domingo, 16 de março de 2014

Feliz Gaura Purnima 2014! Por que a Índia e vaishnavas estão em festa? Entenda aqui.

Krishna Vem Novamente: O Advento de Caitanya Mahaprabhu

Krishna Vem Novamente 1
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Excertos da palestra realizada em Mayapur, em 16 de março de 1976
Como no ditado “exemplo é melhor do que preceito”, Krishna vem novamente ao mundo material no disfarce de um devoto dEle mesmo a fim de mostrar pelo exemplo o que Ele esperava quando, no Bhagavad-gita, pediu que todos se rendessem a Ele.
“Deste modo, meu Senhor, aparecestes em diferentes encarnações – como seres humanos, como animais, como uma personalidade imensamente santa, como semideuses e como um peixe e uma tartaruga. Desta maneira, mantendes toda a criação em diferentes sistemas planetários e matais os princípios demoníacos em todas as eras. Meu Senhor, Vós, portanto, protegeis os princípios da religião. Nesta era de Kali, não Vos declarais como a Suprema Personalidade de Deus, em virtude do que sois conhecido como tri-yuga, ou o Senhor que aparece em três yugas”. (Srimad-Bhagavatam7.9.38)
Então, aqui está uma declaração muito específica sobre o avatara Sri Caitanya Mahaprabhu. Embora Caitanya Mahaprabhu seja a mesma Suprema Personalidade de Deus, Ele é channa, isto é, Ele é a Suprema Personalidade de Deus encoberta, não manifestada diretamente, isto porque Ele apareceu como um devoto.
Rupa Gosvami descobriu que Ele é um avatara de Krsna, o que também foi confirmado por todos os devotos, como Sarvabhauma Bhattacarya e outros, e confirmado no shastra, como nosUpanisads, no Mahabharata etc. Qualquer avatara deve ser confirmado pelos grandes devotos, pelas grandes personalidades, e isso deve ser corroborado pela declaração no shastra – isto se chamasadhu-shastra.
Krishna Vem Novamente 2
Foto: A devota Sita Thakurani identifica que Caitanya é o próprio Krishna.
Há outra declaração no Srimad-Bhagavatam. Como vocês sabem, declara-se diretamente emSrimad-Bhagavatam 11.5.32 que, quando a Suprema Personalidade de Deus estava sendo descrita diante do rei Nimi, por Karabhajana Muni, descreveram-se as diferentes encarnações em diferentes milênios, yuga-dharma-vrttam. Caitanya Mahaprabhu também é descrito por Vrndavana Dasa Thakura com as palavras yuga-dharma-palau (Caitanya-bhagavataAdi 1.1).
De maneira similar, Caitanya Mahaprabhu é descrito no primeiro verso que citei do Srimad-Bhagavatam como channah kalau, o que significa que, em Kali-yuga, Ele não aparece como outras encarnações – como Nrsimhadeva, Vamanadeva, o Senhor Ramacandra e tantos outros –, senão que aparece como um devoto. Por quê? Caitanya Mahaprabhu é o avatara mais magnânimo. As pessoas são tão tolas que não puderam compreender Krsna. Quando Krsna disse sarva-dharman parityajya mam ekam saranam (Bhagavad-gita 18.66), “Abandonai tudo e simplesmente vos rendei a Mim”, a postura despertada nas pessoas foi: “Quem é essa pessoa ordenando sarva-dharman parityajya? Que direito Ele tem?”.
A nossa doença material é que, se alguém nos ordena que façamos algo, nós protestamos: “Quem é você para me dar uma ordem?”. O que o próprio Deus, Krsna, pode dizer? Como a Pessoa Suprema, o Ser Supremo, Ele ordena. Sendo o controlador supremo, Ele tem que ordenar – esse é o papel de Deus –, mas somos tão tolos que, quando Deus ordena que façamos algo, entendemos isso de outra maneira: “Quem é esse homem que está ordenando que eu devo abandonar tudo,sarva-dharman parityajya? Por que eu deveria fazer isso? Criei muitíssimos dharmas, ‘ismos’, e agora devo abandoná-los? Por que eu deveria fazê-lo?”. Diante disso, o mesmo Senhor veio novamente, agora como Caitanya Mahaprabhu.
Em Prayaga, Rupa Gosvami estava oferecendo suas reverências ao Senhor Caitanya enquanto este estava ocupado em cantar. Esse foi o primeiro encontro com Rupa Gosvami, momento no qual ele compôs este verso:
namo maha-vadanyayakrsna-prema-pradaya tekrsnaya krsna-caitanya-namne gaura-tvise namah
“Ó mais munificente encarnação, sois o próprio Krsna aparecendo como Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu. Assumistes a coloração dourada de Srimati Radharani, e estais distribuindo vastamente o amor puro por Krsna. Oferecemos nossas respeitosas reverências a Vós”.
Krishna Vem Novamente 3
Foto: O Senhor Caitanya e Seus associados distribuindo amor a Deus pelas ruas através do cantar dos santos nomes.
Ele é Krsna, que veio para dar krsna-prema a vocês, mas Ele está agindo como um devoto de Krsna, isto é, Ele encobriu-Se (channah-avatara). Agora, Ele não está comandando: “Faça isto”. Na verdade, Ele está sim comandando, mas de modo diferente, porque as pessoas compreenderam errado: “Quem é esta pessoa dando ordem?”. Mesmo um sujeito infame tido como erudito disse certa vez: “O abandono de tudo é algo demais para se exigir”. Personalidades sofisticadas estão pensando e comentando dessa maneira. O nosso processo, no entanto, é nos submetermos. O ensinamento de Caitanya Mahaprabhu é que, a não ser que nos submetamos, não há esperança de avanço em consciência de Krsna.
trnad api sunicenataror api sahisnunaamanina manadenakirtaniyah sada harih
(Siksastaka 3)
Aquele que quer cantar o mantra Hare Krsna tem que adotar este princípio de trnad api sunicena, isto é, tem que se tornar mais humilde do que a grama. Embora a grama esteja na rua e esteja sendo pisoteada por vocês e por todos, ela jamais protesta. E é preciso ser mais tolerante do que a árvore. A árvore está nos dando muita ajuda, como frutas, flores e folhas, e, quando há calor escaldante, ela nos concede refúgio também, permitindo que nos sentemos sob ela. Por mais benéfica que seja a árvore, eu a corto tão logo eu queira, e não há protesto por parte dela. A árvore não diz: “Eu lhe dei tanto auxílio, e você está me cortando?”, senão que é tolerante. Portanto, Caitanya Mahaprabhu selecionou o exemplo da tolerância da árvore. E disse ainda,amanina manadena: Para si mesmo, o devoto não deve esperar nenhuma posição respeitável, mas deve oferecer todo respeito a qualquer um. Kirtaniyah sada harih: Se adquirirmos tais qualificações, poderemos cantar o maha-mantra Hare Krsna sem nenhuma perturbação.
Krsna ensinou tudo para nos tornarmos conscientes de Krsna, mas, ainda assim, somos tão infames que não pudemos compreender Krsna, em virtude do que Krsna veio novamente: “Como esses sujeitos infames não Me conseguiram compreender; agora, através de Minha conduta pessoal, ensinarei como alguém pode se tornar devoto de Krsna”. A postura de Sri Caitanya Mahaprabhu é ensinar através de Sua conduta pessoal.
Há um devoto que massageia meu corpo, mas ele não estava massageando apropriadamente, em razão do que eu peguei de imediato a mão dele e comecei a massagear: “Faça assim. Faça assim”. Isto não significa, no entanto, que sou massagista ou servo dessa pessoa. Similarmente, não se esqueçam, devido a Ele estar fazendo as vezes de um devoto, de que Sri Caitanya Mahaprabhu é a Suprema Personalidade de Deus, Krsna. Mahaprabhu sri-caitanya radha-krsna nahe anya (Guru-parampara 6): “Sri Caitanya Mahaprabhu não é outro senão Sri Sri Radha-Krsna”. Vocês estão adorando Radha-Krsna, e há a Deidade de Caitanya Mahaprabhu também, mas existem alguns grupos que protestam: “Por que a Deidade de Caitanya Mahaprabhu deveria ser colocada junto de Krsna?”. Eles dizem isso em virtude de não saberem que sri-caitanya radha-krsna nahe anya, isto é, que Caitanya é Radha-Krsna.
Krishna Vem Novamente 4
Foto: Caitanya como Radha-Krsna.
É confirmado pelos shastras, portanto, que Sri Krsna Caitanya é Krsna. No Srimad-Bhagavatam(7.9.38), como já disse, afirma-se que channah kalau yad abhava, isto é, em Kali-yuga, Ele não aparece diretamente, como apareceu em encarnações como Nrsimhadeva, Vamanadeva ou o Senhor Ramacandra, senão que aparece, abhavat, como devoto, o Senhor Caitanya Mahaprabhu. “Algumas vezes, portanto, sois tratado como tri-yuga”. Existem quatro yugas, mas Ele é conhecido como tri-yuga porquanto, em três yugas, Ele aparece distintamente, e, na quarta yuga, Kali-yuga, aparece como devoto.
Fonte: Site De Volta ao Supremo

Gaura Purnima acontece todo ano na Lua Cheia de Março quando ocorreu o nascimento de Caitanya Mahaprabhu na terra, conhecido como o "Avatar Dourado" porque sua pele era de um luminoso dourado.


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Bhaja nitai-gaura!! Rasalila Devi Dasi.

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Sementes Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues
Rasalila Devi Dasi

sábado, 8 de março de 2014

ESTUDO DOS VEDAS (cont.) - CAP. III - KARMA-YOGA


CAPÍTULO III: Karma-yoga





Pérola 17. SEGUINDO A PRÓPRIA NATUREZA (versos 1 a 8)


1. Arjuna disse: Ó Janardana, ó Keshava, por que queres ocupar-me nesta guerra terrível, se achas que a inteligência é melhor do que o trabalho fruitivo? 2. Minha inteligência ficou confusa com Tuas instruções equívocas. Portanto, dize-me definitivamente o que me será mais benéfico. 3. A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó virtuoso Arjuna, acabei de explicar que há duas classes de homens que tentam compreender o eu. Alguns se inclinam a compreendê-lo pela especulação filosófica empírica, e outros, pelo serviço devocional. 4. Não é possível livrar-se da reação só porque se deixa de agir, nem pode alguém atingir a perfeição só porque pratica a renúncia. 5. Todos são irremediavelmente forçados a agir segundo as qualidades que adquirem nos modos da natureza material; portanto, ninguém pode deixar de fazer algo, nem mesmo por um momento. 6. Aquele que impede os sentidos de agir, mas não afasta sua mente dos objetos dos sentidos, decerto ilude a si mesmo e não passa de um impostor. 7. Por outro lado, se uma pessoa sincera utiliza a mente para tentar controlar os sentidos ativos e passa então a praticar karma-yoga sem apego, ela é muito superior. 8. Executa teu dever prescrito, pois este procedimento é melhor do que não trabalhar. Sem trabalho, não se pode nem ao menos manter o corpo físico.

Pudemos ver no capítulo anterior duas espécies de procedimentos para quem busca a auto-realização – sankhya-yoga, o estudo analítico da natureza material e espiritual, e karma-yoga, a qual é também conhecida como buddhi-yoga, ou a ação baseada no conhecimento espiritual através da qual fica-se livre de qualquer reação material. O processo de sankhya é geralmente aceito por pessoas inclinadas a especular filosoficamente e a compreender as coisas através do conhecimento experimental. Tais pessoas costumam se afastar da vida ativa e dedicam-se a praticar penitências e austeridades num lugar isolado. Em karma-yoga, porém, a pessoa sente grande prazer espiritual em agir para a satisfação de Krishna. Portanto, ao invés de se afastar das atividades tidas como materiais, o karma-yogi aprende a arte de espiritualizar tais atividades, enquanto permanece ocupado de acordo com a sua própria natureza. Como as pessoas comuns sentem muita dificuldade em compreender que em karma-yoga não é necessário afastar-se das atividades materiais e sim afastar-se do gozo dos sentidos materiais, Arjuna pede para o Senhor Krishna definitivamente tornar este tema mais claro. Como resposta, o Senhor diz que simplesmente por se afastar das atividades mundanas, a pessoa não pode manter-se livre das reações. A condição de Arjuna como um kshatriya era um exemplo perfeito disso, pois, caso ele renunciasse a luta, estaria incorrendo em pecado e certamente teria de sofrer severas reações. Ao seguir sua própria natureza, qualquer pessoa consciente de Deus sente grande satisfação em se ocupar no serviço devocional amoroso e, gradualmente, obtém grandes percepções a nível material e espiritual. No entanto, quando a pessoa tenta contrariar sua natureza, reprimindo suas tendências naturais, ela se depara com uma luta constante com seus sentidos e mente, cujo resultado é o inevitável enfraquecimento espiritual.
A conclusão é que todos devem permanecer na sua própria ocupação natural com o propósito de alcançar o objetivo da vida, em vez de se tornar um pseudotranscendentalista que se recusa a trabalhar em consciência de Krishna enquanto a mente permanece apegada aos objetos dos sentidos. Em outras palavras, enquanto se vive neste mundo material, não se deve abandonar caprichosamente o trabalho, pois a propensão a dominar a natureza material e satisfazer os sentidos é realmente muito forte. Estas propensões mundanas precisam ser purificadas e, para isso, é mais adequado nos ocuparmos em nossos deveres prescritos e oferecermos os frutos desta ocupação como uma oferenda devocional ao Senhor. Tal oferecimento é chamado yajña, ou sacrifício.


Pérola 18. A IMPORTÂNCIA DO SACRIFÍCIO (versos 9 a 16)


9. Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício a Vishnu; caso contrário, o trabalho produz cativeiro neste mundo material. Portanto, ó filho de Kunti, executa teus deveres prescritos para a satisfação dEle, e desta forma sempre permanecerás livre do cativeiro. 10. No início da criação, o Senhor de todas as criaturas enviou muitas gerações de homens e semideuses, que deveriam dedicar-se a executar sacrifícios para Vishnu, e abençoou-os dizendo: “Sede felizes com este yajña (sacrifício) porque sua execução outorgar-vos-á tudo o que é desejável para viverdes com felicidade e alcançardes a liberação”. 11. Os semideuses, estando contentes com os sacrifícios, também vos agradarão, e assim, pela cooperação entre homens e semideuses, a prosperidade reinará para todos. 12. Cuidando das várias necessidades da vida, os semideuses, estando satisfeitos com a realização de sacrifício, suprirão todas as vossas necessidades. Mas aquele que desfruta destas dádivas sem oferecê-las aos semideuses como reconhecimento é certamente um ladrão. 13. Os devotos do Senhor libertam-se de todas as espécies de pecados porque comem alimento que primeiramente é oferecido como sacrifício. Outros, que preparam alimento para o próprio gozo dos sentidos, na verdade comem apenas pecado. 14. Todos os corpos vivos subsistem de grãos alimentícios, que são produzidos das chuvas. As chuvas são produzidas pela execução de sacrifício, e o sacrifício nasce dos deveres prescritos. 15. As atividades reguladas são prescritas nos Vedas, e os Vedas manifestam-se diretamente da Suprema Personalidade de Deus. Por conseguinte, a Transcendência onipenetrante situa-Se eternamente nos atos de sacrifício. 16. Meu querido Arjuna, aquele que, na vida humana, não segue esse ciclo de sacrifício estabelecido pelos Vedas certamente leva uma vida cheia de pecado. Vivendo só para a satisfação dos sentidos, tal pessoa vive em vão.

A prosperidade humana é completamente dependente das dádivas naturais, as quais são supridas pela misericórdia do Senhor. Portanto, se a civilização humana for consciente de Deus e viver de modo simples, voltada principalmente para seu interesse em auto-realização, o Senhor estará satisfeito e abençoará a todos, suprindo-os com amplo fornecimento de opulências materiais. Como está claramente explicado aqui, a lei natural dá permissão para que, através do processo conhecido como yajña ou sacrifício, os seres humanos piedosos tirem o máximo proveito das dádivas divinas presentes na natureza. Porém, o homem materialista não é capaz de compreender este fato e se dedica a uma vida artificial que supervaloriza os empreendimentos industriais. Isto se deve unicamente à visão ateísta do homem moderno, que perdeu sua consciência de Deus e, por isso, tem causado uma condição de vida infernal, vivendo em função da exploração predatória da natureza material.
Fica claro, portanto, que, para nos mantermos afastados de todas as espécies de contaminações produzidas pela associação mundana no mundo material, devemos executar yajñas, ou sacrifícios, assumindo nossos deveres prescritos em consciência de Krishna da forma mais impecável possível.
Como foi discutido anteriormente, a atração dos sentidos pelos objetos é inevitável. Os olhos desejam contemplar belas formas, os ouvidos querem ouvir sons agradáveis, o paladar deseja saborear alimentos saborosos e assim por diante. Desse modo, uma pessoa que queira evitar os perigos da contaminação material terá de impedir que os sentidos materiais se ocupem em desfrutar dos objetos dos sentidos mundanos, redirecionando-os para os objetos dos sentidos espirituais. Isso é o verdadeiro conceito de sacrifício – tirar os sentidos do contato com a matéria e colocá-los a serviço do Senhor. Utilizando os sentidos para a satisfação do Senhor, a pessoa alcança a posição de liberação e, no devido tempo, retorna ao reino de Deus. Por outro lado, não agindo para a satisfação do Senhor, qualquer pessoa terá de permanecer neste mundo material, tentando inutilmente satisfazer seus sentidos, e terá de conviver com diferentes reações materiais que, certamente, irão ser a causa de sofrimento material.
O verdadeiro propósito dos sacrifícios é satisfazer a Pessoa Suprema, o Senhor dos sacrifícios. Quando os sacrifícios são devidamente executados, o Senhor dos sacrifícios Se torna satisfeito e, como consequência, os semideuses, os quais são agentes que têm autoridade para agir em nome da Suprema Personalidade de Deus, também se satisfazem. Como encarregados dos diferentes departamentos de fornecimentos, os semideuses, satisfeitos, não permitem que haja escassez de recursos naturais. Eles são considerados como partes do Senhor e, por agirmos em consciência de Krishna, estaremos servindo e satisfazendo o Todo, o que inclui naturalmente a satisfação de Suas partes, os semideuses. É importante compreender que os diferentes sacrifícios recomendados nos Vedas para a satisfação dos semideuses são, em última análise, oferecidos à Suprema Personalidade de Deus. Tais sacrifícios são executados para que os semideuses possam fornecer ar, luz e água suficientes para que haja produção de grãos alimentícios em abundância. No entanto, quando o Senhor Krishna é adorado, os semideuses, que são diferentes membros do Senhor, são também automaticamente adorados, sendo desnecessário um esforço em adorá-los independentemente do Senhor. A conclusão é que a adoração dos semideuses é executada por aqueles que têm insuficiente fundo de conhecimento. Ainda assim, através deste processo, uma pessoa poderá se livrar da reação pecaminosa de usurpar as substâncias naturais que, sob a sanção superior do Senhor, são fornecidas pelos semideuses. Devemos compreender, portanto, que as necessidades da vida são os cereais, as frutas, o leite, etc. – os quais são supridos unicamente pelos semideuses dotados de poderes divinos. Os seres humanos não podem fabricar o calor, a luz, o ar, a água, etc., sem os quais ninguém pode viver. Torna-se completamente evidente que nossa vida depende das substâncias naturais fornecidas pelo Senhor e devemos fazer um uso apropriado delas para nos manter saudáveis e em condições adequadas para a auto-realização espiritual. Porém, se aquilo que recebemos do Senhor e de Seus agentes for utilizado para mero gozo dos sentidos, certamente nos tornaremos ladrões e teremos de ser punidos pelas leis da natureza material.


Pérola 19. PARA A ALMA AUTO-REALIZADA NÃO HÁ DEVER (versos 17 a 20)


17. Mas para quem sente prazer no eu e utiliza a vida humana para buscar a auto-realização, satisfazendo-se apenas com o eu, ficando plenamente saciado – para ele não há dever. 18. Um homem auto-realizado não tem propósito a cumprir no desempenho de seus deveres prescritos, tampouco tem ele alguma razão para não executar tal trabalho. Nem tem ele necessidade alguma de depender de nenhum outro ser vivo. 19. Portanto, sem se apegar aos frutos das atividades, tem-se de agir por uma questão de dever, pois, trabalhando sem apego, alcança-se o Supremo. 20. Reis tais como Janaka alcançaram a perfeição com a simples execução dos deveres prescritos. Portanto, apenas para educar o povo em geral, deves executar teu trabalho.

Os rituais védicos, tais como os sacrifícios prescritos, visam à purificação das atividades passadas de uma pessoa que se entregou ao gozo dos sentidos; por isso, eles são imprescindíveis para pessoas que relutam em se ocupar a serviço do Senhor. Quem é consciente de Krishna, porém, se ocupa em atividades espirituais, as quais são livres das reações boas ou más. Tais almas puramente conscientes de Krishna são auto-realizadas e inteiramente desapegadas das atividades deste mundo. No entanto, ainda que não tenha interesses pessoais por este mundo, uma pessoa completamente consciente de Krishna deve se ocupar de uma maneira exemplar e cumprir o propósito de ensinar a todos como se deve agir e como se deve viver. Ainda assim, tal pessoa realmente consciente de Krishna atuará sempre para o prazer do Senhor e, desse modo, irá manter-se inteiramente satisfeita. Para tal pessoa, na verdade, não haveria mais necessidade de aceitar deveres prescritos específicos, pois, pela graça do Senhor, todas as impurezas que existiam em seu coração, resultado acumulado de muitas e muitas vidas, são eliminadas através de suas atividades devocionais. Evidentemente, nem o Senhor Krishna nem Seu amigo Arjuna precisariam ocupar-se na Batalha de Kurukshetra. Eles só lutaram para ensinar as pessoas que a violência às vezes se faz necessária, especialmente quando ela visa à proteção da religiosidade.

Pérola 20. O COMPORTAMENTO EXEMPLAR DO SENHOR KRISHNA (versos 21 a 24)

21. Seja qual for a ação executada por um grande homem, os homens comuns seguem, e o mundo inteiro procura imitar todos os padrões que ele estabelece através de seus atos exemplares. 22. Ó filho de Pritha, não há trabalho prescrito para Mim dentro de todos os três sistemas planetários. Nem sinto falta de nada, nem tenho necessidade de obter algo – e mesmo assim ocupo-Me nos deveres prescritos. 23. Pois, se alguma vez Eu deixasse de ocupar-Me na cuidadosa execução dos deveres prescritos, ó Partha, todos os homens decerto seguiriam Meu caminho. 24. Se Eu não executasse os deveres prescritos, todos estes mundos seriam levados à ruína. Eu causaria a criação de população indesejada, e com isso Eu destruiria a paz de todos os seres vivos.

Sri Krishna é o controlador dos controladores e tudo e todos estão sob Seu controle. Ele é a causa de todas as causas e ninguém é igual ou superior a Ele. Ele possui opulências plenas e é a Suprema Deidade adorável. Evidentemente, a Suprema Personalidade de Deus é transcendental às regras e regulações, as quais existem unicamente para disciplinar e purificar as almas condicionadas que dependem dos resultados de seu trabalho e, por isso, se encarregam de diferentes deveres.
Sendo transcendental, o Senhor não tem o menor interesse em nada deste mundo e, portanto, não precisa aceitar nenhum dever prescrito. No entanto, as almas condicionadas precisam de exemplos vivos de grandes líderes que as ensinem a se comportar de uma maneira exemplar. Desse modo, por Sua bondade sem limites, o Senhor vem a este mundo e age unicamente para o benefício das pessoas em geral. Assim, Ele assume para Si mesmo a responsabilidade de ser a maior autoridade de modo que as pessoas comuns sigam Seus passos e alcancem a perfeição da vida. Devemos, no entanto, entender claramente que as regras e regulações prescritas nas escrituras nunca podem afetá-lO, mas, ainda assim, para estabelecer os princípios religiosos Ele prefere segui-las à risca.


Pérola 21. A AÇÃO DO SÁBIO E A AÇÃO DO IGNORANTE (versos 25 a 35)


25. Assim como os ignorantes executam seus deveres com apego aos resultados, os eruditos também podem agir, mas sem apego, com o propósito de conduzir as pessoas para o caminho correto. 26. Para não perturbar as mentes dos homens ignorantes apegados aos resultados fruitivos dos deveres prescritos, o sábio não deve induzi-los a parar de trabalhar. Ao contrário, trabalhando com espírito de devoção, ele deve ocupá-los em todas as espécies de atividades para que pouco a pouco desenvolvam a consciência de Krishna. 27. Confusa, a alma espiritual que está sob a influência do ego falso julga-se a autora das atividades que, de fato, são executadas pelos três modos da natureza material. 28. Quem tem conhecimento da Verdade Absoluta, ó pessoa de braços poderosos, não se ocupa a serviço dos sentidos e do gozo dos sentidos, pois conhece bem as diferenças entre trabalho com devoção e trabalho em busca de resultados fruitivos. 29. Confundidos pelos modos da natureza material, os ignorantes ocupam-se plenamente em atividades materiais e tornam-se apegados. Mas os sábios não devem inquietá-los, embora estes deveres sejam inferiores por causa da falta de conhecimento daqueles que os executam. 30. Portanto, ó Arjuna, ofertando-Me todos os teus trabalhos, com pleno conhecimento de Mim, sem desejos de lucro, sem alegares ter alguma posse, e livre da letargia, luta. 31. Aqueles que cumprem seus deveres de acordo com Meus preceitos e que sem inveja seguem fielmente este ensinamento livram-se do cativeiro das ações fruitivas. 32.Mas aqueles que, por inveja, rejeitam estes ensinamentos e não os seguem devem ser considerados desprovidos de todo o conhecimento, enganados e malogrados em seus esforços pela perfeição. 33. Até mesmo um homem de conhecimento age segundo sua própria natureza, pois cada qual segue a natureza que adquiriu dos três modos. Que se pode conseguir com a repressão? 34. Há princípios que servem para regular o apego e a aversão relacionados com os sentidos e seus objetos. Ninguém deve ficar sob o controle desse apego e aversão, porque são obstáculos no caminho da auto-realização. 35. É muito melhor cumprir os próprios deveres prescritos, embora com defeito, do que executar com perfeição os deveres alheios. A destruição durante o cumprimento do próprio dever é melhor do que ocupar-se nos deveres alheios, pois seguir o caminho dos outros é perigoso.

Uma vez que os homens ignorantes não podem aceitar as atividades em consciência de Krishna, os sábios não devem desperdiçar seu tempo valioso, perturbando-os desnecessariamente. Sendo bondosos, no entanto, os devotos do Senhor toleram o mau comportamento dos ignorantes e aproximam-se deles para tentar ocupá-los apropriadamente.
Movida pelo ego falso, uma pessoa ignorante da sua natureza espiritual eterna considera-se a causa dos resultados de suas atividades e atribui o mérito unicamente a si própria. Ela não reconhece que seu corpo é um simples resultado de suas atividades passadas, o qual funciona sob a ordem do Senhor. Absorta em consciência material, a pessoa ignorante esquece-se de sua posição de servo amoroso do Senhor e dedica-se a servir seus próprios interesses pessoais.
Uma pessoa sábia, no entanto, nunca age visando à sua satisfação pessoal, mas está sempre ativa no serviço devocional amoroso e, assim, está sempre ajudando a pessoa ignorante a aperfeiçoar o seu comportamento. Quando observamos uma pessoa sábia agir, podemos comprovar que ela é dotada de grande conhecimento espiritual, pois mostra sua indiferença às exigências mundanas dos sentidos materiais. Por outro lado, absorto em designações materiais ilusórias, o ignorante vive preso ao desfrute de seus sentidos. Portanto, qualquer pessoa que queira se tornar sábia deve desenvolver conhecimento prático a respeito da existência eterna da alma. Ela precisa compreender que não é este corpo material e, sim, uma alma espiritual que tem habitado diferentes corpos temporários. Isto irá ajudá-la a perceber claramente que existe uma certa classe de prazeres materiais que é perigosa, pois produz reações materiais que irão desviá-la da sua meta espiritual. Desse modo, compreendendo bem a diferença entre trabalho prático em devoção e trabalho fruitivo, a pessoa pode exercer controle sobre suas paixões materiais e utilizar seus sentidos em trabalhos práticos com o único propósito de se purificar.


Pérola 22. O INIMIGO INSACIÁVEL CHAMADO LUXÚRIA (versos 36 a 46)


36. Arjuna disse: Ó descendente de Vrishni, que impele alguém a atos pecaminosos, mesmo contra a sua vontade, como se ele agisse à força? 37. A Suprema Personalidade de Deus disse: É somente a luxúria, Arjuna, que nasce do contato com o modo material da paixão e mais tarde se transforma em ira, e que é o inimigo pecaminoso que tudo devora neste mundo. 38. Assim como a fumaça cobre o fogo, o pó cobre um espelho ou um ventre cobre um embrião, diferentes graus de luxúria cobrem o ser vivo. 39. Assim, a consciência pura da entidade viva sábia é coberta por seu eterno inimigo sob a forma de luxúria, que nunca é satisfeita e queima como o fogo. 40. Os sentidos, a mente e a inteligência são os lugares que servem de assento para esta luxúria. Através deles, a luxúria confunde o ser vivo e obscurece o verdadeiro conhecimento que ele possui. 41. Portanto, ó Arjuna, ó melhor dos Bharatas, desde o começo, refreia este grande símbolo do pecado (a luxúria), regulando os sentidos, e aniquila este destruidor do conhecimento e da auto-realização. 42. Os sentidos funcionais são superiores à matéria bruta; a mente é superior aos sentidos; por sua vez, a inteligência é mais elevada do que a mente; e ela (a alma) é superior à inteligência. 43. Assim, sabendo que é transcendental aos sentidos, à mente e à inteligência materiais, ó Arjuna de braços poderosos, a pessoa deve equilibrar a mente por meio de deliberada inteligência espiritual (consciência de Krishna) e assim – pela força espiritual – vencer este inimigo insaciável conhecido como luxúria.

Aqui se explica que, ao vir ao mundo material, a entidade viva inevitavelmente passa a interagir com o modo da paixão, o que faz com que seu sentimento puro de amor por Deus se transforme em luxúria. O amor a Deus é uma qualidade natural de todo ser vivo puro, e se caracteriza pelo desejo espontâneo de agir para o prazer do Senhor. Este amor a Deus é comparado ao leite puro e a luxúria é comparada ao iogurte. Em outras palavras, assim como o leite em contato com uma substância ácida se transforma em iogurte, o amor a Deus em contato com a paixão material se perverte em luxúria, ou o desejo incontrolável de satisfazer os próprios sentidos materiais. A entidade viva, portanto, permanece presa a este mundo material unicamente por causa da luxúria, a qual é comparada ao fogo. Isto significa que, assim como não podemos apagar o fogo simplesmente jogando combustível nele, não podemos controlar a nossa luxúria simplesmente tentando satisfazê-la. A solução dada pelo Senhor é que a pessoa deve refrear esta propensão luxuriosa, pois esta austeridade executada por uma pessoa irá gradualmente tornar a luxúria cada vez mais fraca. Quando a luxúria é portanto refreada e, ao mesmo tempo, a pessoa se ocupa no serviço devocional ativo, esta mesma luxúria irá se reespiritualizar e irá recuperar sua natureza original pura. A grande dificuldade que o ser vivo corporificado enfrenta é que ele está viciado em satisfazer os sentidos e confunde o prazer ilusório dos sentidos com a verdadeira felicidade. Devido ao mau uso do seu livre-arbítrio, a entidade viva veio a este mundo material exclusivamente para tentar ser feliz independente de Deus. Passando a habitar um corpo material específico e recebendo da natureza material um tipo específico de visão, audição, paladar, etc., bem como uma mente, um intelecto e um ego materiais, os seres vivos se esquecem de sua natureza espiritual eterna. Por terem abusado de sua independência parcial, eles caíram nesta condição ilusória e são forçados pela influência da luxúria a permanecerem absortos em atividades de gozo dos sentidos. Esta criação material, no entanto, é feita pelo Senhor de uma maneira que os seres vivos nunca conseguirão satisfazer por completo suas propensões de gozo material. Ao contrário disso, esta constante busca infrutífera de gozo dos sentidos torna-se a causa da própria frustração do ser vivo, a qual o levará a indagar sobre sua verdadeira natureza espiritual.
Nos versos anteriores conseguimos compreender como podemos purificar a nossa própria natureza por aceitar deveres prescritos como um serviço em sacrifício ao Senhor. Contudo, podemos observar que na prática nossa natureza frequentemente se perverte e manifesta tendências pecaminosas. Arjuna, portanto, quer compreender que força é esta que nos confunde completamente e nos induz a agir contra nosso próprio interesse. Por esse motivo, o Senhor aqui revela que nosso verdadeiro inimigo, a luxúria, vive dentro de todos nós, e conclui que, através da prática da consciência de Krishna, a qual inclui conhecimento transcendental, a pessoa pode valer-se de sua força espiritual e gradualmente subjugar este inimigo tão perigoso.
 




Sementes do Espaço Ponto de Luz




Rasalila Devi Dasi

Rosana Rodrigues

sexta-feira, 7 de março de 2014

O Resgate da Verdadeira Força da Mulher - Dia Internacional da Mulher



Mulher, você não precisa ser feminista, louca, ativista. 

Não precisa negar sua feminilidade e querer ser um homem para ser independente, ter voz, ser livre. 

Foi trocando valores que as mulheres se confundiram nestes anos, foram negando sua maternidade, foram ficando agressivas e negligenciando o cuidado e zêlo familiar. 

Por conta disso, também, atribuo uma das razões da desestrutura familiar e da humanidade. 

A mulher é creadora. 

Caminho do Meio. 


 Trabalho, corpo, independência, espírito, liberdade, família, firmeza, doçura e feminilidade. 

Que encontremos a felicidade como quisermos e com quem quisermos. 

Que consigamos reconectar o que perdemos tentando encontrar...  









Sementes Espaço Ponto de Luz, Rosana Rodrigues.



segunda-feira, 3 de março de 2014

ESTUDO DOS VEDAS - CAPÍTULO II - RESUMO DO CONTEÚDO DO GITA

      ESTUDO DOS VEDAS (cont.) - CAPÍTULO II - RESUMO DO CONTEÚDO DO GITA




Pérola 6. ARJUNA É REPREENDIDO POR KRISHNA (versos 1 a 3)

1. Sañjaya disse: Vendo Arjuna cheio de compaixão, sua mente deprimida, seus olhos rasos d’água, Madhusudana, Krishna, disse as seguintes palavras: 2. A Suprema Personalidade de Deus disse: Meu querido Arjuna, como foi que estas impurezas desenvolveram-se em ti? Elas não condizem com um homem que conhece o valor da vida. Elas não conduzem aos planetas superiores, mas à infâmia. 3. Ó filho de Pritha, não cedas a esta impotência degradante. Isto não te fica bem. Abandona esta mesquinha fraqueza de coração e levanta-te, ó castigador dos inimigos.

Tal reação enérgica do Senhor em relação à condição aflitiva de Arjuna serve como grande exemplo para todos nós. Embora tivesse recebido treinamento espiritual, Arjuna deixou-se entregar a sentimentos mundanos. Portanto, o Senhor Krishna mostrou Sua surpresa ao indagar: “Como estas impurezas se desenvolveram em ti, um ariano, uma pessoa que conhece o verdadeiro propósito da vida?”
A lição a se aprender com isto é que, caso nossos desejos pessoais sejam prejudicados, nossa mente pode se tornar uma inimiga tão traiçoeira que, com imperceptível sutileza, nos desviará do nosso verdadeiro dharma. Este foi exatamente o caso de Arjuna, que apresentava argumentos sensatos e inventava boas desculpas com o propósito de simplesmente esconder seus sentimentos mundanos de medo e o apego às relações corpóreas.
Esquecidos da nossa identidade espiritual eterna, apegamo-nos excessivamente ao nosso corpo material e a tudo e todos que estejam ligados a ele. Este apego faz com que a mente se absorva em raciocínios materiais e receba a influência constante de falsos conceitos de “eu e meu”, desviando-nos cada vez mais da verdade.
Ao estudarmos o primeiro capítulo, pudemos entender com bastante clareza que o temor que tomou conta de Arjuna, por muitos motivos, não fazia o menor sentido. Como guerreiro, era inaceitável que Arjuna desistisse de uma luta onde a responsabilidade de proteger o dharma estava sob seus cuidados, embora ele houvesse argumentado que seu desejo de desistir da batalha se devia ao profundo respeito ao seu avô Bhisma. Na verdade, o Senhor Krishna considerou tal argumento como simples fraqueza do coração, uma falsa idéia de não-violência. Em outras palavras, toda a lamentação de Arjuna não se justificava, pois, em última análise, ela se baseava na ignorância acerca do verdadeiro eu. Suas lágrimas revelavam muito mais sua fraqueza de coração do que um sinal de verdadeira compaixão espiritual. Por isso, o Senhor tentou animar Arjuna a abandonar sua impotência revestida de tal pretensa não-violência e recomendou que ele se levantasse e participasse energicamente da batalha. Desse modo, sentindo-se incapacitado de resolver seus próprios problemas, Arjuna não hesita em pedir ajuda a seu amigo, o Senhor Krishna.

Pérola 7. ARJUNA ACEITA KRISHNA COMO MESTRE ESPIRITUAL (versos 4 a 9)

4. Arjuna disse: Ó matador dos inimigos, ó matador de Madhu, como é que na batalha posso contra-atacar com flechas homens como Bhisma e Drona, que são dignos de minha adoração? 5. É preferível viver mendigando neste mundo que viver à custa das vidas de grandes almas que são meus mestres. Embora desejem conquistas terrenas, eles são superiores. Se forem mortos, tudo o que desfrutarmos estará manchado de sangue. 6. Tampouco sabemos o que é melhor – vencê-los ou ser vencidos por eles. Se matássemos os filhos de Dhritarastra, não nos importaríamos de viver. Contudo, eles agora estão diante de nós no campo de batalha. 7. Agora estou confuso quanto ao meu dever e perdi toda a compostura devido à torpe fraqueza. Nesta condição, estou Te pedindo que me digas com certeza o que é melhor para mim. Agora sou Teu discípulo e uma alma rendida a Ti. Por favor, instrui-me. 8. Não consigo descobrir um meio de afastar este pesar que está secando meus sentidos. Não serei capaz de suprimi-lo nem mesmo que ganhe na Terra um reino próspero e inigualável com soberania como a dos semideuses nos céus. 9. Sañjaya disse: Tendo falado essas palavras, Arjuna, o castigador dos inimigos, disse a Krishna, Govinda, não lutarei, e ficou calado.

Apesar de ter apresentado anteriormente tantos argumentos baseados no conhecimento dos princípios religiosos e morais, podemos analisar que Arjuna foi incapaz de resolver seus problemas sozinho. Esta verdade não é aplicável simplesmente a Arjuna, mas se aplica a todos que se encontram neste mundo. Independente do grau elevado de conhecimento material que a pessoa tenha atingido, continuará sendo impossível superar as perplexidades da vida sem a ajuda de um mestre espiritual. Assim como Arjuna, qualquer pessoa desprovida de conhecimento transcendental comprovará, mais cedo ou mais tarde, que seus esforços pessoais em tentar resolver seus problemas serão insuficientes. Ela terá de se submeter ao cultivo do conhecimento transcendental sob a guia de um mestre espiritual auto-realizado. As perplexidades e situações problemáticas fazem parte da natureza deste mundo e surgem a todos, mesmo que ninguém as procure.
Em meio a tantas dificuldades, Arjuna reconheceu sua fraqueza e confusão mental e assumiu sua incapacidade de cumprir corretamente seus diferentes deveres. Sua situação era extremamente delicada, pois seu dever de guerreiro ia contra seus deveres familiares, os quais também aparentemente contrariavam o desejo do Senhor. Em outras palavras, ao cumprir corretamente seu dever de guerreiro, ele cometeria ofensas aos membros de sua família, tais como seus primos, os filhos de Dhritarastra, e seu querido avô Bhisma. Por outro lado, renunciando a guerra e cumprindo seus deveres familiares, Arjuna estaria contrariando o desejo direto de Deus, o Senhor Krishna, que estava pessoalmente a seu lado. Dessa maneira, Arjuna revelou sua incapacidade de encontrar sozinho uma solução e recorreu à ajuda de seu amigo, colocando-se como um discípulo dependente.
Como ficará claro no Capítulo Quatro, o Senhor Krishna desce à Terra por Sua misericórdia imotivada e executa atividades como se fosse um ser humano comum, embora nunca deixe de ser a Suprema Personalidade de Deus. Seu aparecimento neste mundo tem como propósito principal atrair os diferentes seres vivos que estão esquecidos de suas identidades espirituais eternas. Desse modo, o Senhor Krishna cria uma situação na qual o grande devoto Arjuna revela sua perplexidade e confusão mental e decide pedir instruções espirituais. Com isto, o Senhor coloca-Se na posição de mestre espiritual não apenas de Arjuna, mas de todos os afortunados seres vivos que podem tirar proveito espiritual ilimitado deste conhecimento imaculado apresentado sob a forma do Bhagavad-gita.

Pérola 8. AS PRIMEIRAS INSTRUÇÕES DO SENHOR (versos 10 a 15)

10. Ó descendente de Bharata, naquele momento, Krishna, no meio dos dois exércitos, sorriu e disse as seguintes palavras ao desconsolado Arjuna. 11. A Suprema Personalidade de Deus disse: Enquanto falas palavras sábias, estás lamentando aquilo com que não precisas te afligir. Os sábios não lamentam nem os vivos nem os mortos. 12. Nunca houve um tempo que Eu não existisse, nem tu, nem todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir. 13. Assim como, neste corpo, a alma corporificada seguidamente passa da infância à juventude e à velhice, do mesmo modo, chegando a morte, a alma passa para outro corpo. Uma pessoa ponderada não fica confusa com essa mudança. 14. Ó Filho de Kunti, o aparecimento transitório de felicidade e aflição, e seu desaparecimento no devido tempo, são como o aparecimento e o desaparecimento das estações de inverno e verão. Surgem da percepção sensorial, ó descendente de Bharata, e é preciso aprender a tolerá-los sem perturbar-se. 15. Ó melhor entre os homens (Arjuna), quem não se deixa perturbar pela felicidade ou aflição e que permanece estável em ambas as circunstâncias decerto está qualificado para alcançar a liberação.

O Senhor Krishna, o mestre espiritual supremo, foi direto ao assunto: “Meu querido Arjuna, se Me queres como teu mestre espiritual, então dar-te-ei Minha primeira instrução: torna-te um verdadeiro sábio e não te lamentes desnecessariamente!” Isto é extremamente significativo. Lamentação e vida espiritual definitivamente não combinam. De um modo geral, a lamentação é um sinal evidente da ignorância acerca do verdadeiro eu. Pelo controle supremo, as diferentes almas são lançadas em diferentes corpos, onde terão de existir por um período específico de tempo. Pelo controle supremo, tais almas terão de abandonar no momento certo seus respectivos corpos e obterão, de uma maneira impecavelmente justa, os resultados de suas atividades. Qual é, então, a necessidade de lamentação? Como ficará cada vez mais claro durante o estudo desta obra, a alma é eterna e sempre existente. A morte é um simples conceito material, relativo apenas ao corpo físico, uma mera cobertura temporária da alma. Por isto, Arjuna não deveria dar tamanha importância à condição do corpo material. Isto estava acarretando um esquecimento acerca do verdadeiro eu, a alma espiritual, resultando em desnecessária lamentação. Nos dias de hoje, a civilização humana carece deste conhecimento espiritual e, como Arjuna, foi mordida pela serpente da lamentação, cujo veneno se expande em todos os setores da sociedade. Na verdade, a condição corpórea é lamentável por ser completamente incompatível com a natureza eterna da alma. Logo que nasce, o corpo terá de gradualmente atingir as fases de doença, velhice e morte. Em conclusão, a identificação corpórea é uma fonte de lamentação que tem como consequência a intolerância e a instabilidade emocional. No entanto, ao compreender sua natureza eterna e ao utilizar o corpo material exclusivamente como um instrumento para a auto-realização espiritual, a pessoa livra-se das dualidades concernentes à vida material, aprende a tolerar as adversidades deste mundo e não se perturba diante dos reveses da vida. Certamente, tal pessoa pode alcançar completa liberação mesmo estando em contato com o corpo material, posto que suas atividades corpóreas não mais a afetarão. Isto significa que, mesmo que o seu corpo aja movido pela reação às suas atividades passadas, a Suprema Personalidade de Deus passa a cuidar pessoalmente de tal alma liberada. Por exemplo, mesmo depois de desligado, o ventilador elétrico continua girando por algum tempo. No entanto, este giro não se deve à corrente elétrica, mas à continuação do último movimento. Em outras palavras, embora uma alma liberada pareça estar agindo tal qual uma pessoa comum, suas ações não passam de continuação das atividades passadas.

Pérola 9. A NATUREZA SUPERIOR DA ALMA (versos 16 a 25)

16. Aqueles que são videntes da verdade concluíram que o não-existente (o corpo material) não permanece e o eterno (a alma) não muda. Isto eles concluíram estudando a natureza de ambos. 17. Deves saber que aquilo que penetra o corpo inteiro é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a alma imperecível. 18. O corpo material da entidade viva indestrutível, imensurável e eterna decerto chegará ao fim; portanto, luta, ó descendente de Bharata. 19. Nem aquele que pensa que a entidade viva é o matador nem aquele que pensa que ela é morta estão em conhecimento, pois o eu não mata nem é morto. 20. Para a alma, em tempo algum existe nascimento ou morte. Ela não passou a existir, não passa a existir e nem passará a existir. Ela é não nascida, eterna, sempre-existente e primordial. Ela não morre quando o corpo morre. 21. Ó Partha, como pode uma pessoa que sabe que a alma é indestrutível, eterna, não-nascida e imutável matar alguém ou fazer com que outrem mate? 22. Assim como alguém veste roupas novas, abandonando as antigas, a alma aceita novos corpos materiais, abandonando os velhos e inúteis. 23. A alma nunca pode ser despedaçada por arma alguma, tampouco pode ser queimada pelo fogo, umedecida pela água ou enxugada pelo vento. 24. Essa alma individual é inquebrável e indissolúvel, e não pode ser queimada nem seca. Ela é permanente, está presente em toda parte, é imutável, imóvel e eternamente a mesma. 25. Diz-se que a alma é invisível, inconcebível e imutável. Sabendo disto, não te deves afligir por causa do corpo.

Nestes versos, encontramos explicações claras da verdadeira natureza da alma como algo diferente do corpo. O corpo material, por exemplo, vive em constante transformação através das ações e reações das diferentes células, produzindo o crescimento e a velhice. A alma, no entanto, sendo uma centelha espiritual minúscula, permanece imutável, sem se submeter às mudanças que ocorrem no corpo. Portanto, este corpo material é simplesmente a corporificação da alma, a qual se espalha por todo o corpo e pode ser percebida como consciência individual. Por natureza, o corpo material é perecível, mas a alma é eterna. Ela é descrita nos Vedas como sendo do tamanho de uma décima milésima parte da porção superior da ponta de um fio de cabelo. Em outras palavras, ela é tão pequena que nem sequer pode-se medir sua dimensão. Ainda assim, apesar de diminuta, ela é autoluminosa, sendo parte da luz suprema. É esta partícula de luz espiritual que mantém o corpo, pois quando ela parte, imediatamente começa a decomposição do corpo. O que se chama de morte, portanto, nada mais é do que o fenômeno que ocorre quando a alma abandona o corpo que não apresenta mais condições apropriadas para sua permanência. O corpo está frequentemente sujeito a seis diferentes transformações: ele nasce do ventre do corpo da mãe, permanece por algum tempo, cresce, produz subprodutos, definha gradualmente e cai no esquecimento. A alma, porém, não passa por tais mudanças. Ela não nasce, mas, por ser lançada no ventre materno, acaba aceitando a cobertura de um determinado corpo e faz com que, sob sua influência, o corpo nasça e se desenvolva. Por observação, podemos comprovar que tudo o que nasce também morre. No entanto, por que não tem nascimento, a alma não tem passado, presente ou futuro – ela é sempre-existente e primordial. A alma nunca é afetada pelas mudanças do corpo e tampouco ela produz algum subproduto. O que chamamos de filhos são simplesmente os subprodutos do corpo, os quais possuem diferentes almas individuais. O corpo só se desenvolve por causa da presença da alma, mas ela permanece livre de qualquer alteração. Estando localizada no coração da entidade viva, a alma simplesmente atua como fonte de energia para que o corpo possa executar suas funções. Às vezes, devido às nuvens no céu, não podemos ver o Sol no céu, mas quando existe claridade podemos ter a completa convicção de que é dia e que o Sol ainda está presente. Da mesma forma, mesmo que não se consiga encontrar a alma dentro do coração, ainda assim, se um corpo apresenta consciência isto indica a presença da alma dentro deste corpo. Do mesmo modo, quando o corpo perde completamente sua consciência, isso é uma evidência concreta que a alma foi transferida para outro corpo. Esta transferência torna-se possível unicamente pela presença transcendental da manifestação do Senhor conhecida como Superalma, a qual também reside dentro de todos os corpos. Segundo este exemplo, os Vedas comparam este corpo a uma árvore onde estão pousados dois pássaros: a alma individual e a Superalma. Um pássaro, a alma individual, executa todo tipo de atividades mundanas e, na tentativa de desfrutar dos frutos desta árvore, vive mergulhado em constante ansiedade e melancolia. A Superalma, por Sua vez, mantém-Se à parte e, como um pássaro amigo, simplesmente testemunha e aguarda o momento em que a alma individual irá se voltar para Ele. Neste momento, o pássaro aflito, concordando em aceitar Suas instruções divinas, se livrará de toda ansiedade. Mas, enquanto isto não acontecer, a alma terá de se contentar em trocar de corpo material, assim como uma pessoa tem de substituir suas roupas inúteis e velhas por vestes mais novas.
Através dessas instruções transcendentais, o Senhor Krishna queria livrar seu amigo Arjuna de qualquer tipo de lamentação. Com certeza, Arjuna estava preocupado com a morte de seu avô Bhisma e de seu mestre Drona, no entanto, segundo o Senhor, Arjuna deveria sentir-se feliz de saber que eles seriam promovidos para uma situação de vida superior. Suas almas não seriam absolutamente alteradas, pois qualquer tipo de arma – seja ela espada, arma incandescente, arma pluvial, etc. – seria incapaz de ferir a alma de seus entes queridos que, como partículas atômicas do Espírito Supremo, sempre permaneceriam o mesmo átomo imutável. Portanto, como ficará ainda mais claro nos próximos versos, a lamentação de Arjuna não se justificava nem material, nem espiritualmente.

Pérola 10. NÃO HÁ RAZÃO PARA SE LAMENTAR (versos 26 a 30)

26. Se, no entanto, pensas que a alma sempre nasce e morre para sempre, mesmo assim, não tens razão para lamentar, ó pessoa de braços poderosos. 27. Alguém que nasceu com certeza morrerá, e após a morte ele voltará a nascer. Portanto, no inevitável cumprimento do dever, não deves te lamentar. 28. Todos os seres criados são imanifestos no seu começo, manifestos no seu estado intermediário, e de novo imanifestos quando aniquilados. Então, qual a necessidade de lamentação? 29. Alguns consideram a alma espantosa, outros descrevem-na como espantosa, e alguns ouvem dizer que ela é espantosa, enquanto outros, mesmo após ouvir sobre ela, não podem absolutamente compreendê-la. 30. Ó descendente de Bharata, aquele que mora no corpo nunca pode ser morto. Portanto, não precisas afligir-te por nenhum ser vivo.

Estes versos são especialmente destinados às pessoas que acreditam que este corpo não passa de uma mera combinação de elementos químicos e que a vida se desenvolve através da simples interação desses elementos químicos. Para tais pessoas, que não acreditam na existência da alma, ainda assim não existe motivo para lamentação, pois ninguém deve se lamentar pela simples perda de meras substâncias químicas. Além disso, a batalha tornara-se inevitável e, como ficará cada vez mais claro, em certas circunstâncias a violência e a guerra são fatores essenciais para se manter uma situação pacífica na sociedade humana. Na verdade, esta Batalha de Kurukshetra era um desejo do próprio Senhor e, como um kshatriya, Arjuna deveria lutar por esta causa suprema sem cair em lamentação. As atividades que a pessoa executa numa vida irão determinar seu próximo nascimento, pois, dessa maneira, todos passam por consecutivos ciclos de nascimentos e mortes. Isso significa que, mesmo que evitasse a guerra contra seus parentes, Arjuna não seria capaz de deter a morte deles. Tal lamentação era infundada e levaria Arjuna à degradação por escolher a maneira errada de agir. O Bhagavad-gita revela-nos o conhecimento essencial para a auto-realização espiritual, dando-nos como base a não-existência do corpo material. No entanto, é muito difícil encontrar alguém que esteja verdadeiramente inclinado a entender esta ciência da alma diretamente da boca de lótus do Senhor. Deixando-se levar por diferentes teorias desautorizadas, as pessoas podem facilmente se desorientar e concluir erroneamente que a alma individual e a Alma Suprema são unas em todos os aspectos. De qualquer maneira, aceitando ou não a existência da alma ou mesmo acreditando na unidade entre a alma atômica e a Superalma, a lamentação pela perda do corpo material não faz o menor sentido.

Pérola 11. OS DEVERES DE UM GUERREIRO (versos 31 a 38)

31. Considerando teu dever específico de kshatriya, deves saber que não há melhor ocupação para ti do que lutar conforme determinam os princípios religiosos; e assim não há necessidade de hesitação. 32. Ó Partha, felizes são os kshatriyas a quem aparece essa oportunidade de lutar, abrindo-lhes as portas dos planetas celestiais. 33. Se, contudo, não executares teu dever religioso e não lutares, então na certa incorrerás em pecados por negligenciar teus deveres e assim perderás tua reputação de lutador. 34. As pessoas sempre falarão de tua infâmia, e para alguém respeitável, a desonra é pior do que a morte. 35. Os grandes generais que têm na mais alta estima o teu nome e fama pensarão que deixaste o campo de batalha simplesmente porque estavas com medo, e portanto te considerarão insignificante. 36. Teus inimigos te descreverão com muitas palavras indelicadas e desdenharão tua habilidade. Que poderia ser mais doloroso para ti? 37. Ó filho de Kunti, ou serás morto no campo de batalha e alcançarás os planetas celestiais, ou conquistarás e gozarás o reino terrestre. Portanto, levanta-te com determinação e luta. 38. Luta pelo simples fato de lutar, sem levar em consideração felicidade ou aflição, perda ou ganho, vitória ou derrota – e adotando este procedimento nunca incorrerás em pecado.

Ao matar indivíduos que estão atuando como inimigos dos princípios religiosos, o kshatriya não está absolutamente incorrendo em violência. Na verdade, a atitude enérgica por parte do kshatriya contra os agressores dos princípios religiosos não deve ser interpretada como violência, assim como não existe a menor violência quando se usa um espinho para ajudar a arrancar o outro espinho que esteja fincado em alguma parte do corpo. Desse modo, o argumento de Arjuna de que esta luta iria proporcionar a ele uma residência permanente no inferno não fazia o menor sentido, pois, a palavra composta kshatriya (kshat - lesado, trayate - dar proteção) é dada às pessoas que se propõem a proteger os cidadãos. Arjuna havia sido treinado como um verdadeiro kshatriya e teve de se submeter a severos treinamentos como entrar na floresta e desafiar animais selvagens munido unicamente de uma espada. Este treinamento se faz necessário porque às vezes a violência pode ser útil para dar proteção à vida religiosa. Por isso, o Senhor Krishna diz para Arjuna que esta luta abriria as portas dos planetas celestiais superiores. Se ele vencesse, desfrutaria do reino terrestre em nome da religião e, se fosse derrotado, elevar-se-ia aos planetas celestiais.
Arjuna era muito famoso, pois havia vencido inclusive alguns semideuses na batalha. Seu próprio mestre, Dronacharya, havia presenteado Arjuna com uma arma especial. Esta arma era tão poderosa que, com ela, Arjuna poderia inclusive matar Drona. De modo que, se ele fugisse da batalha, todos iriam considerá-lo um covarde e, assim, perderia fama e reputação. Como um amigo e mestre, o Senhor Krishna o alertou quanto a isto e o aconselhou a permanecer na batalha, mesmo que tivesse de enfrentar a morte. No cumprimento dos deveres religiosos, Arjuna não deveria levar em consideração se o resultado imediato apareceria na forma de felicidade ou aflição, vitória ou derrota, etc. Sendo transcendentais, as atividades religiosas da consciência de Krishna estão acima da dualidade material. Depois de explicar a verdadeira natureza da alma e, ao mesmo tempo, deixar claro que a proposta de Arjuna de não lutar era irreligiosa e baseava-se simplesmente no gozo dos sentidos, o Senhor começará agora a ensinar o processo espiritual chamado buddhi-yoga, na qual se passa a agir com inteligência transcendental.

Pérola 12. A YOGA DA INTELIGÊNCIA (versos 39 a 41)

39. Até aqui, descrevi-te este conhecimento através do estudo analítico. Agora ouve enquanto Eu o explico em termos do trabalho sem resultados fruitivos. Ó filho de Pritha, quando ages com esse conhecimento, podes libertar-te do cativeiro decorrente das ações. 40. Neste esforço, não há perda nem diminuição, e um pequeno progresso neste caminho pode proteger a pessoa do mais perigoso tipo de medo. 41. Aqueles que estão neste caminho são resolutos, e têm apenas um objetivo. Ó amado filho dos Kurus, a inteligência daqueles que são irresolutos tem muitas ramificações.

Até então, o Senhor Krishna havia explicado o sistema de sankhya-yoga, ou seja, a diferença analítica entre o corpo material e a alma espiritual. Isto, no entanto, não consistia em instruções práticas de como agir na plataforma espiritual. Para praticar tal sistema de yoga, Arjuna teria de compreender a individualidade das diferentes almas que estavam naquele campo de batalha e teria de vê-las como indivíduos eternos, os quais estavam sujeitos às várias mudanças das roupas corpóreas. Porém, o simples fato de compreender a diferença entre corpo e alma não seria suficiente para resolver os problemas de Arjuna. Ele teria de aprender a agir neste mundo sem se afetar pelas reações materiais. Por isso, o Senhor passará agora a descrever buddhi-yoga, a qualidade superior de trabalho quando, com inteligência purificada, passa-se a atuar em liberdade sem se envolver com as reações do trabalho.
O Senhor estava pessoalmente presente no campo sagrado de Kurukshetra e pessoalmente desejava a batalha para que todos fossem beneficiados e elevados a uma posição superior. Desse modo, satisfazendo os desejos do Senhor, todos estariam praticando serviço devocional, mesmo abandonando seus respectivos corpos no campo de batalha. Isso daria a todos os guerreiros um resultado espiritual excelente, o qual nunca estaria perdido. Diferentemente das atividades materiais, cujos resultados são perdidos com a destruição do corpo material, aqui o Senhor afirma que as atividades espirituais produzem resultados permanentes. “Não há perda, nem diminuição”, diz o Senhor, o que significa que nosso avanço espiritual é transferido para nossas próximas vidas e esta é a vantagem de executar atividades em consciência de Krishna.

Pérola 13. AS PALAVRAS FLORIDAS DOS VEDAS (versos 42 a 46)

42-43. Os homens de pouco conhecimento estão muitíssimo apegados às palavras floridas dos Vedas, que recomendam várias atividades fruitivas àqueles que desejam elevar-se aos planetas celestiais, com o consequente bom nascimento, poder e assim por diante. Por estarem ávidos de gozo dos sentidos e vida opulenta, eles dizem que isto é tudo o que existe. 44. Nas mentes daqueles que estão muito apegados ao gozo dos sentidos e à opulência material, e que se deixam confundir por estas coisas, não ocorre a determinação resoluta de prestar serviço devocional ao Senhor Supremo. 45. Os Vedas tratam principalmente do tema três modos da natureza material. Ó Arjuna, torna-te transcendental a esses três modos. Liberta-te de todas as dualidades e de todos os anseios advindos da busca de ganho e segurança e estabelece-te no eu. 46. Todos os propósitos satisfeitos por um poço pequeno podem imediatamente ser satisfeitos por um grande reservatório de água. De modo semelhante, pode servir-se de todos os propósitos dos Vedas quem conhece o seu propósito subjacente.

As pessoas em geral têm grande dificuldade em compreender e adotar diretamente as atividades espirituais da consciência de Krishna. Devido à sua forte determinação em satisfazer os sentidos, tais pessoas materialmente motivadas preferem adotar atividades religiosas mundanas, onde as propostas de gozo dos sentidos e opulência material são enfatizadas. Mal sabem elas que qualquer atividade material, quer seja religiosa ou não, irá envolvê-las em reações nos três modos da natureza, e causará cativeiro permanente neste mundo. Para tais pessoas menos inteligentes, os Vedas oferecem as seções karma-kanda para, aos poucos, elevá-las do campo grosseiro do gozo do sentidos a uma posição no plano transcendental. Arjuna, no entanto, como aluno e amigo direto do Senhor, deveria transcender a todas as propostas de prazeres materiais temporários e se situar além das dualidades pertinentes à vida material. Portanto, atinge a prática de buddhi-yoga quem é bastante inteligente para compreender o verdadeiro propósito dos Vedas sem se apegar meramente aos rituais e sem visar simplesmente a uma melhor qualidade de gozo dos sentidos.

Pérola 14. LIBERTANDO-SE DAS ATIVIDADES FRUITIVAS (versos 47 a 53)

47. Tens o direito de executar teu dever prescrito, mas não podes exigir os frutos da ação. Jamais te consideres a causa dos resultados de tuas atividades, e jamais te apegues ao não-cumprimento do teu dever. 48. Desempenha teu dever com equilíbrio, ó Arjuna, abandonando todo o apego a sucesso ou fracasso. Essa equanimidade chama-se yoga. 49. Ó Dhanañjaya, através do serviço devocional, mantém todas as atividades abomináveis bem distantes, e com esta consciência, rende-te ao Senhor. Aqueles que querem gozar o fruto de seu trabalho são mesquinhos. 50. Um homem ocupado em serviço devocional livra-se tanto das boas quanto das más ações, mesmo nesta vida. Portanto, empenha-te na yoga, que é a arte de todo o trabalho. 51. Ocupando-se nesse serviço devocional ao Senhor, grandes sábios ou devotos livram-se dos resultados do trabalho no mundo material. Desse modo, eles transcendem ao ciclo de nascimentos e mortes e passam a viver além de todas as misérias. 52. Quando tua inteligência tiver cruzado a densa floresta da ilusão, tornar-te-ás indiferente a tudo o que se ouviu e a tudo o que se há de ouvir. 53. Quando tua mente deixar de perturbar-se pela linguagem florida dos Vedas, e quando se fixar no transe da auto-realização, então terás atingido a consciência divina.

O Bhagavad-gita nos ensina que todos são forçados pela natureza material a agir de acordo com suas próprias tendências. Desse modo, todos devem aceitar um treinamento para aprender a fazer um bom uso de sua natureza específica. Tal natureza é como uma bagagem trazida de outras vidas, da qual não podemos nos livrar facilmente. Ela é o resultado das atividades piedosas e pecaminosas acumuladas em muitas vidas prévias. Portanto, dentro de uma sociedade centralizada em Deus, todos são treinados a adotar deveres prescritos naturais e, assim, utilizar sua natureza para propósitos espirituais.
Na vida material, todos estão visando à sua própria satisfação e, como resultado disso, permanecem constantemente sujeitos às reações materiais. Na vida espiritual, no entanto, a dedicação está sempre voltada à satisfação do Senhor, e, como resultado natural, os deveres prescritos são desempenhados com estabilidade e equilíbrio, e livram gradualmente a pessoa de resultados indesejáveis. Isto porque, ao compreender sua posição constitucional como parte integrante do Senhor, a pessoa aprende a abandonar suas atividades materialmente motivadas, e, mediante um simples ajuste espiritual, transforma-as em ocupações verdadeiramente transcendentais.
Devido à influência de maya, a energia ilusória do Senhor, as pessoas não conseguem perceber que este mundo material é um lugar onde existe perigo a cada passo. Os verdadeiros yogis, portanto, são devotados ao Senhor e refugiam-se nEle, ocupando-se no Seu serviço devocional amoroso. Portanto, quando o yogi compreende que as atividades fruitivas materiais, religiosas ou não, nunca poderão livrá-lo por completo das ansiedades materiais, ele se torna realmente perfeito e atinge o transe, fixando-se na auto-realização espiritual. Desse modo, ele abandona todas as outras ocupações inferiores e passa a se ocupar exclusivamente no serviço devocional ao Senhor, sem interesses materiais. Portanto, sua vida se torna um sucesso completo, independente da situação social em que ele se encontra. Quer posicionado como um chefe de família ou um renunciado, quer seja rico ou pobre, nada disso importa, pois ele sempre utiliza sua energia ou bens materiais em prol da satisfação do seu Senhor adorável – e esta é a arte perfeita de todos os trabalhos. Ele não precisa se preocupar com a execução de austeridades severas ou complicados rituais védicos. De fato, caso tenha alcançado a compreensão espiritual correta e tenha desenvolvido interesse espontâneo em servir ao Senhor com verdadeira devoção pura, tal yogi estará situado numa condição perfeita, além de qualquer regra ou regulação contida nos próprios Vedas.

Pérolas 15. SINTOMAS DE UM TRANSCENDENTALISTA (versos 54 a 59)

54. Arjuna disse: Ó Krishna, quais são os sintomas daquele cuja consciência está absorta nessa transcendência? Como fala, e qual é sua linguagem? Como se senta e como caminha? 55. A Suprema Personalidade de Deus disse: Ó Partha, quando alguém desiste de todas as variedades de desejo de gozo dos sentidos, que surgem da invenção mental, e quando sua mente, assim purificada, encontra satisfação apenas no eu, então se diz que ele está em consciência transcendental pura. 56. Quem não deixa a mente se perturbar mesmo em meio às três classes de misérias, nem exulta quando há felicidade, e que está livre do apego, medo e ira, é chamado um sábio de mente estável. 57. No mundo material, quem não se deixa afetar pelo bem ou mal a que está sujeito a obter, sem louvá-los nem desprezá-los, está firmemente fixo em conhecimento perfeito. 58. Aquele que é capaz de retirar seus sentidos dos objetos dos sentidos, assim como a tartaruga recolhe seus membros para dentro da carapaça, está firmemente fixo em consciência perfeita. 59. A alma corporificada pode restringir-se do gozo dos sentidos, embora permaneça o gosto pelos objetos dos sentidos. Porém, interrompendo tais ocupações ao experimentar um gosto superior, ela se fixa em consciência.

Atinge a plataforma transcendental a pessoa que, além de ser capaz de distinguir entre os desejos materiais e espirituais, adquire força suficiente para não se deixar arrastar pelos impulsos dos sentidos materiais. Para isso, ela necessita ocupar-se em serviço devocional sem hesitação – isso irá mantê-la sempre feliz em sua posição natural eterna. Nesta sublime posição, tal pessoa nunca se perturba pelas dualidades materiais. Quando as dificuldades surgem, ela as aceita de bom grado. Ela admite que, devido aos seus maus feitos passados, seria merecedora de mais dificuldades. Ao mesmo tempo, quando está feliz, continua vendo tudo como misericórdia do Senhor, pois ela sempre se considera um servo que depende exclusivamente da Sua graça.
O mundo material é o mundo da dualidade. No entanto, ao se fixar em conhecimento, a pessoa passa a se interessar unicamente no Senhor, o Bem Absoluto, e nunca se afeta pela situação material, a qual é temporária e ilusória. Esta consciência espiritual faz com que tal pessoa tenha controle sobre seus sentidos, utilizando-os exclusivamente a serviço do Senhor. A ocupação espiritual dos sentidos resulta em experiências transcendentais, as quais oferecem prazeres espirituais muito superiores. Tal experiência de um prazer superior coloca tal pessoa numa posição extremamente segura e imperturbável. A consciência de Krishna é, portanto, tão maravilhosa que faz com que o gozo material dos sentidos se torne automaticamente desagradável.
Na plataforma material, as misérias são divididas em três categorias: as misérias causadas pelo próprio corpo ou mente materiais; as misérias causadas pelas perturbações impostas por outras entidades vivas; e as misérias causadas pelos fenômenos naturais, tais como calor ou frio excessivo, etc. No entanto, a pessoa transcendental não permite que tais manifestações materiais miseráveis interfiram em sua vida espiritual. Isto é possível pelo simples fato de que a pessoa transcendental não possui apego, ou seja, não vive em função de obter diferentes parafernálias ou condições adequadas para o gozo dos seus sentidos. Dedicada a servir ao Senhor, uma pessoa transcendental está muito além da plataforma sensual e sua vida está em permanente bem-aventurança, independente dos sucessos ou fracassos materiais, os quais são inevitáveis neste mundo. Em outras palavras, em vez de desperdiçar seu tempo com inúteis tentativas de evitar as misérias materiais ou com esforços constantes por obter o improvável sucesso material, uma pessoa transcendental é perfeitamente inteligente, pois utiliza seu precioso tempo unicamente em consciência de Krishna, permanecendo sempre indesviavelmente fixo em sua determinação espiritual. Ao mesmo tempo, tal pessoa está sempre atenta às condições externas que possam afetar sua consciência espiritual. Por isso, ela é comparada à tartaruga que, ao perceber qualquer perigo à sua volta, recolhe seus membros dentro da carapaça. Com esta analogia, o Senhor Krishna está nos indicando que devemos utilizar nossos sentidos unicamente em atividades transcendentais e, caso isto não seja possível, é melhor recolhê-los e novamente manifestá-los onde existam condições espirituais favoráveis.

Pérola 16. O CONTROLE DOS SENTIDOS (versos 60 a 72)

60. Os sentidos são tão fortes e impetuosos, ó Arjuna, que arrebatam à força mesmo a mente de um homem de discriminação que se esforça por controlá-los. 61. Aquele que restringe os sentidos, mantendo-os sob completo controle, e fixa sua consciência em Mim, é conhecido como homem de inteligência estável. 62. Enquanto contempla os objetos dos sentidos, a pessoa desenvolve apego a eles, e de tal apego se desenvolve a luxúria, e da luxúria surge a ira. 63. Da ira, surge completa ilusão, e da ilusão, a confusão da memória. Quando a memória está confusa, perde-se a inteligência, e ao perder a inteligência, cai-se de novo no poço material. 64. Mas quem está livre de todo o apego e aversão e é capaz de controlar seus sentidos através dos princípios reguladores com os quais se obtém a liberdade, pode receber a completa misericórdia do Senhor. 65. Para alguém que sente essa alegria, as três classes de misérias da existência material deixam de existir; nessa consciência jubilosa, a inteligência logo torna-se resoluta. 66. Quem não está vinculado ao Supremo não pode ter inteligência transcendental nem mente estável, sem as quais não há possibilidade de paz. E como pode haver alguma felicidade sem paz? 67. Assim como um vento forte arrasta um barco na água, mesmo um só dos sentidos errantes em que a mente se detenha pode arrebatar a inteligência de um homem. 68. Portanto, ó pessoa de braços poderosos, o indivíduo cujos sentidos são restringidos de seus objetos com certeza tem a inteligência estável. 69. Aquilo que é noite para todos os seres é a hora de despertar para o autocontrolado; e a hora de despertar para todos os seres é noite para o sábio introspectivo. 70. Só quem não se perturba com o incessante fluxo de desejos – que são como rios que entram no oceano, que está sempre sendo enchido mas nunca se agita – pode alcançar a paz, e não o homem que luta para satisfazer esses desejos. 71. Aquele que abandonou todos os desejos de gozo dos sentidos, que vive livre de desejos, que abandonou todo o sentimento de propriedade e não tem ego falso – só ele pode conseguir a paz verdadeira. 72. Este é o caminho da vida espiritual e piedosa, e o homem que a alcança não se confunde. Se, mesmo somente à hora da morte, ele atinge essa posição, pode entrar no reino de Deus.

Tanto nas escrituras védicas, quanto em outras escrituras do mundo, existem muitas histórias narrando a vida de grandes personalidades, yogis, sábios ou diferentes classes de espiritualistas, que fracassaram no intento de controlar seus sentidos. E agora, o motivo deste fracasso é explicado aqui pelo Senhor Krishna. Os sentidos são fortes e impetuosos e eles têm o poder de arrastar a mente de qualquer um – especialmente no que diz respeito ao impulso sexual. Deve-se entender, portanto, que sem uma ocupação constante nas atividades da consciência de Krishna é absolutamente impossível controlar os sentidos. Isto porque os sentidos exigem ocupações práticas, e se não estiverem ocupados em serviço devocional ao Senhor, certamente se ocuparão em atividades para desfrute material.
A verdade é que, enquanto habita um corpo material, a alma espiritual está numa condição bastante difícil, vivendo numa atmosfera plena de encantos criados pela energia ilusória. Os objetos dos sentidos materiais estão sempre tentando atrair os sentidos do ser corporificado. A situação do ser corporificado pode ser comparada a um submarino nas profundezas do oceano. O submarino tem de estar hermeticamente fechado, pois, caso haja um mínimo orifício, por menor que seja, o submarino afundará gradualmente. Do mesmo modo, vivendo nas profundezas deste oceano de ilusão material, os seres corporificados precisam ter o cuidado constante de fechar seus sentidos e não permitir que a energia ilusória penetre por eles e afunde sua consciência. Mas isto não significa que uma pessoa consciente de Krishna tenta evitar os objetos dos sentidos artificialmente, simplesmente negando-os ou reprimindo seus sentidos. Ela é inteligente o bastante para compreender que o segredo do controle dos sentidos é a arte de utilizar tudo no serviço ao Senhor, o que para ela é bastante natural, devido ao desenvolvimento de sua devoção. Portanto, ela nunca se torna vítima da consciência materialista e nunca cai na ilusão de julgar-se proprietário, controlador ou desfrutador da energia material.
Ao vincular ao Senhor todas as suas ocupações, a pessoa estabiliza sua inteligência e apazigua sua mente e sentidos. Perdendo o interesse por atividades mundanas, tal pessoa vive desperta para atividades transcendentais e sente grande prazer no avanço espiritual. Ela não tem necessidade de nada, pois o Senhor está sempre presente em sua mente e coração. Mesmo que, de algum modo, surjam desejos em sua mente, ela consegue manter-se imperturbável, devido à misericórdia do Senhor que recompensa o esforço de seu servo que tão sinceramente se ocupa em Seu serviço. Seu único desejo é tornar-se cada vez mais consciente de Krishna e esta fase perfeita é considerada a verdadeira ausência de desejos. Situada assim, tal pessoa nunca se esquece de que o Senhor é o único proprietário e que, portanto, tudo deve ser utilizado em Seu serviço amoroso. A entidade viva não pode existir sem desejos, nem pode existir sem sentimentos ou atividades. Portanto, estar sem desejos significa que não se reivindica falsamente a propriedade de algo. Este é o princípio básico e essencial para se alcançar a plataforma de verdadeira paz interior. 

Sementes Espaço Ponto de Luz Rosana Rodrigues
Rasalila Devi Dasi