Cristo. Podemos chamar Deus de “pai”, mas, se quisermos chamá-lO por Seu nome verda­deiro, teremos que dizer “Cristo”.
Srila Prabhupada: Sim. “Cristo” é outra forma de dizer “krishna”, e “krishna” é outra maneira de pronunciar “Krishna”, o nome de Deus. Jesus disse que devemos glorificar o nome de Deus, mas ontem eu ouvi um teólogo dizer que Deus não tem nome – que só podemos chamá-lO de “pai”. Um filho pode chamar seu pai de “pai”, mas o pai também tem um nome específico. De forma semelhante, “Deus” é o nome geral da Suprema Personalidade de Deus, cujo nome específico é Krishna. Portanto, quer o senhor chame Deus de “Cristo”, “Krishna” ou “Krishna”, o senhor, em última análise, está se dirigindo à mesma Suprema Personalidade de Deus.
Padre Emmanuel: Sim, se falamos do verdadeiro nome de Deus, devemos dizer: “Christos”. Em nossa religião, temos a Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Cremos que podemos conhecer o nome de Deus unicamente pela revelação do Filho de Deus. Jesus Cristo revelou o nome do Pai, em decorrência do que consideramos “Cristo” como o nome revelado de Deus.
Srila Prabhupada: Na verdade, não importa: “Krishna” ou “Cristo”, o nome é o mesmo. O ponto principal é seguirmos os preceitos das escrituras védicas, que recomendam o cantar do nome de Deus nesta era. O método mais fácil é cantar o maha-mantra: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. “Rama” e “Krishna” são nomes de Deus, e “Hare” é a energia de Deus. Então, quando cantamos o maha-mantra, dirigimo-nos a Deus junto de Sua energia. Essa energia é de dois tipos, a espiritual e a material. No momento, estamos nas garras da energia material. Devido a isso, oramos a Krishna para que Ele, por favor, salve-nos do serviço à energia material e nos aceite no serviço à energia espiritual. Essa é toda a nossa filosofia. “Hare Krishna” significa: “Ó energia de Deus, ó Deus, por favor, ocupai-me a Vosso serviço”. É de nossa natureza prestar serviço. De alguma forma, acabamos servindo coisas materiais, mas, quando esse serviço é transformado no serviço à energia espiritual, nossa vida é perfeita. Praticar bhakti-yoga [serviço amoroso a Deus] significa livrar-se de designações, tais como “hindu”, “muçulmano”, “cristão”, isso ou aquilo, e simplesmente servir a Deus. Criamos as religiões cristã, hindu e maometana, mas, quando chegamos a uma religião sem designações, em que não pensamos que somos hindus ou cristãos ou maometanos, podemos falar de religião pura, ou bhakti.
Padre Emmanuel: Mukti?
Srila Prabhupada: Não, bhakti. Quando falamos de bhakti, mukti [libertação das misérias materiais] está incluída. Sem bhakti, não há mukti, mas, se agimos na plataforma de bhakti, mukti está incluída. Aprendemos isso no Bhagavad-gita (14.26):
mam ca yo ’vyabhicarenabhakti-yogena sevatesa gunan samatityaitanbrahma-bhuyaya kalpate
“Aquele que se ocupa em serviço devocional pleno, que não cai em circunstância alguma, imediatamente transcende os modos da natureza material e, destarte, chega ao nível de Brahman”.
Padre Emmanuel: O Brahman é Krishna?
Srila Prabhupada: Krishna é Parabrahman. O Brahman é compreendido sob três aspectos: como o Brahman impessoal, como Paramatma localizado e como o Brahman pessoal. Krishna é pessoal e é o Brahman Supremo, pois, em última análise, Deus é uma pessoa. No Srimad-Bhagavatam (1.2.11), isso é confirmado:
vadanti tat tattva-vidastattvam yaj jnanam advayambrahmeti paramatmetibhagavan iti sabdyate
“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta chamam essa substância não dual de Brahman, Paramatma ou Bhagavan”. O aspecto da Personalidade Suprema é a compreensão última de Deus. Ele tem plenamente todas as seis opulências: Ele é o mais forte, o mais rico, o mais belo, o mais famoso, o mais sábio e o mais renunciado.
Padre Emmanuel: Sim, eu concordo.
Srila Prabhupada: Porque Deus é absoluto, Seu nome, Sua forma e Suas qualidades também são absolutos e não são diferentes­ dEle. Portanto, cantar o santo nome de Deus é associar-se diretamente com Ele. Quando nos associamos com Deus, adquirimos qualidades divinas, e, quando nos purificamos completamente, tornamo-nos companheiros do Senhor Supremo.
Padre Emmanuel: Mas o nosso entendimento do nome de Deus é limitado.
Srila Prabhupada: Sim, nós somos limitados, mas Deus é ilimitado. E por Ele ser ilimitado, ou absoluto, Ele tem nomes ilimitados, cada um dos quais é Deus. Podemos entender Seus nomes na medida do desenvolvimento de nossa compreensão espiritual.
Padre Emmanuel: Posso fazer-lhe uma pergunta? Nós cristãos também pregamos o amor a Deus, e tentamos compreender o amor a Deus e prestar-Lhe serviço com todo o nosso coração e toda a nossa alma. Agora, qual é a diferença entre o seu movimento e o nosso? Por que vocês mandam seus discípulos pregar o amor a Deus nos países ocidentais quando o evangelho de Jesus Cristo está propondo a mesma mensagem?
Srila Prabhupada: O problema é que os cristãos não seguem os mandamentos de Deus. O senhor concorda comigo?
Padre Emmanuel: Sim, em grande parte o senhor está certo.
Srila Prabhupada: Então, qual é o significado do amor que os cristãos têm por Deus? Se o senhor não segue as ordens de Deus, onde está o seu amor? Por isso, nós viemos ensinar o que significa amar a Deus: Se vocês O amam, vocês não podem desobedecer as Suas ordens. E se vocês são desobedientes, o seu amor não é verdadeiro.
No mundo inteiro, as pessoas amam não a Deus, mas sim a seus cães. O movimento da consciência de Krishna, portanto, é necessário para ensinar as pessoas a reviver seu amor esquecido por Deus. Não somente os cristãos, mas também os hindus, os maome­tanos e todos os demais são culpados. Eles se rotulam “cristãos”, “hindus” ou “maometanos”, mas não obedecem a Deus. Esse é o problema.
Visitante: O senhor poderia dizer de que maneira os cristãos são desobedientes?
Srila Prabhupada: Sim. O primeiro ponto é que eles violam o mandamento “Não matarás” e mantêm matadouros. O senhor concorda que este mandamento está sendo violado?
Padre Emmanuel: Pessoalmente, eu concordo.
Srila Prabhupada: Isso é bom. Então, se os cristãos querem amar a Deus, eles têm de parar de matar animais.
Padre Emmanuel: Mas o ponto mais importante…
Srila Prabhupada: Se deixar passar um ponto, haverá erro em seu cálculo. Não importando se o senhor adicionará ou subtrairá depois disso, o erro já está no cálculo, e tudo o que vier a seguir também será defeituoso. Não podemos simplesmente aceitar aquela parte da escritura da qual gostamos e rejeitar o que não gostamos e ainda assim esperar obter o resultado. Por exemplo, uma galinha põe ovos com sua parte traseira e come com seu bico. Talvez um fazendeiro considere: “A parte da frente da galinha representa muitos gastos porque eu tenho que a alimentar. É melhor remover a parte da frente”. Se estiver faltando a cabeça, no entanto, não haverá mais ovos, porque o corpo estará morto. Analogamente, se rejeitamos a parte difícil das escrituras e obedecemos à parte de que gostamos, tal interpretação não nos ajudará. Temos de aceitar todos os preceitos das escrituras tais como eles são dados, e não apenas aqueles que nos convêm. Se o senhor não segue a primeira ordem, “não matarás”, então qual será a possibilidade de amar a Deus?
Visitante: Os cristãos consideram esse mandamento aplicável aos seres humanos, e não aos animais.
Srila Prabhupada: Isso significaria que Cristo não foi inteligente o bastante para usar a palavra certa: “assassinar”. Existe o termo “matar” e o termo “assassinar”. O termo assassinar refere-se aos seres humanos. O senhor acha que Jesus não era inteligente o bastante para usar a palavra certa, “assassinar”, em vez da palavra “matar”?
Matar significa qualquer tipo de morte, e principalmente a morte de animais. Se Jesus quisesse se referir simplesmente à morte de seres humanos, ele teria usado a palavra “assassinar”.
Padre Emmanuel: Mas no Velho Testamento o mandamento “não matarás” refere-se a assassinato, e, quando Jesus dizia “não matarás”, ele estendia esse mandamento para significar que um ser humano deve não somente abster-se de matar outro ser humano, mas também deve tratá-lo com amor. Ele jamais falou sobre a relação do homem com outras entidades vivas, mas somente sobre sua relação com outros seres humanos. Quando ele dizia “não matarás”, ele também se referia ao sentido mental e emocional, de que não devemos insultar ninguém, nem magoar, tratar mal e assim por diante.
Srila Prabhupada: Não estamos interessados neste ou naquele testamento, mas apenas nas palavras usadas nos mandamentos. Se o senhor quer interpretar essas palavras, isso é outra coisa. Entendemos o significado direto. “Não matarás” significa: os cristãos não devem matar. O senhor poderá propor interpretações a fim de manter o atual modo de ação, mas nós entendemos claramente que não há necessidade de interpretação. A interpretação se faz necessária quando as coisas não estão claras, mas aqui o significado é claro. “Não matarás” é uma instrução clara. Por que haveríamos de interpretá-la?
Padre Emmanuel: Mas comer plantas também não é matar?
Srila Prabhupada: A filosofia vaisnava ensina que nem as plantas nós devemos matar desnecessariamente. No Bhagavad-gita (9.26), Krishna diz:
patram puspam phalam toyamyo me bhaktya prayacchatitad aham bhakty-upahrtamasnami prayatatmanah
“Se alguém Me oferecer, com amor e devoção, uma folha, uma flor, uma fruta ou um pouco d’água, Eu aceitarei”. Nós oferece­mos a Krishna apenas o tipo de alimento que Ele exige e, em seguida, comemos os restos. Se oferecer alimentos vegetarianos a Krishna fosse pecaminoso, então este seria um pecado de Krishna, e não nosso. Deus, entretanto, é apapa-viddha – reações pecaminosas não são aplicáveis a Ele. Deus é como o Sol, o qual é tão poderoso que pode purificar até mesmo a urina – algo que, para nós, é impossível. Krishna também pode ser comparado a um rei, que pode mandar enforcar um assas­sino, mas que, pessoalmente, não é sujeito a punições, devido a ser muito poderoso. Comer alimentos oferecidos primeiramente também pode ser comparado a um soldado que mata durante o tempo da guerra. Durante uma guerra, quando o comandante manda um homem atacar, o soldado obediente que mata o inimigo receberá uma medalha. Contudo, se o mesmo soldado matar alguém por sua própria conta, ele será castigado. De modo semelhante, quando comemos apenas prasada [os restos do alimento oferecido a Krishna], não cometemos nenhum pecado. Isso é confirmado no Bhagavad-gita (3.13):
yajna-sistasinah santomucyante sarva-kilbisaihbhunjate te tv agham papaye pacanty atma-karanat
“Os devotos do Senhor são libertos de todos os tipos de pecado porque comem alimentos que são primeiramente oferecidos em sacrifício. Os demais, que preparam os alimentos para desfrute pessoal dos sentidos, comem, na verdade, apenas pecado”.
Padre Emmanuel: Krishna não pode dar permissão para se comer animais?
Srila Prabhupada: Sim, no reino animal, mas o ser humano civilizado, o ser humano religioso, não se destina a matar e comer animais. Se o senhor parar de matar animais e cantar o santo nome “Cristo”, tudo será perfeito. Eu não estou aqui para instruí-lo, mas sim para solicitar-lhe que, por favor, cante o nome de Deus. A Bíblia também exige isso de vocês. Portanto, cooperemos amavelmente e cantemos, e, se o senhor tem preconceito contra cantar o nome “Krishna”, então cante “Christos” ou “Krishna” – não há diferença. Sri Chaitanya dizia que namnam akari bahudha nija-sarva-saktih: “Deus tem milhões e milhões de nomes, e, porque não há diferença entre o nome de Deus e Ele mesmo, cada um desses nomes tem a mesma potência de Deus”. Portanto, mesmo que o senhor aceite designações, tais como “hindu”, “cristão” ou “maometano”, se o senhor simplesmente cantar o nome de Deus encontrado em suas próprias escrituras, o senhor alcançará a plataforma espiritual. A vida humana destina-se à autorrealização, a aprender como amar a Deus. Essa é a beleza eterna do homem. Quer o senhor cumpra esse dever como hindu, quer como cristão, quer como maometano, isso não importa, mas cumpra-o!
Padre Emmanuel: Concordo com o senhor.
Srila Prabhupada: Nós sempre levamos estas contas conosco [apontando para um colar com 108 contas para meditação], assim como o senhor tem seu rosário. O senhor está cantando, mas por que os outros cristãos também não cantam? Por que eles deveriam perder essa oportunidade como seres humanos? Os cães e gatos não podem cantar, mas nós podemos porque temos uma língua humana. Se cantarmos os santos nomes de Deus, nada teremos a per­der; ao contrário, ganharemos, e muito. Meus discípulos praticam o cantar de Hare Krishna constantemente. Eles poderiam também ir ao cinema, ou fazer muitíssimas outras coisas, mas eles abandonaram tudo. Eles não comem peixe, carne ou ovos; eles não usam intoxicantes, não bebem, não fumam, não jogam, não espe­culam e não mantêm relações sexuais ilícitas. Porém, eles cantam muito o santo nome de Deus. Se o senhor quer cooperar conosco, vá às igrejas e cante “Cristo”, “Krishna” ou “Krishna”. Qual poderia ser a objeção?
Padre Emmanuel: Nenhuma. Por mim, eu teria prazer em me juntar a vocês.
Srila Prabhupada: Não, estamos falando com o senhor como representante da Igreja cristã. Em vez de manter as igrejas fecha­das, por que não dar as mesmas a nós? Cantaríamos o santo nome de Deus ali por vinte e quatro horas diariamente. Em muitos lugares compramos igrejas que estavam praticamente fechadas porque ninguém as estava frequentando. Em Londres, vi centenas de igrejas que estavam fechadas ou eram usadas para propósitos mundanos. Compramos uma de tais igrejas em Los Angeles. Ela nos foi ven­dida porque ninguém a frequentava mais. Contudo, se o senhor visitar essa mesma igreja atualmente, encontrará milhares de pessoas. Qualquer pessoa inteligente pode entender o que é Deus em cinco minutos; não são necessárias cinco horas.
Padre Emmanuel: Compreendo.
Srila Prabhupada: Mas as pessoas não. A doença delas é que elas não querem compreender.
Visitante: Acho que compreender Deus não é uma questão de inteligência, mas sim de humildade.
Srila Prabhupada: Humildade significa inteligência. Os mansos e humildes têm o reino de Deus. Isso é afirmado na Bíblia, não é? Mas a filosofia dos patifes é que todos são Deus, e, hoje em dia, esta ideia tem se popularizado. Portanto, ninguém é manso e humilde. Se todos acham que são Deus, por que seriam mansos e humildes? Por isso, eu ensino a meus discípulos como se tornarem mansos e humildes. Eles sempre oferecem suas respeitosas reverên­cias no templo e ao mestre espiritual e, dessa maneira, eles avançam. As qualidades de humildade e mansidão nos levam rapidamente à compreensão espiritual. Nas escrituras védicas, afirma-se: “Àqueles que têm firme fé em Deus e no mestre espiritual, que é Seu representante, o significado das escrituras védicas é revelado”.
Padre Emmanuel: Mas essa humildade não deveria ser oferecida a todos os demais também?
Srila Prabhupada: Sim, mas há dois tipos de respeito: o especial e o comum. Sri Krishna Chaitanya ensinou-nos que não devemos esperar honra para nós próprios, mas devemos sempre respeitar a todos os demais, mesmo aqueles que nos desrespeitem. Porém, deve-se mostrar especial respeito a Deus e a Seu devoto puro.
Padre Emmanuel: Sim, eu concordo com o senhor.
Srila Prabhupada: Acho que os sacerdotes cristãos devem co­operar com o movimento da consciência de Krishna. Eles devem cantar o nome “Cristo” ou “Christos” e devem parar de indultar a matança de animais. Este programa obedece aos ensinamentos da Bíblia; não é minha filosofia. Por favor, aja de acordo com esses ensinamentos e o senhor verá que a situação do mundo mudará.
Padre Emmanuel: Muito obrigado.
Srila Prabhupada: Hare Krishna.

Fontes: "The Science of self-Realization" - Swami Prabhupada
Site "Volta ao Supremo "

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Conhecimento Védico e Jesus não são incompatíveis

“Ainda Tenho Muito a Lhes Dizer”

ainda tenho muito a lhes dizerChaitanya-charana Dasa

Jesus disse que tinha muito mais a dizer, e, na literatura védica, temos muito mais informações e conhecimento acerca de Deus.

Bhaktivinoda Thakura, um santo estudioso vaishnava do século XIX, explica como um verdadeiro devoto deve respeitar outras religiões e suas práticas. Ele disse: “Quando temos a oportunidade de estar presentes no local de culto de outros religiosos no momento de sua adoração, devemos ficar ali de um modo respeitoso, contemplando e refletindo assim: ‘Aqui está sendo adorado o meu maior e adorável Deus, embora esteja em uma forma diferente da que eu adoro. Devido a uma prática diferente ou de um estilo diferente, de fato não consigo compreender completamente o sistema pelo qual eles adoram meu Deus. Mas, vendo isso, estou sentindo um maior apego por meu próprio sistema [de adoração]. Deus é apenas um. Inclino-me diante de seus símbolos, como vejo aqui, e ofereço minha oração ao Senhor, para que ele possa aumentar meu amor para com Ele na forma aceitável para mim.’”
Eu nasci em uma família brahmana e fui educado em uma escola de confissão cristã. Na minha escola, eu aprendi sobre Deus também, tanto sobre os rituais hindus realizados em minha casa, quanto sobre as orações cristãs na escola. Contudo, foi apenas no final da adolescência, quando os devotos da ISKCON me apresentaram a filosofia sistemática da consciência de Krishna ensinada na literatura védica, que eu iniciei um estudo sério sobre a espiritualidade. Quando me deparei com a declaração acima, de Bhaktivinoda Thakura, senti que havia descoberto o elo perdido que poderia integrar meu respeito pela tradição cristã à minha fé de Krishna. O propósito deste artigo é de certa forma semelhante: ajudar os seguidores védicos a obter uma apreciação mais profunda de seu próprio caminho, enquanto oferecem aos cristãos uma nova visão de sua fé a partir da perspectiva de um seguidor védico.
O objetivo final do cristianismo e da consciência de Krishna é o mesmo: ajudar os praticantes a desenvolver o amor a Deus, elevá-los de materialistas a espiritualistas, ajudando-os na jornada de volta ao reino de Deus (volta ao Supremo).
Mas esses ensinamentos são igualmente apresentados no texto bíblico e no texto védico?
Vamos agora explorar os insights oferecidos nesses dois grupos sobre três assuntos altamente úteis para desenvolvermos nosso relacionamento com Deus:
  1. A alma e sua condição existencial.
  2. Deus e Sua natureza amorosa.
  3. Devoção e seu desenvolvimento progressivo.
Por que a Alma Cai Neste Mundo?
Tenho muito a lhe dizer.
A tradição bíblica conta a história de Adão e Eva, na qual eles caíram (em pecado, termo comum no cristianismo) do Jardim do Éden por comerem o fruto proibido em desobediência à ordem de Deus. Devido ao pecado original de Adão, toda a humanidade, tendo descendido dele, é considerada herdeira do pecado e está destinada a sofrer na existência material até ser resgatada pela graça redentora de Deus (na forma de Jesus Cristo).
Esta história implica que todos nós somos vitimados por todos os sofrimentos deste mundo, tais como todos os terremotos, formas de câncer, guerras etc., porque, no passado remoto, alguém comeu o fruto proibido. O fato de sermos sentenciados a sofrer por um pecado que nós mesmos nunca cometemos parece, para qualquer pessoa reflexiva, evidentemente injusto.
O erudito da ISKCON Ravindra Svarupa Dasa oferece uma leitura alternativa da história de Adão, uma leitura que também explica a causa de nossa queda da perspectiva védica:
Quando a Bíblia fala sobre o que Adão fez, está falando sobre o que nós mesmos fizemos. Nós estávamos lá “no começo”, porque, sendo descendentes de Deus e feitos à Sua imagem, não somos seres materiais, mas seres espirituais. Então, somos eternos. Esta é a natureza do espírito: nunca vem a ser; nunca deixa de ser. É por isso que, na Bhagavad-gita, a alma é descrita não apenas como aja, “não-nascida”, e nitya, “eterna”, mas também como purana, “a mais antiga”.
Isso significa que todos nós somos pessoas primordiais. Quando a Bíblia fala sobre Adão, na verdade, está falando sobre nós. Na verdade, Adão, ou Adam, é simplesmente uma palavra hebraica que significa “homem”.
Então, nós somos os culpados. E o que nós fizemos? Qual é o nosso pecado na raiz de tudo isso?
Decidimos que não queríamos servir a Deus, mas queríamos nós mesmos nos tornarmos Deus. Em outras palavras, ficamos com inveja de Deus e quisemos tomar o Seu lugar. Essa é a nossa queda. E ainda estamos caídos até hoje porque ainda temos essa atitude.
Esse entendimento não apenas nos ajuda a entender o que originalmente fizemos de errado, mas também o que precisamos fazer para retornar a Deus.
Temos Apenas uma Chance de Viver?
A noção cristã generalizada é que, se não nos rendermos a Deus aceitando Jesus como nosso Senhor e Salvador nesta breve vida, seremos enviados ao inferno para sofrer pelo resto da eternidade. Essa noção milita contra a premissa fundamental da teologia: um Deus amoroso e misericordioso. Afinal, até os pais comuns, por amor aos filhos, dão a eles várias chances de se reformarem. Então, a alegação de que o Pai Supremo Deus nos dá apenas uma chance não limita o amor ilimitado dEle?
Os insights védicos nos ajudam a entender melhor o amor ilimitado de Deus por nós. O entendimento védico é que somos almas que, na forma humana de vida, têm a chance de reviver nosso relacionamento esquecido com Deus. Se nós negligenciamos ou rejeitamos esta oportunidade, então, de acordo com nossos desejos e nosso carma, nós transmigramos de um corpo para outro em 8,4 milhões de espécies até, por fim, voltarmos à forma humana e termos outra chance. Se nós ainda não usamos essa chance, então continuamos passando pelo ciclo transmigratório e tendo chances de nos voltarmos para Deus até que, finalmente, façamos a escolha certa: voltemos para Deus e vivamos felizes com Ele para sempre.
A coerência do entendimento védico sobre a escatologia foi apreciada até mesmo pelo erudito cristão e pioneiro sânscrito Sir William Jones. Ele disse: “Eu não sou hindu, mas considero a doutrina dos hindus relativa a um estado futuro incomparavelmente mais racional, mais piedosa e mais provável de refrear os homens no vício do que as horríveis opiniões inculcadas pelos cristãos sobre a punição eterna.”
Por que Coisas Ruins Acontecem a Pessoas Boas, Especialmente a Crianças Inocentes?
Essa questão desconcertante tem sido a ruína da teologia cristã. Se aceitarmos a afirmação cristã de que não tivemos vida antes da presente, então com que base nos são dados diferentes pontos de partida para a jornada de nossa vida? Por que algumas pessoas nascem em famílias ricas, enquanto algumas nascem em famílias pobres?
Embora a Bíblia diga que “como você semeia, você também colherá”, a noção cristã atual falha em nos ajudar a entender como isso está acontecendo. A compreensão védica de nós como almas transmigradoras nos ajuda a enxergar a vida a partir de uma perspectiva muito mais ampla de múltiplas vidas. Assim como diferentes sementes são colhidas após diferentes períodos de tempo, também diferentes ações apresentam reações após diferentes períodos de tempo, algumas imediatamente, algumas mais tarde na mesma vida, e outras em uma vida subsequente. As reações cármicas que transportamos ao longo de nossas vidas (humanas) passadas determinam as condições iniciais de nossa vida atual.
A aceitação da lei do karma não é fatalista, criando sentimentos de desamparo e impotência, como algumas pessoas interpretam erroneamente. Também não é psicologicamente prejudicial, criando sentimentos assombrosos de culpa, como alguns outros alegam. Em vez disso, uma compreensão madura da lei imparcial do karma é altamente fortalecedora, pois entendemos que ainda temos controle sobre nossas vidas. Ao se harmonizar com as leis universais da ação, como explicado nas escrituras dadas por Deus, temos o poder de criar um futuro brilhante para nós mesmos, independentemente de quão sombrio o presente pareça ser. É por isso que o escritor W. Somerset Maugham escreveu em O Fio da Navalha: “Já lhe ocorreu que a transmigração (da alma) é ao mesmo tempo uma explicação e uma justificativa do mal do mundo? Se os males que sofremos forem o resultado de pecados cometidos em nossas vidas passadas, podemos suportá-los com determinação e ter a esperança de que, se nos esforçarmos pela virtude, nossas vidas futuras serão menos perturbadoras.”
Quem é Deus?
Na tradição bíblica, não há muito conhecimento positivo sobre Deus, sua morada, personalidade, atributos e atividades.
A Bíblia declara que Deus é o objeto supremo do amor, mas como alguém ama a Deus sem conhecê-lO? Alguém pode amar um conceito ou uma cifra? Não sabendo como Deus se parece, alguns cristãos especulam que Deus, sendo a pessoa primitiva, deve ser um homem velho com uma longa barba. Por exemplo, na célebre Capela Sistina, localizada na Cidade do Vaticano, o teto retrata Deus como um homem idoso criando Adão, que, paradoxalmente, parece mais bonito, saudável e amável do que Deus.
O conhecimento autoexistencial de Deus não está presente na tradição bíblica porque Deus, sendo infinito, é incognoscível para nós seres finitos? Ao mesmo tempo em Deus é certamente infinito e incognoscível para nós por nossos próprios esforços, um aspecto essencial da infinitude e onipotência de Deus é a Sua capacidade de Se revelar a nós se Ele assim desejar. Dizer que Deus não pode Se tornar conhecido para nós é limitá-lO.
Deus Se fez conhecido como uma Suprema Personalidade toda-atrativa através das escrituras védicas. À primeira vista, os textos védicos podem parecer politeístas, fazendo com que os deuses védicos pareçam ser como os deuses pagãos cuja adoração o Antigo Testamento proíbe. Mas um estudo profundo e orientado das escrituras védicas revela que, embora contenham rituais multifacetados para formas de adoração multiníveis, elas são conclusivamente monoteístas. Na Bhagavad-gita, Krishna é glorificado como o único Deus Supremo, com declarações notadamente semelhantes aos elogios bíblicos de Deus. Por exemplo, a Bhagavad-gita (10.32) afirma: “De todas as criações, Eu sou o começo e o fim e também o meio”, o que é semelhante a esta declaração bíblica: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o começo e o fim, o primeiro e o último.” (Apocalipse 22:13).
Neste ponto, a maioria dos cristãos naturalmente se perguntará se Krishna pode ser igualado ao Deus bíblico, especialmente quando a Bíblia não declara isso. Vamos considerar esse ponto com base na escritura e na lógica:
  1. Escritura: Jesus foi crucificado depois de apenas três anos de pregação. Que ele tinha mais coisas para revelar é claramente visto em sua própria declaração: “Ainda tenho muito a lhes dizer, mas agora vocês não são capazes de suportar.” (João 16:12) Os cristãos podem ser fiéis à sua própria tradição e ainda estar abertos à sabedoria das escrituras que não as suas próprias? Tal abertura parece evidenciada na declaração bíblica: “Toda escritura é dada por inspiração de Deus, e é proveitosa para doutrina, para repreensão, para correção, para instrução em retidão, para que o homem de Deus seja perfeito, completamente provido de toda boa obra.” (2 Timóteo 3:16-17) Este versículo é tradicionalmente interpretado pelos cristãos para se referir a “todas as escrituras bíblicas”, mas talvez o espírito ecumênico evidente nas palavras do versículo “toda escritura” sugira uma abertura mais ampla.
  2. Lógica: Se um aluno que está estudando Ciência da Computação no IIT Mumbai vier a saber que a ciência da computação é ensinada mais detalhadamente no MIT, EUA, ele se restringirá ao IIT ou aproveitará a educação disponível no MIT? Se ele estiver interessado em ciência da computação, obviamente ele vai aproveitar a oportunidade para aprender (também) no MIT. Similarmente, se um buscador de Deus, que está desenvolvendo o amor a Deus dentro da tradição cristã, descobre que um conhecimento maior de Deus está disponível em outra tradição, a tradição védica, ele não pode aproveitar essa tradição para enriquecer seu conhecimento de Deus e assim acelerar seu amor a Deus? Talvez seja útil esclarecer as prioridades de uma pessoa ao se propor a pergunta da busca da alma: “Estou interessado no cristianismo (em si mesmo) ou estou interessado em Deus?”
Deus É Grandioso, Mas Como?
A tradição bíblica declara repetidamente a grandeza de Deus, mas não dá muita descrição concreta de Sua grandeza. Por outro lado, a descrição védica de Krishna demonstra graficamente a grandeza de Deus. No décimo primeiro capítulo da Bhagavad-gita, Krishna dá a Arjuna um vislumbre de Sua grandeza inspiradora ao exibir Sua forma universal, uma das maiores visões místicas da literatura mundial. Arjuna viu dentro da forma universal tudo o que existe e todos os seres que existem. Ele viu todos os planetas, estrelas e universos, bem como todos os seres vivos, sejam celestes, terrestres ou subterrâneos. Quando Krishna estava na Terra, Ele também exibiu Sua onipotência derrotando, sem esforço, inúmeros tiranos poderosos, que eram malfeitores no universo.
Além disso, o texto védico por excelência, o Srimad-Bhagavatam (1.2.11), fornece uma profunda ontologia tripartida da grandeza existencial de Deus. Deus existe como três manifestações simultâneas e não-duais:
  1. Brahman: uma refulgência deslumbrante que permeia toda a existência;
  2. Paramatma: a expansão pessoal e localizada de Deus, que reside no coração de todos os seres vivos e em cada átomo;
  3. Bhagavan: a Pessoa Suprema, todo-atrativa, que reside em Sua própria morada no mundo espiritual, retribuindo o amor eterno e ilimitado com Seus devotos.
O que Deus Faz no Seu Reino?
Tenho muito a lhe dizer.
A ideia abraâmica (Velho Testamento) de Deus é primariamente um juiz que recompensa o piedoso e penaliza o ímpio. Se isso é tudo o que Deus tem a fazer eternamente, mesmo pelos padrões terrenos, Sua vida é muito entediante. Mas as escrituras devocionais, como o Srimad-Bhagavatam, explicam que ser um juiz é apenas uma pequena parte da personalidade multifacetada, não onifacetada, de Deus. Krishna tem Sua própria vida de amor eterno com Seus devotos em Seu reino. Lá, Ele Se deleita, não em exibir Sua divindade, mas em retribuir o amor de Seus devotos.
Para facilitar a reciprocidade do amor puro, sem ser impedido pela reverência, Krishna, em Sua suprema morada de amor, desempenha o papel de uma criança travessa e leva outros devotos a desempenharem o papel de serem Seus pais, parentes e amigos. Ele também providencia que Seus devotos não estejam conscientes de que Ele é Deus; eles O veem apenas como o membro mais especial e doce de seu vilarejo. E Ele desempenha esse papel com perfeição. Por exemplo, com aqueles devotos que O amam em vatsalya-rasa (afeição dos pais), Ele Se torna uma criança desobediente e cativante que rouba manteiga de suas casas. As mulheres reclamam com a mãe de Krishna, Yashoda. Krishna engenhosamente finge inocência, e Yashoda é enganada até que a manteiga escorre dos lábios de Krishna e isso o incrimina.
Os céticos que perguntam por que Deus rouba perdem a essência de Seus passatempos: o amor. Além disso, sendo Deus, Krishna possui tudo, então não há dúvida de que Ele não está roubando nada. No entanto, Krishna “rouba” para ter trocas amorosas cheias de diversão com Seus devotos.
Confundir uma nota falsa como sendo genuína é lamentável, mas confundir uma nota genuína como falsa é ainda mais infeliz. De igual modo, enxergar os passatempos supramundanos de Krishna como sendo mundanos, ou, pior ainda, imorais, é confundir a nota genuína das trocas altruístas do amor divino com os tratos egoístas do amor mundano.
As escrituras védicas contêm descrições vívidas de muitos passatempos (atividades) de Krishna. Meditar nos passatempos de Deus faz despertar nosso amor por Ele de maneira fácil e alegre.
Devoção
Jesus enfatizou o mandamento de amar a Deus como o mandamento supremo, o qual aponta, inequivocamente, para o destino final da jornada espiritual. Como vamos desenvolver esse amor? E como sabemos que estamos realmente progredindo em direção a esse objetivo? A literatura bíblica fala sobre três níveis de amor: eros (amor conjugal), philia (amor fraterno) e ágape (amor divino), mas não há muita descrição sobre o amor divino. Certamente, os santos cristãos, como São Francisco de Assis, alcançaram níveis elevados de amor a Deus, mas não há muito caminho delineado na tradição bíblica para nos ajudar a seguir seus passos. As escrituras védicas são únicas no tocante a serem, entre as obras espirituais de todo o mundo, as fornecedoras das informações mais detalhadas sobre os pontos de referência nessa jornada interior.
Os nove principais marcos, descritos nos clássicos devocionais, como o Bhakti-rasamrita-sindhu e o Madhurya Kadambini, são:
  1. Sraddha (fé): A busca espiritual começa com a fé básica de que o reino espiritual existe e pode ser verificado através da experiência pessoal.
  2. Sadhu-sanga (associação com os devotos): O buscador espiritual se associa e aprende com os espiritualistas avançados, por suas palavras e exemplos, sua orientação e inspiração.
  3. Bhajana-kriya (adoção de práticas espirituais): O investigador sério, sob a orientação de um mestre espiritual, adota rigorosamente práticas devocionais, como a meditação mântrica, e se abstém de atividades imorais, como comer carne, jogar, intoxicar-se e fazer sexo ilícito.
  4. Anartha-nivrtti (remoção de impurezas): As poderosas práticas espirituais libertam gradualmente a pessoa de impulsos internos autodestrutivos, como luxúria, raiva, avareza, inveja, arrogância e ilusão, assim como o aquecimento do ouro provoca a separação das impurezas.
  5. Nistha (convicção): Essa mudança interna dramática gradualmente eleva sua fé inicial até esta se tornar uma convicção inabalável, que argumentos e contra-argumentos não podem mais perturbar.
  6. Ruci (gosto): Começa-se a saborear o canto e a lembrança de Deus devido ao gosto avassalador (prazer) que a recordação divina traz.
  7. Asakti (apego): O devoto agora se apega, viciado, à lembrança de Deus e a cantar Seus santos nomes e se absorve em Sua lembrança divina.
  8. Bhava (emoção divina): O devoto experimenta emoções divinas em relação ao Senhor, como alegria, tristeza, ansiedade e desapontamento, muito mais intensamente do que as emoções que um amante mundano experimenta por um amado.
  9. Prema (amor espiritual): Quando essas emoções amadurecem em amor a Deus em um nível puro, abnegado e desinteressado, então esse amor restaura nossa visão espiritual, pela qual podemos vê-lO, que é o amor personificado, a pessoa supremamente amorosa e amável, Deus Krishna.
Esses nove estágios são divididos em muitos outros estágios, ajudando os buscadores a entender precisamente onde estão situados e o que precisam fazer para seguir em frente. E as obras védicas também fornecem ao buscador veículos poderosos para a jornada interior, como yoga, meditação e, especialmente para nossa época atual, o cantar dos santos nomes de Deus. Equipado com este mapa claro e eficiente veículo, milhares de pessoas do Ocidente e do Oriente estão embarcando na jornada interior e desfrutando dela. Seu deleite divino é evidente e visível tanto em seu afastamento sustentável das imoralidades, como também por sua dança pública exuberante enquanto cantam os santos nomes de seu amado Senhor.
Palavras Finais
Um dicionário de bolso e um dicionário completo servem ambos para nos ajudar a aprender uma língua, mas o dicionário completo permite que nos aprofundemos em maiores. Da mesma forma, tanto os textos bíblicos quanto a literatura védica pretendem nos ajudar a desenvolver o conhecimento e o amor a Deus, mas a literatura védica nos ajuda a aprofundar imensamente. Quando nossos intelectos são convencidos filosoficamente sobre nossa situação existencial e sobre a grandeza insuperável de Deus e nossos corações são inundados da lembrança da doce relação de Deus com os devotos, torna-se muito mais fácil oferecer o amor de nosso coração e entregarmo-nos a Deus.
Evidentemente, Jesus tinha muito mais coisas a dizer, mas temia que seus seguidores não pudessem entendê-las ou mesmo suportá-las. Quando algumas dessas coisas sejam reveladas através da literatura védica, talvez alguns de seus seguidores na atualidade já possam suportá-las.
Tradução: Jimmy Mello. Revisão: Bhagavan Dasa.

Fonte: Volta ao Supremo
https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/ainda-tenho-muito-a-lhes-dizer/


Amigos de krishna
https://www.facebook.com/Amigos.de.Krishna/?fb_dtsg_ag=AdyUtsFoVR-M2QWnuW6qLlnQLqGxF9z0T7F_03YpIiqSUQ%3AAdx86tZliktBE4KnH5ldzes5B78vy8ThEfelv-ndSTNOiA



ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES

sábado, 2 de junho de 2018

Você está vivendo a vida errada?

VOCÊ ESTÁ VIVENDO A VIDA ERRADA?


Você tem a sensação que está tudo fora dos eixos? Que nada está indo do jeito certo? É possível que você esteja vivendo a vida errada. Veja aqui como isso acontece, e como consertar.


Veja aqui meu vídeo sobre este tema: https://youtu.be/dSzSjGbRcOc.

Quando fazemos escolhas baseadas nos critérios errados, distantes do nosso verdadeiro eu, de nosso dharma, vamos nos afastando de nossa vida. Isso vai gerando uma crescente sensação de desarmonia e frustração.

Você começa a sentir que tudo está dando errado. A mente fica agitada sempre, o sono fica ruim e a saúde precária. Pode surgir uma sensação de caos na vida ou um latente desespero por achar que não há saídas.

O erro se constrói lentamente. Você começa escolhendo a faculdade errada, baseada naquilo que vai lhe trazer mais dinheiro, ou talvez que seus pais queriam que fizesse, ou que sua turma valorize. O certo era ter escolhido com base em seu dharma vocacional, seu chamado para esta vida, sem se preocupar com dinheiro, status ou a opinião dos outros.

Aí com a formação errada, você escolhe um emprego errado. Ao invés de escolher um trabalho que tenha significado para você, que promova valores que são reais e importantes para você, você pega o que consegue, o que paga melhor, ou que é mais conveniente.

Com o emprego errado você acaba vivendo no lugar errado e tendo como amigos os colegas de trabalho que não tem tanto a ver com você.  Você sai com as pessoas erradas, fazendo atividades erradas que não vibram em seu coração.

E talvez você case com a pessoa errada, baseando-se em critérios superficiais como beleza, poder ou dinheiro, ou medo e insegurança.

Assim, é impossível ser feliz.

A solução é agora retomar o foco no que é real, no dharma, na alma, em que você realmente é. A solução é criar coragem e gradualmente ajustar sua vida, trazendo tudo mais perto de seu coração, de quem você realmente é.

Tire um tempo para se conhecer. Crie um espaço interno de contemplação e reflexão para ser amorosamente honesto consigo mesmo. Com gentileza, paciência e determinação, comece a desfazer os erros, e busque seus valores, seus propósitos, ou seja, seu dharma.

Tenha a coragem de ser você.

Dharma é um assunto central no livro “O Caminho 3T” (www.3T.org.br). Lá poderá entender as nuances de como se encontrar, como viver seus propósitos e, com isso, trazer foco e alegria para sua vida.

Fonte: Giridhari Das

Palavras para Deus

Palavras para Deus

Radhanatha Swami
Orações podem ser muito autocentradas, sendo simplesmente uma série de pedidos a Deus para que realize nossos desejos. Contudo, a oração pode ser diferente disso: um caminho para nos libertarmos do egoísmo.



Uma vez, um estudante me perguntou se escrever cartas a Deus nos ajuda. Eu lhe respondi “naturalmente que sim”. Então, ele me perguntou: “Você também escreve cartas a Deus e ao seu guru?” E, honestamente, lhe confessei: “Não sou um grande escritor, mas gosto muito de orar, sim.” Quando se trata de escrever uma carta a Deus ou de rezar, uma oração sincera e de coração sempre nos ajuda a nos conectar com Deus de forma íntima.
Quando eu era menino, rezava frequentemente em minha cama até que adormecesse. Na oração, encontrava uma espécie de refúgio, pois sentia que alguém estava me escutando. Até hoje sigo rezando. Aprendi desde criança que a oração é a ferramenta mais poderosa para poder tocar a Deus com nossos pensamentos e para sentir Sua presença em nossa vida.

A oração faz milagres em nossa existência. Quando a vida nos dá frequentemente surpresas desagradáveis, a oração nos permite ter acesso à misericórdia infinita do Senhor.  Algumas situações são tremendamente dolorosas, e nossa inteligência não é capaz de perceber por que essa nova realidade é uma benção do Senhor.

Nesses momentos, podemos rezar a Deus dizendo humildemente: “Ó Senhor, me dê, por favor, a força para ver essa situação com a Sua misericórdia, mesmo que com minha inteligência limitada eu não saiba apreciar.” Desta maneira, podemos aproveitar a graça inconcebível de Deus, desenvolvendo uma atitude de gratidão em relação a todas as situações que o Senhor coloque em nossas vidas.

Os momentos de oração são nossos encontros e compromissos exclusivos com Deus. Em outra ocasião, alguém me perguntou: “Se Deus sabe tudo que existe em nosso coração, por que precisamos rezar?” Eu estou certo de que Deus nos conhece a fundo. No entanto, Ele aprecia profundamente nossas orações. Deus Se sente feliz e contente quando nos entregamos a Ele, e nos lembramos dEle.

Mesmo que nossas preces não tenham a pureza das orações das grandes almas, Deus sente prazer em ouvi-las, assim como um pai se alegra ouvindo os balbucios de seu filho quando começa a falar. Sem dúvidas, o Senhor Se satisfaz ao ver como vamos dando passos de criança em nossas preces, mesmo que sejam incoerentes e, por vezes, estejamos até mesmo distraídos.

Muitas vezes, não conseguimos tirar todo o potencial de nossas orações porque, em nossos corações, temos ainda desejos materiais e esperamos que Deus esteja de acordo com essas aspirações mundanas. Em todo caso, já estamos dando um grande passo ao nos voltar-se para Deus, ainda que nossa relação com Ele não esteja baseada em um amor desinteressado. Devemos atentar que uma oração sincera não garante uma solução para nossos problemas; garante, porém, que nos lembraremos mais do Senhor e, por isso, nos aproximaremos mais dEle. E isso enche nosso coração de valiosas emoções espirituais e nos ajuda a transcender nossos insignificantes desejos egoístas.


Uma boa forma de superar o egoísmo é oferecer orações para os outros. As preces sinceras para o bem-estar dos outros preenche nosso coração e, ao mesmo tempo, o satisfaz com a presença amorosa do Senhor, e nos trazem satisfação profunda e duradoura; além disso, nos concedem força espiritual para servirmos aos demais com grande alegria.

Fonte:  De Volta para o Supremo

terça-feira, 27 de março de 2018

Superando a Inveja

Superando a Inveja


Vraja Bihari Dasa


Identificando e superando a causa raiz de nossa existência material.


“Inveja do vizinho, orgulho do proprietário”. Crescendo em uma era quando a televisão era um novo fenômeno, esse slogan publicitário tomou a imaginação do público. Possuir aquela marca em particular de televisão era considerado algo absolutamente glorioso uma vez que aqueles que não tivessem a mesma sentiriam inveja de você. Para devotos em amadurecimento, entretanto, a inveja não é motivo de alegria. É, antes, um fardo terrível que ameaça destruir a delicada trepadeira de bhakti crescendo em nossos corações.

Como a Inveja nos Ataca?

Inveja é desejar possuir o objeto ou a posição desfrutada por outrem. Um estudante que fica na primeira posição em sua turma é invejado pelos colegas que ficam logo atrás dele. Sua promoção no escritório é invejada por outros colegas que foram preteridos para o cobiçado posto e aumento salarial. Em círculos sociais, as pessoas são frequentemente flagradas troçando e depreciando outros, especialmente aqueles ausentes na festa. Sentir prazer encontrando defeitos é um sintoma de nossa natureza invejosa. Esse puxar alguém superior a nós para o nosso nível é algo familiar à mentalidade do siri. Exportadores do animal economizam muito dinheiro não fornecendo tampões para os contêineres. Não há medo de que os siris escapem, haja vista que, quando um tenta subir para fugir, os outros o puxam para baixo. Essa tendência também não é incomum nas sociedades humanas.

Devotos ouvem casos históricos de personalidades sofrendo devido à sua natureza invejosa. Gopala Capala, movido por sua inveja da popularidade de Srivasa Thakura, tentou aviltá-lo dispondo substâncias detestáveis, próprias para adorações tântricas, do lado de fora de sua casa e atribuindo a presença das mesmas ali à natureza dúbia de Srivasa. Embora Srivasa, humilde, não houvesse ligado para a ofensa, o Senhor não perdoou Gopal Capala. Gopal contraiu lepra, e o Senhor Caitanya Mahaprabhu declarou que ele teria de sofrer essas reações por milhões de vidas.

Quando ouvimos tais casos extremos de manifestação de inveja e consequentes reações, podemos falsamente nos consolar: “Bem, se isso é inveja, certamente não sou invejoso, porque eu jamais faria isso”. Para devotos praticantes, entretanto, a inveja se manifesta mais sutilmente. Podemos sentir o cheiro da inveja dentro de nossos corações quando não sentimos felicidade pelo progresso de outros na consciência de Krishna, por exemplo. Quando outros vaishnavas são glorificados, como nos sentimos? Embora não esteja fazendo nenhum plano para prejudicar outros, talvez o indivíduo deseje que outro devoto se depare com algum fracasso ou dificuldade a fim de que a posição desse invejoso como alguém melhor, supostamente, se revele ao mundo. Quando outros prosperam, material ou espiritualmente, um devoto neófito se sente inseguro e ameaçado diante de suas conquistas.

A Causa da Inveja

Nossa inveja de outros tem por raiz nossa inveja de Krsna. Uma vez que todas as boas qualidades vêm de Krishna, quando vemos um devoto bem-sucedido em todo aspecto da vida espiritual, estamos, na verdade, vendo a misericórdia de Krsna derramada sobre ele. Assim, sentir inveja de outrem significa que estamos, na verdade, invejando Krsna, e essa é a causa essencial de nossa existência material condicionada. Desejando ser o desfrutador e o controlador, a alma peleja no mundo material. Após fracassarmos repetidamente em semelhante empenho; uma vez que tenhamos despertado para a nossa consciência original e ajamos como servos do Senhor, tornar-nos-emos aptos a voltar ao mundo espiritual. Em contrapartida, nutrindo inveja e ódio, simplesmente prolongamos nossos sofrimentos aqui. Não é surpreendente, portanto, encontrar Srila Prabhupada repetir em quase toda palestra, conversa e em seus volumosos escritos sobre a necessidade indiscutível de nos livrarmos da tendência profundamente arraigada de tentarmos ser o desfrutador.

Mais Mortal do que a Luxúria

Frequentemente ouvimos dizer que a luxúria é um inimigo mortal para um devoto aspirante. É comum vermos um devoto que cai em razão da luxúria lamentar e aceitar sua fraqueza. Contudo, uma vítima da inveja, muito frequentemente, não é ciente de que é invejosa. A pessoa garante a si e aos outros que ela não é invejosa, senão que, muito diferentemente, está apenas “ajudando” através da exposição dos defeitos óbvios dos outros.

Sisupala tinha inveja de Krsna e também estava convicto de que sua blasfêmia contra Krsna na assembleia Rajasuya era justificada, e surpreendeu-se ao ver que outros não compartilhassem de sua compreensão. Assim, a inveja cega uma pessoa para os seus próprios defeitos. Quando pensamentos luxuriosos jorram no coração, o devoto pode se sentir humildado e caído. Contudo, um jato de sentimentos invejosos simplesmente amplia nosso orgulho e constrói uma estimativa alta, porém errônea, acerca de nós mesmos. A inveja também implica falta de fé em Krsna. No ambiente competitivo moderno, se alguém consegue uma cobiçada vaga de emprego ou universitária, é natural que outros sintam inveja. Contudo, na consciência de Krishna, não há razão para a inveja porque Krsna é ilimitado, e se alguém recebe muitíssima misericórdia, isso em nada inibe nosso avanço pessoal e nosso acesso à benevolência de Krsna. O estoque de misericórdia de Krsna não reduz, e o sucesso alheio é causa de celebração, dado que revela as mais maravilhosas opulências de Krsna, manifestas através de Seus devotos.

Que Esperança Nós Temos?

O conhecimento mais confidencial dentro do Bhagavad-gita está contido no capítulo nove, e o Senhor Krsna cita a qualificação exigida para a compreensão do mesmo no primeiro verso do capítulo referido. “Meu querido Arjuna, porque nunca me invejas, compartilharei com tua pessoa esta sabedoria e realização mais confidenciais, conhecendo o que te livrarás das misérias da existência material”.

Enquanto é possível utilizar a ira ou a avidez no serviço a Krsna, a inveja é o único sentimento que não encontra lugar entre todos. Krsna assegura que, se seguirmos o processo sem inveja, livrar-nos-emos do condicionamento das ações fruitivas. Contudo, se agirmos por inveja, seremos “enganados”, “privados de todo conhecimento” e “arruinados em nossos esforços pela perfeição”. (Bhagavad-gita 3.32). Nutrir inveja garante que não saborearemos o néctar de bhakti, o serviço devocional amoroso a Deus, embora possamos cumprir com todas as exigências externas do processo. É como lamber a parte de fora da garrafa de mel.

Passos para Superar a Inveja

O primeiro e mais importante passo para superarmos a inveja é reconhecermos a existência desse inimigo dentro de nós. Exige coragem e humildade aceitar a própria condição caída e fazer um sincero esforço para erguer-se desse nível. Srila Prabhupada escreve sobre a necessidade de fazermos do reino de Deus a meta de nossa vida, e fazê-lo ajuda-nos a abandonar a inveja, visto que isso certamente é um obstáculo nesse caminho. Isso também ajuda o devoto a meditar em como sua vida devocional repousa sobre um sistema de “ajuda de vida” de misericórdia imotivada. Quanto mais nos lembramos acerca de como somos dependentes da misericórdia dos devotos e de Krsna, menos cultivaremos inveja em nossos corações. Isso se deve ao fato de que nosso próprio estado frágil se revelará a nós, e os perigos de cultivar esse anartha da inveja serão óbvios. O hábito de orar também é certamente benéfico. Chamar pela ajuda de Krsna para que nos salve dessa mentalidade doentia é algo purificador, e se orarmos também pelo sucesso da pessoa que invejamos, nosso coração se tornará mais macio.


Estamos nos decompondo no mundo material por causa do esquecimento de nossa relação com Krsna. Por conseguinte, temos que orar fervorosamente pela lembrança de nossa posição constitucional como servos e, então, agirmos nessa plataforma. Constantemente se lembrando de sua condição precária neste mundo material e prestando serviço amoroso a outros vaisnavas, o devoto dará a Krsna o que Lhe é mais prazeroso, e Krsna, satisfeito com o serviço do devoto, certamente lhe conferirá a dádiva do amor e da ausência de inveja.

Fonte: De volta para o Supremo 


       Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues