O Grande Quadrado de abril
Poucas vezes nos
últimos anos tivemos uma configuração tão tensa quanto o Grande Quadrado da
segunda quinzena de abril de 2014. Hora de manter a serenidade e preparar tempos
melhores.
O mapa do Ingresso Solar em Áries, quando o Sol cruza o equador
celeste e distribui sua luz de maneira uniforme pelos dois hemisférios, sempre
foi uma das mais importantes ferramentas de previsão em Astrologia Mundial.
Através deste mapa é possível sentir a atmosfera geral do ano astrológico. Ao
recalculá-lo para cada capital nacional, é possível tirar conclusões mais
específicas, válidas apenas para aquele país.
A grande marca do Ingresso
Solar 2014, ocorrido em 20 de março, é a Quadratura T formada por Urano, Plutão
e Júpiter. Não bastasse a turbulência já associada a esta configuração, Marte
fecha com os três planetas um Grande Quadrado na segunda quinzena de abril,
definindo o momento mais tenso de todo o ano.
Ingresso Solar 2014 - 20.3.2014, 16h57 UT - Mapa
genérico, sem divisão de casas.
A quadratura entre
Urano e Plutão continua a ser o grande motor do ano, tal como nos anos
anteriores. Trata-se de uma configuração de longa duração, que ainda estará
ativa no Ingresso Solar de 2015. Neste ano, porém, Urano em Áries e Plutão em
Capricórnio contam com um coadjuvante de peso, que é Júpiter em Câncer. O
desenho formado pelos três planetas é a conhecida
Quadratura T, quando
dois planetas encontram-se em oposição entre si e fechando quadraturas a um
terceiro. Na interpretação da Quadratura T é importante considerar dois
fatores:
a) que planeta recebe a quadratura dos outros dois, pois ali tende a
ser o principal vetor de energia, o foco onde mais claramente se manifestam os
significados dos planetas envolvidos. No caso presente, Urano em Áries ocupa
este papel.
b) que quadruplicidade - cardinal, fixa ou mutável - abriga a
quadratura. Como a configuração de 2014 envolve planetas em signos cardinais,
podemos esperar ação, decisões rápidas, iniciativas e avanços - para o bem ou
para o mal.
Quadratura T do Ingresso Solar 2014.
A dinâmica
básica da Quadratura T de 2014 pode ser exemplificada no conto
A Roupa Nova
do Rei, publicado por Hans Christian Andersen, em 1837: um espertalhão
faz-se passar por um famoso alfaiate estrangeiro e engana o rei, afirmando-se
capaz de tecer um traje magnífico, que apenas as pessoas mais inteligentes e
refinadas seriam capazes de admirar. O rei, muito vaidoso, logo cai na armação e
fornece ao alfaiate todos os materiais caros que este solicita. O alfaiate passa
meses vivendo às custas do governante, enquanto finge que tece fios invisíveis.
Os cortesãos, para não passarem atestado de ignorância, também fingem que são
capazes de enxergar o "tecido", e emitem elogios exagerados. Depois de algum
tempo o rei aparece para experimentar o traje maravilhoso. Não consegue ver
roupa alguma, mas, como todos os cortesãos emitem exclamações de admiração
diante da suposta túnica invisível, o monarca também engrossa o coro dos
admiradores, e permite-se "vestir" a túnica e desfilar com ela em praça
pública.
O Rei nu, ilustração de um site espanhol de sátira
política.
Evidentemente, ninguém tem coragem de admitir que não está
enxergando nada além das banhas do rei. Apenas um menininho não se contém e,
apontando o dedo, grita para a mãe: "Olha lá, o rei está nu!" É o suficiente
para que todos caiam na gargalhada, obrigando o monarca, envergonhado, a deixar
a praça enrolado em alguma toalha.
Capricórnio é um signo ligado ao exercício
do poder, à política e às ambições de ascensão social. Plutão, por sua vez, é um
significador de processos de expurgo, nos quais, como numa erupção vulcânica,
conteúdos jogados para "debaixo do pano" vêm à luz de maneira súbita, chocante e
irreversível. Plutão em Capricórnio manifesta-se, portanto, nos escândalos
envolvendo políticos e magnatas, que vêm pipocando com grande intensidade nos
últimos anos, mundo afora.
Plutão em Capricórnio, um símbolo perfeito para os
podres poderes, pode ser associado ao rei vaidoso e incapaz de tomar
decisões inteligentes, assim como aos cortesãos bajuladores do conto de
Andersen.
Já Urano em Áries pode ser corporificado no menininho que tem a
audácia de gritar que o rei está nu. Em analogia com o comportamento infantil,
Urano em Áries reage de forma direta, instantânea, sem premeditações e sem
subterfúgios. Não é difícil associar este trânsito com as multidões em protesto
pelo mundo, formadas na maioria por jovens.
Júpiter em Câncer, ao invés de
suavizar, magnifica e dá uma dimensão ainda mais dramática ao conflito entre o
poder arbitrário e as multidões em revolta. Câncer é o signo das raízes
familiares, dos laços de sangue, dos vínculos determinados pelo passado comum.
Mais amplamente, é o signo do clã, da tribo, do pertencimento a uma minoria
étnica, linguística e religiosa. Com Júpiter, um planeta social, neste signo tão
intensamente ligado ao conceito de família, não é de estranhar que as
rivalidades locais e os conflitos étnicos de toda ordem estejam em alta. Como
Júpiter em Câncer participa da configuração com Urano e Plutão, o que temos é
uma mescla de questões sociais, políticas e étnicas, num caldeirão altamente
explosivo. Um bom exemplo dos excessos que podem ser despertados pela Quadratura
T é o conflito na Ucrânia, onde pequenas diferenças étnicas entre o leste, mais
vinculado à cultura russa, e o oeste, mais ocidentalizado, vêm servindo de
pretexto para uma exacerbação de sentimentos que pode levar o país à guerra
civil.
As aflições de Marte e Vênus
Marte é importante em qualquer ingresso
solar em Áries, dada sua condição de dispositor do Sol. Por isso, chama a
atenção de imediato o fato de Marte estar em exílio (Libra) e retrógrado, duas
condições que tendem a trabalhar contra a fluência natural da energia deste
planeta.
Se Marte é um símbolo de ação direta e energia assertiva, na
retrogradação tende a atuar por vias oblíquas, não tão evidentes, mas não menos
violentas.
A prova de que Marte retrógrado em Libra não é "bonzinho" pode
ser extraída da análise das
únicas quatro ocasiões, ao longo dos últimos
110 anos, em que apresentou-se assim no Ingresso Solar em Áries.
Vejamos o que
aconteceu:
1903 - Invasão britânica ao Tibete e, já no início de 1904,
mas no mesmo Ingresso Solar, início da guerra russo-japonesa com a ocupação
japonesa de Porto Artur.
Direita: Batalha de Mukden, mais violento conflito
da guerra russo-japonesa.
1935 - Invasão e ocupação da Etiópia pelas tropas
fascistas do ditador italiano Mussolini; na Alemanha, Hitler cassa a cidadania
das comunidades judaicas, dando a base legal para a perseguição que só
terminaria com o extermínio de 6 milhões de judeus nas câmaras de gás.
A invasão da Etiópia por Mussolini, em 1935, opôs uma
máquina de guerra europeia a um exército quase medieval. Em poucos dias o
imperador Hailé Selassié estava deposto. Décadas mais tarde seria mitificado
como uma figura semidivina no culto rastafari da Jamaica.
1950 - Início da
Guerra da Coreia, com a ocupação de parte do território do país por uma coalizão
de forças russas, chinesas e milícias comunistas coreanas.
1982 - Invasão
por tropas israelenses dos campos de refugiados de Sabra e Shatila, no sul do
Líbano, com extermínio de centenas de pessoas desarmadas; invasão argentina às
Ilhas Malvinas, então pertencentes à Inglaterra, do que resultou uma guerra com
centenas de mortos.
Marte em Libra: a fábula do lobo e do cordeiro
Todos os eventos
relacionados a Marte retrógrado em Libra guardam analogia com a velha fábula do
lobo e do cordeiro: há sempre uma enorme desproporção de forças, e a parte
atacante sempre utiliza o fator surpresa para iniciar uma guerra-relâmpago e
ocupar territórios da parte atacada. Todas as agressões foram cuidadosamente
premeditadas. Nenhum desses conflitos teve outra motivação senão a ambição
territorialista da potência que tentou aproveitou uma superioridade
circunstancial; e nenhuma dessas ocupações durou mais do que alguns poucos
anos.
Marte retrógrado em Libra parece ter consciência de que
não é a força bruta que vence as guerras, mas sim o planejamento racional de
ações fulminantes. Os atacantes agem com cinismo enquanto o mundo ao redor se
cala. Foi assim com o Tibete de 1903 (quem recriminaria os ingleses?) e com a
Etiópia de 1935 (quem desafiaria Hitler?). Também está sendo assim com a Ucrânia
de 2014. E eventos da mesma natureza podem ocorrer em outras regiões do mundo
onde houver uma potência ávida de poder ao lado de um vizinho
circunstancialmente desprotegido.
Aflições de Vênus e Marte no Ingresso Solar
2014.
Outro ponto a acrescentar é que Vênus, planeta regente de Libra e
dispositor de Marte no Ingresso Solar de 2014, encontra-se tensionado em
Aquário, formando quadratura com a Lua em Escorpião. Vênus, planeta da paz e da
diplomacia, não costuma conduzir a bons resultados quando envolvido em tais
aflições. Muita gente se perguntará, em 2014-15, para que servem a ONU e os
demais organismos internacionais de mediação de conflitos.
Abril, o mês mais perigoso
O período potencialmente mais explosivo de
2014 é a quarta semana de abril, especialmente entre os dias 20 e 23, quando
Marte retrograda até os graus da Quadratura T, transformando-a num Grande
Quadrado em signos cardinais. Dois eclipses agregam ainda mais adrenalina a este
mês conturbado: o primeiro em 15 de abril (lunar total) e o segundo em 29 de
abril (eclipse anular do Sol).
Sendo Marte mais rápido que os demais planetas
envolvidos, cabe a ele o papel de gatilho de possíveis crises, impasses e
conflitos desencadeados no período. O espectro de possibilidades é amplo,
envolvendo desde convulsões sociais e conflagrações militares (apostas óbvias,
dada a natureza do aspecto), até grandes desastres naturais ou resultantes de
falhas tecnológicas. Com Urano e Plutão na linha de tiro, sempre é possível
pensar em acomodações de placas tectônicas ou erupções vulcânicas, mas também
está presente o risco de acidentes nucleares, ameaças terroristas ou perdas
financeiras inesperadas.
A propósito desta configuração, a astróloga Celisa
Beranger, normalmente comedida e avessa a sensacionalismos, declarou o seguinte
durante o seminário Presságios 2014:
Notícias surpreendentes abalam. Atos de
violência individual atingindo inocentes. Comportamentos extremos. Decisões
repentinas por saturação e indignação. Vivemos um tempo em que não há garantias.
É preciso estar preparado para ser surpreendido, atuar quando possível ou
adaptar-se quando necessário.
É possível que nada aconteça ao longo de abril?
É evidente que sim. Com frequência, configurações tensas parecem passar em
branco, e só algum tempo mais tarde percebemos os efeitos dos processos
disparados durante a sua vigência. É bom, portanto, ficar de olho naquilo que
estiver nascendo ao longo da segunda quinzena de abril, tais como:
- lançamento de candidaturas a cargos eletivos (presidente, governadores
etc.);
- empreendimentos industriais ou imobiliários;
- fusões ou aquisições de grandes empresas;
- mudanças súbitas da política econômica;
- aprovação de leis polêmicas;
- primeira notícia sobre novos escândalos, epidemias etc.
- A ideia é
sempre a mesma: o que estiver nascendo na segunda quinzena de abril carregará em
seu "DNA" a energia tensa da Grande Quadratura cardinal e dos dois eclipses que
marcam o período. Mais cedo ou mais tarde, os desdobramentos surgirão.
- Fonte: Fernando Fernandes.
Sementes Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues