sexta-feira, 13 de maio de 2016

Morte e Renascimento no Hinduísmo - Krishnas

Morte e Renascimento no Hinduísmo


Loka-sakshi Dasa






A alma imortal, seus corpos, o fenômeno da morte, os destinos da alma, os sacramentos e cerimoniais aos mortos.

asato ma sad gamaya
tamaso ma jyotir gamaya
mrityor ma ‘mritam gamaya

“Do irreal, conduz-me ao real. Das trevas, conduz-me à luz. Da morte, conduz-me à imortalidade”. (Brihadaranyaka Upanishad 1.3.28)

Esta prece dos Vedas proclama o desejo humano de viver plenamente o real, de ter a consciência iluminada e de sobreviver eternamente, conquistando a morte. Certa ocasião, Yudhisthira Maharaja, um grande rei sábio, foi questionado por Yama, a personificação da morte, com a seguinte pergunta: “O que há de mais maravi­lhoso neste mundo?” Yudhisthira respondeu pronta­mente:

ahany ahani bhutani gacchantiha yamalayam
esha sthavaram icchanti kim acaryam atah para

“Todos os dias, centenas e milhões de entidades vivas entram no reino da morte. Mesmo assim, as que ficam as­piram por uma situação permanente. O que poderia ser mais maravilhoso do que isso?” (Mahabharata, Vana-parva 313.116)

Na milenar tradição védica, esse inconformismo com a morte sempre foi visto como uma indicação da eternidade da alma. Em nosso inconsciente, não podemos aceitar a morte, pois intuímos o fato da nossa imortalidade. Nin­guém aceita facilmente a realidade da morte, porque o que morre de fato é o corpo temporário e não a alma eterna.

Eventualmente, porém, todos temos de confrontar a morte. Para os seguidores da tradição védica, isso não é algo para ser temido. Sabemos que já nascemos e morremos várias vezes. O karma e a transmigração da alma fazem o inevitável parecer algo natural, pois morrer é como adormecer, e nascer é como despertar do sono – algo muito simples.

As escrituras védicas declaram que a alma é imortal: ajo nityah shashvato’ yam, “a alma é não-nascida, eterna e sempre existente”. (Bhagavad-gita 2.20) Ainda assim, sofremos, pois esse é o preço do apego ao corpo material e a tudo o que é impermanente. Com conhecimento, deve-se questionar, discriminar e encontrar a compreensão que torne a morte aceitável. Assim, a morte consciente, como uma elevada e poderosa experiência pessoal, pode dar sentido à vida e levar ao autoconhecimento.

O Ser Eterno e a Morte do Corpo

Segundo A.C. Bhaktivedanda Swami Prabhupada, compreender nossa identidade como algo à parte do corpo é o primeiro passo na autorrealização. Compreender que “eu não sou este corpo, mas, sim, uma alma espiritual” é um entendimento essencial para qualquer pessoa que deseja transcender a morte e entrar no mundo espiritual, que está mais além.





Compreender nossa identidade como algo à parte do corpo é o primeiro passo na autorrealização.

Essa é a preocupação de praticamente todos os místicos, seja no Ocidente, seja no Oriente. Por exemplo, Sri Ramana Maharshi, quando ainda adolescente, foi tomado pelo pensamento de sua morte iminente – o medo existencial do não-ser. Em vez de ser dominado pelo medo da morte, ele aceitou a possibilidade da morte e começou a indagar sobre o mistério da vida, utilizando o método muito simples chamado atma-vicharana, autoindagação ou indagação pelo atma (o Si-mesmo), que consistia em fazer para si mesmo uma única e constante pergunta: ko’ ham, ”quem sou eu?”.

Contudo, embora se possa compreender teoricamente que não somos estes corpos, mas o si-mesmo, que é consciente do corpo, ainda assim todos se identificam com a vestimenta corpórea. A tradição védica busca, portanto, na experiência prática, estruturar a vida da pessoa, por meio de vários caminhos (margas), para que ela possa experienciar a sua posição constitucional como alma espiritual (atma).

No Oriente, entretanto, há outras opiniões sobre a natureza da alma. No budismo, por exemplo, não existe a crença em uma entidade permanente, em uma alma, ou atma, que seria o sujeito da morte e do renascimento. Isso tem sido tema de debates intensos, pois o budismo sustenta a doutrina do anatta ou anatmavada, a “não-alma”.




No budismo, diferente da cultura védica, não existe a crença em uma entidade permanente.

Diferentemente dos seguidores da cultura védica, que acreditam no “ser”, na “condição de isto” (tat-tva), os budistas acreditam no “tornar-se”, na “condição de assim” (tatha-ta). Dessa forma, no budismo, não há ator além da ação, nem perceptor além da percepção. Em outras palavras, não há um sujeito consciente por detrás da consciência. Isso, em resumo, leva ao conceito de ação (karma) sem ator (karta). Então, em última instância, não pode haver transmigração ou renascimento da alma, mas apenas um processo de transformação perpétua dos agregados (skandhas), compostos da forma, percepção, consciência, ação e conhecimento, que manifestam os sintomas do que conhecemos por vida.

No conhecimento védico, em contraste, a vida não é vista como mero sintoma de condições que a torna possível, mas, sim, como decorrente da presença da própria alma espiritual. Para os seguidores da sabedoria védica, acreditar no karma sem aceitar os conceitos da alma individual (jivatma) e seu renascimento (punar-janma) é algo desconcertante.

Sri Krishna estabelece na Bhagavad-gita, inequivocamente, a imortalidade da alma quando declara, para Seu amigo e discípulo Arjuna, como segue:

na tu evaham jatu nasam na tvam neme janadhipah
na caiva na bhavishyamah sarve vayam atah param

“Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem todos estes reis, e, no futuro, nenhum de nós deixará de existir”. (Bhagavad-gita 2.12)

avinashi tu tad viddhi yena sarvam idam tatam
vinasham avyayasyasya na ka cit kartum arhati

“Deves saber que aquilo que penetra o corpo inteiro é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a alma imperecível”. (Bhagavad-gita 2.17)

Não é possível entender os conceitos da morte e do renascimento no hinduísmo sem saber a diferença entre a alma permanente (atma) e o corpo material temporário. A Bhagavad-gita explica a natureza da alma com a seguinte ana­logia:

yatha praka ayaty ekah kritsnam lokam imam ravih
kshetram kshetri tatha kritsnam prakashayati bharata

“Assim como o Sol ilumina sozinho todo este mundo, a entidade viva, sozinha dentro do corpo, ilumina o corpo inteiro através da consciência”. (Bhagavad-gita 13.34)





Sri Krishna estabelece na Bhagavad-gita, inequivocamente, a imortalidade da alma.

A consciência evidencia concretamente a presença da alma dentro do corpo. Em um dia nublado, o Sol pode não estar visível, mas sabemos que ele está presente no céu, através da presença da luz solar. Analoga­mente, pode­mos não ser capazes de perceber diretamente a alma, mas podemos concluir que ela existe pela presença da consciência. Na ausência da consciência, o corpo é simplesmente um monte de matéria morta. Somen­te a pre­sença da consciência faz com que esse monte de matéria morta possa respirar, falar, amar e temer.

Es­senci­almente, o corpo é um veículo para a alma, por meio do qual ela pode satisfazer seus desejos. A alma dentro do corpo está “sentada em uma máquina feita de energia material [yantrarudhani mayaya]”. (Bhagavad-gita 18.61) Ela se identi­fica falsamente com o corpo, transportando suas diferentes con­cepções da vida, de um corpo para outro, assim como o ar transporta os aromas. Do mesmo modo que um automóvel não pode funcionar sem um motorista, o corpo material não pode funcionar sem a presença da alma.

Bhagavad-gita explica claramente a diferença entre o que é real e o que é irreal, nasato vidyate bhavona bhavo vidyate satah: ”Não há continuidade para o inexistente, nem cessação para o exis­ten­te”. (Bhagavad-gita 2.16)

O corpo material vem a existir em certo momento, cresce, amadurece, gera subprodutos (filhos) e gra­dualmente degenera e morre. O corpo físico, neste sentido, é irreal, pois ele desaparecerá no devido tempo. No entanto, apesar de todas as mudanças do corpo material, a consciência, o sintoma da alma que está dentro, perma­nece imutável. Conclui-se, portanto, que a consciência possui a qualidade inata de permanência, que lhe permite sobreviver às mudanças e à destruição do corpo. Sri Krishna afirma, na jayate mriyate va kadacin na hanyate hanyamane sharire: ”Para a alma, nunca há nascimento nem morte. Ela não é ani­quilada quando o corpo é aniquila­do”. (Bhagavad-gita 2.20)

Entretanto, se a alma “não é aniquilada quando o corpo é aniquilado”, o que acontece com ela? Segundo a Bhagavad-gita, ela entra em outro corpo:

dehino‘ smin yatha dehe kaumaram yauvanam jara
tatha dehantara-praptir dhiras tatra na muhyati

“Assim como, neste corpo, a alma corporificada seguidamente passa da infância à juventude e à ve­lhice; chegando a morte, a alma passa para outro corpo. Uma pessoa ponderada não fica con­fusa com essa mudança”. (Bhagavad-gita 2.13)

vasamsi jirnani yatha vihaya navani grihnati naro‘ parani
tatha sharirani vihaya jirnany anyani samyati navanidehi

“Da mesma forma que alguém veste roupas novas, abandonando as antigas, a alma aceita novos corpos materi­ais, aban­donando os velhos e inúteis”. (Bhagavad-gita 2.22)





Diferentes corpos são como diferentes vestes para a alma.

Dessa forma, a alma permanece enredada no samsara, o ciclo interminável de nascimentos e mortes, pois jatasya hi dhruvo mrityurdhruvam janma-mritasya ca: ”Para aquele que nasceu, a morte é certa, e, para aquele que morreu, o nascimento é certo”. (Bhagavad-gita 2.27)

As entidades vivas nascem perpetuamente em várias espécies de vida, de acordo com a natureza de seus desejos, pois, segundo a Bhagavad-gita:

yam yam vapi smaram bhavam tyajaty ante kalevaram
tam tam evaiti kaunteya sada tad-bhava-bhavitah

“Qualquer que seja o estado de existência de que alguém se lembre ao deixar o corpo, esse mesmo estado ele alcançará impreterivelmente”. (Bhagavad-gita 8.6)

Tudo o que pensamos e fazemos durante nossa vida deixa uma impressão (vrittis) na mente, e a soma total de todas essas impressões (samskaras) influencia nossos pensamentos finais na hora da morte.





A soma das impressões em nossa mente na hora da morte determina nosso próximo nascimento.

Essas influências são causadas pelos gunas, ”cordas”, ou “modos da natureza material”. Eles são as três qualidades básicas constitutivas da natureza material, assim como a luz branca constitui-se de três cores básicas. Os gunas são: rajas, caracterizado por paixão, atividade ou expansão; tamas, que se caracteriza por ignorância, inação ou escuridão; e sattva, identificado por bondade, harmonia ou luz. Sattva conduz para cima, rajas mantém no meio, tamas leva para baixo.

Bhagavad-gita esclarece que essas qualidades da natureza material funcionam sob o controle divino e prendem as almas neste mundo, daivi hy esha guna-mayi mama maya duratyaya: “Esta energia divina, que consiste nos três modos da natureza (gunas), é difícil de ser superada”. (Bhagavad-gita 7.14) Sua influência sobre as almas encarnadas é total:

sattvam rajas tama iti gunah prakriti-sambhavah
nibadhnanti maha-baho dehe dehinam avyayam

“A natureza material consiste de três modos – bondade (sattva), paixão (rajas) e ignorância (tamas). Ao entrar em contato com a natureza, ó Arjuna de braços poderosos, a entidade viva eterna condiciona-se a esses modos”. (Bhagavad-gita 14.5)

Consequentemente, de acordo com a qualidade de nossos pensamentos na hora da morte, recebemos da natureza material um corpo adequado. A Bhagavad-gita explica como a influência dos gunas na consciência, e o apego a eles, determinam a natureza do nascimento da pessoa:

yada sattve pravriddhe tu pralayam yati deha-bhrit
tadottama-vidam lokan amalan pratipadyate

“Quando alguém morre no modo da bondade (sattva), atinge os mundos superiores e puros, onde residem os grandes sábios”. (Bhagavad-gita 14.14)

rajasi pralayam gatva karma-saṅgishu jayate
tatha pralinas tamasi mudha-yonishu jayate

“Quando alguém morre no modo da paixão (rajas), nasce entre os que se ocupam em atividades fruitivas. E quando morre no modo da ignorância (tamas), nasce no reino animal”. (Bhagavad-gita 14.15)

purushah prakriti-stho hi bhunkte prakriti-jan gunan
karanam guna-sango’ sya sad-asad-yoni-janmasu

“Dessa forma, a entidade viva dentro da natureza material segue os caminhos da vida, desfrutando os três modos da natureza. Isso decorre de sua associação com essa natureza material. Assim, ela se encontra com o bem e o mal, entre as várias espécies de vida”. (Bhagavad-gita 13.22)

O tipo de corpo que alguém possui agora é a expressão tanto da influência causada pelos gunas na consciência, quanto do mérito acumulado das ações (karma) em vidas passadas. Esse karma é definido como, bhuta-bhavodbhava-karo visargah karma-samjñitah: “Karma é a ação que desencadeia o desenvolvimento dos corpos materiais das entidades vivas”. (Bhagavad-gita 8.4)

Assim, a Bhagavad-gita explica que:

shrotram cakshuh sparshanam ca rasanam ghranameva ca
adhishthaya mana cayam vishayan upasavate

“A entidade viva, aceitando esse outro corpo grosseiro, obtém um certo tipo de ouvido, olho, língua, nariz e sentido do tato, que se agrupam ao redor da mente. Ela, então, desfruta de um conjunto específico de objetos dos sentidos”. (Bhagavad-gita 15.9)

Portanto, segundo o hinduísmo tradicional, o caminho da reencarnação nem sempre leva para o alto; o ser hu­mano não tem garantia de um nascimento humano em sua próxima vida. Por exemplo, se alguém morre com mentali­dade de um cachorro, então, em sua próxima vida, receberá os olhos, ouvidos, nariz etc. de um cachor­ro, para que ele desfrute de prazeres caninos. Krishna confirma tal destino dizendo, tatha pralinas tamasi mudha-yonishu jayate: “Quando morre no modo da ignorância, nasce em corpo irracional, como de um animal”. (Bhagavad-gita 14.15)






Se uma alma desperdiça sua vida humana, pode vir em nascimentos animais posteriormente.

Na Bhagavad-gita, encontramos que os seres humanos que não indagam sobre sua natureza metafísica, supe­rior, são compelidos pela lei do karma a continuar o ciclo de nascimentos, mortes e renascimentos, apare­cendo ora como humanos, ora como animais ou plantas. Nossa existência no mundo material deve-se às múltiplas reações cármicas desta vida e das anteriores, e o corpo humano fornece o instrumento através do qual a alma pode escapar. Por utilizar apropriadamente a forma humana de vida, procuram-se resolver todos os problemas da vida (nascimento, velhice e morte) e quebrar o ciclo interminável de reencarnações. Essa seria a missão da vida humana, athato brahma-jijñasa: ”Questionar sobre a Verdade Absoluta”. (Vedanta-sutra 1.1.1) 

Se, entretanto, uma alma, tendo se desenvolvido até a plataforma humana, desperdiça sua vida ocupando-se unicamente em atividades para o pra­zer dos sentidos, ela pode facilmente criar karma suficiente nesta vida atual para manter-se enredada no ciclo de nascimentos e mortes, por muitas vidas. E há o perigo de talvez nem todas elas serem humanas.

Os Corpos ou Coberturas da Alma

Na tradição védica, identificam-se os corpos materiais da alma com os koshas, termo em sânscrito que significa “invólucro, cobertura, bainha, vaso ou recipiente”. O conceito dos “cinco invólucros” (pañca-kosha) constitui um paradigma quântico que vê a alma condicionada e acondicionada em um organismo psicofísico multidimensional. Isso pode ser encontrado nos textos das Upanishads (Taittiriya Upanishad 2.2-5, 3.10.5; Sarvarara Upanishad 2; Tejobindu Upanishad 4.75)

Esses invólucros (kosha) são roupagens que revestem a alma quando ela está condicionada neste mundo material. A Bhagavad-gita explica que a identidade da alma é ser eternamente parte integrante fragmentária da Divindade:

mamaivamsho jiva-loke jiva-bhutah sanatanah
manah-shashthanindriyani prakriti-sthani karshati

“As almas condicionadas neste mundo são Minhas eternas partes fragmentárias. Por força da vida condicionada, elas empreendem árdua luta com os seis sentidos, entre os quais se inclui a mente”. (Bhagavad-gita 15.7)

Assim como o corpo físico permite que ela viva na dimensão física, os invólucros ou corpos sutis permitem que ela possa viver simultaneamente em vá­rios planos de existência, como nos sonhos, transes, desdobramentos e regressões psíquicas, e, depois da morte, viver nas dimensões ou mundos sutis.





Além do corpo grosseiro, a alma tem um corpo sutil enquanto está neste mundo.


Os koshas, em ordem de maior sutileza, são: (1) anna-maya kosha, ”invólucro feito de ali­mento”, que é o corpo físico, também chamado de sthula-sharira ”corpo denso”; (2) prana-maya kosha, “invólucro feito de prana, energia vital”, que é o corpo vital, o qual é etéreo e co-existe com o corpo físico, como sua fonte de energia e vitalidade, e faz a conexão com os invólucros mais sutis e aloja os sentidos; (3) mano-maya kosha, ”invólucro feito de mente”, que é o corpo emocional ou o sentido interno, onde se processam as emoções, sentimentos, pensamentos e desejos; (4) vijñana-maya kosha, “invólucro feito de sabedoria”, que é o corpo intelectual, onde reside a memória, a discriminação, a criatividade, a compreensão e a intuição; e (5) ananda-maya kosha, “invólucro feito de bem-aventurança”, que é o corpo causal, onde pode ser realizada a identidade e individualidade da alma, o local da consciência pura ou transpessoal.

O termo “corpo sutil” geralmente indica os invólucros que constituem o corpo sutil, não-físico, da alma, chamado em sânscrito de sukshma-sharira, e inclui os seguintes invólucros: prana-maya kosha, mano-maya kosha e o vijñana-maya kosha. Ele permite que a alma atue na dimensão astral, ou plano astral.

Na hora da morte, envolvida pelos invólucros (koshas) energético (prana-maya), emocional (mano-maya), intelectual (vijñana-maya) e causal (ananda-maya) do corpo sutil, a alma deixa o seu invólucro físico (anna-maya).

O Fenômeno da Morte

Na tradição védica, descreve-se a morte como maha-prasthana, “a grande partida”. É uma experiência muito intensa e determinada pela qualidade da vida da pessoa. Há quem tenha visões, que variam da experiência de encontrar-se com seres assustadores – descritos como yamadutas, “mensageiros da morte”, que arrancam à força a alma apegada ao corpo –, à experiência de ser conduzido harmoniosamente por um túnel de luz, em cujo fim há seres divinos. Sujeitos que tiveram experiências de quase-morte nos dão testemunho desses encontros transformadores.




Experiências de quase morte evidenciam as descrições das escrituras.

Uma senhora que “morreu” durante um trabalho de parto, mas foi revivida imediatamente por proce­dimentos médicos, descreveu: “Era muita energia – uma luz incrível. Eu praticamente flutuava nela. Minha consciência foi tomada por sentimentos de amor incondicional, de segurança completa, de perfeição total. Então, sentia que era imortal, que era quase in­destrutível. Não podia mais ser ferida, nem me perder. O mundo me parecia perfeito”.

Centenas de pessoas falam de experiências similares, confirmando o que as tra­dições do Oriente sempre descreveram – que a morte pode ser uma transição bem-aventurada, iluminada, de um estado para outro, tão simples e natural como a troca de roupas. Algo completamente diferente das alternativas mórbidas e infernais que geram tanto medo e insegurança nas pessoas.

A morte é uma série de mudanças pelas quais todos passam, e a separação da alma do seu corpo físico torna-se o ponto inicial da jornada para uma vida nova. A morte não é o fim da personalidade e da autoconsciência; ela meramente abre a porta para outra forma de vida. A morte, quando experimentada de forma consciente, pode tornar-se o portal para a plenitude da vida.

Nascimento e morte são meros ardis de maya, o aspecto ilusório da energia material. Na realidade, vida é morte, e morte é vida. Quem nasceu já começou a morrer, e quem morreu já começou a viver. Isso é o que afirmam as escrituras védicas, jatasya hi dhruvo mrityur dhruvam janma mritasya ca: “Certa é a morte do que nasce, e certo é o nascimento do que morre”. (Bhagavad-gita 2.27)

Quando, por algum motivo, a alma (jivatma ou jiva) tem de abandonar definitivamente o corpo físico (anna-maya-kosha), os canais (nadis) onde circulam os ares vitais (pranas) perdem o vigor e ficam incapacitados de expandir-se e contrair-se para exalar e inalar o ar. Assim, o corpo perde sua harmonia e fica agitado. Então, o ar inalado não sai adequadamente, nem o ar exalado entra novamente no corpo. Assim, a respiração cessa. E, com a parada da respiração, surge a inconsciência, e considera-se, então, que ocorreu a morte.

Nesse momento, todos os desejos e ideias se retraem, pois o jiva carrega dentro de seu corpo sutil (sukshma-sharira) todos os seus vasanas, que são os desejos ou impressões mentais do passado. Com a morte do corpo físico, os pranas, que carregam as coberturas mais sutis – e, dentro delas, a própria alma – saem do corpo e vagam pelo ar.

Considera-se que a atmosfera está saturada de uma enormidade de pranas que levam dentro de si os jivas, que, por outro lado, comportam potencialmente dentro delas todas as suas experiências de vida. Naquele momento, o si-mesmo, ou alma individual, com todos os vasanas dentro de si, passa a ser denominada de preta, “quem foi para o outro mundo”.

Nas Upanishads e na Bhagavad-gita, encontramos mais detalhes de como a alma muda de corpos:

tam utkramantam prano’nutkramati pranamanutkramantam sarve prana anutkramanti, sa-vijñano bhavati sa-vijñanamevanvavakramati, tam vidya-karmani samanvarabhete purva-prajña ca

“Quando a alma parte do corpo, o ar vital a segue; e quando o ar vital parte, é acompanhado de todos os sentidos. Então, a alma adquire um tipo específico de consci­ência e passa ao corpo adequado a essa consciência. Ela é seguida pelo conhecimento, karma e impressões latentes passadas”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.2)

tad yatha trina-jalayuka trinasyantam gatva anyam akramamakramya atmanam upasamharati, evam evayam atma idam shariram nihatya avidyam gamayitva anyam akramam akramya atmanam upasamharati

“Assim como uma lagarta na grama, chegando ao fim da folha, retrai-se e busca outro suporte; este atma, deixando o corpo atual, que fica inconsciente, retrai-se e aceita um novo corpo”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.3)

vasamsi jirnani yatha vihaya navani grihnati naro ’parani
tatha sharirani vihaya jirnany anyani samyati navanidehi

“Assim como alguém veste roupas novas, abandonando as antigas, a alma aceita novos corpos materiais, abandonando os velhos e inúteis”. (Bhagavad-gita 2.22)

tad yatha peshas-kari peshaso matram upadayanyannavataram kalyanataram rupam tanutei, evam evayam atma idam shariramnihatya avidyam gamayitva anyam navataram rupam kurute pitryam va gandharvam vadaivam va prajapatyam va brahmam va anyesham va bhutanam

“Assim como um artesão, pegando um pouco de ouro, molda outra forma – mais nova e melhor –, este atma, deixando o corpo atual, que fica inconsciente, cria outra forma – mais nova e melhor –, como a dos manes (pitris), cantores celestiais (gandharvas), deuses (devas), prajapatis e Brahma”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.4)

yatha-kari yatha-cari tatha bhavati, sadhu-kari sadhur bhavati, papa-kari papo bhavati, apunyah punyena karmana bhavati papah papena

“Como faz e age, assim a pessoa se torna. Fazendo o bem, ela se torna boa, e fazendo o mal, ela se torna má; torna-se virtuosa por ações virtuosas e torna-se viciosa por ações viciosas”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.5)

Os Destinos da Alma

Depois da morte, segundo a natureza de sua consciência e o mérito cármico de suas atividades passadas, a pessoa toma rumos diversos. A Bhagavad-gita descreve dois caminhos principais: devayana e pitriyana. O primeiro deles, chamado de devayana, é o caminho dos deuses, que é trilhado por almas espiritualmente avançadas. Essas levaram uma vida extremamente pura, devotando-se integralmente à meditação no Absoluto (brahman), mas, apesar de possuírem conhecimento espiritual, não conseguiram obter autorrealização plena (jiva-mukti) antes da morte. Elas, então, são conduzidas para Brahmaloka, o sistema planetário mais elevado do universo material, e, de lá, no devido tempo, obtêm a libertação. Esse caminho é o caminho que não tem volta e é descrito na Chandogya Upanishad:

tad ya ittham viduh ye ceme ’ranye sraddha tapaity upasate te ’rcisham abhisambhavanty arcisho ’harahna aparyamanapakshamapuryamanapakshad yan shad udann eti masams tan

“Então, aqueles que estão em conhecimento e aqueles que, vivendo na floresta, seguem uma vida de fé e austeridades vão para a luz, da luz para o dia, do dia para a quinzena clara, da quinzena clara para os seis meses em que o Sol está ao norte”. (Chandogya Upanishad 5.10.1)

samebhyah samvatsaram samvatsarad adityam adityaccandramasam candramaso vidyutam tat purusho ’manavah sa enan brahma gamayatiesha devayanah pantha iti

“Dos meses, eles vão para o ano, do ano para o Sol, do Sol para a Lua, e da Lua para o relâmpago. Lá, uma pessoa não humana conduz a alma para o Brahman. Esse é o caminho dos deuses”. (Chandogya Upanishad 5.10.2)

O segundo, conhecido como pitriyana, é o caminho dos antepassados, que é seguido pelas almas que, seguindo os rituais prescritos nas escrituras, foram muito caridosas e piedosas, cultivaram desejo pelo resultado de suas caridades, austeridade, votos e adoração. Seguindo esse caminho, elas são conduzidas para Chandraloka, a região lunar, onde podem desfrutar de imensa felicidade como recompensa por suas ações virtuosas. Entretanto, quando o saldo cármico se exaure, elas têm de voltar para a Terra, visto ainda terem desejos terrenos. Descreve-se esse caminho também na Chandogya Upanishad:

atha ya ime grama ishtapurte dattam ity upasate tedhumam abhisambhavanti dhumad ratrim ratrer aparapaksha aparapakshad yan shaddakshinaiti masams tan naite samvatsaram abhiprapnuvanti

“Por outro lado, aqueles que vivem em vilas, praticando sacrifícios e trabalhos de utilidade pública e de caridade, vão para a fumaça (dhuma), da fumaça para a noite (ratri), da noite para a quinzena escura, da quinzena escura para os seis meses em que o Sol está ao sul. De lá, eles não alcançam o ano”. (Chandogya Upanishad, 5.10.3)

masebhyah pitrilokam pitrilokad akasham akashaccandramasam

“Dos meses, eles vão para o mundo dos antepassados, do mundo dos antepassados, para o espaço, do espaço para a Lua”. (Chandogya Upanishad 5.10.4)

tasmin yavat sampatam ushitvathaitam evadhvanampunar nivartante

“Residindo ali até esgotar o resultado de suas ações, voltam pelo mesmo caminho por onde vieram”. (Chandogya Upanishad 5.10.5)




Alma de um yogi deixa o corpo e procede para a Lua, de onde terá que voltar.

Além desses dois caminhos, há um terceiro caminho, que conduz ao inferno, trilhado por almas que levaram uma vida impura e pecaminosa, com consciên­cia degradada, e que executaram atividades proibidas pelas escrituras.

Depois de alcançarem umbrais ou dimensões infernais, elas renascem em espé­cies inferiores, muitas vezes animais e vegetais, para sofrerem e satisfazerem seus de­sejos inferiores. Isso é explicado na mesma Upanishadatha ya iha kapuya-carana abhyashoha yat te kapuyam yonim apadyeran shva-yonim va sukara-yonim va candala-yonimva: “Mas aqueles cujo resíduo cármico é mau, logo nascem em ventres inferiores, como o de um cachorro, porco ou pária”. (Chandogya Upanishad 5.10.7) Em todo caso, depois da expiação de suas atividades pecaminosas, renascem em corpos humanos.

Os místicos yogis ou bhaktas que alcançaram a perfeição espiritual e se libertaram ainda em vida (ji­van-muktas) não são conduzidos por nenhum desses caminhos, mas, de acordo com a natureza de sua libertação – se ela é impessoal ou pessoal –, obtêm o destino su­premo (param gati), fundem-se na existência imanifesta do Absoluto (param jyoti) ou são resgatados pessoalmente pela Personalidade da Divindade (Bhagavan), que os abriga em Sua morada espiritual (param dhama).

Compara-se o morrer com o dormir, e as experiências do pós-morte, com os so­nhos. Assim como os pensamentos e ações acontecidos no estado de vigília determinam a natureza dos sonhos; depois da morte, a alma experimenta o resultado dos pensamentos acalentados e das ações executadas durante sua vida na Terra. As expe­riências do pós-morte são reais para a alma, assim como um sonho é real para o sonha­dor, e ninguém pode determinar a sua duração.

Segundo as escrituras védicas, algumas almas renascem como seres humanos logo depois da morte, sem passar pela experiência do paraíso ou inferno. A questão de renascimento da alma em formas inferiores à humana, apesar de ser considerada um lapso, não constitui um retrocesso na evolução espiritual da alma para o autoconheci­mento ou amor místico. O que deve ser compreendido é que a próxima vida é determi­nada pela consciência da pessoa na vida presente, que, por sua vez, determinaria o último pensa­mento da pessoa na hora da morte. O último pensamento do moribundo inevitavelmente reflete seu desejo mais íntimo. A Bhagavad-gita afirma, yam vapi smaram bhavam tyajaty antekalevaram, tam evaiti kaunteya sada tad-bhava bhavitah: “Qualquer que seja o estado de existência do qual alguém se lembre ao deixar o corpo, ó filho de Kunti, esse mesmo estado ele alcançará impreterivelmente”. (Bhagavad-gita 8.6) 

Krishna também descreve a posição daqueles que adotam bhakti, o caminho da devoção pura, e dependência à Personalidade da Divindade, naiti sriti partha janan yogi muhyati kashcanatasmat sarveshu kaleshu yoga-yukto bhavarjuna: “Os devotos que conhecem estes dois caminhos [devayana e pitriyana], ó Arjuna, nunca se confundem. Portanto, mantém-te sempre fixo na devoção”. (Bhagavad-gita 2.27) Na posição da Suprema Personalidade da Divindade, Krishna também afirma, ananya-cetah satatam yo mam smarati nityashah, tasyaham sulabhahpartha nitya-yuktasya yoginah: ”Ó filho de Pritha, aquele que se lembra de Mim sem desvios, Me alcança facilmente, por causa de sua ocupação constante”. (Bhagavad-gita 8.14)

Conceitos Hindus do Pós-morte

As Upanishads falam da essência imutável e consciente de todos os seres, plurais ou singulares, como a “alma” ou o “si-mesmo”. Isso, em sânscrito, recebe o nome de atma (ou atman) Essa alma seria o “ser interior consciente” dentro de cada um de nós, identificada ontologicamente (quando a sua natureza de “ser” ou “existir”) como Brahman. O Brahman seria o Ser absoluto e supremo, a Divindade em Seu aspecto unitário, além de todas as particularidades. Contudo, quando essa mesma Divindade su­prema, identificada ontologicamente com o Brahman, é observada do ponto de vista da consciência (psicologicamente), é descrita como o Atma Supremo. Por isso, as Upanishads descrevem a unidade dos dois, pois se tratam de dois aspectos da mesma realidade, sa va ayam atma brahma: “Este Atma é, na verdade, o Brahman”. (Brihadaranyaka Upanishad 4.4.5)

Do ponto de vista do Absoluto, Atma é o próprio Paramatma, o Si-mesmo Supremo, a Superalma, a Divindade em Sua onipresença e onisciência. No entanto, quando observado da perspectiva relativa e individual, da pluralidade dos seres ou centelhas espirituais, atma é jivatma, a alma ou entidade viva consciente individual. A alma individual (jivatma) seria igual à Divindade quanto ao “ser” (sat), mas seria dife­rente quanto à “consciência” (cit).

Nas Upanishads, mostram-se as diferenças entre dois tipos de almas – ambas eternas, mas uma Absoluta, e outras relativas; uma singular, e outras plurais; uma independente, e outras dependentes, nityo nityanam cetanash cetananam, eko bahunam yo vidadhai kaman: “Eterno entre os eternos, Consciente entre os conscientes. Um entre os muitos, Ele satisfaz os desejos de todos”. (Katha Upanishad 5.13)

Apesar da sua natureza espiritual e transcendente, apesar de seu ser não poder ser afetado pelas variações do tempo e espaço, a consciência do jivatma, por ser fragmentária, quando se esquece de sua relação com o Paramatma, é influenciada pela energia material. Com isso, ele se envolve no ciclo de samsara (roda de nas­cimentos e mortes). 

O que prende todos no ciclo de samsara é a lei do karma. Em sua forma mais simples, a lei do karma age impessoalmente, como uma lei natural, assegu­rando que toda ação, seja ela boa ou má, eventualmente retorne ao indivíduo na forma de recompensa ou punição proporcional à natureza da ação executada.




Ilustração cartunesca da lei do karma.

A necessidade de “colher os frutos do karma” é o que obriga os seres humanos a nascer novamente (punar-janma), reencarnando em vidas sucessivas. Em outras pala­vras, se alguém morre antes de colher os frutos de suas ações passadas, o processo cár­mico forçará o seu retorno em vida futura. Voltar em outra vida também possibilita que as forças cármicas recompensem ou punam a pessoa através das circunstâncias de seu nascimento. Assim, por exemplo, quem foi generoso em uma vida poderá retornar como alguém muito próspero na sua próxima encarnação.

Para todas as tradições religiosas do Oriente, a emancipação na hora da morte constitui a meta suprema de todos os esforços humanos. Considerando a sua diversidade religiosa, o hinduísmo, da execução de sofisticados rituais, passando por formas austeras de disciplinas de autoconhecimento, yoga e meditação e chegando à devoção mística, busca várias formas de libertação.

O ritualismo do karma-marga (caminho das ações fruitivas), representado pela tradição sacerdotal dos brahmanas, busca, por meio da correta hermenêutica das escrituras védicas, a execução adequada dos ritos e a entoação correta dos mantras, para elevar o praticante às dimensões celestiais dos deuses e depois obter melhor renascimento neste mundo. Nessa tradição materialista, não se busca o fim do ciclo de nascimentos e mortes, mas, sim, obter a maior felicidade possível.

A tradição gnóstica do hinduísmo, o jnana-marga (caminho do conhecimento), representada principalmente pela escola smarta do Vedanta Advaita, considera que a meta final da existência é alcançar moksha, termo sânscrito que indica a libertação do ciclo infinito de nascimentos e mortes. O que acontece com a pessoa quando ela obtém moksha? Nessa tradição, acredita-se que, com moksha, atma individual funde-se no Brahman universal. Utiliza-se a imagem da gota d’água que cai no oceano e perde sua individualidade. A gota torna-se igual ao oceano. Apesar de ser muito utilizada, essa metáfora não expressa bem o sentido de fundir-se. Em vez da perda da individualidade, a compreensão das Upanishads é a de que o atma nunca existe separado do Brahman. Portanto, o sentido de separação é que é ilusório, e moksha é o despertar desse sonho de separação.

A tradição mística do yoga-marga (caminho do misticismo), representada por austeros renunciantes, busca, por meio do controle das funções psicofísicas, elevar a consciência para o estado de samadhi, transe místico que conduz ao moksha, a libertação do ciclo de nascimentos e mortes.

A tradição devocional do bhakti-marga (caminho da devoção amorosa), por sua vez, rejeita as posturas impessoais, tanto do ritualismo brâmane como do Vedanta Advaita, com sua ênfase intelectual nas afirmativas unitárias das Upanishad. Nessa tradição, Deus é visto como uma Deidade pessoal eterna, supremamente amorosa e que, por Sua graça, corresponde à adoração devocional de Seu devoto. O pós-morte no teísmo devocional não é uma bem-aventurança estática e abstrata, causada pela fusão da identidade individual da alma no oceano da refulgência do Brahman. Pelo contrário, a tradição devocional considera que as almas libertas participam eternamente de uma relação bem-aventurada com a Divindade, em Sua morada eterna, o Céu espiritual (param-vyoma). Esse mundo místico de amor espiritual, de alguma forma, lembra o Paraíso eterno das religiões ocidentais, mas não deve ser confundido com o paraíso temporário dos deuses (devas) e dos antepassados (pitris).

Juntamente com a existência de regiões celestiais, destinadas aos justos e piedosos, podemos também encontrar no hinduísmo o conceito bem desenvolvido de dimensões infernais, nas quais as pessoas excepcionalmente pecaminosas são punidas psiquicamente. Muito dos tormentos que acontecem nas regiões infernais do hinduísmo fazem lembrar os infernos semita-cristãos, bem ao estilo dos infernos da Divina Comédia, de Dante Alighieri, mas com sua devida diferença, pois os infernos hindus não são destinos definitivos para a alma. São mais como purgatórios, onde as almas experimentam uma forma limitada de sofrimento, determinada pelo seu karma e com propósito corretivo para possibilitar sua evolução espiritual. Depois de cumprir sua pena cármica, a alma pode sair do inferno e voltar a participar do ciclo de reencarnação.

Antyesti-kriya, O Último Sacramento

No hinduísmo, o funeral é um sacramento (samskara), assim como o nascimento e o casamento. Ele seria como o sacrifício ou o rito final (antyeshti). É um ritual executado para que a alma se desapegue do corpo e não corra o perigo de tornar-se um fantasma (bhuta ou preta), garantindo sua promoção para um mundo melhor.

A crença nos fantasmas é muito comum entre os indianos, sejam eles hindus, budistas ou jainistas. O termo bhuta aplica-se a qualquer classe de espírito desencarnado (bom ou ruim), assim como ao fantasma de uma pessoa morta. Já o termo preta indica especificamente esse mesmo espírito no período antes do término dos ritos funerais pós-mortes. Acredita-se que a alma de um falecido às vezes vagueia sofrendo como um preta e não consegue renascer. Ou seja, ela não pode alcançar o destino determinado pelos seus karmas até que os ritos funerários sejam executados.

Na tradição védica, como regra, não se enterram os mortos, que são cremados de acordo com injunções das escrituras. Isso tem como base a crença de que o corpo da jiva é constituído dos “cinco elementos” da prakriti (natureza material), que precisam ser devolvidos à sua fonte após a morte. Deles, o fogo, a terra, a água e o ar pertencem ao corpo denso (o sthula-sharira, que é formado do anna-maya kosha) e procedem deste mundo físico, enquanto o quinto elemento, o éter (espaço), pertence à dimensão do corpo sutil (o sukshma-sharira, que é constituído dos koshas mais sutis) e procede dos mundos superiores. Quando o corpo é cremado, apenas os quatro elementos densos são devolvidos às suas respectivas esferas, enquanto o corpo sutil, juntamente com a alma, retorna às dimensões superiores mais sutis para a continuação da sua vida pós-morte. 





Cerimônia de cremação às margens do rio Ganges.

Todavia, a cremação não é o único método prescrito para a remoção do corpo. Crianças até certa idade e pessoas santas ou iluminadas são enterradas. Por exemplo, um mestre espiritual é enterrado em uma sepultura chamada de samadhi, onde é colocado sentado em postura de lótus, em estado de maha-samadhi, para receber a veneração de seus discípulos ou seguidores. Apesar de a cremação ser o procedimento padrão, alguns hindus preferem ser sepultados nas águas de um rio sagrado, como o Ganges, onde as cinzas dos que foram cremados também são jogadas. Acredita-se que esses rios sagrados purifiquem a alma de seus pecados.

Para algumas pessoas, a morte pode ser vista como o dia da libertação, celebrada no lugar da data do aniversário. Até certo ponto, os ritos funerários servem para notificar a alma que ela de fato está morta.

É possível que uma alma desorientada, não consciente de que está do outro lado, fique com sua consciência ainda presa no plano físico. Ela pode observar esse mundo material, e até mesmo testemunhar o seu próprio funeral. Alguns dos hinos funerários se dirigem ao falecido, persuadindo-o a abandonar os apegos e continuar sua jornada.

Os ritos são também para os vivos, pois permitem que a família se despeça de uma forma respeitável e digna, que expresse sua dor, perda e outras emoções que naturalmente vêm à tona neste momento crítico. O significado mais profundo dos ritos funerários se constitui em fazer a conexão dos mundos sutis interiores (svarga ou pitri-loka) com o mundo físico exterior (bhu-loka), e o reconhecimento de que a família não consiste apenas das gerações vivas, mas também abrange os ancestrais.

Há almas que encarnam sequencialmente na mesma família. O neto pode ser a reencarnação da alma do avô. Dessa forma, o karma e o dharma coletivo são inteiramente resolvidos. Quem está no mundo sutil interior ajuda os parentes que estão no mundo manifesto. Depois, quando retornam ao mundo exterior, eles se esforçam para avançar espiritualmente, pois esse progresso só é possível em uma encarnação física. A cerimônia ritual de união do falecido com seus antepassados e a veneração anual dos antepassados mantêm aberta a comunicação sutil que possibilita prosperidade e longevidade para a família.

Os ritos fúnebres hindus são realizados com os propósitos de propiciar à alma migração segura e sobrevivência agradável no outro mundo, além de proteger os membros familiares de contaminações energéticas decorrentes da morte do parente. Segundo as crenças hindus, quando morre alguém da família, independente de ela estar perto ou longe, seus parentes ficam poluídos pelo mero processo de sua morte. Essa contaminação continua até que a alma tenha completado a sua jornada para o outro mundo e todos tenham se purificado pelos rituais. Até mesmo quem viu o cadáver ou entrou no local onde ele estava fica, alguma forma, contaminado.

Quando a pessoa morre, seu corpo, depois de receber o último banho, é levado para o crematório por seus amigos e parentes, ao som da entoação dos nomes de Deus. O corpo é cremado geralmente no mesmo dia, senão um ou dois dias depois. Na pira funerária, que geralmente é acesa pelo filho mais velho, coloca-se o corpo com os pés em direção ao sul, que é a direção de Yama, o deus da morte.

De três a dez dias depois da cremação, as cinzas são coletadas e guardadas em urnas, para serem espalhadas em vários locais. São misturadas com terra, água e ar, para simbolizar o retorno do corpo aos elementos.

As Cerimônias de Sraddha

Na longa lista dos sacramentos (samskara) do hinduísmo, há determinados ritos que devem ser executados para aqueles que já partiram do mundo físico. Eles recebem o nome genérico de sraddha e são executados pela família do falecido, logo depois do funeral. Consistem de uma série de oferendas cerimoniais em que preparações de alimentos e libações de água são dedicadas aos manes, pais ou ancestrais já falecidos.

Isso é algo natural para os hindus, pois, para eles, nunca houve uma barreira espessa entre os mundos visível e invisível, entre os ”vivos” e os “mortos”. O contato entre essas duas dimensões sempre caracterizou essa tradição religiosa, pois consideram-se os deuses (devas) e os manes (pitris) tão reais como os humanos.

Nas cerimônias iniciais de sraddha, chamadas de ekoddishta sraddha ou preta-kriya, os filhos do falecido cantam mantras e oferecem preparações à alma que partiu para fornecer-lhes nutrição. São tortas de arroz, conhecidas como pindas, ou outros ingredientes, como leite, coalhada etc., que, oferecidos como oblação nos sacrifícios, adquirem uma forma sutil chamada apurva (“sem precedente”) e se prende ao sacrificador. Os jivas, envolvidos pela água suprida pelos ingredientes oferecidos em oblação nos sacrifícios e fortalecidos energeticamente pelos mantras, desenvolvem um corpo etéreo adequado que permita sua sobrevivência a caminho do mundo dos ancestrais. Essas oferendas devem ser realizadas durante dez dias. Cada dia equivale a um mês do período normal de gestação do embrião humano no ventre.

Quem executa sacrifícios satisfaz os deuses no paraíso e desfruta com eles. Tornam-se associados úteis dos deuses e contribuem para o desfrute deles, por meio de sua presença e serviço naquele mundo. Eles desfrutam em Chandraloka e, com o fim do estoque de seu mérito, retornam à Terra.

Muitas vezes, quando o falecido não teve morte natural e consciente, ele, na condição de preta, pode atormentar os membros de sua família. Então, as oferendas da cerimônia de sraddha podem tranquilizar a alma. Tais oferendas destinam-se a garantir a redenção da alma do falecido da condição de fantasma, que é o corpo de preta, e ajudá-lo a renascer, de acordo com seu karma passado acumulado. O Garuda Purana (2.13.1-23) explica como a alma do falecido pode ficar imobilizada por muito tempo na condição de preta, sem corpo e sentidos físicos. Não pode nascer para desfrutar de seu karma. Então, nessa condição de preta, ela vaga por todos os lugares, sofre fome e sede, até que os ritos funerários sejam executados.

Também se explica que, depois da morte, a alma do falecido adquire o corpo etéreo (ativahika sharira) de preta (Garuda Purana, 2.10.75-77). E que ela deixa esse corpo e adquire um corpo pinda-deha, feito de pindas (Garuda Purana 2.10.82, 2.15.37-38 e 2.15.66-67), como resultado das oferendas de pinda (tortas ou bolos de arroz), feitas na cerimônia de ekoddishta sraddha, durante os primeiros dez dias após a morte.

Entretanto, quando o corpo pinda-deha também se dissolve, como resultado dos ekoddishtta sraddha executados mensalmente, durante um ano, a alma está livre para deixar a dimensão intermediária e entrar no mundo dos antepassados. Nessa ocasião, realiza-se a cerimônia de sraddha conhecida como sapindi-karana, que facilita a entrada da alma no mundo dos ancestrais (pitri-loka) e sua permanência lá a partir de então.

Ficou bem claro que a não execução dos sraddhas faz com que haja impedimento no cumprimento da lei do karma. Cria-se impedimento no karma-vipaka, ou fruição do karma acumulado.

Considerações Finais

Sentir medo em face da experiência inevitável da morte é consequência da ignorância da verdadeira natureza da alma espiritual, das possibilidades de ela viver em diferentes dimensões e o próprio processo transformador dessa experiência. Punar-janma, o renascimento que liga uma vida a outra, reduz qualquer morte particular a um mero incidente dentro de uma série indefinida de incidentes.

Então, o que teria valor para o jivatma eterno não seria seu corpo material temporário e as parafernálias ligadas a ele, como família, bens materiais e posição social, mas, sim, a própria essência de eternidade, consciência e bem-aventurança. Assim como quem consegue algo superior, ele não tem dificuldade alguma de abandonar as coisas inferiores. Da mesma forma, quem está situado em autoconhecimento, na plataforma espiritual, consegue facilmente situar-se além dos prazeres materiais temporários. Na plataforma de autorrealização, o místico também sente prazer (ramante), mas seu prazer é infinito (anante). Isso é explicado no Padma Puranaramante yogino ’nantesatyananda-cid-atmani: “A felicidade dos místicos é ilimitada e real, pois vem da Verdade Absoluta”.

Porque na plataforma da autorrealização há o reconhecimento da existência continuada do ser (sat), da consciência ou conhecimento ilimitados (cit) e da satisfação estética infinita (ananda), a morte do corpo e a perda dos prazeres dos sentidos temporários não representam perda. O que ocorre é manifestação de um ganho maior. Portanto, não há motivo para medo e ansiedade. Morrer é algo tão natural e normal que jamais se considera “o morto” como tal. Ele apenas foi para outro lugar, para outra dimensão – mudou de residência.

Loka-sakshi Dasa, natural de Santa Cruz do Rio Pardo, SP, é discípulo direto de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada. É versado em sânscrito e possui doutorado em Ciência das Religiões pela Universidade Federal de Juiz de Fora. É conhecido por sua grande erudição e também por contribuir ativamente na difusão da sabedoria védica por todo o Brasil.

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Bibliografia

Baladeva. The Vedanta-Sutras of Badarayana, trad. Rai Bahadur Srisa Chandra Vasu. New Delhi: Oriental Books, 1979.
Goswami, Amit. A Física da Alma. São Paulo: Aleph, 2005.
Krishnan, Yuvraj. The Doctrine of Karma. Delhi: Motilal Banarsidass, 1997.
Maharshi, Ramana. The Collected Works of Ramana Maharshi. Ed. Arthur Osborne. New York: Samuel Weiser, 1997.
Prabhupada, A.C. Bhaktivedanta Swami. O Bhagavad-Gita Como Ele É. São Paulo: The Bhaktivedanta Book Trust, 1986.

Além do Nascimento e da Morte. São Paulo: The BhaktivedantaBook Trust, 1986.
Rangaramanuja, Sri. Kathopanisad. Tirupati: Tirumala Tirupati Devasthanams, 1984.
Sarvananda, Swami. Taittiriyopanisad. Madras: Ramakrishna Math, 1982.
Senart, Êmile. Brhadaranyaka Upanisad. Paris: Les Belles Lettres, 1967.
Swahananda, Swami. Chandogya Upanisad. Madras: Sri Ramakrishna Math, 1956.
Sutton, Nicholas. Religious Doctrines in the Mahabharata. Delhi: Motilal Banarsidass, 2000.

The Garuda Purana, A Board of Scholars, 3 Vol. Delhi: Motilal Banarsidass, 1978/79/80.

Fonte: Amigos de Krishna.


Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues

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segunda-feira, 9 de maio de 2016

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Rosana Rodrigues Espaço Ponto de Luz
Uma alma livre que veio disfarçada de advogada,terapeuta floral bach,astróloga,pianista...



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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Um amor “on the rocks”, por favor?

Um amor “on the rocks”, por favor?




Tem horas que é preciso ser pragmático. Deixar as ilusões românticas de lado. Dar um basta na fé. Se refugiar na raiva. Sentir o fracasso correndo nas veias. Parar com a balela de dar a outra face. Esquecer o perdão em uma ilha deserta. Suar profusamente de tanta desilusão acumulada. Ser humano. Simplesmente.
É isso mesmo. Não se trata de um texto sobre desistir de um amor por perceber que ele ficaria melhor sem a nossa companhia. Desejar sua felicidade em outros braços. Ser quase um iluminado. E os iluminados sentem ódio. Pode ter certeza. Nem que seja ódio de quem odeia. O texto é sobre o ócio depressivo. Aquele que nasce da mais profunda tristeza após o término de um relacionamento. Deitar na cama e ouvir a mesma melodia repetidas vezes. Dá para imaginar cenário mais perverso?

Em tempos de amor líquido é quase indecente desejar um amor “on the rocks”.
Precisamos mesmo criar novas expressões para justificar a falta de interesse no outro e quem sabe até pela humanidade em geral? Isso é a boa e velha depressão. Não é uma nova condição humana causada pela velocidade dos meios de comunicação atuais. Se fosse assim, muitas relações amorosas seriam automaticamente reestabelecidas quando houvesse a interrupção dos serviços de transmissão de dados.
A verdade que não se quer admitir é que seu parceiro não perceberia sua existência mesmo que vocês fossem para uma ilha deserta sem acesso a equipamentos eletrônicos de espécie alguma. Ele se entreteria com as estrelas, a lua, os sapos coaxantes, a areia da praia e até mesmo os mosquitos. Você continuaria no último lugar da lista de prioridades, bem depois do velho fax.
Por essas e outras é que colocar uma inocente pedra de gelo não vai fazer muita diferença. Embora muitos ainda insistam em utilizar esse recurso. De um lado o líquido (representando a impermanência das relações humanas) e de outro o sólido (representando a nossa resistência). Sabemos que a fusão será inevitável, mas mesmo assim colocamos a pedra de gelo no copo com água. Ela nos dá a ilusão temporária de que há algo diferente na bebida.
Para alguns fica bem melhor. Para outros perde o sabor. O resultado final é sempre o mesmo.

Então, o que fazer? DESISTIR! Sair pela porta da frente correndo e só parar quando estiver em território seguro. Quem nadou nas águas salgadas do mar morto sabe que é difícil submergir. Corre-se o risco de ficar eternamente na superfície. Melhor navegar para outros mares. De preferência bem distantes. Tirar a poeira de sua bússola interna e partir. Ser novamente um descobridor.
As fases de um amor podem ser tão vertiginosas como as dos estados físicos da água.

As mudanças bruscas são inevitáveis. Não somos as mesmas pessoas de ontem. Estamos em constante transformação. Se fossemos adaptar a lição do poeta Vinicius de Moraes, seria algo assim: que não seja permanente, posto que é líquido. Mas que seja sólido enquanto dure. Fonte: Adriana Abraham.
amor

ESPAÇO PONTO DE LUZ ROSANA RODRIGUES
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quarta-feira, 27 de abril de 2016

Os três níveis de consciência

            Os três níveis de consciência



Diagrama do Tai-Chi chinês, representando a integração das polaridades
Yin/Yang.Créditos: facebook.com/vozesdobrasilmpbOficial/


     Os dois primeiros círculos apontam para um primitivo estágio
 de consciênciaonde a realidade está dividida em simples opostos: o lado do
 bem e o lado do mal. 
Não existe nenhum movimento dos pontos, indicando que o indivíduo tem uma 
estrutura praticamente estática, inerte, empedrada. Nessa fase, a percepção
 da realidade só comporta dualidades - "ou estão do meu lado ou são meus 
inimigos", "se isso não é mau, é bom", "gosto do mocinho e odeio o bandido", etc. 
A personalidade é inflexível e as pessoas desse nível, difíceis de lidar. Estão 
identificadas com uma parte ou com a outra. "Sou assim!", e ponto final. Não há 
consideração pelo ponto de vista do outro. Dependendo do lado, são 
consideradas superficialmente bons cidadãos ou malfeitores pela sociedade.

     O par de desenhos seguinte retrata um nível intermediário de consciência,
 em que há a percepção de que, dependendo da perspectiva, algo considerado 
em geral mal, possui também aspectos bons. Ou que nada é puramente prejudicial, 
nem tão somente virtuoso. Aqui existe movimento nas duas "gotas", que aparentam 
um girino, isto é, um ser vivo, com dinamismo orgânico. A perspectiva estática
 dualista é lançada por terra. O indivíduo percebe que é uma mistura de defeitos e 
virtudes, e que é incapaz de determinar, em um certo momento, em dada condição,
 qual parte irá prevalecer. Existe mais flexibilidade com relação ao que se pode
 ser, de acordo com o que a situação exigir. Admite-se amar também os defeitos
 alheios. Mas a atividade dos "pingos" ainda é separada. Ora percebe-se o mal 
em si, ora no outro; se se nota que tem um lado positivo, não é possível a mesma
 observação, no mesmo instante, no outro. Estabelece-se o conflito: para que
 eu seja considerado bom, o outro tem que ser mal. Por isso, em uma discussão é 
quase impossível se sair da defensiva - ou me considero justo e o outro culpado 
ou vice-versa, sentindo-me confortável ou não.

   




















O desenho unificado configura um dinamismo e a ausência de conteúdos
 estagnados e separados. É um estágio avançado de consciência porque
 engloba todos os outros e vai além. Se existe conflito, este se configura
apenas com o(s) outro(s), que não possui(em) a perspectiva total. Vivencia-se
 a dualidade em si e no outro, simultânea e ativamente. Existe aqui a
 flexibilidade e a inflexibilidade, assim como vários outros pares de
opostos, conjugados de maneira temperada, de acordo com a vontade do
sujeito. Mas "vontade" aqui é mais que um mero anseio do Eu, pois engloba
 que o indivíduo faça também aquilo que não é ou seria sua escolha no
momento devido à compreensão de que também percebe a verdade oposta
 dentro de si.

     É preciso pontuar que nenhum desses estágios ocorre de forma estanque
 no ser humano. Do mesmo modo que a última figura contém todas as outras,
as fases anteriores ocorrem ainda de maneira mais ou menos fortuita e
momentânea no terceiro nível, prevalecendo aquele que tiver sido mais desenvolvido.
 Por vezes, um sujeito no primeiro estágio de consciência pode ter um insight
instantâneo do que seja viver no terceiro, e isso pode ser a chave para iniciar
 uma grande mudança de vida. Do mesmo modo, um indivíduo relativamente
 realizado pode de repente "surtar", caindo rapidamente no primeiro ou segundo
 nível, para seu sofrimento.

     Se a figura completa do Tai-Chi for imaginada girando, nota-se que os dois
 pequenos anéis no interior do Yin e do Yang formarão cada qual um círculo e
se manifestará um centro que se aplicará aos dois. Na figura sem movimento
 esse centro não se revela, apenas na dinâmica da vida, nesta em que há
continuamente a alternância de estados, humores e situações. Assim é a
totalidade humana, gerenciada a partir do centro imóvel e imutável, que se
 expressa nas mudanças de estados psíquicos. A psicologia chama a esse centro
 de Si-mesmo.





     Para a filosofia chinesa as mudanças prevalecem sobre as oposições.
 Não existe juízo de valor - um lado ser superior ao outro. Yin não é mal, 
nem Yang o bem. E assim é se se pensar na interação e alternância dessas
 oposições como vida. O primeiro "evoca a ideia de tempo frio e encoberto,
 e aplica-se ao que é interior, enquanto o termo Yang sugere a ideia de
 exposição ao Sol e de calor. Em outros termos, Yang e Yin indicam aspectos
 concretos e antitéticos do tempo. [...] O mundo representa, pois, 'uma totalidade
 de ordem cíclica, constituída pela conjugação de duas manifestações
 alternativas e complementares'" (ELIADE, 2011, p. 26). 

     Em um pequeno tratado está escrito: "Um (aspecto) yin, um (aspecto) yang,
 eis aí o tao". Ou seja, o tao, traduzido aqui como "vida", comporta dois
aspectos opostos que se alternam. Esse vocábulo quer dizer também "caminho",
evocando a imagem de uma trilha a seguir, a ideia de direção de conduta, de regra
 moral, e, por fim, a arte de pôr em comunicação o Céu e a Terra (Ibid. p. 27).
     Portanto, não se deve abrir mão da vida em favor de estados estáticos de
 prazer, nem de dor, no caso dos masoquistas, por mais difícil que isso possa
 parecer. Isso não é vida, mas morte em vida. Vida é movimento, é alternância,
 é mutação. O sofrimento e as doenças mentais advém de querermos
 impor a permanência de estados inconstantes, enquanto que permanente só
pode ser nossa contemplação de sua passagem na nossa caminhada. E é
 claro que em grande parte não temos consciência dessa autoimposição, pois
 a incorporamos culturalmente. Se nos acostumarmos a tomar posição no
centro, poderemos contemplar a totalidade dos processos vitais sem angústia.
 Neste caso alcança-se o verdadeiro estado de felicidade, pois nos colocamos
 no rumo do sentido, sob a direção do centro da personalidade.
(NOTA: A leitura que faço do Tai-Chi é simbólica e aplica-se à psique
 humana, não se vinculando a nenhuma pesquisa científica.)

REFERÊNCIAS
ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas: de Gautama Buda
 ao triunfo do Cristianismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. vol. II.
Fonte: Ponto de vista Lógico


Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues
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terça-feira, 26 de abril de 2016

David Icke - VACINA H1N1 DESTRÓI sua SAÚDE - Legendado Português Br

A Cultura do Estresse: é Preciso Demorar-se...

A Cultura do Estresse: é Preciso Demorar-se

É preciso contra-atacar a superficialidade da cultura do estresse. Essa moderna mediocridade moral de auto-satisfação. É preciso aprender a demorar-se na vida.
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O filósofo e escritor francês renascentista Michel de Montaigne (1533-1592), num de seus estudos – reunidos em “Michel de Montaigne: The Complete Essays”, disse que o tempo é o único governante permanente e absoluto no universo. Um governante escrupulosamente justo, o qual trata a todos de forma absolutamente igual, sem fazer distinção de nenhuma espécie e, por isso, é o grande nivelador perante o qual todos são iguais. Todos têm a mesma quantidade de tempo e a mesma liberdade de escolher o que fazer com ele.

Pensando nestas palavras, vem-me à mente a gravidade com a qual tratamos este tema. Entristece-me perceber no dia-a-dia tantas pessoas a negligenciarem o próprio tempo. Afinal, somos uma sociedade doente que perdeu a capacidade de experenciar, de calar a boca e contemplar, de perceber, de aproveitar, de ouvir, de olhar demoradamente, de demorar-se. Mas, hoje o tempo é só mais uma filosofia que não leva a lugar algum. Vivemos a “cultura do estresse”, pregada e cultuada por muitos. Ambicionada e superestimada por outros tantos. Essa cultura do “não temos tempo para nada”, esses pobres workaholics que vivem como se carregassem uma medalha no peito, orgulhosos por nunca terem tempo. E vivem o estresse como a um particular santuário, como se eles fossem um exemplo a seguir, de vidas corridas e coisas a serem feitas, de coisas acumuladas. As tarefas, as reuniões, os prazos. Este triste tipo de gente que não sabe que o sucesso não é a falta de tempo, é ao contrário. Pessoas que fazem do estresse parte integral da sua existência, da sua personalidade. E o pior é que acham bonito, que as coisas são assim mesmo, goste quem gostar, doa a quem doer e a vida segue…na correria, claro.
É preciso que se esteja sempre às pressas se quiser tirar o melhor desta vida. É preciso viver esgotado. Obter resultados. Porque é assim que se faz. É preciso consumir, é preciso negociar, é preciso ter. Nunca ser, jamais ser, a vida não tem tempo para esse tipo de drama. O sucesso não perde tempo com o pôr-do-sol.
O escritor e pensador David Brooks, do The New York Times, escreveu em seu livro “The Road to Character”, que “vivemos numa sociedade que nos incentiva a pensar em como ter uma grande carreira, mas deixa muitos de nós inarticulado sobre como cultivar a vida interior”. Ele não poderia ser mais acertado. A pressão na qual vivemos para se ter “sucesso” e “admiração” nos transforma num feroz coletivo competidor, boicotando a qualidade de vida, fazendo o caminho contrário a isto. Nas ideias do autor, todo o estresse no qual as pessoas estão acostumadas, e com o qual aceitam viver, provoca um ruído, fazendo com que seja mais difícil de ouvir os sons que emanam das profundezas do nosso ser, não dando espaço para a criatividade e espiritualidade. Ou seja, o estresse, a correria, o trabalho demasiado só faz desconstruir a própria identidade e a busca por uma vida plena. O autor afirma: é preciso se autoconfrontar, ao invés de abraçar a cultura do estresse. O livro promove uma reação “elegante” para um contra-ataque à superficialidade da cultura do estresse, o que o autor chama de “mediocridade moral de auto-satisfação”, o que define a vida moderna.
E segue-se pelo almoço de quinze minutos, pelas horas em que não se passa com os filhos, com a família. Segue-se pelas noites mal dormidas, pelos jantares desmarcados, pelas conversas perdidas, pelos aniversários esquecidos, pelas cervejas que esquentaram. Segue-se pelas luas que não foram contempladas, pela natureza ignorada, pelas férias adiadas. Pela falta de diálogos, pelos celulares ligados, pelos passos apressados. E essa é a vida que a sociedade conhece, vive e aceita. E essa é a vida que muitos adoram viver.
E a vida, que é bonita, encontra neste tipo de gente a sua mais trágica definição: “a vida é curta”. A vida é curta para quem se acha mais importante que ela. A vida é curta para quem entrega-se à tirania do trabalho sem medida, da ambição desenfreada, da armadilha da palavra “sucesso”. Que me perdoe Benjamin Franklin e sua célebre frase “time is money”. Não é. Tempo é muito mais rico que o dinheiro, muito mais abrangente, muito mais generoso, infinitamente mais urgente. Não, a vida não é curta, ela é suficiente.
Mas é preciso que saibamos viver. E saber viver é saber quando parar de correr. Nós seríamos muito mais plenos se fôssemos mais calmos em relação às coisas, às pessoas, às circunstâncias. Se soubéssemos o que é moderação, se tivéssemos a capacidade de combinar todas as necessidades de uma forma igual e integrada em nós mesmos. Mas não, que bela merda de viver a vida, entre uma reunião e outra, entre uma ligação e outra, entre uma ambição e outra.
Quem vive correndo não fecha os olhos nem abre os braços, nem se joga à vulnerabilidade do espontâneo, nem se perde na lógica. Há de se perder a agenda, as previsões. Ser desprevenido. E, ainda assim, ser satisfeito. Ter mais a cabeça nas nuvens do que os pés no chão. Jogar o sapato fora, andar descalço. Desligar o celular. Rir, chorar, viajar, chamar para dançar. Comprar flores. Cozinhar. Aprender que o sucesso se dá pela subtração e não pela soma, saber que menos é mais. Aprender a ser generoso consigo mesmo. Ser generoso com o próprio tempo. Amar-se assim. Demorar-se, demorar-se, demorar-se!
Fonte: texto por Sophia Rocha para OBVIOUS - foto por Petra Österreich para Pixabay

Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues
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segunda-feira, 25 de abril de 2016

O que as outras pessoas pensam de você é a realidade delas e não a sua

O que as outras pessoas pensam de você é a realidade delas e não a sua


O que outras pessoas pensam de você é a realidade delas, e não a sua. Elas sabem o seu nome, mas não a sua história; elas não viveram em sua pele ou calçaram os seus sapatos. Tudo o que os outros sabem sobre você é o que você disse ou o que eles puderam adivinhar, mas eles não conhecem os seus anjos, nem os seus demônios.
Muitas vezes achamos difícil entender a nós mesmos, mas nos aventuramos a decifrar o código dos sentimentos alheios. Você não pode ter certeza do que os outros sentem. Da mesma forma, não pode saber o que viveram e o que aprenderam ou não.
Portanto, não devemos dar importância ao que os outros dizem sobre nós, pois suas palavras são derivadas de uma realidade ilusória que suas mentes criaram com o desejo de saber tudo.
Face

As pessoas que criticam

Há pessoas que dão opiniões sobre você, sobre sua vida e sobre suas decisões, mesmo que você não tenha pedido. Normalmente são opiniões maliciosas ou desprovidas de critério, cuja única finalidade é a de machucar, humilhar e desfrutar do pesar alheio.
Geralmente essas pessoas têm baixa autoestima, não se aceitam e, por isso, dificilmente poderão aceitar os outros. Essas pessoas colocam rótulos que refletem a realidade de como elas se sentem, projetando assim suas dificuldades emocionais.

Nós somos os únicos que podem mudar nosso caminho

“Viva a sua vida da maneira que quiser, não da maneira que os outros querem que você a viva”
É provável que, se nós pudéssemos entrar no corpo e na mente dos outros, não os julgássemos. Seria um teste real.
Fantasias à parte, temos que assumir como nossa única responsabilidade a ideia de nos valorizarmos e pararmos de nos condenar. O que os outros pensam de nós nos coloca um preço. Ou seja, assim como não deixamos que nos digam o que devemos vestir, não devemos permitir que outros escolham o nosso armário emocional.
Se vivermos de acordo com o que os outros pensam de nós, perderemos nosso estilo e nossa personalidade. Seremos obrigados a usar uma máscara e nossa imagem no espelho refletirá apenas a nossa insegurança e a nossa falta de autoestima. 

Curar nossas partes magoadas pelas críticas

“As pessoas mais infelizes deste mundo são aquelas que se importam muito com o que os outros pensam”
Para curar as feridas emocionais causadas pelas críticas, temos que ter claro, em primeiro lugar, que somos pessoas únicas e excepcionais. Com essa mentalidade, perdemos o medo de sentir e de pensar por nós mesmos.
São os outros que estão julgando e criticando, não você. A crítica não construtiva deixa uma grande pobreza emocional no mundo interior de quem a pratica. Portanto, se a pessoa não parar, nestes momentos você deve ser emocionalmente egoísta e pensar em si próprio.
amor
Afaste-se da negatividade e pense que a sua vida é sempre muito mais fácil quando você não se mete na vida dos outros. A seguir, nós lhe daremos algumas dicas para que você possa fazer isto facilmente:
1. Como mencionado, a consequência direta de acreditar no que os outros pensam e dizem é nos tornarmos alguém que não somos. E, é claro, querer agradar aos outros as custas da nossa identidade não é nada saudável.
2. Você é uma boa mãe? Você é uma pessoa bem-sucedida? Você é inteligente? Você faz o seu trabalho bem? Você gosta dos outros? Perceba quanta energia você perde se preocupando com estas questões.
3. No entanto, os outros pensam sobre nós muito menos do que nós acreditamos. Isto é, muitas vezes nos sentimos o centro das atenções de outras pessoas, quando na verdade, o que fazemos pode não ser tão relevante para muitos dos que nos rodeiam.Esse medo é em grande parte um produto da sua imaginação.
4. Não importa o que você faz e como faz, sempre haverá alguém que interpretará seus atos de forma errada. Então tente viver e agir naturalmente. O que você faz, se estiver se acordo com os seus valores, sempre estará certo. Não tente se justificar, pois se sentirá falso se não sintonizado consigo mesmo.
“Não espere que os outros entendam sua jornada, principalmente se eles nunca andaram no mesmo caminho que você” 
Fonte indicada: A mente é maravilhosa
Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues
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sexta-feira, 25 de março de 2016

Páscoa Real - Espiritualistas de Fachada

Do Blog Volta ao Supremo. Leia outros artigos emwww.voltaaosupremo.com.

Espiritualistas de Fachada





Uma Entrevista com A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada



Srila Prabhupada comenta sobre os muitos “gurus” recém-chegados no Ocidente na década de 1960 que prometiam – entre outras coisas – poder, influência, domínio do estresse e salvação. Essa entrevista sem censura expõe muitas das práticas e filosofias “religiosas” da atualidade, e Srila Prabhupada afirma que os enganados são tão culpados quanto os enganadores.



Jornalista: Acho que um enorme número de nossos leitores e um enorme número de pessoas nos Estados Unidos estão terrivelmente confusos com os muitos sujeitos que alegam serem gurus e deuses e que surgem neste país, um após o outro.



Srila Prabhupada: Eu digo que todos eles não passam de uma grande bobagem.



Jornalista: Por exemplo, o que pensar do famoso guru que vende mantrasde meditação?



Srila Prabhupada: Ele é o mais baixo – eu digo publicamente. A partir da conduta dele, posso compreender que ele é o canalha número um. Mas o que é incrível é que a população nos países ocidentais é supostamente avançada... Como está sendo enganada por esses tolos?



Jornalista: Bem, acho que as pessoas estão procurando por algo, e então ele chega...



Srila Prabhupada: Sim, mas querem algo muito barato – eis a falha. Agora, aos nossos discípulos, não damos nada barato. Nossa primeira condição é o caráter – caráter moral. Entende? A menos que a pessoa esteja seguindo estritamente os princípios morais, nós não a iniciamos, não a aceitamos nesta instituição. E esse dito guru tem falado às pessoas: “Simplesmente façam o que queiram. Apenas me paguem trinta e cinco dólares e lhes darei um mantra”. Percebe? Então, as pessoas querem ser enganadas, daí muitos enganadores virem. As pessoas não querem se submeter a nenhuma disciplina. Como têm dinheiro, pensam: “Pagaremos e imediatamente conseguiremos tudo o que desejamos”.





As pessoas querem ser enganadas, daí muitos enganadores virem.



Jornalista: Paraíso instantâneo.



Srila Prabhupada: Sim. Essa é a sua tolice.



Jornalista: Permita-me perguntar ao senhor. Tenho minha opinião, mas gostaria de ouvir a sua. Por que o senhor acha que os jovens hoje estão se voltando cada vez mais para as religiões de base oriental?



Srila Prabhupada: Porque sua visão materialista da vida não os satisfaz mais. Nos Estados Unidos, especialmente, vocês têm desfrute o bastante. Vocês têm alimento o suficiente, mulheres o suficiente, vinho o suficiente, casas o suficiente – tudo é o suficiente. Ainda assim, têm desorientação e insatisfação – mais no seu país do que na Índia, que é considerada muito pobre. Mas você verá na Índia que, embora sejam muito pobres, os indianos continuam sua antiga cultura espiritual. Assim, as pessoas não estão tão perturbadas. Isso demonstra que o avanço material não pode satisfazer alguém. Se realmente querem satisfação, as pessoas têm que adotar a vida espiritual, e isso as tornará felizes. Todas essas pessoas estão em trevas. Não há esperança. Não sabem para onde estão indo; não têm meta. Contudo, quando você se situa espiritualmente, você sabe o que você está fazendo e para onde está indo. Tudo fica claro.



Jornalista: Em outras palavras, o senhor considera que a religião de base ocidental – seja uma sinagoga ou uma igreja ou qualquer coisa – fracassou no empenho de apresentar a vida espiritual? O senhor diria que a mensagem deles não é relevante? Ou o caso é que não souberam apresentar sua mensagem apropriadamente?



Srila Prabhupada: Consideremos a Bíblia. Foi falada muitíssimo tempo atrás a povos primitivos que viviam no deserto. Esses povos não eram muito avançados. Então, naquele tempo, no Antigo Testamento, era o bastante dizer: “Deus existe e Deus criou o mundo”. Isso é fato. Agora, no entanto, as pessoas são cientificamente avançadas e querem saber em detalhes como a criação aconteceu. Entende? Infelizmente, essa explicação detalhada e científica não está na Bíblia. E a Igreja não pode dar nada além disso. As pessoas, por conseguinte, não estão satisfeitas. Simplesmente irem oficialmente à igreja para oferecerem orações não lhes é algo chamativo.



Ademais, os ditos líderes religiosos não seguem nem mesmo os princípios religiosos mais básicos. Por exemplo, no Velho Testamento, há os Dez Mandamentos, e um deles é: “Não matarás”. Matar, no entanto, é uma atividade muito proeminente no mundo cristão. Os líderes religiosos estão sancionando matadouros e inventaram uma teoria que diz que os animais não têm alma. “Usemos esse argumento para matar”.



Quando perguntamos: “Por que estão cometendo esse ato pecaminoso de matar?”, os padres se recusam a discutir o assunto. Todos se calam. Isso significa que estão desobedecendo deliberadamente os Dez Mandamentos. Então, onde estão os princípios religiosos? Declara-se com absoluta clareza: “Não matarás”. Por que estão matando? Como responder a isso?



Jornalista: Você está perguntando a mim?



Srila Prabhupada: Sim.



Jornalista: Bem, “Não matarás” é obviamente ético... e é atemporal e válido. Mas o homem não está realmente interessado...



Srila Prabhupada: Sim, correto. Não estão realmente interessados em religião. É simplesmente fachada. Se você não segue os princípios reguladores, onde está sua religião?



Jornalista: Não estou discutindo com o senhor. Eu não poderia estar mais de acordo com o senhor. Concordo plenamente. Não faz nenhum sentido. “Não matarás”. “Não terás outros deuses além de Mim”. “Não desejarás a propriedade alheia”, “Honrar pai e mãe”... São belos...



Srila Prabhupada: “Não desejarás a mulher do teu próximo”... Mas quem está seguindo isso?





Quem está seguindo o princípio “Não desejarás a mulher do teu próximo”? Se você não segue os princípios reguladores, onde está sua religião?



Jornalista: Pouquíssimos.



Srila Prabhupada: Como, então, podem se dizer religiosos? E sem religião, a sociedade humana é sociedade animal.



Jornalista: Tudo bem, mas permita-me perguntar-lhe isto: De que modo sua interpretação difere da ética judaico-cristã dos Dez Mandamentos?



Srila Prabhupada: Não há diferença alguma. Porém, como eu disse a você, nenhum deles está seguindo estritamente os Dez Mandamentos. Portanto, apenas digo: “Por favor, sigam os mandamentos de Deus”. Essa é a minha mensagem.



Jornalista: Em outras palavras, o senhor está solicitando-lhes que obedeçam a esses princípios.



Srila Prabhupada: Sim. Não digo que cristãos devam se tornar hindus. Eu simplesmente digo: “Por favor, obedeçam a seus mandamentos”. Farei de vocês melhores cristãos. Essa é a minha missão. Eu não digo: “Deus não está em sua tradição – Deus está apenas aqui na nossa”. Digo apenas: “Obedeçam a Deus”. Eu não digo: “Vocês têm que aceitar que o nome de Deus é Krishna e nenhum outro”. Não. Eu digo: “Por favor, obedeçam a Deus. Por favor, tentem amar a Deus”.



Jornalista: Se sua missão e a missão da ética judaico-cristã ocidental são as mesmas, permita-me perguntar novamente por que os jovens, ou as pessoas em geral, estão desiludidos e estão se voltando às religiões de base oriental? Por que estão se voltando ao Oriente se ambas são iguais?



Srila Prabhupada: Porque o judaísmo e o cristianismo não estão ensinando de modo prático. Eu estou ensinando na prática.



Jornalista: Em outras palavras, o senhor está ensinando o que o senhor considera ser um método prático e diário para conseguir essa satisfação do espírito humano?



Srila Prabhupada: O amor a Deus está sendo ensinado tanto na Bíblia quanto no Bhagavad-gita. Os religiosos da atualidade, porém, não estão ensinando verdadeiramente como amar a Deus. Eu estou ensinando às pessoas como amarem a Deus – essa é a diferença. Portanto, os jovens estão atraídos.



Jornalista: Tudo bem. Então o fim é o mesmo, mas o método para chegar lá é diferente. Está certo meu entendimento?



Srila Prabhupada: Não. Tanto o fim quanto o método são iguais. Porém, esses ditos líderes religiosos não estão ensinando as pessoas a seguirem o método. Estou ensinando de maneira prática como seguir o método.



Jornalista: Deixe-me perguntar-lhe algo com o que tivemos grandes dificuldades recentemente. O maior problema a impedir que homens e mulheres voltem para o amor a Deus e sigam os Dez Mandamentos é o problema – como posso dizer? –, bem, o problema sexual. Agora, estou dizendo algo que é óbvio. Todos nós passamos por isso.



Srila Prabhupada: Sim, todos.



Jornalista: E não há nada na cultura ocidental ou na religião ocidental que ensine ou ajude os jovens a lidarem com esse difícil problema. Eu passei por isso. Todos nós passamos. Agora, o senhor, em sua mensagem, dá aos jovens algo em que se apoiarem? Em caso positivo, o quê?



Srila Prabhupada: Peço a meus discípulos que se casem. Não permito esse contrassenso de garotos viverem com namoradas. Não. “Você tem que se casar e viver como um cavalheiro”.



Jornalista: Bem, deixe-me ser mais básica. E quando o indivíduo tem quatorze, quinze, dezesseis anos?



Srila Prabhupada: Um ponto é que ensinamos nossos garotos a como se tornarem brahmacharis – como viver a vida de celibato, como controlar seus sentidos. Na cultura védica, o casamento, em geral, não ocorre até que o homem tenha cerca de vinte e quatro ou vinte e cinco anos, e a moça cerca de dezesseis ou dezessete. E porque estão experimentando o prazer espiritual da consciência de Krishna, não estão interessados simplesmente na vida sexual. Assim, não dizemos: “Não se misturem com mulheres”, “parem a vida sexual”. Contudo, regulamos tudo sob o princípio superior da consciência de Krishna. Deste modo, tudo transcorre bem.



Jornalista: Então, seus discípulos não ficam simplesmente mordendo a língua ou os lábios e dizendo: “Eu quero tocá-la” ou “Eu quero tocá-lo”? Há um substituto?



Srila Prabhupada: Sim, um gosto superior. Isso é a consciência de Krishna. E está funcionando: já estou ensinando homens e mulheres ocidentais a como controlarem seu impulso sexual. Meus discípulos que você vê aqui são todos americanos. Eles não são importados da Índia.



Jornalista: Algo sobre o qual quero saber é o que o senhor acha de pessoas como o famoso guru vendedor de mantras, que me passou para trás, bem como muitas outras pessoas. Minha filha ficou muito envolvida com esse tipo de coisa por um tempo. Ela está imensamente desiludida.



Srila Prabhupada: A psicologia é que os ocidentais, especialmente os jovens, estão ansiando por vida espiritual. Agora, se alguém vem a mim e diz: “Swamiji, inicie-me”, eu imediatamente digo: “Você tem que seguir estes quatro princípios – não comer carne, não se envolver com jogos de azar, não se intoxicar e não fazer sexo ilícito”. Muitos vão embora. Mas esse vendedor de mantra não apresenta nenhuma restrição. É como um médico que diz: “Você pode ter os hábitos que queira; simplesmente tome meu remédio e você será curado”. Esse médico será muito popular.



Jornalista: Sim. Ele matará muitas pessoas, mas será muito querido.



Srila Prabhupada: Sim. [risos] E um médico de verdade diz: “Você não pode fazer isso. Você não pode fazer aquilo. Você não pode comer isso”. Isso é uma perturbação para as pessoas. Elas querem algo barato. Portanto, os enganadores vêm e as enganam. Eles aproveitam a oportunidade – porque as pessoas querem ser enganadas.





Um médico que diz que você pode ter os hábitos que queira será muito popular, mas matará muitas pessoas. Um médico de verdade apresenta várias restrições, porque isso é necessário para a cura.



“Oba! Aproveitemos!” Percebe? Assim, esses indivíduos sem caráter aconselham as pessoas: “Você é Deus – todos são Deus. Você apenas tem que redescobrir – você simplesmente esqueceu. Pegue este mantra e você se tornará Deus. Você se tornará poderoso. Não há necessidade de controlar os sentidos. Você pode beber. Você pode ter vida sexual irrestrita e fazer tudo o que queira”.



As pessoas gostam disso. “Oh! Simplesmente por meditar por quinze minutos me tornarei Deus e tenho que pagar apenas trinta e cinco dólares”. Milhões e milhões de indivíduos estarão dispostos a isso. Para os estadunidenses, trinta e cinco dólares não é muito. Porém, multiplicado por um milhão, são trinta e cinco milhões. [risos]



Não podemos blefar dessa maneira. Dizemos que, se você quer vida espiritual, você tem que seguir restrições. O mandamento é: “Não matarás”. Então, não direi: “Sim, você pode matar – o animal não tem sentimento, o animal não tem alma”. Não podemos blefar dessa maneira. Tente entender.



Jornalista: Esse tipo de coisa desencantou uma enorme quantidade de jovens.



Srila Prabhupada: Então, por favor, tente nos ajudar. Este movimento é excelente. Ele ajudará seu país. Ajudará toda a sociedade humana. Trata-se de um movimento genuíno. Não estamos blefando ou enganando. É autorizado.



Jornalista: Autorizado por quem?



Srila Prabhupada: Autorizado por Krishna, Deus. Na Índia, esta filosofia da consciência de Krishna tem milhões e milhões de seguidores – oitenta por cento da população. Se você entrevistar qualquer indiano, ele será capaz de falar muitíssimas coisas sobre a consciência de Krishna.



Jornalista: O senhor realmente acha, de um ponto de vista bem prático, que seu movimento tem chance de se estabelecer nos Estados Unidos?



Srila Prabhupada: Pelo que vejo, há grande chance. Não dizemos: “Abandone sua religião e venha para nós”. Dizemos: “Ao menos, siga seus próprios princípios. E então, se você quiser, estude conosco”. Algumas vezes, embora estudantes tenham seu diploma de mestrado, acontece de irem a universidades estrangeiras para estudar mais. Por que isso acontece? Querem mais esclarecimento. Similarmente, qualquer escritura religiosa que você acaso siga esclarecerá você. Porém, se você encontra mais neste Movimento para a Consciência de Krishna, por que não deveria aceitar isso? Se você é sério em relação a aprender sobre Deus, por que você deveria dizer: “Ah, sou cristão”, “Sou judeu”, “Não posso ir à sua reunião”? Por que você deveria dizer: “Ah, não posso autorizar que você fale em minha igreja”? Se estou falando sobre Deus, que objeção você pode ter?



Jornalista: Bem, eu não poderia estar mais de acordo com o senhor.



Srila Prabhupada: Estou disposto a conversar com qualquer homem consciente de Deus. Delineemos um programa para que as pessoas possam se beneficiar. Porém, querem seguir à sua maneira estereotipada. Se vemos que, por seguir um tipo particular de princípio religioso, a pessoa está desenvolvendo amor por Deus, eis uma religião de primeira classe. Contudo, se a pessoa está simplesmente desenvolvendo seu amor pelo dinheiro, que tipo de religião é essa?



Jornalista: O senhor está certo.



Srila Prabhupada: Este é o nosso teste: você tem que desenvolver amor por Deus. Não dizemos que você tem que seguir o cristianismo ou o maometismo ou o judaísmo ou o hinduísmo. Simplesmente queremos ver se você está desenvolvendo amor pelo Supremo. Mas eles dizem: “Quem é Deus? Eu sou Deus”. Percebe? Ensina-se a todos hoje em dia que eles próprios são Deus.



Jornalista: O senhor tem visto fotos de um homem sorridente com um bigode? Antes de morrer, ele disse que era Deus.



Srila Prabhupada: Ele era Deus? Ele foi mais um patife. Veja como isso está acontecendo. Ele estava se promovendo como Deus. Isso significa que as pessoas não sabem o que é Deus. Suponha que me aproxime de você e diga que sou o presidente dos Estados Unidos. Você aceitará?



Jornalista: [risos] Não, não acho que aceitaria.



Srila Prabhupada: Esses patifes! As pessoas os aceitam como Deus porque não sabem o que é Deus – esse é o problema.



Jornalista: É absolutamente absurdo alguém vir até você e dizer que é Deus.



Srila Prabhupada: Contudo, quem quer que o aceite como Deus é igualmente patife. O homem que diz ser Deus é o patife número um. Ele é um enganador. E o homem que é enganado também é patife. Ele não sabe o que é Deus, senão que pensa que Deus é tão barato que você pode encontrá-lo no mercado.



Jornalista: É claro, o conceito ocidental é que o homem é criado à imagem de Deus. Consequentemente, Deus tem que se parecer com o homem de alguma maneira.



Srila Prabhupada: Vocês têm muitíssimos cientistas. Então, simplesmente descubram qual é a verdadeira imagem de Deus, como realmente se parece Sua forma. Onde está o departamento? Vocês têm muitíssimos departamentos – departamento de pesquisa, departamento tecnológico. No entanto, onde está o departamento que pesquisa o que é Deus? Existe semelhante departamento de saber?



Jornalista: Não há nenhum departamento trabalhando na questão de Deus – posso dizer prontamente.



Srila Prabhupada: Essa é a dificuldade. Porém, o Movimento para a Consciência de Krishna é o departamento de como conhecer Deus. Se você estudar conosco, você não aceitará nenhum patife como Deus. Você aceitará apenas Deus como Deus. Estamos ensinando sobre outra natureza, além desta natureza material. Essa natureza material está sendo criada e novamente dissolvida, mas Deus e Sua natureza espiritual são eternos. Nós entidades vivas também somos eternos – sem qualquer fim ou começo. Este Movimento para a Consciência de Krishna está ensinando como podemos nos transferir para a natureza espiritual e eterna, onde Deus reside.



Jornalista: Essa é a busca do homem.



Srila Prabhupada: Sim, essa é a busca. Todos estão tentando ser felizes, pois essa é a prerrogativa da entidade viva. Ela por natureza se destina a ser feliz, mas não sabe onde pode ser feliz. Está tentando ser feliz em um lugar onde há quatro condições miseráveis, a saber, nascimento, velhice, doença e morte. Os cientistas estão tentando ser felizes e fazer os outros felizes. Porém, que cientista deteve a velhice, a doença, a morte e o nascimento? Algum cientista foi bem-sucedido nisso?



Jornalista: Não acho.



Srila Prabhupada: Então, o que é isso? Por que não consideram: “Fizemos muitíssimo progresso, mas que progresso fizemos nessas quatro áreas?” Eles não progrediram em nada. Ainda assim, estão muito orgulhosos de seu avanço em educação e tecnologia. Mas as quatro misérias primárias continuam como sempre foram.



Os cientistas podem ter progredido na esfera médica, mas existe algum remédio que nos permita dizer: “Agora, não há mais doenças”? Existe tal remédio? Não. Então, onde está o avanço dos cientistas? Na verdade, as doenças estão crescendo e assumindo muitíssimas novas formas.



Eles inventaram as armas nucleares. O que há de bom nisso? Simplesmente para matar. Inventaram algo para que nenhum homem morra novamente? Isso seria um grande crédito para eles. Contudo, as pessoas estão morrendo a todo momento, e os cientistas simplesmente inventaram algo para acelerar sua morte. Isso é tudo. Isso diz algo a favor deles? A morte continua sem solução.



E eles estão tentando deter a superpopulação. Entretanto, onde está a solução? A cada minuto, a população cresce em cem pessoas. Essas são as estatísticas.



Portanto, não há solução para o nascimento, não há solução para a morte, não há solução para as doenças e não há solução para a velhice. Mesmo um grande cientista como o professor Einstein teve de se submeter à velhice e à morte. Por que não pôde deter a velhice? Todos estão tentando permanecer jovens, mas qual é o processo? Os cientistas não estão se dedicando à solução desse problema – porque está além do alcance de seus meios.



Eles estão apresentando alguma sorte de embuste – isso é tudo. Contudo, a consciência de Krishna é a solução, e tudo isso é descrito no Bhagavad-gita. Que eles tentem compreender. Que eles ao menos experimentem.



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